Linha do tempo
Uma história escrita por várias mãos
Desde os tempos mais remotos até os dias atuais, Primavera do Leste desenvolve um enredo de grandes avanços e conquistas
Se a partir dos anos de 1970, migrantes de diversas regiões do Brasil iniciaram o processo de transformação do cerrado em lavouras produtivas, fazendo de Primavera do Leste uma das maiores potências econômicas de Mato Grosso e uma das melhores cidades para se viver e investir, é preciso destacar que antes deles vários outros personagens deram início à abertura do caminho que resultou nesse grande progresso.
Foram homens, mulheres, verdadeiros desbravadores, que caminhavam por suas terras desde o século XVII em busca da riqueza e do desenvolvimento que só aconteceram três séculos depois que o primeiro bandeirante em busca do ouro de Cuiabá cortou o cerrado da região Leste de Mato Grosso e as lavouras passaram a dominar a paisagem.
Essa longa caminhada, marcada por fatos e conquistas, ainda não foi concluída e Primavera do Leste, cidade ainda jovem, tem muito a avançar e muitos capítulos a serem escritos na sua história.
1737 – É criado um caminho ligando Cuiabá a Goiás, passando por Chapada dos Guimarães, Campo Limpo (hoje Campo Verde) e o rio Sangradouro. Mais tarde, essa rota seria a BR-070.
1772 – Passa pela região de Primavera do Leste, vindo do Rio de Janeiro, o governador e capitão-general da Província de Mato Grosso, Luiz Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, que seguia para Vila Bela da Santíssima Trindade.
1883 – No mês de novembro, vindo de São Paulo, passa pela região de Primavera do Leste o primeiro bispo da Diocese de Cuiabá, Dom José Antônio dos Reis.
1890 – É iniciada a instalação da linha telegráfica entre Cuiabá e Registro do Araguaia, em Goiás, comandada pelo major Ernesto Gomes Carneiro.
1901 – Os irmãos Salesianos chegam à região do Rio Barreiro e acampam no lugar conhecido por Tachos para dar início à criação de uma missão com objetivo de catequizar e educar os índios bororo e os poucos moradores brancos.
1902 – Nesse ano a Colônia Indígena do Sagrado Coração de Jesus é criada pelos irmãos Salesianos.
1906 – Quatro anos depois da chegada dos missionários Salesianos, é criada a Missão Salesiana São José do Sangradouro
1911 – Passagem da comissão de implantação da linha telegráfica ligando Cuiabá a Barra do Garças, liderada pelo marechal Cândido Rondon
1914 – Criada a Prelazia do Registro do Araguaia, com jurisdição sobre a região de Sangradouro.
1920 – Com a consolidação da Missão Salesiana, é criada a Paróquia de São José do Sangradouro.
1924 – É dado início ao povoamento de São Pedro, que anos depois seria o município de Poxoréo, do qual Primavera do Leste foi desmembrada após sua emancipação
1926 – Começa o garimpo de diamantes no povoado de São Pedro, atraindo centenas de garimpeiros
1926/1927 – Fugindo das Forças de Segurança Pública e dos Batalhões Patrióticos, a Coluna Prestes, movimento revolucionário que durou de 1923 a 1927, passa pela região, onde enfrenta uma tropa governista durante uma batalha nas proximidades de Sangradouro.
1930 – Joana Cândido de Mello, a “Velha Joana”, primeira moradora da região, chega ao local onde seria a cidade de Primavera do Leste e constrói seu pequeno rancho às margens de um córrego que depois passou a ter o seu nome.
1932 – É criado o Distrito de Paz de Poxoréo.
1938 – É criado o município de Poxoréo.
1952 – É construída a Igreja da Paróquia de São José do Sangradouro, mais ampla e confortável para atender aos fiéis. (Foto Construção da Igreja em Sangradouro)
1955 – Morre Joana Cândido de Mello, a primeira moradora da região de Primavera do Leste. Seu corpo é sepultado onde mais tarde seria o Parque Eldorado. O gaúcho Sabino Arias adquire 10 mil hectares na região conhecida como “Promissão”, onde pretendia iniciar as atividades agropecuárias.
1959 – O doutor Sabino Arias dá início à abertura e à exploração da área adquirida quatro anos antes, protagonizando o que seria mais tarde uma verdadeira revolução produtiva no cerrado.
1961 – Chega à região o baiano João Basílio e mais seis famílias vindas de Santana das Neves (BA). João Basílio hospeda-se em uma pensão coberta de com palha, que pertence a Sebastião Nobre Dourado
1961 – O fazendeiro João Pedro do Nascimento chega à região com a família e implanta a fazenda Cachoeirinha. Operários que trabalhavam na abertura da BR-070 acampam na Fazenda Cachoeirinha.
1962 – Estoessel de Oliveira Naves implanta propriedade onde atualmente está o Jardim Riva.
1963 – Chegam à fazenda de Sabino Arias os tropeiros Catu, Otávio e Santos trazendo com eles uma tropa de burros e cavalos.
1965 – Por iniciativa do doutor Sabino Arias, são abertos os primeiros 30 quilômetros da estrada que no futuro viria a ser a MT-130.
1968 – Para implantar a fazenda de Meno Koln, chegam à região os gaúchos Lindolfo e Edemar Trampusch. No mesmo ano, o Grupo Campliglia implanta o Projeto Volta grande, às margens da MT-130.
1970 – Edgard Cosentino e outros investidores adquirem áreas na região em meados daquele ano.
1971 – Empresários paulistas criam o Projeto Fazenda Primavera, por meio da empresa Primavera D´Oeste . Florindo Gasparotto e a esposa Ângela Coloniedo Gasparotto, hospedam-se na pensão de Sebastião Nobre Dourado, abrem a Fazenda Santa Ângela e iniciam o plantio de arroz onde hoje está o Parque Castelândia.
1972 – Edgard Cosentino adquire a Fazenda Nova Esperança, onde hoje está o núcleo urbano de Primavera do Leste. Em 1973, os primeiros 1,1 mil hectares da propriedade são abertos para o cultivo de lavouras.
1973 – São implantadas as fazendas Gaspar e Terra. Os irmãos Daltroso adquirem área e iniciam o cultivo do arroz. Pavel Kusnetsov e outros sócios compram a Fazenda Massapé. Movidas pelo espírito desbravador, as famílias Cerutti, Dal Piva e Donin, chegam à região.
1974 – Em busca de novas oportunidades, chegam as famílias Castelli, Locatelli, Zelinski, Zenatti, Grozimenski, Scopel, Tomazi, Mahl, Otonelli, Daltrozo, Foking, Viana, Honosa, Argenta, Dalla Nora, Buzato, Viccari, Luchese, Renosto, Ravanello, Oliveira, Stefani, Mazzonetto, Marcon e Pazinatto.
1975 - Nifodi Rijkoff e familiares chegam à região. É construída a primeira escola, que teve como primeira professora, Marlei Hentz. Patrulha mecanizada é adquirida para atuar na manutenção das estradas. A atividade comercial começa a dar os primeiros passos quando Antoninho Ravanello, Avelino de Oliveira e Nerci Mazzonetto, implantam um armazém de secos e molhados.
1975 - Darnes Egydio Cerutti e Adevino Castelli criam uma empresa de venda e transporte de combustível (TRR), sendo esta a primeira de Primavera do Leste a ser registrada na Junta Comercial de Mato Grosso. O TRR foi o embrião do Posto Barril, criado naquele mesmo ano e que se tornou referência para a região. No seu entorno, pouco mais de cinco anos depois, iniciou-se a cidade de Primavera do Leste.
1976 - Adevino Castelli constrói um barracão de madeira coberto com folhas de zinco e o aluga à Casemat. No local se realiza o primeiro baile do chope de Primavera do Leste. É implantada pela Prefeitura de Poxoréo a Escola Monteiro Lobato, sendo a primeira professora Marlei Entz. Yoiti Tabata inicia a compra do arroz produzido na região. Começam a ser cultivadas as primeiras lavouras de soja na região.
1977- Antoninho Ravanello, Avelino de Oliveira e Nerci Mazzonetto instala um comércio de Secos e Molhados, Bar, Restaurante e Dormitório.
1978 – Chegam as famílias Comiran, Renosto, Franco, Furlan, Zanchi, Bressan e Zanchet. É definido o local para a construção de uma usina hidrelétrica. Edgar Cosentino idealiza o Projeto de Loteamento Cidade de Primavera em uma área de 205 hectares, solicita autorização à Prefeitura de Poxoréu para a criação de núcleo urbano e dá início à venda dos terrenos. Lindolfo Trampusch candidata-se a vereador representando o Distrito, mas perde a eleição.
1979 – É lançado oficialmente o Loteamento Cidade Primavera e dado início à abertura de ruas e avenidas. Mozart de Oliveira Melo constrói sua residência e um bar com cancha de bocha.
1980 – No dia 4 de abril, o padre Onesto Costa reza a primeira missa no Loteamento Cidade Primavera, sob um cruzeiro colocado onde mais tarde seria construída a Igreja Matriz. Forma-se a primeira diretoria da Igreja Católica, tendo como presidente Darnes Egydio Cerutti. É construído o Salão Paroquial. É aprovado o Loteamento Cidade de Primavera. O INCRA expede o Certificado de Aprovação do Loteamento.
1981 – Com a presença do governador Frederico Campos, é inaugurado um posto telefônico. No mesmo dia (26/09) o Loteamento Cidade Primavera é elevado a Distrito Administrativo de Poxoréu. O médico Milton João Braff dá início à construção do Hospital São Lucas, o primeiro da cidade, em uma obra iniciada pela Construtora Cosentino.
1982 – Lindolfo Trampusch é eleito vereador por Poxoréu representando o Distrito Cidade Primavera.
1983 – É solicitada ao presidente da Assembleia Legislativa, Ubiratan Spinelli, a implantação de energia elétrica, exatoria, cartório, linhas telefônicas, correios e rede de água e esgoto. É instalada a Exatoria Estadual e a subprefeitura. É inaugurada a agência do Banco Itaú. Adivino Castelli funda a Sociedade Recreativa Aquática e Beneficente Primavera, com piscina e clube.
1984 - É criada a comissão pró-emancipação do Loteamento Cidade Primavera e Darnes Egydio Cerutti é eleito presidente. É inaugurado o Cartório de Registro Civil. A Prefeitura de Poxoréu autoriza a criação do loteamento Parque Castelândia, por Adivino Castelli. É inaugurada a agência do Banco Bamerindus do Brasil e fundado o Rotary Club Primavera.
1985 – Com o crescimento da comunidade e o aumento da população, é preciso ampliar a oferta de serviços públicos, sendo então instalado um posto dos Correios, inaugurado o terminal rodoviário urbano e implantado o serviço de telefonia residencial e comercial. É escolhido o nome de Primavera do Leste para o futuro município.
1986 – Na busca pela independência política e administrativa, em abril é realizado o plebiscito para emancipação do Distrito, que é levado a município no dia 13 de maio. Darnes Egydio Cerutti (PMDB) é eleito prefeito em eleição suplementar, vencendo José Fernandes Barbosa (PFL). São eleitos os primeiros vereadores. É inaugurada a pavimentação asfáltica da BR-070, facilitando a ligação com Cuiabá e com o estado de Goiás.
1987 – Darnes Egydio Cerutti assume como prefeito e fica no cargo até o final 1988, quando são realizadas novas eleições. É inaugurado o primeiro posto de saúde, biblioteca pública, instaladas repetidoras de TV, inauguradas escolas, construídas estradas, pontes, galerias pluviais, iniciada a construção do campus da UFMT, construídas praças, creches, campo de futebol e pista de pouso e decolagem. Visando melhorar a segurança da recém criada cidade, é instalado o destacamento da Polícia Militar.
1988 – O progresso começa a chegar à zona urbana com o asfaltamento das ruas Piracicaba, Bento Gonçalves, Blumenau, do Comércio, Rafael Borghetti e Avenida Porto Alegre. São asfaltados os primeiros 30 quilômetros da MT-130 e criada a Escola Municipal de 1º Grau Mauro Wendelino Weis. A Escola Estadual de 1º e 2º Graus Alda G. Scopel é reformada e construída uma quadra de esportes.
1989 – Érico Pina e Ernesto Ruaro assumem os mandatos como prefeito e vice-prefeito.
1989/1992 – Escolas são construídas, ruas e avenidas são pavimentadas e iluminadas; frota pública é equipada; estradas e pontes são construídas; é implantado o curso de Ciências Contábeis da UFMT; são construídos o ginásio de esportes e o aeroporto municipal. Construída a cadeia pública e a delegacia de Polícia Civil.
1993 – Vilceu Francisco Marquetti e José Roberto Patrício assumem a Administração do Município.
1993/1996 – Com o avanço das lavouras e o fortalecimento de outros setores da economia, Primavera do Leste passa a ser a 9ª economia do estado. É criada uma escola de 1º Grau na Colônia Russa, inaugurada a usina hidrelétrica, implantada a secretaria de Indústria e Comércio. É criado o conjunto habitacional São José.
1994 - É dado início ao cultivo do algodão em Primavera do Leste. Com o passar dos anos e com cultivares adaptadas ao solo e ao clima da região, a cotonicultura passa a ocupar grandes áreas, transformando-se em uma das bases da economia local. O Governo do Estado, com apoio da Prefeitura, implanta uma unidade do INDEA
1997 – Érico Piana Pinto Pereira e Irineu João Veit assumem como prefeito e vice-prefeito.
2001 - Érico Piana Pereira Pinto e Valmor Ezequiel di Domênico, assumem os cargos de prefeito e vice-prefeito.
2005 - Getúlio Viana e Valmir de Souza assumem os cargos de prefeito e vice-prefeito.
2009 - Getúlio Viana e Paulo Eromar Berch assumem como prefeito e vice-prefeito.
2013 - Érico Piana Pinto Pereira é novamente eleito prefeito, tendo como vice, Eraldo Gonçalves Fortes.
2014 - Morre o ex-prefeito Vilceu Francisco Marquetti
2016/2020 – Getúlio Viana e José Alécio Michelon assumem os cargos de prefeito e vice-prefeito.
2017 – Getúlio Viana e José Alécio Michelon são cassados pelo TSE. O presidente da Câmara, Leonardo Tadeu Bortolini é eleito prefeito em eleição suplementar, tendo como vice-prefeito Sérgio Luiz Fava.
2021 – Leonardo Tadeu Bertolini e Ademir Ortiz de Góes assumem os cargos de prefeito e vice-prefeito.
Eu me orgulho de ser primaverense
Mario Crema
“Eu me orgulho de ser primaverense”
Morando há 39 anos na cidade, advogado pioneiro destaca o desenvolvimento de Primavera do Leste e aponta que ela ainda tem muito a crescer
Por: Valmir Faria
Morando em Primavera do Leste desde de 1982, quando deixou a cidade de Peabiru, no Paraná, e decidiu radicar-se no Mato Grosso, o advogado e produtor rural Mário Crema, depois de todos esses anos, já se considera verdadeiramente um primaverense.
“Primavera é uma cidade abençoada por Deus. Eu tenho orgulho de ser chamado de cidadão primaverense”, afirma esse paulista nascido em Bilac há 84 anos que, ainda na década de 1950 mudou-se para o Paraná, onde atuou no ramo de compra e venda de café.
Casado com Eloir Pagliari Crema há 62 anos, com quem teve três filhos, um deles já falecido, Mário Crema tem orgulho da família que constituiu e afirma que valeu a pena ter trocado as terras rochas de Peabiru pelo cerrado de Primavera do Leste. “Meus filhos e meus netos estão todos formados, eu tenho orgulho de ter toda minha família reunida aqui. Então não tenho do que reclamar”, garante.
Primeiro advogado a se estabelecer na cidade, Mário Crema sempre teve participação destacada na busca por melhorias para a cidade. Entre tantas ações atuou ativamente para a instalação da Comarca no final dos anos de 1990 e negociou diretamente com o Banco do Brasil em Brasília, na década de 1980, para que fossem liberados recursos para os produtores rurais de Primavera do Leste.
Como advogado, sempre teve atuação destacada nas questões fundiárias, defendendo sempre os direitos dos agricultores. No campo da política, chegou a disputar duas eleições, uma para deputado estadual e outra para a Câmara Federal, mas não conseguiu se eleger.
Ele conta que antes de se fixar no pequeno povoado, que era então distrito de Poxoréu, havia estado na região do Itaquerê em 1980, acompanhando um cliente. Já naquele ano, vislumbrava que o lugar tinha futuro. “Eu via a pujança de crescimento”, pontua.
Quando chegou à Primavera do Leste, o pioneiro comparava a localidade com cidades como Cianorte, Umuarama e Cascavel, todas no Paraná, e que, na década de 50 do século passado, experimentaram grande desenvolvimento.
“Assim era em 82 quando nós chegamos. Qualquer um via que isso aqui não tinha como não crescer. O comércio estava com ‘as portas’ abertas, a parte agrícola estava com ‘as portas abertas’. Tudo isso fazia com que qualquer pessoas que tinha interesse visse que aqui era uma pujança de progresso”, lembra.
Era bom, mas não era fácil
Mas nem tudo era tranquilidade na pequena comunidade e os problemas, como é característico em um lugar que está se iniciando, também existiam. A falta de estradas era um deles e dificultava o acesso aos centros maiores, como Barra do Garças, a qual Primavera fazia parte da comarca, Cuiabá e Rondonópolis. A situação só começou a melhorar, lembra o advogado, com a pavimentação da BR-070 e, a partir de 1986, com a emancipação, a cidade deslanchou.
Fé no futuro
Olhando para o passado, o doutor Mário Crema vislumbra uma Primavera cada vez mais desenvolvida no futuro devido a todo seu potencial produtivo. “Aqui não tem como diminuir. A pujança de Primavera é uma coisa fabulosa”, frisa.
“Se chegar na cidade dez torneiros, se vier um engenheiro, se vier operador de máquina – pode vir cem, que não ficam dois dias sem emprego. Isso que demonstra o progresso”, aponta. “Primavera hoje já está no auge no cenário nacional, mas vai ficar cada dia mais”, ressalta.
RENATO CAZANELLI
RENATO CAZANELLI
“Tudo em Primavera do Leste é fomentado pelo Agro”
A força do setor produtivo no contexto econômico do município é essencial para o desenvolvimento do município, aponta vereador
Vereador eleito pelo Democrata e cumprindo seu primeiro mandato, Renato Cazanelli, sempre trabalhou ligado ao agronegócio em Primavera do Leste, cidade onde vive desde 1998, e aponta que o setor é a pedra angular que sustenta a economia do município.
“Tudo em Primavera do Leste é fomentado através do agronegócio”, diz ele. “Tudo aqui tem um ponto em que o agronegócio interfere diretamente”, completa Renato, que também é gerente comercial da Farm Show, evento realizado pelo Sindicato Rural e que é considerado a grande vitrine do município.
Essa força do agronegócio no contexto econômico da cidade é classificada por Renato como essencial. “Se nós tirarmos o agro, não temos Primavera do Leste”, diz ele. “Porque aqui começou com a agricultura e foi a agricultura que trouxe a necessidade de instalações de comércios, de pontos de apoio para estruturar aquilo que vinha se desenvolvendo no campo”, destaca.
Foi em razão do agro, de acordo com ele, que a cidade ganhou infraestrutura, especialmente de transporte, que o comércio se desenvolveu, que a industrialização aconteceu e que a cidade se transformou em um polo regional com influência sobre outros 10 municípios.
“Nos temos 67% do PIB do município gerado pelo comércio e pela prestação de serviços, só que desse percentual, todos estão ligados ao agronegócio. Nós sabemos que Primavera está criando essa característica de polo e tudo isso devido à sua matriz, que é o agronegócio”, diz Renato.
Momento de transição
Renato aponta que o município está vivendo uma fase de transição, passando de produtor para transformador de matéria prima em função do agronegócio. “Nos saímos de um ciclo de investimentos na abertura de áreas, no fomento do desenvolvimento, na logística, se estruturou tudo isso para qual momento? Para o momento agora que se chama industrialização, no desenvolvimento focado em que aqui existe a matéria prima, manufaturá-la e expô-la para o mercado lá fora com valor agregado”, diz.
Além da matéria prima produzida em abundância nos campos do município, Renato enfatiza que Primavera do Leste dispõe de mão de obra e oferece serviços públicos de qualidade. Isso, segundo ele, dá segurança para as empresas que estão se instalando ou que pretendem se instalar na cidade. “Olhando daqui para frente, não tem como deixar de entender que o que acontecer é por causa do agronegócio”, completa.
E não dá pra dizer que o agronegócio não é realmente importante para Primavera como afirma Renato. O município, segundo ele, tem cerca de 300 mil hectares cultivados com lavouras. Tem também a maior área irrigada de Mato Grosso, com 50 mil hectares e projeção de aumento para mais 100 mil hectares.
Em Primavera do Leste está a maior frota de aviões agrícolas do Brasil. O município é também o maior produtor de ovos da América do Sul e tende a se tornar um grande produtor de carne com o aumento da criação de gado por meio de confinamento devido a grande oferta de alimento, que será potencializada ainda mais com a produção do DDG gerado a partir da fabricação de etanol de milho pela FS Bionergia, que anunciou investimentos de R$ 1,2 bilhão em Primavera.
Parceria agronegócio e poder público
Renato destaca que a união entre a classe produtora e o Poder Público na busca por melhorias para o Município tem apresentado ótimos resultados. Ele cita que há pouco menos de dois anos, 13 pontes foram construídas pelos produtores rurais juntamente com a administração municipal e com o governo do Estado. “O agronegócio nunca fugiu dessa responsabilidade, colocando sua contrapartida para poder fazer as coisas acontecerem”, diz.
Farm Show
Como gerente comercial da Farm Show, Cazanella aponta que o evento contribui de forma especial com Primavera do Leste, fomentando o turismo de negócios e apresentando o município para investidores que visitam a mostra tecnológica.
“A força do agronegócio faz com que essas pessoas acabem vindo para cá num segundo momento para conhecer melhor a cidade e saber das oportunidades de investimentos”, observa. A Farm Show atrai todos os anos cerca de 50 mil visitantes. Em 2020, o evento movimentou R$ 1,5 bilhão. “Nossa expectativa para 2021 era termos um público rotativo de 70 mil pessoas, o que não se concretizou devido à pandemia”, diz Renato.
WALDOMIRO RIVA
Um homem com visão a frente do seu tempo
Empreendedor nato, pioneiro investiu no mercado imobiliário e criou um dos mais valorizados bairros de Primavera do Leste
Em 1979, durante uma viagem a Diamantino, Waldomiro Riva resolveu conhecer a região onde estava surgindo Primavera do Leste. Se encantou com o lugar e decidiu investir, adquirindo inicialmente pouco mais 500 hectares.
No início dos anos 80, o pioneiro trocou definitivamente a cidade gaúcha de Tupanciretã, onde cultivava soja, trigo e milho, por Mato Grosso. Ao seu lado, sempre acreditando nos seus projetos, estava a esposa Altair dos Santos Riva e os filhos Marli, Elton, Roselane e Emerson.
A pioneira conta que Waldomiro sempre foi empreendedor, tendo atuado no comércio e com transporte antes de se dedicar à agricultura no Rio Grande do Sul. Em Primavera do Leste, ela lembra que inicialmente o marido decidiu trabalhar com o cultivo de lavouras e com a criação de gado.
“Nós começamos aqui com o plantio de arroz onde hoje é o Jardim Riva, mas como as máquinas atolavam muito ele desistiu e resolveu criar gado”, lembra a pioneira. “Mas aí ele falou: ‘Aqui eu vou ter que fazer um loteamento’. Isso foi em 1982”, recorda.
Ela destaca que o esposo sempre enxergava adiante e confiava no futuro de Primavera do Leste, o que fomentava ainda mais seu espírito empreendedor. “Desde que veio conhecer, ele sempre acreditou que Primavera seria o que é hoje. Ele tinha uma visão muito à frente”, pontua.
Nasce a Incorporadora e Imobiliária Riva
E foi justamente por acreditar no lugar que escolheu para viver, que Waldomiro criou em 1988, o Jardim Riva, que foi sucesso desde o seu lançamento. Dali em diante, as vendas só aumentaram, o que fez com que a família se dedicasse cada vez mais ao setor imobiliário.
Comercializado inicialmente em três etapas, o bairro é hoje um dos mais valorizados de Primavera do Leste, concentrando um grande número de construções de alto padrão; e é um dos centros gastronômicos e da vida noturna da cidade. É na avenida Campo Grande, onde se inicia o bairro, que estão instalados os melhores bares e restaurantes.
Dona Altair, que sempre acreditou nos projetos do marido, conta que ele era determinado e, sempre pautado na ética e no respeito, não media esforços para concretizar um negócio. Para comprar a área onde hoje é o bairro Belvedere, Waldomiro, por exigência do dono das terras, colocou na transação um Del Rey que era dela.
“Ele sempre dizia que eu não precisava me preocupar porque sabia o que fazer com aquela terra. E sempre que vendia um terreno ele me lembrava, alegre, sobre quantos Del Reys dava para comprar com o dinheiro”, comenta. Hoje, o bairro Belvedere, assim como o Jardim Riva, é um dos mais bem estruturados de Primavera do Leste.
Mesmo tendo se dedicado ao setor imobiliário, Waldomiro Riva não deixou de lado o cultivo da terra e a criação de gado. A pecuária sempre foi uma das paixões do pioneiro, e, até hoje a família se dedica à criação de animais da raça nelore.
Dificuldades do início e apego à família
Se hoje Primavera do Leste é moderna, bem planejada, referência para todo o Brasil e que encanta a todos, no início a realidade do lugar era bem diferente. Foi preciso muito sacrifício, muita determinação para superar as dificuldades e transformar a cidade no que ela é hoje.
“Energia era a motor, fornecida à noite e um pouco durante o dia. Não tinha um metro de asfalto, era só cascalho e poeira. Havia dias que, devido às queimadas, não se conseguia ver o céu. Foi muito difícil”, comenta dona Altair.
Mas as dificuldades da época não abalavam a vida familiar e os problemas do dia a dia em um lugar que estava apenas começando, não impediam que Waldomiro desse atenção aos filhos e aos netos, a quem tratava sempre com muito carinho. Sempre colocou a família em primeiro lugar, não investia por dinheiro, mas por um propósito muito maior.
Empresário e benemérito
Mesmo sendo um homem de negócios, um empreendedor por natureza, Waldomiro Riva não se isentava do seu papel como cidadão, tendo sido um grande benemérito de Primavera do Leste.
Vereador na primeira legislatura do município, ele sempre se preocupou em fazer com que Primavera do Leste avançasse. Como empresário e cidadão, doou terrenos para a construção do Estádio Cerradão, do Aeroporto Municipal Ernesto Ruaro e do Parque de Exposições. Também doou áreas para a construção de escolas, faculdade e do Espaço Conviver. Foram muitas as ações que, além de fomentar o desenvolvimento, beneficiaram inúmeras famílias.
Pelo seu trabalho em favor do Município e de Mato Grosso, Waldomiro Riva foi agraciado com os títulos de Cidadão Benemérito de Primavera do Leste, em 2007, e Cidadão Mato-grossense, em 2011.
Exemplo e legado
A trajetória de vida de Waldomiro Riva é um exemplo de sucesso construído com muito trabalho, determinação e princípios éticos e morais. Seu exemplo é um legado às novas gerações e àqueles que darão continuidade aos projetos idealizados por ele.
Vitimado pela Covid-19, Waldomiro faleceu no final de 2020, em São Paulo, onde estava internado para tratamento da doença. A perda abalou a todos. Primavera do Leste e Mato Grosso perderam um de seus maiores investidores e um pioneiro que acreditava no município e no estado.
Mesmo abalados, Dona Altair e os filhos estão empenhados em seguir com o legado do marido, do pai e do empreendedor. “Vamos continuar com a essência do Waldomiro, que se orgulhava do progresso que ajudou a trazer para a cidade. Foram muitos empregos gerados, um processo de longos anos de urbanização e embelezamento da cidade; investimentos em sustentabilidade e no agronegócio. Enfim, vamos dar continuidade a este empreendimento sustentável e humano”, diz dona Altair.
Dona Altair lembra que Waldomiro tinha o desejo que os filhos continuassem tocando os negócios imobiliários e as fazendas. Nos dois últimos anos, segundo a pioneira, ele estava feliz e tranquilo com a decisão tomada. “Temos certeza que estamos no caminho certo. Vamos manter a família unida, seguir juntos com essa trajetória de muita prosperidade e vamos continuar nos orgulhando de tudo que pudermos transformar em benefício para a comunidade”, afirma.
Edgard Cosentino
O visionário que criou uma cidade no meio do cerrado
Depois de trocar um cargo importante em uma grande companhia telefônica em Santo André (SP) pelo Mato Grosso nos anos 70, o empresário investiu na criação de um loteamento que se transformou em Primavera do Leste
Por Valmir Faria
Em 1970, o paulista Edgard Cosentino, então com 30 anos, deixou a esposa Lilian Ometto Cosentino e o filho Edgard Ometto Cosentino em Santo André (São Paulo) e mudou-se para o interior do Mato Grosso. Com ele vieram seu pai, Paulo Cosentino Filho e o primo José Abílio Cosentino.
Com formação em economia, trocou o cargo de assistente de diretoria de uma grande empresa telefônica e o conforto que a função lhe proporcionava para administrar um empreendimento agropecuário na região Leste de Mato Grosso, num ponto perdido no meio do cerrado entre Cuiabá e a divisa com o Estado de Goiás.
Quatro anos depois vieram Dona Lilian e o filho Edgard. A família foi morar em uma casa feita com paredes de barro e coberta com palha de coqueiro. Na primeira noite, como lembra dona Lilian, com medo, ela pensou em dormir no carro da família, mas desistiu da ideia porque com os vidros fechados o calor era insuportável e com eles abertos, os insetos eram o problema.
Mal sabia ela que menos de uma década depois, o doutor Edgard, como ele é chamado, começaria a escrever um dos mais importantes capítulos da história que transformaria a região, mesmo que no início, criar uma cidade não fizesse parte dos seus planos. “Não passava pela minha cabeça. Eu não pensava nunca no assunto”, revela.
Porém seu espírito empreendedor e visionário, sua crença no futuro e sua determinação, fizeram com que aos poucos ele fosse percebendo que era sim, possível investir em um projeto urbano onde as empoeiradas BR-070 e MT-130 se encontravam.
“Depois que eu entrei aqui, eu voei a região inteira e pensei comigo: ‘aqui vai dar um ponto de entroncamento’. E a minha especialidade em Economia é o Planejamento e Desenvolvimento Regional Integrado, então facilitou um pouco na cabeça”, conta.
Decidido a levar à diante o projeto, doutor Edgard separou 1,1 mil hectares de sua fazenda Nova Esperança e contratou o arquiteto Antonio Carlos Candia, de Cuiabá, para elaborar o projeto urbanístico da futura cidade, que foi inspirado no modelo de Maringá, cidade paranaense onde o fundador de Primavera do Leste havia morado nos anos de 1960.
Olho: “Aqui era cerrado. Mato ralo onde o gado pastava. Aí eu resolvi: vou fazer uma cidade. Eu falei brincando, mas depois eu falei: quer saber? Vou fazer”
Era o ano de 1978 e as primeiras ruas começaram a ser abertas, para que, em 1979 pudesse ser lançado oficialmente o Loteamento Cidade Primavera, nome sugerido por dona Lilian porque o lançamento aconteceu durante a estação das flores.
O colonizador lembra que hoje onde é o Condômino Cidade Jardim, uma das regiões mais nobres da cidade, era onde o gado pastava. “Era cerrado, mato ralo. Aí eu resolvi: vou fazer uma cidade aqui”, recorda. “Eu falei brincando, mas depois eu falei: quer saber? Vou fazer”, revela.
Nascia ali, Primavera do Leste, cidade que hoje conta com uma população estimada em 80 mil moradores. O município, que é a 7ª economia do estado, registra um crescimento exponencial e tem uma das melhores qualidades de vida de Mato Grosso.
Vai criar calango?
A princípio, a criação de uma cidade em meio ao cerrado era vista com desconfiança pelos que passavam pelo lugar e visitavam o escritório da Imobiliária Cosentino, que ficava no início da Rua Piracicaba. Não acreditavam na possibilidade de surgir uma cidade no meio do nada. O descrédito era tamanho que muitos ironizavam o projeto e chegavam a questionar a lucidez do pioneiro, conforme ele mesmo lembra com bom humor.
“O que o senhor vai fazer aqui?”, perguntavam. ‘Vai criar calango? O senhor é louco’. Eu falava: vamos ver, só estou começando”, relembra. Porém, com o passar do tempo os questionamentos e as dúvidas se transformaram em certeza. “A pessoa que falou que eu ia criar calango, depois de um certo tempo passou pelo escritório e falou pra mim: ‘Edgard, se eu tivesse ouvido você, hein? Você não criou calango, criou coisa muito melhor’”, recorda o fundador de Primavera do Leste.
Dificuldades
Mas é preciso ressaltar que as dificuldades do início eram enormes. Faltava praticamente tudo. Até a divisão do estado, que resultou na criação do Mato Grosso do Sul, era um entrave, já que o apoio do governo era pequeno em razão da situação política e do pouco recurso que Mato Grosso dispunha.
“Frederico Campos, que faleceu recentemente, foi nomeado governador do Estado sem um tostão em caixa. Não tinha dinheiro. E eu precisava abrir ruas, estradas. Falei com o Frederico e ele disse que as máquinas do governo estavam em Rondonópolis, mas estavam todas quebradas e que não havia dinheiro para consertá-las”, conta.
Como todo problema tem que ser resolvido e toda dificuldade superada, o colonizador então se dispôs a pagar pelo conserto das máquinas e também os salários dos operadores que estavam atrasados para que as vias urbanas e rurais pudessem ser abertas. A energia elétrica, lembra Cosentino, também foi viabilizada com recursos próprios, trazida das usinas do rio da Casca, em Chapada dos Guimarães. “Primavera praticamente nasceu com luz”, brinca o pioneiro.
Ousadia
Como já foi dito anteriormente, Edgar Cosentino sempre foi ousado, enxergava sempre adiante, vislumbrava sempre o progresso e o desenvolvimento. E seu empreendedorismo o levou a criar no início dos anos de 1990, o primeiro condomínio fechado de Mato Grosso, o Cidade Jardim, hoje um dos bairros mais nobres e valorizados de Primavera do Leste.
Outra jogada ousada do pioneiro foi ter criado por volta de 1997 o Loteamento Primavera III. Como o bairro ficava distante do centro, a estratégia do empreendedor era criar uma “Cidade Satélite” e fazer com que a área urbana se expandisse, além de facilitar a aquisição de terrenos por famílias de menor poder aquisitivo. E deu certo. Hoje, a região do Primavera III é uma das mais populosas da cidade, conta com total infraestrutura e uma completa rede de serviços para atender os moradores.
E mais um grande projeto, resultado do empreendedorismo de Edgard Cosentino, está sendo executado: O Jardim Europa. São 500 hectares com um moderno projeto urbanístico idealizado pelo renomado urbanista Benedito Abbud e totalmente integrado à cidade.
Além das questões urbanas, da criação de loteamentos populares, bairros nobres e condomínios fechados, a ousadia de Edgard Cosentino contribuiu com o desenvolvimento da agricultura na região. Como forma de incentivar produtores de outros estados do Brasil a investirem em Primavera do Leste, ele cultivava soja e outras lavouras em pequenos talhões para mostrar que era possível produzir no cerrado.
O presente
Para Edgard Cosentino, a evolução da Primavera do Leste surpreendeu. Ele não se acanha em dizer que o desenvolvimento da cidade foi além do que esperava e lembra que no primeiro ano de criação do loteamento, as negociações foram devagar, mas a partir do segundo ano começaram a deslanchar. “Foi um projeto muito bem feito e veio gente de todos os lugares: do Rio Grande do Sul, do Paraná, Santa Catarina. Tem até gente do Nordeste aqui”, enfatiza.
Para o pioneiro que acreditou num sonho de se criar uma cidade no meio do cerrado, ver Primavera do Leste no presente é algo especial. “É uma sensação de vitória. E é uma sensação diferente, não tem nem como explicar. A gente fica envaidecido de ver que Primavera não só progrediu, mas nos surpreendeu. O crescimento dela foi muito mais rápido do que a gente esperava”, destaca. “E Primavera, a partir do ano que vem, vai ter um crescimento muito grande. Já está tendo”, diz.
Confiança no futuro
Se no passado Edgard Cosentino acreditou no projeto de criar uma cidade no meio do cerrado, ele é confiante em dizer que no futuro, Primavera do Leste será muito maior. E tem razão.
O progresso da cidade é visível, com novos bairros surgindo, investimentos públicos sendo feitos, grandes empreendimentos privados acontecendo, principalmente no setor industrial, e uma agricultura cada vez mais forte, que fomenta toda uma cadeia de negócios gerando emprego e renda para a população, que aumenta a cada ano.
“Como cidade, vai ser o dobro do que ela é. Vai ter um desenvolvimento muito grande. Faculdades estão vindo para cá, hospitais tem aí. E nós temos tido sorte com os prefeitos, todos foram muito bons. Acho que Primavera, daqui a 20 anos, vai ser uma cidade como poucas no Brasil”, diz.
Apoio da família
Quando Edgard Cosentino chegou à região onde hoje é Primavera do Leste, tinha então 30 anos e era ainda recém-casado. Dona Lilian foi a companheira que enfrentou todas as dificuldades e problemas, sempre acreditando que os planos do marido dariam certo e que no futuro tudo seria melhor.
Esse companheirismo que dura até hoje, é destacado pelo pioneiro de uma forma tamanha que ele até muda o ditado que diz que, ao lado de um grande homem, tem sempre uma grande mulher. “Dizem que um projeto como o de Primavera do Leste só poderia ser feito por um grande homem. Negativo! Um grande homem tem na frente uma mulher maior ainda para que ele possa ser alguém atrás”.
Ele revela que de início, a reação de dona Lilian não foi das melhores quando foi informada que se mudariam para o Mato Grosso. “Ela quase morreu”, conta Cosentino. “Mas no fim ela foi a que mais gostou daqui e gosta. E o pessoal gosta muito dela”, completa.
Se o colonizador reconhece o apoio da família para que o Projeto Cidade Primavera desse certo, a recíproca é verdadeira. Além da esposa, os filhos estão ao lado de Edgard, cuidando dos negócios e apoiando os novos projetos.
O filho Edgard Ometto Cosentino, que era só uma criança quando a família chegou à região, enfatiza que o pai, quando idealizou a cidade, pensava a frente do seu tempo. “Ele foi e é um visionário até hoje. Ele era e é futurista até hoje. A gente percebe nas decisões que ele sempre tem um olhar pro futuro”, frisa.
Edgard destaca que a ousadia e a visão de futuro do pai, que no passado suscitaram dúvidas nos investidores em relação ao sucesso dos empreendimentos, se transformaram em sinônimos de credibilidade. “Tanto que hoje, as coisas que a gente faz o pessoal agora acredita no primeiro ou segundo dia, porque eles veem que realmente elas acontecem”, ressalta.
Salesianos
Um século de evangelização e educação
Em 1902, um grupo de religiosos da Congregação Salesiana chegou à região de Primavera do Leste e deu início a implantação de uma missão, que se consolidou quatro anos depois e está presente até hoje
Por Valmir Faria
Muito antes de os primeiros produtores rurais se instalarem onde mais tarde seria criado o município de Primavera do Leste, um grupo de abnegados e resilientes religiosos já vivia na região, catequizando e educando índios e os poucos não-índios que habitavam o cerrado mato-grossense. Eram os salesianos e salesianas da família fundada por Dom Bosco em 1859, na Itália, e que desde o início alimentava o sonho de educação da juventude e evangelização dos povos indígenas.
Os salesianos chegaram ao Brasil em 1883, instalando-se primeiramente no Rio de Janeiro. Em 1894, depois de insistentes pedidos do Bispo Dom Carlos Luís D'Amour e do presidente da Província de Mato Grosso, Manuel José Murtinho, chegam à Cuiabá com o objetivo de iniciar a missão de evangelizar e educar. Em 1895, chegam à capital da província as irmãs salesianas Filhas de Maria Auxiliadora.
“Pude constatar que a obra de Dom Bosco é grandiosa e providencial, que muita coisa é feita com meios tão escassos”. Cândido Mariano da Silva Rondon
São José do Sangradouro
Em dezembro de 1901, uma expedição formada por cinco salesianos - 2 padres e 3 irmãos; 3 irmãs salesianas, 2 jovens e 8 soldados deixou Cuiabá pelo antigo caminho dos bandeirantes e seguiu por trilhas e veredas em direção ao Leste mato-grossense em busca de um local para instalar uma missão.
Depois de um mês de penosa marcha em lombo de cavalos, no dia 18 de janeiro, o grupo chega à região do Rio Barreiro e inicia a Colônia Indígena Sagrado Coração de Jesus, com a preparação do terreno para construção de ranchos e plantação. Na colina próxima levantam um cruzeiro em sinal de paz e fraternidade com os indígenas. Em 1906 é dado início à Colônia Indígena de São José de Sangradouro, tendo para isso sido comprada uma antiga fazenda do médico cuiabano Manoel dos Santos.
Em 1911, durante sua passagem pela Missão, o então general Cândido Rondon destacou o trabalho desenvolvido pelos religiosos. “Pude constatar que a obra de Dom Bosco é grandiosa e providencial, que muita coisa é feita com meios tão escassos, que os salesianos são muito respeitados e queridos. Isso me faz concluir que a mão de Deus está aqui”, escreveu o patrono das comunicações em seu relatório de campo.
Aos poucos o local foi se transformando em uma pequena comunidade, tornando-se referência para a região, com plantação, oficinas, capela, cuidados da saúde, além de residência dos missionários e indígenas.
Em 1915, foi instalada uma escola que alfabetizava os filhos dos fazendeiros, dos demais moradores e dos nativos bororos, que já haviam sido pacificados. Depois de algum tempo, a escola passou a funcionar em sistema de internato para favorecer as famílias da região.
Após a destruição provocada pela luta contra a Coluna Prestes, em 1926, foi construído um canal com oito quilômetros de extensão, proporcionando energia elétrica à Missão e melhoria no funcionamento das oficinas. Na plantação, destacou-se o cultivo do trigo, que foi levado à exposição de São Paulo em 1942.
Em 1914, Sangradouro começou a depender da organização religiosa da Prelazia do Registro de Araguaia (hoje Araguaiana), iniciada no mesmo ano. São José de Sangradouro passou a ser sede de Paróquia em 1920, com os religiosos atendendo toda a região, chegando até aos povoados que foram se formando, como Lajeado (atual Guiratinga), Alto Coité, Poxoréo, Primavera do Leste e outras localidades.
Em 1952 foi inaugurada uma nova e imponente igreja, com nave alta e amplas instalações. O templo, que pode ser visto de longe, é, ainda hoje, a marca da presença dos discípulos de Dom Bosco em Sangradouro.
Após várias tentativas de contato, em 1957 os Xavantes foram acolhidos na Missão pelos salesianos, sendo então iniciada a aldeia Xavante de Sangradouro. A tentativa de aproximação com os nativos custou a vida dos padres João Fuchs e Pedro Sacilotti, que morreram vitimados por doenças às margens do Rio das Mortes, em 1934. Em 1976, foi demarcada a reserva indígena bororo, em Meruri, ocasionando a morte do padre Rodolfo Lunkenbein e do índio Simão Bororo, e, em 1991 foi criada a reserva Xavante, em Sangradouro. A criação das reservas foi importante para a sobrevivência, aculturação e autonomia dos povos indígenas.
Ainda presentes e atuantes
Passados 115 anos desde que os primeiros salesianos chegaram a Sangradouro, muita coisa mudou. A região evoluiu, as terras indígenas foram demarcadas e os índios pacificados, porém o trabalho dos religiosos continua ativo.
Desde 2005, os salesianos estão presentes em Primavera do Leste, atuando na Paróquia Nossa Senhora da Salete, padroeira da agricultura, com comunidades na área urbana e rural, e no centro social Dom Bosco.
Primeiro Pároco da Paróquia, padre Tiago Figueiró lembra das dificuldades iniciais, da pouca estrutura e do pouco espaço disponível para as atividades que atraiam dezenas de jovens. “Desde o início houve a preocupação com o espaço específico de formação e protagonismo juvenil, como as experiências do oratório, grupos juvenis, Centro Social D. Bosco e o sonho de um Centro Juvenil Salesiano, que está sendo projetado”, comenta o religioso.
No Centro Social Dom Bosco, com a preocupação de ‘formação do bom cristão e do honesto cidadão’, são atendidas atualmente 200 crianças e adolescentes, especialmente dos bairros São Cristóvão, Novo Horizonte, Parque Eldorado, Centro-Leste, Poncho Verde e Jardim Universitário, com reforço escolar, oficinas de capoeira, dança, informática, tecido acrobático, música e canto coral, além do serviço de fortalecimento de vínculo familiar. No bairro Vertente das Águas está sendo projetado o novo Centro Social para ampliar o atendimento aos jovens carentes da cidade, com foco na iniciação ao trabalho e cidadania.
Com o passar dos anos, com as ações desenvolvidas e com o apoio da comunidade, a Paróquia Nossa Senhora da Salete melhorou sua estrutura, com a construção da igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, aquisição de veículos, construção da secretaria paroquial e aquisição de terrenos para a construção de um templo dedicado a São João Bosco. Em um terreno doado aos Salesianos, foi construída, em nome da Paróquia, uma casa onde mora o bispo Dom Derek e uma casa para a comunidade Salesiana na Avenida Dom Bosco, no Jardim Luciana.
Em Sangradouro, atualmente, moram os salesianos padre José Benito Porto Gonzalez e padre Juan Carlos Inguza, ambos espanhóis, o padre Lich Tran, vietnamita e o mestre Antônio Teixeira, que é brasileiro. Em Primavera do Leste, na casa da Missão Salesiana, no bairro Jardim Luciana, residem os salesianos brasileiros padre Ângelo César Cenerino, mestre Damião de Jesus e o padre Tiago Figueiró.
Personalidade
O Homem Onesto
Religioso que viveu em Primavera do Leste entre os anos de 1980 e 1998 e depois, de 2006 a 2008, ano de sua morte, dedicou-se intensamente às causas sociais da cidade
Por Valmir Faria e Irmã Iradi Canan
“Ele não era só um padre, era amigo, especialmente amigo. Ele se interessava pelas causas das pessoas, das crianças, principalmente” (Volnei Lorenzzon, amigo)
Existem pessoas diferenciadas e que se destacam por suas atitudes em favor da sociedade, especialmente dos menos favorecidos. Suas ações resultam em impacto positivo e se transformam em legado que jamais será esquecido.
Padre Onesto Costa foi uma dessas pessoas: Seus sonhos e ideais eram voltados à evangelização e ao serviço da promoção humana, sempre atento às necessidades emergentes. Em seu jeito de ser, viver e trabalhar imprimiu um estilo de vida que marcou fortemente quem conviveu com ele.
Abnegado, inteligente e generoso, viveu intensamente suas emoções, fazendo delas fonte de inspiração e energia que deram um colorido especial às suas decisões e atitudes. Soube canalizar seu caráter marcante, exigente consigo mesmo e com os que os cercavam, imprimindo ao seu sacerdócio o sentido fundamental de sua vida. Exerceu sua liderança eclesial e social positivamente como ninguém, e por isso será sempre lembrado pelo seu legado.
O padre Onesto Costa, com certeza é uma das personalidades mais marcantes que Primavera do Leste já teve ao longo de sua história. Porém, era um ser humano sujeito a sentimentos como felicidade, frustração, tristeza e insegurança, mas nunca desistia. Alimentava sonhos, sentia saudades e era sensível ao sofrimento das pessoas e até dos animais. E não cansava de dizer, “Avanti” (em frente).
Paixões e pequenos prazeres
Uma das paixões de Padre Onesto era a fotografia. Gostava de fotografar pessoas, lugares, paisagens e a natureza, que ajudou a preservar plantando centenas de árvores. Embora vivesse uma vida de austeridade, se alegrava com os pequenos prazeres da vida, como uma boa refeição e uma boa música.
Em uma de suas anotações, feita no dia 4 de abril de 1980, ele relata que após a missa almoçou na casa de uma das famílias que formavam a pequena comunidade. “A comida é ótima, bem brasileira. Estou satisfeito. Tem também uma boa garrafa de vinho”, escreveu.
Mais que um padre, um amigo
Apesar dos anos duros da guerra, que certamente deixaram marcas, Padre Onesto sempre manteve forte os laços de amizade. “Ele não era só um padre, era amigo, especialmente amigo”, ressalta o advogado Volnei Lorenzzon, que conviveu com o religioso. “Se interessava pelas causas das pessoas, das crianças principalmente”, completa.
Mesmo distante não esquecia os amigos da Itália, com os quais trocava inúmeras correspondências expressando todos os seus sentimentos e impressões sobre o lugar onde vivia, o que despertava neles o interesse em ajudá-lo, enviando recursos para a realização de obras com fins sociais e religiosos.
Morando em Primavera do Leste desde 1979, Victório Marcon, 97, foi um dos primeiros a ter contato com o Padre Onesto tão logo ele chegou à cidade. Por serem vizinhos, a convivência era diária e “Nono” Marcon, por falar italiano, tornou-se intérprete do religioso.
Passados 13 anos da morte do religioso, a saudade do velho amigo faz com que quase todas as manhãs “Nono Marcon” vá até a praça em frente a Catedral reverenciar a estátua do religioso e conversar com ele. “Eu digo sempre: você foi um herói aqui e o povo está sentindo a sua falta, mas no dia que nós nos encontrarmos no reino de Deus eu vou te falar como está Primavera do Leste. E parece que ele dá risada”, conta o pioneiro. No dia 30 de junho, menos de um mês após ter concedido esta entrevista, “Nono” Marcon faleceu.
Solidão e Saudade
A distância da terra natal despertava no padre Onesto um sentimento comum a todos os mortais: a saudade. “Estou em Primavera, no Mato Grosso, no Brasil, mas parece-me estar no meio do povo de San Pancrazio (Paróquia onde atuou entre 1959 e 1977). Vejo vultos, ouço vozes, é uma tentação, mas tenho que reagir”, anotou ele no mesmo dia 4 de abril de 1980.
A solidão também o incomodava e as condições de vida dele e dos moradores da pequena comunidade o preocupavam. Em 28 de maio de 1981 ele escreveu. “De um tempo para cá, uma preocupação me perturba com insistência: Será que conseguirei permanecer sozinho? Tenho a impressão de que a minha saúde vai ser prejudicada”, anotou.
No final de julho de 1981, novamente a distância e a ausência dos amigos o incomodam. “Há muito tempo não recebo correspondência, não saberia dizer se é melhor ou pior. Estou me sentindo sozinho, quase isolado. Às vezes, tenho preocupações além do meu trabalho”.
Preocupação com as crianças e com os mais pobres
Padre Onesto tinha um apreço enorme pelas crianças, que chamava de “bambinos”, e com os jovens. Sabia que era preciso dar a eles a oportunidade de estudar e por isso se dedicou também a ensinar. Por algum tempo exerceu o magistério em Primavera do Leste.
Porém, algo que tocava o coração do homem e do religioso Onesto Costa, era a situação em que viviam as camadas menos favorecidas da sociedade. Ele não se conformava com as condições de vida das famílias que habitavam a chamada “Vila da Palha”, que ficava ao lado da BR-070.
“Para elas tinha sempre uma palavra de conforto, de ânimo”, lembra a irmã Rosa Rita Pilonetto, que conviveu por vários anos com o religioso. “Ele dizia sempre: Vamos para frente. Hoje é difícil, mas quem persevera vai colher depois. hoje vocês não têm dinheiro, vocês não têm recursos nenhum, vocês vão ser perseverantes, vocês vão conquistar com o tempo”.
Resiliente e determinado
Volnei Lorenzzon lembra que o religioso enfrentou grandes dificuldades no início de sua trajetória em Primavera do Leste, provocadas pela falta de estrutura da cidade e da própria Igreja, que também começava a se fazer presente. Mas sua resiliência e determinação não o deixavam desanimar.
Como ainda não havia Casa Paroquial, Lorenzzon conta que o padre dormia na residência de uma família, almoçava em outra e jantava em uma terceira casa. “Ele não tinha carro, no primeiro momento tinha uma bicicleta. As dificuldades eram grandes”, recorda.
Um missionário com visão de futuro
Nascido na região de Fornovo di Taro, padre Onesto chegou ao Brasil em 1979, então com 55 anos. Em 1980 foi designado para atuar na Paróquia de Poxoréu, onde deveria trabalhar na pequena comunidade de 7 Placas, que, mais tarde, seria Primavera do Leste.
Com uma visão voltada para o futuro, ele sempre se preocupou em melhorar as condições do lugar. “Ele acreditava que esse local iria se desenvolver muito, e justamente aconteceu. Padre Onesto, no primeiro momento, foi o grande prefeito de Primavera”, enfatiza Volnei Lorenzzon.
Embora sendo um religioso, de início, a edificação de templos não era sua prioridade. Preferia que fossem construídos espaços onde pudessem ser realizadas outras atividades. O salão paroquial, primeira obra religiosa construída em Primavera do Leste, foi usado por um bom tempo como sala de aula para as crianças.
Com a participação direta do padre Onesto Costa e a colaboração dos moradores de Primavera e da Itália, foram construídas seis igrejas, 14 centros comunitários e creches; 110 casas populares, um centro de catequese, duas quadras cobertas, um pronto atendimento, central das pastorais sociais, casa paroquial, casa das irmãs Ursulinas, entre outras.
O retorno a Primavera
Em 1998 padre Onesto retornou à Itália. E lá a saudade era da cidade que ajudou a construir em meio ao cerrado de Mato Grosso. Ao olhar as montanhas ele dizia que além delas havia um povo que precisava da sua ajuda.
Em 2005, em visita a Primavera do Leste, ao comemorar seu aniversário, expressou que o melhor presente seria poder retornar a viver na cidade. Como seu estado de saúde já exigia maiores cuidados, a Congregação das Irmãs Ursulinas CJA assumiu o compromisso de cuidar dele em um possível retorno, que aconteceu em agosto de 2006.
Padre Onesto Costa morreu no dia 28 de dezembro de 2008, em sua casa no Centro Esportivo Parma, criado por ele, cercado de amigos. Sua trajetória de vida findava ali, porém, a lembrança e o legado do homem-sacerdote que entregou-se totalmente para fazer de Primavera do Leste uma bela cidade, com fé, com progresso e justiça social, continuam vivos.
Fonte de pesquisa: livro “Caríssimos, Avanti”, escrito pela Irmã Iradi Canan, Irmã Ursulina CJA e um grupo de colaboradores.