Sinop terá primeira recicladora de resíduos da construção civil de Mato Grosso

As caçambas (ou cata-entulhos) que vemos por aí são normalmente contratadas quando se precisa descartar resíduos em grande quantidade, como restos de construção civil (madeira, ferro, cerâmica, concreto), galhada, entre outros.
Entretanto, é comum encontrarmos dentro delas outros tipos de descarte, como papelão, plástico, vidro, até lixo doméstico. E para que tudo possa ser reaproveitado, uma iniciativa pioneira em Sinop e em Mato Grosso pretende reciclar todo esse material.
A J Testa, empresa prestadora de serviços e venda de produtos para a construção civil, está implantando a “Nós Reciclamos”, uma usina recicladora que receberá os resíduos provenientes das caçambas e os transformará em energia e produtos reciclados.
“Começamos em 2012 com serviço de máquina, caminhão de areia, pedra, cascalho e terraplanagem. A pedido dos clientes, adquirimos caçambas para que os materiais pudessem ser entregues nelas, coletando depois o entulho da construção”, conta o empresário e socio-proprietário, Joacir Testa.
Dois anos depois surgiu a ideia de criar uma recicladora. Testa buscou referências em São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul para projetar a melhor alternativa de usina recicladora em Sinop.
“Fizemos o pedido de licença junto à SEMA (Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso). No final de 2019, recebemos a autorização para instalação”, destaca Joacir, ao lembrar que alguns contratempos impediram a plena construção da usina, como a pandemia e um vendaval que destelhou um dos barracões da usina em 2022.
PROCESSAMENTO
A “Nós Reciclamos” nasce para atuar na reciclagem, triagem e beneficiamento, recuperação energética e destinação final para os resíduos da construção civil e volumosos.
Segundo Joacir, são considerados volumosos poda de árvore, jardinagem, itens como cama, colchão, armário, fogão, etc.
Da construção civil, resíduos como plástico, papelão, ferro, madeira. “E é o que basicamente recebemos do que vem nas caçambas”, explica.
“A usina vai funcionar com energia autossustentável. A caldeira principal é movida com resíduos de madeira da construção civil. Essa caldeira possui filtros para limpar gases, retirar fuligem e baixar a contaminação para não haver poluição da água. Para isso, temos caixas de decantação”, continua.
A água também é reaproveitada, gerando um verdadeiro círculo de reuso.
Conforme explica Testa, os materiais coletados passam por tritura e peneiragem. Desse composto, aproveita-se a terra para jardinagem e paisagismo.
A madeira passa pelo picador, sendo revertida em cavaco, produto que pode ser comercializado para caldeiras.
Já o resíduo puro da construção civil passa por nova classificação (madeira, entulho pesado e entulho fino).
“Tudo o que for menor que pedrisco utilizaremos para aterro. O que foi maior, mais grosso, será reaproveitado para produtos da construção civil e em asfalto. Como Sinop é uma cidade em constante expansão, sempre teremos condições para usar esse material reciclado a um custo acessível ao consumidor final”, completa Joacir Testa.
QUANTO SERÁ RECICLADO?
Atualmente, o Aterro Municipal (também chamado de lixão da Estrada Adalgisa) recebe uma média de 150 cargas (caçambas, caminhões, carretinhas, enfim, diversos veículos) por dia. Resíduo este que mistura todo tipo de material.
“Nós já aproveitamos parte do resíduo. As caldeiras são alimentadas com os cavacos, vindo das madeiras da construção civil”, comenta Testa, que emenda: “na média, cada carga tem mais ou menos 10 m³, o que geraria 1,5 mil m³ por dia, aproximadamente 33 mil m³ por mês e quase 400 mil m³ por ano. Nós estamos preparados (para reciclagem), porque esse material não vem todo de uma vez, ele passa pelo processo de separação. Temos capacidade suficiente para atender àquilo que o município produz”, confirma.
A expectativa é de que somente a usina gere em torno de 40 a 50 empregos.
IMPORTÂNCIA AMBIENTAL
O alto investimento em maquinário, barrocões e estudos também vem da preocupação ambiental, fator que motivou a empresa a buscar alternativas sustentáveis.
Para se ter uma ideia, não há em Mato Grosso usina recicladora de resíduos da construção civil. Apenas Cuiabá conta com um aterro desses.
“O problema é que o aterro serve apenas para mudar o problema de lugar. Existem vários nichos de problemas e concentra-se todos em um só lugar. Mas quando você cria uma logística reversa, não apenas damos reuso ao que seria descartado, como também colaboramos com o meio ambiente”, complementa Joacir.
Para o empresário, o funcionamento da usina impulsiona a conscientização de diferentes agentes, desde as iniciativas públicas e privadas, além do cidadão comum.
“A responsabilidade dos resíduos é do gerador, não podemos simplesmente empurrar para o Estado. Nosso trabalho começará conscientizando quem está ao nosso redor, e assim estendendo a toda a sociedade”.
Diante disso, a J Testa ainda deve implantar um novo sistema de direcionamento de caçambas, já pensando no conteúdo residual que retornará para a usina.
O funcionamento pleno está previsto para o início de 2024.
Faça parte do nosso grupo de notícias no WhatsApp. Clique aqui.