Megaporto vai exportar produção mato-grossense transportada pela Ferrovia Transoceânica
O Megaporto de Chancay, no Peru, foi inaugurado na última semana. Localizado 70 km ao norte de Lima, é uma parceria entre esse país, China e Brasil.
Em consonância, outro megaprojeto está em estudos para sair do papel: a EF-354, ou Ferrovia Transoceânica, que partirá do Rio de Janeiro, atravessando o país de leste a oeste, cortando Lucas do Rio Verde, carregando a produção de grãos e demais produtos mato-grossenses até chegar no Oceano Pacífico.
CHANCAY
O complexo portuário de Chancay é um projeto superlativo, liderado pela companhia marítima estatal chinesa Cosco Shipping Company e com investimentos totais estimados em US$ 3,4 bilhões (cerca de R$ 19,7 bilhões).
O megaprojeto foi inaugurado na semana passada pelo presidente da China, Xi Jinping, que aproveitou sua passagem pelo Peru para inaugurar o que, em alguns anos, será maior porto comercial da América do Sul.
A infraestrutura deve contar com 15 embarcadouros, escritórios, serviços logísticos e um túnel com 2 km de comprimento para o transporte de carga.
Oito anos depois do início das obras, a conclusão da primeira fase do complexo foi anunciada na quinta passada (14), durante a visita de Xi ao Peru para participar da reunião de cúpula da APEC, realizada em Lima.
O porto representa um passo importante na expansão da presença chinesa na América Latina.
Foi concebido como parte da Nova Rota da Seda, iniciativa estratégica que há anos vem sendo implementada e tem entre os objetivos aumentar a presença e a influência chinesa no mundo.
Com o complexo portuário, a China aumenta sua capacidade de desembarque de mercadorias na América do Sul e de transporte dos produtos importados da região, principalmente minérios, como lítio e cobre, e produtos agrícolas, como a soja.
A estimativa do governo peruana é de que a duração das viagens de cargueiros do Peru até a Ásia cairia de 40 para 28 dias. A principal razão é a localização escolhida para o porto.
Assim como o Peru, o Brasil é outro país com relações políticas e comerciais cada vez mais próximas com a China. O gigante asiático é o principal parceiro comercial do Brasil – e o governo brasileiro demonstrou interesse pelo megaporto de Chancay.
FERROVIA
A EF-354 – conhecida também como Ferrovia Transoceânica – é um projeto firmado, inicialmente, entre os governos do Brasil e do Peru para construir uma longa ferrovia que liga o Oceano Atlântico, no litoral brasileiro, ao Oceano Pacífico, no litoral peruano. Seu propósito é atravessar o continente Sul-Americano de Leste a Oeste.
Será estruturada em bitola irlandesa de 1.600 mm, estimada em 4.400 km, e a extensão em território brasileiro prevê as seguintes conexões:
– do Porto do Açu/RJ até a Ferrovia Norte-Sul;
– De Campinorte/GO até Porto Velho/RO, às margens do Rio Madeira;
– De Porto Velho/RO a Cruzeiro do Sul/AC, na fronteira Brasil-Peru.
As principais ferrovias que irão interligar o litoral brasileiro com a costa do Peru serão a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO), que passa por Lucas do Rio Verde, e a Ferrovia Norte-Sul (FNS).
No entanto, apenas alguns trechos das tais ferrovias estão operando, sem previsão para sua finalização.
Caso se concretize, isso poderia trazer grandes impactos econômicos, já que o Brasil é o país com maior volume de intercâmbio comercial com a China em toda a região.
Com um aporte de US$ 100 bilhões, o projeto visa reduzir custos logísticos, aumentar a competitividade das exportações sul-americanas e consolidar a presença da China na região.
A Ferrovia Transoceânica pretende conectar o Brasil ao Peru por meio de uma linha férrea que atravessará algumas das regiões mais desafiadoras do continente, como a Floresta Amazônica e a Cordilheira dos Andes.
Segundo informações do governo brasileiro, essa rota terá capacidade para transportar um volume gigantesco de mercadorias, reduzindo a dependência de rotas marítimas tradicionais, como o Canal do Panamá.
Para o Brasil, isso significa uma oportunidade de facilitar o escoamento de commodities como soja e minério de ferro, enquanto para a China, o projeto representa um acesso direto aos recursos naturais sul-americanos, fortalecendo sua posição como potência global.
De acordo com fontes do governo peruano, a ferrovia também beneficiará pequenos produtores locais, ao melhorar a infraestrutura de transporte regional.
ENTRAVES
Apesar do otimismo, a Ferrovia Transoceânica enfrenta obstáculos consideráveis. Um dos maiores desafios é o impacto ambiental, já que o traçado atravessa ecossistemas sensíveis, incluindo áreas protegidas da Amazônia.
Organizações ambientais alertam que a construção pode causar desmatamento e ameaçar comunidades indígenas.
Além disso, há divergências entre Brasil e Peru sobre o trajeto ideal da ferrovia.
Enquanto o Peru sugere um percurso que favoreça seus portos no Pacífico, o Brasil defende uma rota que beneficie suas exportações agrícolas.
Esses impasses, segundo especialistas, podem atrasar o cronograma da obra.