Ferrogrão ganha novo traçado e pode ser concluída até 2035

A Ferrovia EF-170, conhecida como “Ferrogrão”, planejada para ligar Sinop ao porto de Miritituba, em Itaituba/PA, teve seu projeto atualizado com um novo traçado que evita áreas protegidas, como terras indígenas e o Parque Nacional do Jamanxim.
Com 933 km de extensão, a linha férrea poderá ser concluída em até 10 anos, segundo o empresário Guilherme Quintella, presidente da empresa Estação da Luz, idealizadora do projeto.
O novo estudo de viabilidade técnica foi apresentado durante um evento com empresários e autoridades locais em Sinop. De acordo com Quintela, o Ministério dos Transportes já articula a emissão da licença ambiental, última etapa antes da publicação do edital de concessão.
A expectativa é que a licitação ocorra até março de 2026 e que as obras comecem ainda no mesmo ano.
Segundo o levantamento, a ferrovia vai seguir paralela à BR-163 e não exigirá a construção de túneis ou a realocação de comunidades.
Ao todo, estão previstas 65 pontes ferroviárias, que somam 81 km, além de quatro viadutos ferroviários, dez viadutos rodoviários e 48 pátios de cruzamento. A maior ponte terá 250 metros de extensão e será construída sobre o Rio Peixoto, entre Matupá e Peixoto de Azevedo.
SUPERANDO BARREIRAS
O novo traçado foi desenvolvido para contornar os impasses judiciais que paralisaram o projeto nos últimos anos, como a ação movida pelo PSOL no Supremo Tribunal Federal (STF), que questionava os impactos ambientais da ferrovia em áreas protegidas da Amazônia.
O estudo aponta que cerca de 60% da faixa de domínio da ferrovia já está desmatada e que o projeto ocupará apenas 0,1% da área original do Parque do Jamanxim. Para compensar os impactos, está previsto o plantio de 2 mil hectares de vegetação nativa.
Além de evitar áreas sensíveis, a nova proposta também promete ganhos logísticos e ambientais. A ferrovia tem potencial para reduzir em até 20% o custo do frete agrícola, o que pode gerar uma economia de R$ 8 bilhões por ano para os produtores do Centro-Oeste.
A expectativa é que a linha transporte até 69 milhões de toneladas por ano até 2095. Cada trem poderá carregar até 16,9 mil toneladas — o equivalente a cerca de 422 caminhões que deixam de circular pela BR-163.
A mudança na matriz de transporte também pode resultar em uma queda de 40% nas emissões de CO₂, com redução anual estimada de 3,4 milhões de toneladas de gases poluentes.
INTEGRAÇÃO COM PORTOS
O projeto também prevê terminais ferroviários em Sinop e Miritituba, além da construção de quatro novos portos em Santarém e Barcarena/PA, Itacoatiara/AM e Santana/AP. A ideia é fortalecer a conexão entre a ferrovia e o transporte hidroviário na região do Arco Norte, alternativa estratégica para o escoamento da produção agrícola brasileira.
Segundo Quintela, a ferrovia não pretende substituir o transporte rodoviário, mas sim complementá-lo. “O caminhão continua essencial para ligar as fazendas aos terminais ferroviários. Em vez de fazer longas distâncias, ele fará rotas mais curtas, como ocorre em todo o mundo”, afirmou.
A Ferrogrão integra hoje um conjunto de cinco grandes projetos estruturantes do plano ferroviário nacional, ao lado da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), do prolongamento da Ferrovia Norte-Sul até o porto de Vila do Conde/PA, do Anel Ferroviário do Sudeste entre Vitória/ES e Itaboraí/RJ, e da Transnordestina.