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25 ANOS DO SAPEZAL MAIS FÉRTIL DO MUNDO

Publicado em 12 de Junho de 2019 ás 00:40

O território cortado pelas expedições de Marechal Cândido  Rondon demorou mais de 80 anos para ser de fato descoberto.

O que no passado foi descrito como uma terra de sapês, hoje é a 11ª primeira economia mais importante de Mato Grosso.

Um solo fértil onde se colhe 48% da produção nacional de algodão, 1% de toda soja brasileira e berço de quatro gigantes do agronegócio.

Essa é Sapezal, uma cidade que em 25 anos mostrou para o Brasil como se ergue um império a lama.

Imperata brasiliensis. Esse nome elegante é como se chama cientificamente a mais banal capoeira das terras de Mato Grosso: o capim-sapé. Trata-se de uma gramínea nativa, cujo único uso conhecido era servir de cobertura para casebres rústicos. É uma planta que não serve para o gado, que cresce em terrenos pobres e esgotados. Pelo menos é o que transcrevem os livros de botânica.

Foi por causa da abundância desse capim, que um dos rios na porção Oeste de Mato Grosso foi batizado. O Rio do Sapezal passou por mais de seis décadas sendo referência de lugar nenhum, um remoto ponto que lá pelos idos de 1913 foi atravessado por Marechal Cândido Rondon, em sua empreita de levar um cabo de telegrafo até o Amazonas. Foi assim até o começo da década de 70, quando a região enfim foi descoberta.

Uma onda migratória do Sul do País avançava para Mato Grosso em busca de terras agricultáveis. Havia propaganda do Governo Federal e promessas de terras a perder de vista. Nessa leva, colonos começaram a ocupar o Sudeste e o Norte do Estado, regiões de cerrado que anos depois seriam conhecidas pela sua produção agrícola. Enquanto isso, uma colonização menos ordenada apostou no Oeste de Mato Grosso.

As terras cheias de sapês eram baratas. Em parte, justamente por isso. Mas também pela falta de logística, ou mesmo perspectiva de crescimento. Essa condição adversa propiciou que colonos que plantavam em terras arrendadas enfim tivessem o seu próprio pedaço de chão.

Um desses colonos foi André Maggi – que embora já tivesse terras em Itiquira, Rondonópolis e no Paraná, foi no Oeste de Mato Grosso que encontrou um solo fértil para prosperar. O pioneiro adquiriu uma grande porção de terra e no entorno do seu negócio uma vila começou a se formar. André chamou esse lugar de Sapezal, em referência ao rio.

Diferente dos demais projetos de colonização, não haviam rodovias abertas ou mesmo projetadas em Sapezal. Os primeiros a chegar se embrenharam por trilhas de seringueiros. As primeiras lavouras foram formadas sem que houvesse estradas para escoar a safra. Haja lama!

Foi nesse brejo de sapês que se consolidaram, além da Amaggi, grandes potências do agronegócio, como o Grupo Bom Futuro, Grupo Sheffer e o Grupo Webler. Famílias que conseguiram sair da condição de “quase nada”, para se tornarem os novos milionários do País – em uma geração.

Sapezal é causa e consequência desse desabrochar. Esse chão que foi pisado pelas botas do próprio presidente americano Theodore Roosevelt na aurora do século 20, só se tornou um território de interesse depois da explosão econômica propiciada pelo agronegócio.

Hoje Sapezal é considerado o epicentro da fronteira agrícola Oeste de Mato Grosso. O município possui 13,5 milhões de metros quadrados de extensão – o que corresponde a um terço do território da Holanda. Destes, 755,5 mil hectares são áreas destinados à agropecuária. Nessas terras são plantados 355 mil hectares de soja, 159,2 mil hectares de milho, 140 mil hectares de algodão e mais 15 mil hectares de culturas periféricas, como arroz, feijão e girassol.

Sapezal produziu na safra 2017 mais de 1,1 milhão de toneladas de soja, o que corresponde a 1% de toda produção nacional. Seu número mais expressivo, no entanto, está na cotonicultura.

O município produziu na última safra cerca de 635 mil toneladas de algodão. Isso corresponde a 48% de todo algodão produzido no país e 3% da produção mundial da fibra. Sabe aquelas imagens de colheitadeiras em fila cortando campos de algodão em pleno cerrado? Provavelmente foi feita em Sapezal. O município tem em sua frota agrícola 1.233 tratores registrados e 741 colheitadeiras. É praticamente um desses maquinários funcionando para cada grupo de 12 habitantes.

Funcionando a partir das engrenagens da agricultura, a pecuária é o motor secundário da economia de Sapezal. O município possui um rebanho de 110 mil bovinos, que cresce a cada ano. Desde 2010, o número de cabeças de gado ampliou em 187%. A pecuária ainda conta com 14 mil frangos e 4.153 suínos.

O agro é o cerne da economia de Sapezal. Pecuária e produção agrícola juntos respondem por 53% do PIB (Produto Interno Bruto), que é a soma das riquezas produzidas no município. Esse dado que parece óbvio para municípios que são essencialmente agrícolas, mas não é.

Sorriso, por exemplo, município conhecido como o maior produtor de soja do Brasil, tem apenas 25% do seu PIB oriundo do agronegócio. A maior fatia, 49%, vem do setor de serviços, que é o dinheiro que circula dentro da economia.

Em números gerais, Sapezal faz mais dinheiro com o agro que Sorriso. Enquanto o muni-cípio do médio norte de Mato Grosso movimentou R$ 1,3 bilhão com a agro-pecuária (IBGE 2016), Sapezal, no mesmo ano, gerou R$ 1,4 bilhão com o setor primário.

O PIB total de Sapezal no ano de 2016, dados oficiais do IBGE, foi de R$ 2.672.996,81 – o que o coloca como o 11º município que mais gera riquezas no Estado. Mas a 11ª posição do ranking estadual não é a melhor forma de medir esse potencial.

Sapezal tem apenas 25 mil habitantes pela revisão do censo em 2018. Por isso o setor de serviços, que em geral mais movimenta a economia, representa menos de 28%. O que pode ser medido como um “ponto fraco” de Sapezal é, na verdade, uma demons-tração de potencial a ser explorado.

Nos últimos 6 anos, o PIB de Sapezal cresceu 222% - um avanço médio de 37% ao ano, batendo qualquer índice chinês. Esse desenvolvi-mento empurrado safra a safra fez com que o município tivesse o 4º maior PIB per capita (por habitante), do Estado. O primeiro nesse ranking é justamente Campos de Júlio, vizinho de Sapezal.

Somando as riquezas produzidas e dividindo pelo número de habitantes, cada sapezalense produz, na média, R$ 113,7 mil por ano. Isso significa exatos R$ 9.480,32 por cabeça/mês.

Só para ter uma idéia da magnitude desse número, o PIB per capita de Sapezal é 3 vezes maior do que a média nacional. Se o município fosse um país, teria uma renda por cabeça similar a da França. Ou seja, seria o 22º maior PIB per capita do mundo, a frente de países como a Nova Zelândia, Japão e Itália.

Além dos serviços, Sapezal tem potencial para expandir a sua indústria de base. Vários projetos desse sentido estão eclodindo e serão retratados nessa edição da Revista Fator. Hoje, com os números base de 2016, a Indústria representa apenas 8% do PIB, com um montante de 210 milhões. Somados, a administração pública e os impostos, ultrapassam esse setor, com 11,2% do PIB.

Embora seja liderado por 4 grandes grupos, o agronegócio de Sapezal é pulverizado. Cerca de 215 mil hectares pertencem a produtores individuais. São 134 estabelecimentos agropecuários. Outro fator gritante é o alto índice de formação dos operadores do campo.

Conforme dos dados do IBGE, 26% dos produtores rurais tem ensino superior e 4,5% com tem Mestrado. São índices muito acima da média da população local. Os operadores do agro também estão em idade produtiva: 63% dos produtores rurais tem entre 30 e 60 anos.

Os números mostram que Sapezal é uma fazenda que abastece o mundo.

DE SAPEZAL PARA O MUNDO

O pico das exportações de Sapezal foi no ano de 2012, quando os negócios internacionais rendaram 727 milhões de dólares americanos. De lá pra cá, as exportações vem caindo de forma gradativa, em parte pela volatilidade do mercado do algodão.

Ainda assim os números da balança comercial são positivos. Em 2018, Sapezal exportou o equivalente a 420,2 milhões de dólares – 9% a menos que no ano anterior. Mesmo com a queda, Sapezal responde por 4,1% de todas exportações de Mato Grosso, sendo o 106º exportador mais importante do Brasil.

Os negócios internacionais de Sapezal são realizados por 15 empresas (CNPJs). Basicamente, produtos agrícolas. Em valores, a soja respondeu por 43% do total exportado, seguido do algodão, com 38%. Na sequência vem o milho, com 11% e as tortas de soja e algodão, com 6,3%. Óleos e produtos finalizados respondem por 1,1% das exportações.

Lembra quando dissemos que o território de Sapezal corresponde a um terço do tamanho da Holanda? Os países baixos são o principal comprador da produção do município. Em 2018, Sapezal vendeu o equivalente a 52,7 milhões de dólares para a Holanda, o que representa 13% das exportações locais. É o mesmo volume adquirido pela China. Na sequência estão a Noruega (9,7%), Espanha (7,5%) e Turquia (7,2%), Indonésia (5,4%) e Reino Unido (4,2%). A produção de Sapezal foi negociada no ano passado com mais de 40 países.

As importações de Sapezal são relativamente baixas, o que deixa um saldo positivo considerável na balança comercial. As compras feitas no exterior em 2018 somaram 32,3 milhões de dólares. A maior parte do que Sapezal comprou veio dos Estados Unidos (54%), Israel (24%), e Rússia (11%).

O que o município mais importa são fertilizantes e adubos, que somam 40% do montante adquirido. Logo em seguida vem os maquinários e implementos agrícolas, com 36,6%. O terceiro maior consumo foi com veículos aéreos – aviões, drones e similares, que representaram 21% do total importado.

ECONOMIA NO TORQUE DO TRATOR

Embalada pelo diesel dos tratores e pelo frenesi das colheitadeiras, Sapezal tem 1.068 empresas em atividade. São 7,4 mil trabalhadores formais, com uma renda média mensal de 2,6 salários mínimos.

A cidade possui 5.376 domicílios registrados no departamento de engenharia da prefeitura, sendo 812 na área rural.

A frota local tem 12 mil veículos, mas apenas 2.380 são de uso particular.

A prefeitura é o grande empregador da cidade, com 11% dos postos de trabalho formais. Segundo o prefeito é Valcir Casagrande (PSC), a máquina pública, mesmo frente a crise nacional e estadual, tem saúde financeira. Em 2018, o município contou com um orçamento anual de R$ 98 milhões – média de R$ 3,9 mil por habitante ano. “As 4 maiores empresas do agronegócio de Mato Grosso estão em Sapezal, o que gera para o município uma arrecadação significativa”, expôs o gestor.

Os números do Índice Firjan (2016), de Gestão Fiscal, mostram isso. Embora Sapezal tenha 0.6333 pontos (27º lugar do estado), no item custo da dívida, a cidade tem pontuação máxima 1.0000 e Liquidez 0.9091. Isso mostra que o município tem capacidade de endividamento – embora os investimentos realizados sejam baixos a ponto de puxar o indicador para baixo.

Na parte de educação a cidade conta com 4 creches pública e 3 privadas. São 9 escolas municipais, 2 estaduais e 5 privadas, com um total de 85 professores em atividade. Segundo o prefeito, existe a previsão de instalação de uma faculdade, privada, que pretende ofertar os cursos de Direito, Psicologia, Engenharia Agrícola e Agronomia. O terreno já foi adquirido pela instituição.

Na saúde Sapezal conta com 10 estabelecimentos, sendo 6 públicos e 4 privados. A estrutura hospitalar conta com 45 leitos de internação, todos privados. Entre os exames disponíveis estão Raio-X, ultrassom e eletrocardiograma.

A cidade conta com 3 instituições financeiras, que juntas, em 2017, realizaram R$ 388 milhões em operações de crédito. A soma das poupanças dessas agências de Sapezal é de R$ 39,3 milhões.

Os números mostram que Sapezal tem espaço, potencial e dinheiro. O “boom” é eminente.

Dados do Município

SAPEZAL

Sapezal está localizada no interior de Mato Grosso, distante 509 km da capital Cuiabá, região Centro-Oeste. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2020, sua população é estimada em 26.688 habitantes.

A cidade possui a 11ª maior economia do estado, com PIB (Produto Interno Bruto) dos Municípios de R$ 2.516.823.700 (aproximadamente R$ 2,51 bilhões).

O município é um dos principais produtores de algodão do estado. Dados de 2018 do IBGE apontam para uma área plantada de 168,2 mil hectares (ha), com 756,9 mil toneladas colhidas. A soja também se destaca, com plantio em 355 mil ha e uma produção superior a 1,23 milhão de toneladas. Além destas, outras culturas também se destacam na produção de comodities, como milho, girassol, arroz e feijão.

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