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1989
Sindicato Rural de Sinop

CELEIRO DE LIDERANÇAS QUE CRAVOU SINOP NO MAPA DO AGRO
Foi através do Sindicato Rural que a cidade de Sinop começou a ganhar relevância no cenário do agronegócio, ocupando uma posição similar a de uma “capital”, estabelecida no centro de uma das maiores regiões produtivas do país e semeando lideranças que hoje militam pelo Agro em escala mundial
Era novembro de 2018. Em um evento realizado em Bruxelas, capital da Bélgica, comerciantes, industriários, políticos e ambientalistas da Europa ouviam um brasileiro questionar as medidas de preservação dos países do velho mundo para defender a soja produzida em Mato Grosso. “O Brasil não é mais colônia e a Europa precisa dar o exemplo”, dizia ele.
O portador do microfone era Antônio Galvan, um produtor de soja nas terras do pequeno município de Vera, interior do Mato Grosso. Mas naquele momento, ele estava falando na qualidade de presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso). O cargo que lhe permitiu tal palco para defender o agro não veio graças à sua lavoura interiorana. O que o catapultou ao posto de “voz dos sojicultores” foi sua atuação como presidente do Sindicato Rural de Sinop.
Galvan é uma das lideranças – talvez a maior até agora – que brotou dentro do Sindicato Rural de Sinop. Nos últimos anos, a organização tem exercido um papel de liderança no cenário estadual. Sinop é a maior cidade do Norte de Mato Grosso, mas historicamente sua base foi setor madeireiro. Na produção, a cidade figura entre os 50 maiores do país em rankings de produção agrícola nacional – a vizinha Sorriso mantém o topo da lista por 4 anos consecutivos. Ainda assim, através do Sindicato Rural de Sinop, a cidade conseguiu se colocar em um posto equivalente a uma “capital” do Agro sindical, representando um contingente de lavouras a perder de vista que estão em seu entorno.
A melhor forma de compreender esse cenário é conhecer a história da entidade e perceber que o papel de liderança não foi um fenômeno relâmpago, mas uma construção de grão em grão. A primeira semente do Sindicato Rural de Sinop germinou no dia 7 de junho de 1989. Ela foi plantada por Adenis Pasqualetto, fundador e primeiro presidente da entidade.
Adenis veio para Sinop no ano de 1981. Antes disso era empresário, na cidade de Foz do Iguaçu (PR), atuando com locação de veículos e maquinários para empresas. Sua vinda para o Norte de Mato Grosso tinha como propósito ingressar no ramo agropecuário. Ele comprou terras em Sinop, que hoje ficam na região próximo ao Alto da Glória, e começou a produzir. “Eu vim para mexer com fazenda, naquela época já usando máquinas para abrir a área. Pouca gente tinha recurso para mecanizar a terra, que quase não tinha valor”, conta Adenis.
A agricultura e a pecuária quase não existiam em Sinop. O que dominava era o setor madeireiro. Tanto que o próprio Adenis montou uma madeireira, mesmo seu foco sendo a fazenda. O setor de base florestal na cidade já possuía uma organização sindical desde 1980. E se manteve no topo da economia e da organização sindical até os idos de 2005, inclusive emplacando seus líderes na Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso.
Quando Adenis planta a primeira semente do Sindicato Rural de Sinop, o solo não era próspero nem para a agropecuária nem para a organização sindical. No país, a força patronal dos produtores era concentrada pela UDR (União Democrática Ruralista), oficializada no ano de 1985 e que foi imperiosa da defesa dos direitos de propriedade dos latifundiários durante a constituinte, que resultou na Constituição de 1988. Adenis já tinha participado da organização sindical patronal no oeste do Paraná e percebeu que a representatividade nacional se organizaria de forma oficial em torno dos Sindicatos e não da UDR.
No processo de fundação do Sindicato, no ano de 1989, após reunir produtores rurais, ele convocou o primeiro ato para estabelecer a instituição e seu estatuto. Uma comitiva que militava em Rondonópolis veio até Sinop e tentou tumultuar a assembleia.
Para fazer parte do Sindicato Rural de Sinop, naquela época, bastava ser um produtor com uma área maior do que 50 alqueires paulistas – algo em torno de 125 hectares. A régua inicial só deixava de fora os módulos da reforma agrária. “O Sindicato foi fundado quando a agricultura passava por um mau momento. O Mato Grosso produzia pouco. No país o produto não tinha preço. Em Sinop, sem logística, não há o que se falar. Esse foi o cenário onde nasceu o Sindicato Rural”, relembra Adenis.
Aos poucos a agricultura no cerrado foi expandindo e a pecuária aumentando de preço no Norte do Estado. O setor foi se fortalecendo, e quando as coisas vão bem, um sindicato parece desnecessário. Foi assim até a crise de 1995.
O celebrado Plano Real havia feito algumas baixas no setor produtivo. O campo ficou descapitalizado e com maquinários sucateados. Com dívidas, não conseguiam acesso ao crédito. O setor quebrou. Através dos sindicatos estabelecidos em todo país, produtores se organizaram para reivindicar uma ação do Governo Federal. Foi assim que surgiu o Caminhonaço, em agosto de 1999, a primeira marcha de produtores rurais das muitas que viriam. Mais de 2 mil caminhões de todo Brasil tomaram Brasília. De Sinop, partiram 18 caminhões carregados com mantimentos. À medida que avançavam pela BR-163, agrupavam mais produtores. “Viajamos muito mobilizando produtores para engrossar o protesto. Quando já estávamos saindo de Mato Grosso, com uma quantidade enorme de caminhões, a PRF tentou nos intimidar, com voos rasantes de helicóptero. Chegou a pousar sobre a pista para bloquear os caminhões”, lembra o ex-presidente.
Adenis conta que a organização do manifesto foi determinante. Quando chegaram em Brasília, a fila de caminhões e tratores atingiu 24 km de extensão. Bloqueios de pista e batedores da PRF tentaram direcionar os manifestantes para o Estádio Mané Garrincha, mas a organização atenta conseguiu entrar com o comboio na Praça dos Três Poderes. Lotando o centro do poder administrativo nacional, o setor produtivo conseguiu ser ouvido pelo presidente da República. “Tivemos reuniões com as equipes de Governo e depois com Fernando Henrique Cardoso. O presidente propôs um acordo: todas as nossas reivindicações seriam atendidas, desde que levantássemos acampamento e deixássemos Brasília imediatamente”, revela Adenis.
A urgência tinha razão. Dentro de dois dias, a capital federal receberia a marcha do MST (Movimento dos Sem Terra), que pretendia colocar mais de 100 mil agricultores sem-terra na mesma Praça dos Três Poderes. FHC temia uma batalha campal entre os dois lados. A liderança dos produtores aceitou o acordo e deixou Brasília com uma carta de intenções do presidente, que resultou na renegociação das dívidas do setor em 21 anos, a liberação de financiamentos e a articulação para aumentar o comércio externo de grãos e carne.
Nos anos seguintes, ainda como presidente do Sindicato, Adenis ajudou a organizar a comitiva que levou 90 caminhões carregados de soja até Itaituba, no Pará. De lá, o carregamento foi escoado em barcaças pelo Rio Tapajós até o Porto de Santarém. Mais do que mostrar a viabilidade de escoar a produção para o Norte, o ato reivindicava a pavimentação da BR-163 até o porto paraense, medida que mudaria a logística do estado. Quando esteve em Sinop, em 1996, FHC prometeu a pavimentação da rodovia.
Ainda como presidente do Sindicato Rural, Adenis comprou o terreno de esquina, no centro de Sinop e deixou um caixa para iniciar a construção da sede própria. Ele encerrou seu mandato no ano 2000, sendo o presidente que passou o maior tempo no comando da história da entidade.
O segundo presidente do Sindicato Rural de Sinop foi um lavoureiro de Sorriso. Natalino Rubin Piccin começou como produtor rural no Oeste de Santa Catarina. Ele plantou soja em Campo Erê, em 1982, com sementes que ganhou da diocese católica local que havia visitado a China. Em 1989, junto com outros produtores da região, decidiu conhecer o Norte de Mato Grosso atrás de terras. Se encantou quando chegou em Sorriso, pelas vastas áreas planas com um preço muito menor que no Sul. Por telefone mesmo, vendeu seus 18 hectares em Santa Catarina e comprou 780 hectares no cerrado, parte da área já aberta. No ano de 1993, cruzou o rio e mudou-se para Sinop.
Natalino já havia sido presidente de Sindicato em Santa Catarina e em Sorriso foi patrão do CTG (Centro de Tradições Gaúchas). Residindo em Sinop, se engajou na organização da classe e integrou a diretoria do Sindicato. Quando o mandato de Adenis encerrou, ele montou uma chapa, disputou a eleição e venceu.
Era o marco do processo democrático na instituição, que elegia um novo presidente desde sua fundação. Natalino começou a associar mais produtores, aumentando a representatividade do Sindicato. Foi durante o seu mandato que muitos madeireiros começaram a explorar também a agricultura, abrindo as novas áreas com arroz, a mais emergente cultura da época. “Chegamos a organizar uma Festa do Arroz”, lembra o ex-presidente.
A logística era o principal gargalo na época que Natalino presidiu o sindicato. O frete do milho custava mais do que o produto, já que a maior parte da produção precisava viajar para fora do estado. Apesar das várias reinvindicações para viabilizar a rota de escoamento da produção pela BR-163 no sentido Norte, o Sindicato Rural era um coadjuvante no pleito liderado pela indústria madeireira. “Produtor ainda não era muito consciente da necessidade de organizar a classe”, comenta Natalino.
Nessa época de transição, o ex-presidente focou em manter a casa em ordem. Buscou parcerias com a Famato e com o Senar para promover cursos profissionalizantes em Sinop. A proposta era preparar a mão de obra especializada para o campo para que o setor não tivesse essa limitação enquanto expandia. Na administração do Sindicato, vendeu o terreno deixado por Adenis e comprou um pequeno prédio já construído, que estava à venda. Com uma campanha entre os associados, reformou e ampliou o imóvel, estabelecendo a sede própria do Sindicato Rural, que passou a realizar atendimento aos produtores rurais. É neste mesmo prédio que a entidade está até hoje.
Natalino encerra o mandato no ano de 2004. No seu lugar entra Antônio Sérgio Rossani. Paulista, formado em Veterinária, Rossani vem de uma família de produtores que plantam algodão e café desde a década de 70. Seu pai compra as primeiras terras em Mato Grosso no ano de 1978 e em 1992 aposta em áreas na cidade de Sinop. Em 1998, Rossani aceita o convite do patriarca e vem para o Norte do Estado trabalhar na produção.
No ano de 2004 ele é convidado a disputar a eleição do Sindicato Rural. “Um presidente jovem, para um setor jovem”. Rossani tinha 30 anos de idade quando assumiu o cargo. A agricultura se difundia em Sinop. Áreas onde a madeira foi extraída foram abertas e receberam sementes de arroz para formar a primeira lavoura. “A primeira coisa que fiz como presidente foi atrair a APA (Associação dos Produtores de Arroz) para dentro do Sindicato. A produção do grão era forte e a cultura era importante para atividade de forma geral. Precisávamos trabalhar juntos. E dessa forma começamos unir categorias e aumentar a representatividade”, espelha Rossani.
O jovem presidente deu continuidade na política de formação profissional, dessa vez pleiteando cursos junto às empresas que fabricam e vendem maquinários agrícolas. Rossani também conseguiu atrair um grupo e viabilizar a exportação direta das commodities agrícolas, sem precisar passar pelas tradings. “O Banco do Brasil antecipava o crédito de exportação, os contratos eram firmados em dólar e a venda era direta. Com isso, era possível amenizar o problema com o câmbio monetário”, explica o ex-presidente.
Quando Rossani estava sentado na cadeira de presidente do Sindicato, o setor produtivo experimentava sucessivas quedas no dólar que se arrastavam por 3 anos. Em regra, compravam os insumos com o dólar em alta, e na hora de vender a moeda americana tinha perdido valor frente ao real. No ano de 2005, veio a tempestade perfeita. Uma super safra mundial de grãos, provocando a queda nos preços das commodities, acompanhada de mais uma baixa aguda do dólar e da desclassificação do Cirad – principal variedade de arroz cultiva no Nortão – levaram o setor ao colapso mais uma vez. “A agricultura estava inviabilizada. Muitos quebraram e outros desistiram da atividade. Foi um momento muito difícil para o produtor rural do Norte de Mato Grosso. O efeito colateral é que fortaleceu o sindicato”, relembra.
Em meio a essa turbulência, o mandato de Rossani foi abreviado. Ele ficou no comando do sindicato por um ano e meio, apenas. Sua saída abria espaço para uma emergente liderança que inauguraria uma nova fase do Sindicato Rural. “Saí da presidência com a convicção de que o Sindicato Rural ficaria em boas mãos”, comenta Rossani.
Engrossando as fileiras
Quem assume o Sindicato Rural após a saída de Rossani é o homem do discurso em Bruxelas. Antônio Galvan assume o cargo no pior momento da história do setor e lidera de uma forma que reconfigura o papel da entidade.
Galvan começa e termina como produtor rural, mas tem uma jornada de eventos nesse meio tempo que cunham esse líder sindical. Ele nasceu em Sananduva, uma pequena cidade do Rio Grande do Sul, em uma família com 6 irmãos. Vacas de leite e a criação de porcos sustentavam aquela família em seus míseros 10 hectares. Galvan trabalhou de forma braçal na roça até os 22 anos de idade. Ainda jovem, viu uma vez no Globo Rural que Mato Grosso estava se destacando na produção agrícola. Mas ele queria mesmo era pôr o pé fora do campo. “O trabalho na lavoura é muito sofrido”, comenta Galvan.
Ainda no Rio Grande do Sul, começou a fazer o transporte de alunos com uma Kombi. Em 1979, consegue um emprego no Bradesco, em uma cidade no Paraná. Ficou pouco tempo e logo começou a trabalhar em um restaurante. Depois, motorista de caminhão. Em 1985, veio conhecer o norte de Mato Grosso, indo até Guarantã do Norte. “Voltei para o Paraná com a intensão de não ir para Mato Grosso. O preço das terras, naquela época, era alto demais para as minhas condições”, lembra.
Mas, em 1986, um amigo o convence a ‘mexer’ com madeira. Em agosto daquele ano, ele chega em Sinop, com um trator CBT para fazer a extração de toras. Compraram uma propriedade de 60 hectares e pagaram com a madeira que estava na área. Por quase uma década, Galvan se dedicou à extração e venda de toras.
Nesse tempo, foi comprando áreas de terra na cidade de Vera. Entre 1995 e 1996, plantou suas primeiras lavouras de arroz. Eram 70 hectares – extensão que sequer o qualificava, após mudanças estatutárias, a ser filiado ao Sindicato Rural.
Em 1997, parou com a atividade madeireira, e depois de 3 anos plantando arroz, partiu para soja. A mecanização das lavouras tornava a atividade no campo menos árida e mais lucrativa. Anos bons se sucederam então. “No começo dos anos 2000, o preço do produto subiu e os maquinários acompanharam”, revela.
Do caos veio a ordem. Em maio de 2005, um grupo de agricultores se mobilizou e promoveu um “Tratoraço”, desfilando com maquinários agrícolas pela Avenida principal de Sinop e depois acampando na praça ao lado do Banco do Brasil. O movimento foi liderado por Galvan, uma nova voz com um discurso firme pelo setor. Sua fala espontânea repercutia junto à categoria, mas também pelos demais setores da economia local. “Se o agricultor quebrar, muitos vão quebrar junto”, dizia Galvan na época. Um mês depois estourou a Operação Curupira, que “chutou” o setor madeireiro.
O Tratoraço virou um ato nacional, mobilizando mais de 65 mil pessoas em 30 municípios de Mato Grosso. Uma marcha a Brasília foi realizada, e no retorno, o líder nato se tornou presidente.
Galvan assumiu o Sindicato Rural no dia 17 de setembro de 2005. Na época a entidade, tinha pouco mais de 40 filiados. A mobilização em Brasília não surtiu o efeito esperado e as medidas governamentais não vieram. No ano seguinte, em 2006, o setor produtivo volta a efervescer com O Grito do Ipiranga.
Embora o movimento tenha surgido na cidade de Ipiranga do Norte, foi em Sinop que ganhou expressão. Com a liderança de Galvan, o sindicato bloqueou a BR-163, no Alto da Glória, montando um acampamento permanente, fechando a rodovia e incendiando maquinários agrícolas. As imagens percorreram o Brasil, desencadeando uma série de eventos similares em outras regiões do Mato Grosso e depois em outros 10 estados. Ao invés de “passear” em Brasília, agora o movimento sindical estrangulava e malha rodoviária da nação. Foram 40 dias de bloqueio.
Com o Grito do Ipiranga, os agricultores pediam a negociação das dívidas rurais, políticas de sustentação, preços mínimos, conservação das BRs, fiscalização e mais infraestrutura de transportes e armazenagem. “No fim, conseguimos o alongamento das dívidas, mas os juros as transformaram em uma bola de neve”, avalia Galvan.
A percepção do líder sindical é pessimista. Após essa grande mobilização, o setor conseguiu uma política de preço mínimo através dos prêmios de produção, pagos tanto para o milho como para a soja. Mato Grosso também conseguiu emplacar o novo presidente do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antônio Pagot, que fez o projeto de pavimentação da BR-163 para o Norte andar de fato. O Grito ecoou pelos próximos anos, desencadeando uma política pública para ampliar a capacidade de armazenagem.
Galvan foi presidente do Sindicato por dois mandatos seguintes, até 2011. De 2011 a 2014, foi vice-presidente, e então voltou a comandar a entidade por mais um mandato, até 2017. Foram 10 anos à frente do sindicato. Em 2018, foi eleito presidente da Aprosoja Mato Grosso, onde atuou até 2020. Em abril de 2021, ele se tornou presidente da Aprosoja Brasil, e hoje milita pelo agro em todo país, organizando as associações em diferentes unidades da federação.
No hiato entre a primeira e a segunda passagem de Galvan pelo Sindicato Rural, quem assumiu a entidade foi Leonildo Bares. Não era um mandato estepe, mas uma continuação da mesma linha de gestão. Bares estava naquele primeiro grupo de produtores que se arregimentou junto com Galvan para deflagrar a nova era do Sindicato em um novo momento da agricultura.
Descendente de imigrantes italianos, Bares nasceu no Oeste do Paraná, na década de 60 e desde a infância escutou os sinos propagandistas que anunciavam Mato Grosso como uma terra de oportunidades. Em 1979, com 18 anos, driblou a vocação nata e foi para São Paulo, arriscar um teste como jogador de futebol na Portuguesa de Desportos. Passou, mas faltou estrutura para continuar. Em junho do mesmo ano, ele ruma para seu sonho juvenil. Foi para São José do Rio Claro, no interior de Mato Grosso, fazer uma empreita. Depois, passou por Campo Verde e, anos depois, em 1983, aportou em Lucas do Rio Verde. Chegou a buscar sucesso na fronteira, em Guarantã do Norte, mas o congelamento das contas no Governo Collor, no começo da década de 1990, o fez recuar para Lucas, onde plantou soja e milho. “Essa organização em Lucas trouxe agrônomos e especialistas de vários lugares do mundo para aprimorar as técnicas de produção. Isso fez a agricultura no cerrado evoluir muito e hoje Lucas é o lugar que tem a maior produtividade do estado”, comenta Bares.
Em 2003, vendo Sinop emergir, ele vende suas terras em Lucas e migra para aquela que considerava a capital do Nortão. Com seus 284 hectares de cerrado conseguiu comprar o dobro em Sinop. Mais terra não significou produzir mais. Um ciclo incomum de chuvas fez sua produção afundar. O pouco que sobrou perdeu o preço no ano seguinte. “Foi nessa época que conheci um brigador da cabeça branca que me disse: ‘se todo mundo está mal, tem um problema com o sistema’”, lembra Bares.
O cabeça branca era Galvan. Bares passou a fazer parte desse novo grupo de produtores que militavam. Sua visão é de que tudo no mundo passa pela política, e por isso é essencial que quem produz comida tenha capacidade de agir politicamente.
Bares assume a presidência do Sindicato em 2011, mas sua atuação na entidade se mistura com os mandatos de Galvan. Como líder sindical, fortaleceu sua bagagem de experiências visitando países produtores ao redor do mundo e colecionando exemplos que poderiam ser multiplicados no Mato Grosso. Em paralelo, fez formações específicas, destinadas à representação do Agro. A formação desse repertório, avalia Bares, foi uma forma de gerar mais resultados na militância sindical. “A função do Sindicato é estar antenado ao que está acontecendo na sua área de atuação e instruir os produtores sobre o que está acontecendo. Existe a relação homem e natureza, homem e política, e homem e tecnologia, que influenciam na atividade agrícola. O poder está nas mãos de quem segura a caneta. O sindicato faz reunir força para fazer a caneta trabalhar também ao seu favor. Então, tem que saber mobilizar, ver o que é preciso com antecedência e saber o que pedir”, analisa Bares.
A instituição também multiplicou conhecimento com vários congressos, dias de campo e palestras, alguns realizados dentro do Centro de Eventos do Sindicato. Outro foco de atuação foi no eixo logístico. A entidade promoveu as missões Estradeiro, com comitivas partindo de Sinop até Santarém, no Pará, para fiscalizar as obras de pavimentação da BR-163 – hoje o principal corredor para escoamento da safra agrícola. “O agro é bem visto ao redor do mundo por suas populações. No Brasil, quem produz é criticado. Parte da culpa é nossa, que não soube demonstrar o que fazemos e dialogar com a sociedade”, analisa Bares, enfatizando as iniciativas de difundir o papel do agricultor, promovidas em sua gestão. O presidente entregou o cargo no ano de 2014, mas continuou ativo na entidade.
Depois da segunda passagem de Galvan, quem assume a presidência, em 2018, é Ilson José Redivo. Nascido em Caçador (SC), em 1956, morou em São Lourenço do Oeste (SC), vindo a estudar no Colégio Agrícola Augusto Ribas, em Ponta Grossa (PR), onde se formou em técnica em agropecuária. Sua vida profissional começou na EMATER/PR, em Quitandinha (PR), onde atuou por 10 anos. Lá, constituiu família – casou-se com Mari Stela, com quem teve os dois filhos Fernando e Rafaella. Seu perfil de liderança o levou à Câmara Municipal de Quitandinha, onde foi vereador por dois mandatos.
Em 1984, Ilson e Stela fazem uma viagem para Mato Grosso e Rondônia em busca de conhecer uma nova fronteira agrícola. Quando chegam em Sinop, que era a porta de entrada da Floresta Amazônica, se deparam com uma cidade planejada e com boa perspectiva, e aqui decidiram fazer seu primeiro investimento, adquirindo uma propriedade rural na cidade.
Em 1989, Redivo e a família se mudam Sinop. No ano seguinte, funda a Redivo Madeiras, e a empresa cresce com remessas ao mercado interno e externo, o que oportunizou novos investimentos. Sempre envolvido com as questões sindicais e coletivas, o madeireiro foi atuante por muitos anos na diretoria do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Norte do Estado do Mato Grosso (Sindusmad).
Em 2002, migrou para a agricultura. Adquire uma propriedade rural para cultivar soja e milho. Três anos depois, a crise no setor rural desencadeia o Grito do Ipiranga. Redivo se aproxima do Sindicato Rural de Sinop e passa a integrar o núcleo que gere a entidade desde então.
No ano em que assume a presidência do Sindicato (2018), também se torna vice da região Norte da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado do Mato Grosso (Aprosoja-MT). Em 2022, assume o cargo de vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso (Famato), entidade que representa 94 sindicatos rurais de Mato Grosso.
No comando do Sindicato Rural, vivenciou a superação das intervenções ambientais. “Hoje o agronegócio não vive mais a ameaça das operações ambientais. O setor se renovou, trabalhando dentro da legalidade e sendo exemplo para o mundo em produção com preservação”, expõe Redivo.
Como presidente, Ilson Redivo foi determinante nas discussões que levaram à vinculação da aplicação da totalidade dos recursos do Fethab 2 (Fundo Estadual de Transporte e Habitação) à infraestrutura pelo Governo do Estado. “Neste momento, o Sindicato atua de forma a acompanhar para que os recursos do Fethab sejam bem investidos”, avalia.
Ele se consolidou como uma forte liderança do setor agropecuário de Mato Grosso em razão da atuação combativa e articuladora, sempre em defesa dos interesses das famílias e causas dos produtores rurais. Um dos feitos é o resgate ao patriotismo na sociedade sinopense, estimulando o uso de bandeiras do Brasil pelas residências, comércios e fazendas. Também teve uma atuação ativa no ‘Movimento Brasil Verde Amarelo’, que tem como lema Deus, Pátria, Família e Liberdade.
Redivo conta que no seu mandato o sindicato encampou uma luta para redefinir o calendário do plantio de soja, especificamente para produção de sementes próprias, minimizando os custos de produção. Além disso, o presidente também estreitou laços de relacionamento com o Comando da Polícia Militar, momento que liderou uma campanha de arrecadação de recursos para aquisição de uma caminhonete para proporcionar melhores condições de trabalho à Polícia no combate à criminalidade do campo, por meio da Patrulha Rural. Seu discurso sempre foi contrário às invasões de terras, visando preservar o direito à propriedade privada de forma plena.
Seu discurso sempre foi contrário às invasões de terras, visando preservar o direito à propriedade privada de forma plena. Como atual presidente do Sindicato também deu sequência no trabalho de reconstrução da imagem do agro, estando de forma constante em rádios e canais de televisão, levando as pautas do agronegócio, sempre se comunicando de forma ativa com a sociedade.
No lado social, liderou campanhas de arrecadação de recursos para promover os leilões beneficentes para o Hospital do Câncer de Barretos e Hospital do Câncer do Mato Grosso. Também, em sua gestão apoiou a Escola Militar Tiradentes, sendo convidado para ser paraninfo, as creches municipais, a APAE com o projeto de equitação, Lar dos Idosos Madre Vannini, Refeccs (Rede Feminina de Combate ao Câncer de Sinop), campanhas do Hospital dos Olhos de Sinop, tendo sempre uma gestão voltada para responsabilidade social.
O sindicato participa da coorganização da Norte Show, uma feira de negócios e de difusão de tecnologias que se tornou uma das maiores vitrines da agropecuária do Centro-Oeste. “O Sindicato se tornou o ponto de representação para o agronegócio de todo o Nortão, uma região com quase dois milhões de hectares. É um sindicato atento aos movimentos políticos, que vigia o que ocorre com o setor e que tem mostrado a capacidade de se organizar e levar adiante suas lideranças”, comenta o presidente.
Assim, a mais urgente pauta tem sido a melhoria da logística do setor agropecuário, trabalhando em prol da viabilidade de ferrovias, como a EF-170, a Ferrogrão (que liga Sinop aos portos no Pará), e o fim da moratória da soja, esta que penaliza indevidamente os produtores rurais, os “maiores detentores de reserva legal dentro de suas propriedades”.
Depois de dois mandatos consecutivos, o presidente concorreu em novembro de 2023 à reeleição, com uma chapa inclusiva composta por mulheres e filhos (as) de produtores, miscigenando os jovens com os produtores mais experientes. A atuação de Redivo como presidente do Sindicato o destaca como uma liderança expressiva estadual produzida pela entidade, e seus feitos o levaram ao cargo de vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (FAMATO).
Mesmo separados por 34 anos de história e muitas mudanças no setor e na representação, o fundador do Sindicato Rural de Sinop compactua com a forma do atual presidente conduzir a entidade. “O que o Redivo está fazendo eleva o Sindicato Rural de Sinop para um novo nível. Será mais um presidente que deixará sua marca na história”, declarou Adenis Paschalletto.
Quando o passado referenda o presente, não tem como a semente não vingar.
1989
Vinícius Sponchiado

O FILHO DA TERRA QUE ARQUITETA SINOP
O arquiteto, que desde criança já sabia o que queria ser quando crescesse, faz parte da segunda geração de legítimos sinopenses. Se viu obrigado a amadurecer mais rápido para ser o “homem da casa”, e sem deixar de sonhar, cresceu, estudou e se desenvolveu junto com a cidade. Hoje, seu legado está intimamente atrelado às construções que levam sua assinatura
“O que você vai ser quando crescer?”. Uma pergunta simples, porém, cheia de sonhos e possibilidades, que inevitavelmente lançamos às crianças. Muitas vezes, elas olham ao redor e espelham suas aspirações nas profissões dos pais, tios ou daqueles amigos da família que admiram. Quando alguém fazia esta pergunta a Vinícius, ele já tinha a resposta na ponta da língua: “quero ser engenheiro”. Bem, os anos se passaram e não foi a engenharia que ganhou um profissional apaixonado, e sim a arquitetura.
Sinop, 10 de novembro de 1989. O médico ginecologista Dr. Jorge Yanai tinha em sua agenda mais um parto – dentre os milhares que acumulou ao longo da carreira. Naquele dia, ele trazia à luz Vinícius Celso Acadrolli Sponchiado, que já era parte integrante da segunda geração de legítimos sinopenses que ajudariam a povoar esta localidade ao Norte de Mato Grosso.
Muito antes, Celso Sponchiado e Sirlei Acadrolli se conheceram em Xanxerê (SC). Ela, nascida em Garibaldi, na Serra Gaúcha, mudou-se ainda criança com os pais para a cidade catarinense, enquanto Celso era de Vargeão, cidadezinha que tem hoje aproximadamente 3,6 mil habitantes e fica próxima a Xanxerê. Ainda na adolescência, se conheceram, namoraram e logo se casaram.
Celso tinha 6 irmãos, e eles deram sequência à vida no campo iniciada pelos pais. Não era necessariamente uma escolha dele, mas uma tendência. “Meu pai era herdeiro!”, brinca Vinícius. “Ele e os irmãos tinham uma indústria de erva mate e plantavam soja, eram gente do agro”. Sirlei, bastante estudiosa e assaz inteligente, era concursada nos Correios. Em 29 de março de 1984 nasce a primeira filha do casal, Indiara, na cidade de Chapecó.
Pelas bandas de Santa Catarina, a família permanece por mais alguns anos, até que urge o sangue aventureiro de Celso. A família Sponchiado adquire em 1986 propriedades em uma nova região, no Norte de Mato Grosso, que já vinha sendo bastante comentada pelos colonos locais. A região em questão aflorava no expansionismo econômico – cujo lema ‘integrar para não entregar’ já havia cumprido seu papel, e que agora era substituído por ‘terra de oportunidades’ –, especialmente na indústria madeireira. Por isso, os irmãos que tocavam juntos os negócios em terras catarinenses decidiram empreitar também em Mato Grosso. Dois anos depois, eles vêm para União do Sul.
O principal motivador da sociedade de irmãos para a empreita no Mato Grosso pode ser resumida em apenas uma palavra: orgulho. Não era uma questão de falta de opção, afinal, os negócios no Sul seguiam firmes. O que os impulsionava era o brilho no olhar de querer ir além do que os pais conquistaram. Uma geração forte, com força de vontade. “Essa grandeza é que move o Mato Grosso, de querer crescer, ir pra frente. Eram otimistas, de bater no peito e dizer ‘vamos, que vai dar certo’, sem medo. Eles não sabiam se era o lugar e a hora certa, mas tinham coragem de sobra”.
A região Norte do estado era uma terra ainda crua, sem muitos recursos. Por isso, pensando em manter uma melhor qualidade de vida à esposa e à filha, elas permanecem no Sul, enquanto Celso vem para o Mato Grosso com dois irmãos – os demais continuaram tocando indústria e lavoura. “Meu pai permanecia em União do Sul na época da seca, que era o único período em que a madeireira funcionava. Não tinha como tirar nem escoar tora serrada no período chuvoso, era tudo [estrada de] chão. Ele vinha e ficava 6 meses, enquanto minha mãe permanecia em Santa Catarina com minha irmã”.
E foi em um desses retornos para o Sul que Sirlei engravida novamente. Com aproximadamente 6 meses de gestação, ela pede exoneração dos Correios e decide passar a reta final da gravidez no Nortão. Como Sinop era a cidade que oferecia melhor estrutura naquela época, foi ali que a família fixou residência até o nascimento de Vinícius, no Hospital Dois Pinheiros. A estadia na cidade, porém, foi abreviada por uma complicação com o bebê ainda bem pequeno. “Eu nasci aqui, como está no meu RG, mas só fiquei por 3 meses. Eu tinha um problema de saúde muito grave. Meu organismo não digeria os alimentos e comecei a perder peso, o que é bem preocupante para alguém tão pequeno. Com um mês de vida, estava tão doente que quase morri. Meus pais decidiram, então, que o melhor era retornar para Santa Catarina. Voltamos às pressas para Xanxerê, senão não estaria aqui”. Sinop ainda não era um polo de saúde como é hoje, sendo que nenhuma das poucas unidades hospitalares poderia garantir a sobrevivência de Vinícius.
Nos três anos seguintes, Sirlei se dedicou a cuidar da frágil saúde do filho, enquanto Celso mantinha o rito de permanecer meio ano em Xanxerê e a outra metade em União do Sul. Vinícius não guarda memórias desse tempo no Sul, mas a narrativa ganha vida nos olhos de Sirlei, que, mesmo com o coração apertado pela distância, decidiu seguir o marido nas trilhas incertas do Mato Grosso. “Mulher que casa com cabra desbravador tem que se sujeitar a isso”.
Por 8 meses, os Sponchiado se estabeleceram na colônia da serralheria em União do Sul, mas Indiara precisava estudar – iria ingressar na antiga 1ª série. A família se muda para Sinop, que naquela época tinha em torno de 38 mil habitantes (conforme dados do IBGE) e opções melhores de escolas para as crianças. “Nós estudamos no antigo Colégio Concórdia [atual Alternativo]. Meus pais adquiriram uma casa bem próxima, onde minha mãe mora até hoje”, rememora Vinícius. A mudança não foi apenas física, mas também um reencontro com a rotina; Sirlei, uma mulher de força silenciosa e determinada, havia passado em um novo concurso dos Correios e se estabelecido novamente na corporação, onde trabalhou até se aposentar – há 5 anos. Naquela nova morada, os Sponchiado construíram mais que paredes, forjaram memórias que ecoariam pela vida toda.
Com a saúde restabelecida, Vinícius mergulhou em uma infância “raiz”, onde as brincadeiras ao ar livre e a simplicidade da vida dominavam os dias. Jogava bola, andava de bicicleta e brincava de Bets. Uma geração que ainda teve pouco contato com a tecnologia nos primeiros anos de vida. “Tenho uma cicatriz, de uma vez que um amigo tacou uma pedra de cascalho e arrebentou na minha cabeça. Saí correndo pra casa. Meu pai, com muita calma, lavou minha cabeça e passou uma pomada, daquelas caseiras, feita pela vizinha”, lembra. “Eu fui criado assim, me divertindo e muito bem criado por pai e mãe, que eram carinhosos, amorosos e atenciosos comigo e com minha irmã”.
A vocação para os traços e desenhos arquitetônicos não estavam necessariamente em seu DNA. A inspiração foi o arquiteto Alfredo Clodoaldo de Oliveira Neto (sobrinho dos pioneiros Ênio Pipino e Nilza de Oliveira Pipino), responsável por redesenhar Sinop e projetá-la para sua expansão. Desde pequeno, com papel e lápis na mão, Vinícius já rascunhava as primeiras plantas baixas. “Com os desenhos em mãos, eu pegava cimento e construía ruas e avenidas, e outros elementos que compõem uma cidade, no quintal de casa. Era a brincadeira que eu mais gostava. Desde criança eu sabia que queria ser arquiteto, mesmo sem saber que o nome [da profissão] era esse. Eu ouvia que o engenheiro era quem projetava casa, mas eu queria ir muito além disso”.
Esse é um dom que Vinícius acredita ter desde cedo: a capacidade de transpor suas ideias em imagens mentais que logo ganhavam forma no papel layout. Era como se seu olhar já estivesse treinado para ver além das linhas e curvas que rabiscava. “Eu já tinha noção de escala, então ficava fácil chegar às projeções reais, com pouca distorção”. Em um computador, as plantas eram feitas no Paint, mais básico programa de desenho livre ainda disponível em qualquer PC.
Quando Vinícius tinha apenas 14 anos, um baque desmonta a família. O pai perde a luta para o câncer em 2004. A sociedade só se mantinha organizada graças ao perfil de Celso, que era o pilar de apoio em tudo. Sem o pai, a sociedade entre os irmãos seria desfeita algum tempo depois, tanto em Mato Grosso quanto em Santa Catarina.
Seguindo um sonho
A profissão já estava decidida. Agora, Vinícius precisava ir atrás de uma faculdade e de tutores. Invertendo a lógica, ele conseguiu um estágio antes mesmo de ingressar no ensino superior. O então desenhista projetista encontrou em Rafaela Zaniratto e Ronaldo Barboza dois importantes mentores no mundo da arquitetura. “Eu trabalhava com AutoCAD para a Rafaela e para o Ronaldo, que me apresentaram de fato os detalhes da arquitetura. Inclusive, quando entrei na faculdade, eu já tinha muito mais noção do que a maioria dos meus colegas de turma”.
Com o anseio de se profissionalizar e ter o diploma profissional, Vinícius presta vestibulares para Arquitetura e Urbanismo em universidades públicas, mas não chega às etapas finais. Fica, então, sabendo que uma faculdade privada iria abrir o curso em seis meses. Ele é aprovado no seletivo e, em 2009, ingressa na UNIC (atual Faculdade Anhanguera), fazendo parte da terceira turma do curso.
Ao longo dos 5 anos de graduação, Vinícius teve no escritório de Rafaela e Ronaldo uma verdadeira escola, vivenciando experiências que não se aprendem dentro de uma sala de aula. A colação de grau representou uma mera formalidade. Aquele menino, que brincava de construir cidades usando cimento e pedra no quintal de casa, agora estava preparado – e diplomado – para assinar seus próprios projetos. Abriu seu escritório e construiu uma sólida base de clientes, principalmente investidores e incorporadores. O santo de casa, desta vez, fez milagres. “Como sou nascido aqui, as portas foram se abrindo conforme eu buscava clientes. Há situações em que profissionais locais, em quaisquer áreas, não são tão valorizados, mas comigo foi diferente. Eu prezava por entregar os projetos dentro do prazo, sabia organizar a documentação necessária junto à Prefeitura e outros órgãos, e assim, por indicação, as pessoas foram conhecendo meu trabalho”.
Sua abordagem ética e colaborativa no trabalho o destacou na profissão. Vinícius nunca viu a concorrência como um obstáculo, mas como uma oportunidade de aprender e crescer. O antigo tutor virou parceiro. Ronaldo Barboza e Vinícius se tornaram sócios por muitos anos – hoje, seguem ‘carreira solo’. E da mesma maneira que um dia alguém lhe confiou um estágio, Vinícius retribui fazendo o mesmo com tantos jovens estudantes que batem à porta. “Dou a oportunidade de se desenvolverem, de serem capazes de andar com as próprias pernas. Eu tive duas pessoas que me deram oportunidade de aprender, e por isso quero fazer o mesmo por eles”. Pelo menos uma dezena de arquitetos formados já foram pupilos deste ex-estagiário.
O antigo projetista de Paint acompanhou a tecnologia e evoluiu. Do AutoCAD passou ao SketchUp, um software próprio para a criação de modelos em 3D no computador, que permite criar o esboço de vários ambientes detalhadamente. No escritório de Vinícius, o ‘serviço braçal’ – com apoio da tecnologia – é desenvolvido por seus colaboradores, que transformam em arte as informações coletadas por ele. “Meu trabalho é atender o cliente, gerenciar o escritório e visitar as obras”.
Além de atender aos anseios do cliente, Vinícius desenvolveu a confiança de opinar. Afinal, nem todo mundo entende o que significa valor agregado. Uma mansão com piscina, áreas gourmet e garagem para seis carros, por exemplo, em uma localização incompatível, não valorizará o imóvel. “Construir só não é um bom negócio para quem não tem um olhar 360 graus. Sair empreendendo sem a mínima noção resulta em prejuízo. Por isso, nosso trabalho é acompanhar tendências, entender quais regiões se valorizam, quais os valores de terrenos. Também é importante discutir construção de laje, ter fachada atrativa, analisar se há comércios nas proximidades. São detalhes dos quais é preciso estar atento”, reforça o arquiteto.
Hoje, o prata da casa é um arquiteto reconhecido em Sinop, com projetos que refletem não apenas sua visão criativa, mas também seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e ordenado da cidade. Agora, pergunte se deseja sair de Sinop um dia? “Jamais. Nunca pensei em sair daqui. Mesmo que um dia eu ganhasse uma bolada, podia até dar uma volta pelo mundo, mas voltaria para cá”.
Entre tantos motivos para ficar, um deles é constituir família com sua parceira, a cirurgiã dentista Drª. Kerollyn Frizon, cujo relacionamento completa 5 anos em 2024. “Caminhamos para o mesmo propósito. Eu quero que meus filhos morem numa casa cheia de amor igual à casa que eu morei, com pai e mãe juntos”.
Outro argumento que reforça sua permanência é o exponencial crescimento de Sinop. Seu amor pela cidade e a crença em seu potencial de crescimento guiam seu trabalho, sempre focado em criar ambientes que harmonizem estética, funcionalidade e sustentabilidade. E se a expectativa de Vinícius se consolidar, a cidade terá em torno de 350 mil habitantes até 2040. “Sinop cresceu e vai continuar crescendo. Eu quero contribuir para esse desenvolvimento de forma planejada”, diz ele com entusiasmo. Ao mesmo tempo, esse mesmo crescimento gera preocupações, especialmente com a baixa permeabilidade do solo e os alagamentos. “É um problema que todos, Poder Público, iniciativa privada, arquitetos e engenheiros, terão que encontrar uma solução. Quanto mais bairros, mais construções, mais vedação do solo, especialmente de uma cidade plana como a nossa”.
O filho da terra, que se preocupa com o progresso ordenado de Sinop, é imensamente grato à cidade que tudo lhe deu. A jornada que começou com desenhos simples agora se desdobra em projetos concretos, deixando uma marca indelével na paisagem urbana e na história da cidade que ele tanto ama.
1989
Iremar Andrade da Silva

TRANSPORTANDO O PROGRESSO
Desde jovem, Iremar foi se virar. Capinou quintais, foi entregador, chapeiro, auxiliar de garçom, músico, motorista, piloto de avião, gerente de transportadora, entregador de jornal, vendedor e montador de móveis, até se tornar empresário. Olhando para trás, hoje consegue se orgulhar de tantas alegrias que transportou através de cargas e encomendas, que muito contribuem para o crescimento e desenvolvimento de Sinop
Desde antes de sua fundação, Sinop já era um solo fértil para quem busca um novo lugar para empreender, desenvolver ideias e construir sonhos. É nessa terra de oportunidades que se desenvolve a Piccoli Transportes, uma transportadora que carrega diariamente sonhos em forma de produtos manufaturados, das mais variadas serventias. O condutor dessa carga é o empresário Iremar Andrade da Silva. A Piccoli é o resultado do sonho e dos esforços de um homem que teve uma infância sofrida.
Goiano de Santa Helena de Goiás, Iremar nasceu em 4 março de 1962 e viu os pais, o pedreiro José Andrade da Costa e a dona de casa Iraídes Rivalda da Silva, se separarem quando ele tinha pouco mais de 5 anos de idade. O pai voltou para sua terra natal, a Paraíba, e a mãe, para poder criar os quatro filhos – além de Iremar, o casal tinha mais duas meninas e um menino, fruto de um casamento anterior de dona Iraídes, – deixou Santa Helena e levou a família para Barra do Garças (MT) em busca de novas oportunidades. Era o ano de 1968.
Sem parentes na nova cidade, mas com muita determinação e coragem, dona Iraídes alugou uma casa em uma região afastada da área central. Para sustentar os filhos, começou a trabalhar como lavadeira para as mulheres de um bordel. Foi um tempo difícil, e Iremar ainda hoje se recorda de carregar na cabeça as trouxas de roupas das clientes da mãe, pela qual tem grande admiração. As roupas eram lavadas em um riacho. “Ela teve muita coragem. Minha mãe é minha maior inspiração”, afirma o empresário.
Enquanto as roupas secavam em um gramado (não havia varal na casa), Iramar e os 3 irmãos ficavam por perto e comiam a comida levada pela mãe em um pequeno caldeirão. “E ela continuava trabalhando até quase escurecer”, lembra. “À noite, depois que íamos dormir, ela passava as roupas com um ferro a brasa”, continua. “Foi muito difícil, muito difícil”, enfatiza.
Cada remessa de roupa lavada e passada rendia à dona Iraídes a quantia de 10 a 12 Cruzeiros. Nos cálculos de Iremar, o equivalente a R$ 100,00 ou R$ 120,00 atualmente. Depois de um certo tempo, Iraídes, passou a trabalhar como cozinheira no bordel. Nessa época, lembra ele, a situação começou a melhorar e a mãe conseguiu comprar uma pequena casa. O irmão mais velho, Divino, tornou-se músico e passou a colaborar com as despesas da família. “Ele ajudou muito”, reconhece Iremar.
Com as dificuldades impostas pela vida dura que a família levava, Iremar só começou a frequentar a escola aos 9 anos. Entretanto, graças à boa amizade do irmão com as freiras, que administravam uma escola chamada Madre Marta Cerutti, Iremar iniciou o processo de alfabetização já na rede particular de ensino. Durante o período escolar, conciliava seu tempo entre os estudos e alguns trabalhos esporádicos, como capinar quintais. O dinheiro que ganhava era todo entregue à mãe.
Seu primeiro emprego de carteira assinada foi aos 15 anos, em uma transportadora de nome “Rodoviário Caçula”. “Ali eu comecei a ganhar o meu salarinho”, frisa. Começava a ser escrita a história do futuro empresário do ramo de transporte. O trabalho, conforme recorda o empresário, consistia em fazer as entregas das mercadorias que vinham de Goiânia (GO) nos comércios da cidade em um caminhão. “É até emocionante lembrar isso. A hora mais difícil era sempre no final do expediente. Já cansado, depois de um dia extenuante, eu ainda tinha que descarregar baldes de lubrificantes, baterias automotivas e outros produtos em um depósito”.
Essa rotina durou cerca de um ano e meio, até que Iremar decidiu procurar emprego em lanchonetes e conseguiu uma vaga como chapeiro em uma delas. “Eu mesmo preparava a carne para os hambúrgueres”, frisa. “Aquele período para mim despertou o meu interesse de trabalhar com o público”. Como chapeiro, preparou um lanche para o ator Carlos Eduardo Dolabella, que fez grande sucesso nas telenovelas das décadas de 1970 e 1980. “Mas nem pude chegar perto dele. Só olhava de longe”.
Em 1979, Iremar decidiu trocar de emprego, mas continuou trabalhando na noite, agora, como auxiliar de garçom em uma boate. Era o responsável pelo preparo das bebidas e por lavar os copos. Jovem e apaixonado pela noite, aprendeu a tocar bateria e passou a fazer parte da banda do estabelecimento. Embora não tenha seguido carreira, a música sempre fez parte de sua vida.
Quando criança, em companhia dos amigos Paulo e Ivo, Iremar se divertia criando instrumentos imaginários, como guitarra feita com uma vassoura e bateria montada com latas de banha e de leite em pó. O som de cada um dos “instrumentos”, os jovens faziam com a boca. “Então, quando eu estava trabalhando de ajudante de garçom, eu falei: ‘agora é hora de transformar em realidade aquelas brincadeiras de criança’. Eu queria tocar em uma banda”.
Naquele período, sua mãe havia deixado o trabalho de cozinheira no bordel e conseguido um emprego em um clube ligado à maçonaria em Barra do Garças, que tinha o nome de Usina, onde ela era responsável pela portaria e pela limpeza da piscina. “E eu era ajudante dela, mas não dei conta, não em termos físicos, achei que aquela não era uma vida pra mim”, lembra. “Então eu tive meu primeiro momento de rebeldia com a minha mãe”. Ele tinha 16 anos e resolveu sair de casa para tentar a vida sozinho. Morando em uma pensão, Iremar continuava trabalhando na noite como músico e ajudante de garçom.
Apesar dos perrengues, as coisas tendiam a melhorar. Em 1979, o irmão Divino foi nomeado secretário no recém-criado Município de Aripuanã, localizado no Extremo Noroeste do estado. Depois de quatro meses no cargo, Divino convidou Iremar a morar em Aripuanã e trabalhar como auxiliar de almoxarifado na Prefeitura. “Naquele momento eu acreditei que a minha vida ia mudar, e muito”, diz. A ida para a nova cidade proporcionaria uma nova experiência. “Foi a primeira vez que viajei de avião”.
Outro fato marcante para Iremar foi quem na hora da despedida, sua mãe colocou para tocar em uma vitrola a música “A Despedida”, do rei Roberto Carlos. Já no primeiro verso, a canção diz: “Já está chegando a hora de ir, venho aqui me despedir e dizer, em qualquer lugar por onde eu andar, vou lembrar de você”. Até hoje, Iremar se emociona ao ouvir a música e relembrar o momento com mãe.
Em Aripuanã, a primeira impressão não foi das melhores, afinal, trocara uma cidade com cerca de 30 mil habitantes por uma com 3 mil moradores. “O que tinha de diversão era ir para cachoeira, conversar com índio e levar bronca dos mais velhos”. Iremar lembra que durante a viagem até a nova cidade, uma nova paixão despertou. “Eu acreditei naquele momento que poderia ser piloto”, lembra.
Além da paixão pela aviação, a viagem também reservou um momento marcante. Em uma das paradas, entre Cuiabá e Aripuanã, numa vila chamada Fontanilha, um Jeep se aproximou da aeronave. Dentro dele havia uma senhora que, cansada dos solavancos da estrada esburacadas, pediu carona no voo. Para isso, alguém teria que ir no Jeep e o indicado foi Iremar. Que se negou.
Mas, por ironia do destino, que muitas vezes prega peças, no dia seguinte, ao se levantar, o jovem Iremar observou em frente à república em que morava, o “Poleiro dos Anjos”, uma linda moça chamada Rosa. Houve uma simpatia mútua entre os dois. O problema é que a jovem contou à mãe sobre quem tinha visto e se interessado. Sua mãe se lembrou que aquele rapaz bem-apessoado, que despertou o interesse da filha, era justamente o mesmo que lhe havia negado o lugar no avião.
Dois dias depois, Iremar e Rosa se encontraram em um baile e, ao som de “Feiticeira”, composta por Amado Batista e interpretada pelo cantor Carlos Alexandre, começaram a namorar, a contragosto da mãe e de um irmão de Rosa. Seis meses depois, Rosa e a família se mudaram para Barão de Melgaço, obrigando o casal a se distanciar. Contato, apenas por carta. Mas o amor não acabou.
Como a família de Rosa era um tanto quanto nômade, quatro meses depois, voltou para Aripuanã e o namoro continuou. Nesta época, mesmo sem habilitação, Iremar havia se tornado motorista da Prefeitura e, durante um evento na cidade, foi o responsável pelo transporte do então governador Frederico Campos e cometeu um deslize imperdoável: deixou faltar combustível da C-10 cabine dupla em que estava o mandatário. O descuido quase lhe custou o emprego.
O namoro com Rosa continuava firma, porém, em 1980 ela se mudou para Cuiabá com a patroa, que era cunhada de Iremar. Logo em seguida, ele também foi para a capital em busca do sonho de ser piloto. Nesse período Rosa engravidou. O casal então, decidiu morar junto em um cubículo de 2 m x 2,5 m no bairro Dom Aquino. Iremar continuou os estudos.
Em junho de 1981, nasce Christianne, a primeira filha do casal. Após o nascimento de Christianne, Rosa voltou a morar com a mãe, em Aripuanã, enquanto Iremar continuava o curso de piloto, agora em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, onde fez as aulas práticas de aviação por seis meses. Concluído o curso, retornou a Cuiabá a fim de se aperfeiçoar na nova profissão e conseguir trabalho como piloto. Iremar destaca que durante seu processo de aprendizagem, quem custeou suas despesas foi o irmão Divino.
Com o brevê de piloto em mãos, Iremar foi voar em garimpos como copiloto, enquanto a mulher e a filha ficavam na casa da mãe de Rosa – aquela mesma que, anos antes, ele negara ceder seu lugar no avião. Nas tantas viagens que fez para o garimpo, um susto. O avião que ele estava bateu na copa de uma árvore e, descontrolado, derrapou pela pista. Por sorte, ninguém se feriu com gravidade.
Em maio de 1982 nasce Ana Paula, segunda filha do casal, ocasião em que Iremar decidiu abandonar a aviação em garimpo. Os riscos e a distância já não valiam mais a pena. Compensava buscar outras alternativas. A opção foi retornar para Cuiabá e buscar uma vaga na aviação executiva. Já na capital, o casal teve o terceiro filho, Luiz Carlos, que nasceu em abril de 1983 com a saúde bastante fragilizada.
Enquanto buscava emprego como piloto, Iremar aceitou trabalhar em um garimpo na região do distrito da Guia, onde o dono disse que havia comprado um avião que seria entregue em breve. A aeronave nunca chegou e Iremar acabou atuando como apontador. “Levantava às 5 da manhã, de segunda à sexta-feira. Isso durou mais ou menos uns três meses”, lembra ele.
Com a saúde do filho Luiz Carlos piorando, a ponto de os médicos o prepararem para o pior, Iremar apelou para o irmão, que havia retornado para Barra do Garças depois de quatro anos em Aripuanã. Mais uma vez, Divino o socorreu. Em 1984, em um avião do Correio Aéreo Nacional, Iremar e a família migram para Barra do Garças. “Recomeçar tudo de novo”, diz ele.
Com Iremar desempregado, foram morar na casa de dona Iraídes. No passado, antes de se mudar para Aripuanã, Divino havia sido gerente do Expresso Universo, em Barra do Garças e foi justamente nessa empresa que ele encaixou o irmão, também como gerente. “Aceitei e fui morar novamente na minha casa. Mudei de vida e ali comecei. Compramos nossa primeira casa”, lembra.
Depois de pouco mais de um ano no Expresso Universo, Iremar procurou emprego na Coopercana, uma cooperativa mista do agronegócio. E conseguiu. Foi ser assistente de frota. Como toda carga transportada pelos caminhões da Coopercana passava pelo setor em que trabalhava, Iremar passou a ter contato com grandes empresários do ramo de transporte, entre eles Roberto Mira, um dos donos do Expresso Mira – hoje Mira Transporte. “Ele me passou seu contato e disse: ‘estou em São Paulo, quando precisar de alguma coisa, me ligue’. Ali estava desenhando uma nova etapa na minha vida”, acredita.
Depois de alguns anos na Cooperativa, onde ganhava um bom salário, Iremar foi demitido, tendo ingressado em seguida em duas empresas de transporte de grãos. Mas como o trabalho exigia que ele se distanciasse da família, permaneceu por pouco tempo em cada uma delas. Foi trabalhar, então, como vendedor e montador de móveis. Insatisfeito, pediu as contas e foi em busca de outras oportunidades. Em meio a tudo isso, o casal teve mais uma filha: Daniela, em dezembro de 1985, época em que Iremar ainda era gerente do Expresso Universo.
Em 1989, depois de ter passado por várias empresas, ele se lembrou do contato de Roberto Mira e ligou. Queria algo melhor, um trabalho onde pudesse progredir. Um cunhado de Iremar já trabalhava como gerente na filial da Mira em Barra do Garças. O empresário autorizou o gerente da filial a fazer um adiantamento para que Iremar pudesse viajar para Cuiabá a fim de fazer uma entrevista de emprego. Contratado, foi mandado para Sinop. Começava em setembro daquele ano ali sua história com a cidade.
No dia seguinte, após 12 horas de viagem em um VW Gol, Iremar e o gerente da filial de Cuiabá chegaram a Sinop, onde se hospedaram no Hotel Gaspar. Na manhã seguinte, Iremar foi apresentado aos novos companheiros de trabalho no Expresso Mira. “Assumi o cargo de gerente e passei a atender lojas como as Casas Buri, Lojas Pernambucanas e várias outras”, lembra ele.
Iremar lembra que, quando chegou, a fumaça das queimadas e das madeireiras cobria toda a cidade. As ruas, puro buraco. “Aquela visão me assustou”, admite. “Mas o que eu queria era realmente começar. Em momento algum a minha impressão foi de decepção. Não mesmo”, afirma. Em outubro de 1989, um mês sua chegada na cidade, Iremar traz a esposa e os filhos para Sinop. A família foi morar em uma casa no pátio da empresa. Como os móveis tinham ficado em Aragarças, onde Iremar havia comprado uma casa durante o período em que trabalhou na Coopercana, por vários dias a família dormiu sobre papelões.
Iremar lembra que quando se mudou para Sinop, a cidade tinha, além da Mira, outras três transportadoras: A pioneira Expresso Maringá, a Trans-Santos e o Expresso Araçatuba. A maior dificuldade era conseguir funcionários, uma vez que a maioria preferia trabalhar nas madeireiras, que pagavam bem e cediam casa para moradia. A população de Sinop à época era de cerca de 30 mil habitantes. Foi naquele período que Iremar conheceu toda a região no entorno da futura Capital do Nortão e deu início ao processo de captação de clientes para a empresa.
Apesar de todo seu esforço, depois de um ano na empresa, acabou demitido. Foi quando pensou em retornar para Barra do Garças, onde tinha casa e os parentes. Mas a proposta não foi aceita pela esposa que, como argumento para permanecer em Sinop, citou um texto bíblico que dizia: “Nunca vi um justo completamente abandonado nem seus filhos passando fome”. Ironicamente, Iremar respondeu: “Eu não vi um justo, eu vi vários”. Repreendido pela esposa, ele, que já era evangélico das Testemunhas de Jeová, se arrependeu do que havia dito.
No dia seguinte à conversa com Rosa, Iremar recebe a visita do empresário Pedro Satélite (em memória), que lhe propôs criar um “corredor de cargas” entre Cuiabá e Sinop que seria atendido pela Satélite Transportes, que à época era concorrente do Expresso Maringá. Em razão da exclusividade da linha, a Satélite Transportes não poderia operar de forma legal em Sinop. Apesar desse entrave, a proposta foi aceita e a empresa é aberta na esquina da Rua das Pitangueiras com Avenida das Acácias. “Era um espaço de 2x2 metros. Só cabia uma mesa e as caixinhas que vinham de Cuiabá”, recorda.
A identificação da empresa foi escrita em uma cartolina, colocada do lado de fora do prédio. Para se livrar da fiscalização da Prefeitura – já que a empresa não podia vender passagens nem embarcar passageiros –, Iremar colocava os passageiros em sua VW Brasília e os levava até um ponto da rodovia, onde o ônibus os apanhava. Devido à irregularidade, a Satélite Transportes chegou a ser lacrada pela Prefeitura.
Para driblar essa situação, Iremar convenceu o proprietário da então Lanchonete Caiçara, instalada na BR-163, a fazer do lugar um ponto de parada para alimentação dos passageiros da Satélite. E assim, “por baixo dos panos”, ele recebia encomendas e embarcava passageiros e pequenas cargas. Com o passar do tempo, a Satélite se associou à viação Ouro e Prata, o que permitiu a Iremar vender passagens de Guarantã do Norte a Ijuí (RS), linha que era feita pela Ouro e Prata, com o embarque podendo ser feito em Sinop. “Ganhei muito dinheiro naquele período e mudei o local de embarque de passageiros”, conta.
Paralelamente, a Satélite continuava a operar cladestinamente no transporte de cargas e passageiros, até que, devido à fiscalização ferrenha, Iremar deixou a empresa, ficando apenas com a Ouro e Prata. Por alguns anos, Iremar foi o dono da concessão de vendas de passagens da empresa em Sinop, até que perdeu esse direito e, mais uma vez, ficou sem trabalho. Com o dinheiro ganho com a concessão das passagens, ele havia comprado uma pequena casa no recém-criado Jardim das Palmeiras. A Brasília foi usada como parte do pagamento do seu primeiro bem material em Sinop, na Rua das Violetas, em 1992.
Em busca de trabalho, procurou emprego em quatro transportadoras, tendo sido contratado pela Expresso Araçatuba, onde trabalhou por quatro anos. “Ali eu aprendi vender frete. A empresa era muito profissional”, reconhece. Insatisfeito com o cargo que ocupava, acabou saindo, porém, durante o período em que trabalhou na empresa, investiu na melhoria da própria casa, dando mais conforto à família.
Depois desse período trabalhou em outras transportadoras. Novamente desempregado, passou a vender assinaturas e a fazer a entrega do jornal Diário de Cuiabá junto com esposa. A distribuição dos jornais era feita de bicicleta durante as madrugadas. Para aumentar a renda familiar, Rosa foi trabalhar como doméstica, conciliando as duas atividades. “Nesse período, a Rosa me ajudou muito”, reconhece.
Em 1998, uma crise no setor madeireiro refletiu no desempenho do comércio. Com menos dinheiro circulando, Iremar decidiu voltar sozinho para Cuiabá em busca de trabalho. Lá começa uma nova virada em sua vida. Conhece a Faccenda Encomendas, que estava em recuperação judicial, e recebeu do dono a proposta para retornar a Sinop e representar a empresa na prospecção de clientes. Durante três meses, todo o frete que ele conseguisse vender seria integralmente dele. Antes de aceitar, decidiu consultar a esposa, que, mais uma vez, o incentivou a agarrar a oferta.
De volta a Sinop, começou a visitar clientes e, já na primeira semana conseguiu três pequenos fretes de Cuiabá para Sinop, transportados em um caminhão carregado. “Você não sabe qual foi a minha satisfação ao ver aquele caminhão”, ressalta. “Eu recebi naquela época o equivalente a R$ 370. Sabe o que eu pensei? ‘Eu nunca mais vou trabalhar de empregado. Vou fazer para que toda semana eu ganhe de R$ 300 a R$ 1 mil’”.
Animado com a perspectiva de uma boa receita, Iremar dedicou-se ainda mais a visitar clientes. Um deles foi a maior loja de eletrodomésticos de Sinop à época, a Sul Móveis. A proposta, que foi aceita pelo dono da loja, era de ter a exclusividade no transporte dos produtos comprados pela Sul Móveis em São Paulo.
As primeiras encomendas eram pequenas, até que uma noite, quando Iremar voltava do culto, seu telefone tocou. Era o dono da transportadora informando que iria enviar uma carga de fogões a gás de São Paulo para a Sul Móveis. Feliz com a notícia, Iremar levou toda a família para comemorar com um jantar “no restaurante mais chique de Sinop à época”.
O passo seguinte foi alugar um espaço para montar a própria empresa. O filho Luiz Carlos, então com 14 anos, passou a ajudá-lo e um funcionário foi contratado. “Agora eu tinha uma filial de uma transportadora em Sinop, a Faccenda Encomendas”, frisa. Seria a sexta empresa do gênero na cidade. O primeiro depósito foi na Rua das Nogueiras, em um prédio alugado de 48 metros quadrados. Era início de 1999.
Já em 29 de dezembro de 1999, Iremar criou a Andrade Encomendas Municipal, que, além de Sinop, atendia também Sorriso. A parceria com a Faccenda ainda continuou. O primeiro veículo da empresa foi comprado em Sorriso, uma F-4000 com carroceria de madeira, que passou a ser utilizada na distribuição das encomendas.
Na volta para Sinop, depois da compra do veículo, Iremar refletiu que, caso sua empresa não desse certo, ao menos o caminhão lhe serviria para fretes. Mas a empresa deu certo e cresceu. Em 2001, finda a parceria com a Faccenda e é criada a Sicall – Sistema Internacional de Cargas e Logística Ltda, com sede em Corumbá (MS).
No mesmo período, a Andrade Encomendas Municipais, parceira da Sicall, se muda para um espaço maior e novos veículos foram adquiridos, formando uma pequena frota. Em 2003, o casal adotou Nayara, ainda bebê, que era filha de uma tia de Rosa e que morreu durante o parto. A criança foi para os braços de Iremar e Rosa desde os primeiros dias, sendo assim considerada como filha biológica. Atualmente, Nayara trabalha na empresa junto ao pai.
No ano seguinte, porém, um desentendimento entre os sócios faz Iremar deixar as parcerias, tanto com a Faccenda quanto com a Sicall. Foi então que a Andrade se une à Piccoli Transportes. Em Mato Grosso, a Piccoli não tinha nenhum representante em Sinop, e à base do cooperativismo, Iremar passa e cobrir não apenas a cidade, mas toda a região Norte de Mato Grosso, trazendo consigo os antigos clientes – franquia de representação. Como a empresa continuou a crescer, houve a necessidade de nova mudança, para um prédio ainda maior, localizado no cruzamento das avenidas Jequitibás com Jacarandás.
Com uma história rica em detalhes, Iremar frisa que, ao criar a Piccoli e se desligar da Sicall, sua empresa deixou de ser uma simples transportadora. “Eu passei a ter uma empresa de logística de transporte. Eu já não transportava mais cargas, eu transportava tecnologia, educação e saúde. Digo, sem medo de errar: desde o momento em que eu fundei minha transportadora até hoje, é muito difícil alguém, que aonde mora ou aonde compra, não tenha algo que a minha empresa trouxe de São Paulo”, afirma.
Toda essa confiança tem motivo. Iremar lembra que vivenciou o momento em que Sinop atravessou um desenvolvimento acelerado, e a demanda por produtos de quaisquer natureza era imensa. “Do tampão do bueiro ao uniforme; do balcão da loja ao notebook sobre a escrivaninha, em tudo isso, eu e minha transportadora participamos. Não tem nada nessa cidade que possa ser dito que a nossa transportadora não contribuiu para trazer”, afirma.
Carga dolorida
A vida traz surpresas, às vezes boas, às vezes péssimas. Depois de tantas e tantas batalhas, enfrentadas e superadas, que resultaram em estabilidade financeira e empresarial, Iremar recebeu uma carga mais pesada do que poderia suportar. Em 2015, Rosa é diagnosticada com câncer de mama. A doença causou um impacto tão grande na vida do empresário que ele perdeu até mesmo o interesse em trabalhar. “Eu só queria me dedicar ao tratamento dela”, diz. Foram 6 anos em que a família se dividiu entre Sinop, Cuiabá, Goiânia e Barretos (SP), onde Rosa passou a fazer quimioterapia. Naquele período, os negócios passaram a ser tocados pelo filho Luiz Carlos.
Apesar de todos os esforços empreendidos e todo o zelo no tratamento, feito em centros especializados em oncologia, a doença se espalhou. Sua companheira de décadas faleceu no dia 12 de setembro de 2021. Em uma triste coincidência, a data é a mesma em que Iremar chegou a Sinop, em 1989. “O baque foi grande. Eu levei um certo tempo para aceitar”, revela emocionado.
Iremar reconhece que a morte de Rosa causou uma desestruturação na família. Uma das primeiras ações de Iremar após o falecimento da esposa foi vender a confortável casa construída pelo casal. O imóvel foi feito de acordo com a vontade de Rosa, que adorava reunir a família em torno de uma grande mesa e em animadas festas. O empresário ainda não se acostumou por completo em dormir sozinho na cama. “O vazio que ficou é imenso”, completa.
Além de Rosa, que esteve ao seu lado durante mais de 40 anos, Iremar nutre uma consideração muito grande por Divino, que sempre o apoiou nos momentos difíceis da vida. Apesar de ter vivenciado fartura e bonança durante um bom tempo, também experimentou os mesmos momentos delicados pelos quais Iremar com frequência passava. Foi a vez, então, de retribuir. Atualmente, Divino é responsável pelo setor comercial da Piccoli em Sinop.
Iremar destaca que todos os seus filhos já trabalharam com ele em suas empresas. Luiz Carlos e Nayara continuam ao lado do pai. Os demais seguiram outros caminhos. Christianne é empresária do setor hoteleiro, enquanto Ana Paula é colaboradora da Unimed e Daniela é funcionária de um grande hospital em Sinop.
A Piccoli está presente em várias regiões do Brasil, enviando e recebendo cargas de São Paulo, Goiânia, Brasília, movimentando uma média mensal de 500 toneladas – ou 22 caminhões –, com destaque para os produtos manufaturados destinados aos setores industrial, comercial e de prestação de serviços. Com uma frota de 5 veículos, Iremar calcula que 12% de todas as cargas enviadas para Sinop são transportadas pela Piccoli, o que a coloca em destaque no setor de transportes na cidade. A empresa gera 10 empregos diretos e outros 50 de forma indireta.
E lá se vão mais de 20 anos de parceria. Com o sucesso dos negócios e o crescimento da empresa, a Picolli Transportes inaugura sua sede própria, ainda no segundo semestre de 2024, na Comunidade Betel, na Estrada Amélia, cujo prédio possui mais de 600 metros quadrados. O novo endereço tende a ser, no futuro, a melhor alternativa na operacionalização da empresa.
Após rodar por tantas regiões, Iremar reflete quais motivos o levaram a permanecer em Sinop. “Na minha opinião, não vejo outro lugar tão bom nesse país para se empreender. Aqui, o sucesso é garantido pra quem vem inovar com visão empreendedora, mas que tenha disposição para trabalhar”. Essa é a voz da experiência, de quem fez de tudo nessa vida, descarregou os insucessos e transportou tantas alegrias que nem consegue mensurar.
1989
Valdemir Alcântara

O REAL DESEJO DE CRESCER O TROUXE PARA SINOP
Valdemir Alcântara viveu em um pequeno distrito no Paraná, se divertiu com os carrinhos que a própria piazada fabricava e ainda teve tempo para ser fotógrafo e repositor de pinos no ‘bolão’. Quando havia acabado de mudar para uma cidade maior, preferiu acompanhar os pais na jornada para o Mato Grosso em busca de novas oportunidades. E foi aqui que constituiu a Autoescola e Despachante Real, empresa que se transformou em referência em ambos segmentos
Se pudéssemos voltar no tempo e perguntar para a nossa versão mais jovem: “onde quero estar daqui 50 anos?”, as respostas serão as mais variadas possíveis. Sinop, talvez, não apareceria nem entre as 100 primeiras possibilidades numa pesquisa aleatória. O fato é que, numa cidade que completa seu cinquentenário de fundação em 2024, são as histórias de seus pioneiros que demonstram como Sinop foi se consolidando através do tempo como uma referência em pujança e desenvolvimento econômico, atraindo gente que não se conformava somente com aquilo que tinha.
Anos antes de Sinop entrar no mapa dessa história, era a década de 60 quando Manoel Flordomiro de Alcântara e Iolanda Tereza Ceolin de Alcântara se conheceram em Santo Augusto (RS). Após se casarem, o casal de agricultores migra para Sulina, no Paraná – hoje uma cidade, mas à época um distrito de Chopinzinho (PR). Desbravaram a região à base de serrote e machado para abrir as lavouras, onde plantavam milho e criavam gado para a produção de leite. Em 27 de maio de 1968, nasce o terceiro filho do casal, Valdemir Alcântara.
A casa da família era simples, feita de madeira, mas isso nem de longe era empecilho para que as crianças aproveitassem sua infância ao máximo. Valdemir conciliava os estudos na escola daquela comunidade com o tempo livre para brincar. Inclusive, os brinquedos eram de fabricação própria. “A gente fabricava os próprios carrinhos de madeira. Morávamos no alto de um morro e descíamos ladeira abaixo. Era uma aventura, sem juízo algum”, rememora Valdemir.
Nessa fase, Valdemir lembra de uma história tensa e marcante. Quando tinha entre 6 e 7 anos, é acometido por Tétano. O tratamento aplicado pelo médico daquela pequena comunidade era para dor de garganta... A doença persistia, até que um tio o leva para Pato Branco (PR), cidade que dispunha de mais especialistas. O Dr. Borges da Silveira (que viria a ser Ministro da Saúde anos mais tarde) imprime uma série de medidas, entre elas a instalação de iluminação sob a cama – sem luzes vindo de cima. A gravidade e a frequência das características clínicas do tétano podem variar de caso a caso, e em Valdemir afetou sua mobilidade. “Minha coluna ficou ereta, eu não conseguia flexionar. A boca travava, eu tinha uns espasmos e mordia a língua”. O medo de perder o filho tão jovem leva Iolanda a fazer uma promessa. O pedido é atendido por Nossa Senhora Aparecida e Valdemir é curado. “Após eu sobreviver, nós fomos de caminhão para Aparecida da Norte (SP) para ela pagar essa promessa. Foi algo marcante na minha trajetória”.
Aos 9 anos de idade, um tio lhe arruma seu primeiro “emprego”. Diferentemente das automatizadas pistas de boliche de hoje em dia, o ‘bolão’ precisava de alguém para organizar manualmente os 10 pinos que deveriam ser derrubados. E era Valdemir que fazia essa função. Um ano depois, ele estaria com outro tio trabalhando como fotógrafo. Era ele quem acompanhava o padre nos batizados realizados nas comunidades do interior para registrar os momentos.
Com 14 anos de idade, Valdemir foi trabalhar na Coasul, uma cooperativa agroindustrial localizada no Sudoeste paranaense, realizando o controle de estoque. Três anos depois, ele vai trabalhar com o pai e um outro tio, que haviam montado uma oficina mecânica e loja de autopeças. Além disso, eles fabricavam no local carroças de madeira destinadas aos produtores da região.
Depois de dois anos na empresa familiar, Valdemir decidiu que era hora de alçar voos mais altos. Arruma as malas, leva consigo algum dinheiro e parte para Guarapuava (PR), uma cidade com aproximadamente 150 mil habitantes na época, e um lugar onde também havia um tio para dar retaguarda. “Eu nunca fui muito conformado. Eu via meus amigos felizes com o que tinham, mas eu queria mais do que apenas aquilo, buscava alguma coisa a mais”.
E é lá que Valdemir tem o primeiro contato com o ofício que levaria para sempre. “Meu tio tinha um escritório de despachante. Eu tinha 19 anos, queria terminar o ensino médio em uma cidade que tivesse mais oportunidades. Trabalhava durante o dia no Despachante Alcântara e estudava à noite”, explica Valdemir sobre sua rotina. Na nova cidade, permaneceu por dois anos, até que uma visita dos pais mudaria o rumo de sua história.
Enquanto Dona Iolanda administrava o lar e ainda sobrava tempo para costurar sob encomendas, Seu Manoel adquiriu um caminhão e foi transportar madeira extraída do Paraná para o Rio Grande do Sul. Também pegou fretes de carga viva de suínos para frigoríficos em cidades do interior dos estados dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. E essa vida de caminhoneiro o levou a diversas regiões do país. Numa dessas andanças, ele veio parar em Mato Grosso. Ficou curioso sobre o garimpo, assunto que estava em voga e que atraía centenas de milhares de pessoas, especialmente para Alta Floresta e Peixoto de Azevedo. O pai e o tio viram ali uma oportunidade de negócio. “Eles compravam Jeeps e caminhonetes F-75, preparavam os veículos no Paraná e traziam para Mato Grosso para vender no garimpo”.
Vendo o progresso embaixo dos olhos, Manoel decide trazer a família para o Mato Grosso. Inicialmente, a ideia era migrar para Cláudia, mas é comedido da ideia por um amigo, que sugere Sinop. Ele, então, adquire um imóvel no Jardim Botânico, no cruzamento da Rua dos Cedros com Avenida das Sibipirunas.
Manoel coloca sobre o caminhão toda a mudança. Antes, ele, Iolanda e o irmão passam em Guarapuava para se despedir de Valdemir. “Naquele momento, eu decidi vir junto, de mala e cuia. Não tinha nem ideia do que era Sinop, mal tinha ouvido falar, mas eu não queria ficar tão distante deles. Foi esse espírito de sempre buscar algo novo, um futuro melhor, que fez eu vir junto”. Apenas a irmã mais velha de Valdemir fica em Chopinzinho, vindo pra Sinop 10 anos depois. A viagem é relativamente tranquila, e os Alcântara chegam a Sinop no dia 7 de julho de 1989. Período de seca, poeira e fumaça das madeireiras. O asfalto da cidade se resumia à Avenida Júlio Campos – este estava sendo refeito devido à grande quantidade de buracos – e à Rua das Nogueiras.
Estabelecido na cidade, Valdemir vai atrás de concluir o ensino médio, que interrompera em Guarapuava. Se matricula no Colégio Nilza de Oliveira Pipino e sai de lá técnico em contabilidade.
Apenas dois meses depois de chegar, Valdemir já estava empregado. E no ramo de seu último ofício. Conversando com um e com outro, Manoel destacou as experiências anteriores do filho, e fica sabendo que Antônio Carlos ‘Tonhão’ Dias Lopes, então vereador na cidade, precisava de alguém para tocar sua empresa, o Despachante Tarumãs. O escritório ficava próximo ao cruzamento da Avenida Sibipirunas com Rua das Pitangueiras, e se resumia a uma sala comprida, uma mesa, uma máquina de escrever e três cadeiras, suficientes para recepcionar apenas um par de clientes por vez. Nada mais. “Havia uma divisória para esconder o restante do espaço, que na verdade ficava vazio, não tinha mais nada”.
O início não foi fácil. Uma das principais ferramentas de trabalho de um despachante naquela época era o telefone. Além de a cidade dispor de poucas linhas, as existentes eram caras. Havia quem alugasse linhas telefônicas, mas esse era um luxo que o escritório ainda não podia ter.
A precariedade de recursos não afugentou Valdemir. Pouco mais de um mês depois, ele recebe uma proposta de Tonhão para comprar o escritório. O negócio é fechado e Valdemir pega 5 cheques emprestados com o pai para se tornar empresário – ainda que chegasse à sua empresa montado em uma bicicleta emprestada por um conhecido. A primeira providência do jovem de 21 anos é mudar o nome para Despachante Real. Para quem gosta de história, Alcântara é o primeiro sobrenome do extenso nome do imperador Dom Pedro II. “Alcântara é ligado à realeza, e eu sempre pensei grande”, explica Valdemir.
Dupla jornada
A demanda de serviço do Despachante Real ainda era insuficiente para manter Valdemir. Por isso, a alternativa foi buscar outra fonte de renda, ao invés de baixar as portas do escritório. Naquela época, a agência local do Bradesco centralizava o processamento de dados da movimentação de todas as agências da região – incluindo Sorriso, Cláudia, Vera, Marcelândia e Lucas do Rio Verde. Um veículo de cada uma delas fazia a coleta dos malotes com a documentação e traziam para Sinop. Valdemir trabalhava durante o dia no despachante e seguia às 18h para o banco. O expediente normalmente ia até meia-noite, mas houve dias de se estender até às 6h da manhã do dia seguinte. “Quando o escritório começou a ganhar maior volume de serviços e aumentar a clientela, senti que era hora de me dedicar única e exclusivamente a ele”, conta Valdemir.
A dupla jornada era, por vezes, exaustiva. Há de se destacar que, 30 anos atrás, era necessário um prontuário com o histórico do veículo no ato de transferência. Para isso, a Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito) de uma cidade precisava encaminhar a papelada para a Ciretran de Sinop. A burocracia e a morosidade corroíam Valdemir, que por vezes preferiu encarar a estrada de ônibus e agilizar pessoalmente o trâmite. “Como eu era sozinho no despachante, chegava mais cedo para limpar o espaço. Se precisasse sair, baixava e porta e colocava uma plaquinha de ‘volto logo’”. A realidade foi essa até que, finalmente, pôde contratar uma funcionária.
E toda caminhada bem-sucedida é acompanhada de gente que apoia. Valdemir carrega uma gratidão especial por Abílio Pajanotti, empresário que tinha um comércio ao lado do seu escritório. Era ele quem emprestava o telefone para que Valdemir pudesse desenvolver parte do serviço. Não cobrava aluguel pelo uso da linha; Valdemir pagava apenas as ligações que fazia. “Para o meu trabalho, era essencial ter telefone, porque eu precisava fazer contato com outros estados e cidades a fim de transferir os veículos, e ele gentilmente cedia o telefone. Eu passava o número dele como referência aos meus clientes, a secretária atendia e vinha me chamar pra eu atender”, reconhece Valdemir.
Em meio a dupla jornada, típica dos tempos modernos e comum para a Sinop daquele período, a vida ainda traria alguns documentos especiais para Valdemir. Havia uma moça linda e chamativa, que trabalhava em um escritório de contabilidade e que passava todos os dias em frente ao escritório de Valdemir. Durante os tradicionais Jogos Olímpicos de Sinop, realizados no Ginásio José Carlos Pasa, o ‘Pasinha’, um amigo em comum apresentou a tal moça. Era Stela Pian Charnoski, nascida em Cascavel (PR), mas que havia residido em Amambai (MS). Lá, o pai dela tinha uma loja de materiais de escritório, mas ouviu o chamado de Sinop e trouxe a família e o negócio para o Norte de Mato Grosso. A conversa emplacou, e Valdemir decide despachar um buquê de flores para a jovem. Eles começam a namorar em setembro de 1992 e se casam em 1996.
Nesse período, Stela precisa retornar a Cascavel acompanhar a mãe, que tratava câncer de mama. O quadro irreversível ceifa a vida da sogra de Valdemir aos 42 anos de idade.
Em 1993, Valdemir compra uma fábrica de placas, franquiada do Rio Grande do Sul, e traz o irmão – então caminhoneiro – para gerir o negócio.
Em setembro de 1997, o Governo Federal institui a Lei nº 9.503, que trazia as diretrizes do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Uma das alterações modifica o sistema de formação de condutores a fim de tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Até então, os despachantes podiam realizar todos os serviços ligados a veículos, inclusive emissão da permissão. Entretanto, a partir dali, as autoescolas – que já existiam na época – assumem a obrigação da condução do processo. Prevendo tal mudança, Valdemir se antecipa, e mesmo antes da promulgação da Lei, abre em parceria com um amigo a Autoescola Real, administrada pelas respectivas esposas.
Valdemir já conseguia ter boas condições de vida. Ele havia comprado carro e casa própria, e a carta de clientes crescia. Tudo graças a um trabalho baseado na honestidade e preço justo.
Mas a família levaria ainda algum tempo para aumentar de tamanho. Foram 5 anos tentando ter um filho. Valdemir e Stela realizaram diversos tratamentos. Foram para Curitiba (PR) fazer a coleta para fins de fertilização, e lá permaneceram por mais de um mês. O processo, porém, não evoluiu. Um pouco decepcionado, o casal decide não se preocupar com isso e vai curtir férias de final de ano. E é nesse período que... Stela engravida! João Pedro de Alcântara vem ao mundo no dia 26 de agosto de 2003. Hoje, o jovem cursa Engenharia de Produção na Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas (SP). “Está trabalhando em um estágio remunerado, numa multinacional que fabrica peças de veículos”, se orgulha o despachante.
Depois que passou para as mãos de Valdemir, a Autoescola e Despachante Real só mudou de CEP uma vez. Da salinha alugada, o empresário investe em outro ponto, uma residência na Avenida das Acácias, a qual converte para empresa em 2014. Antes, havia prospectado um outro prédio, que atraiu outro olhar real. “Eu comprei um terreno na esquina da Acácias com (Rua das) Nogueiras. Comecei a construiu um prédio com a intenção de levar o escritório pra lá. Nisso, o Banco Real prospectava um local para instalar a agência em Sinop. A proposta foi muito boa e acabei alugando”, revela. Em junho de 2008, é autorizada a fusão entre o Banco Real e o Santander, permanecendo a agência no mesmo endereço.
A estrutura física da Real chama atenção. São 750 metros quadrados, uma das maiores de todo o Mato Grosso, que abrigam os serviços de autoescola, despachante e fabricação de placas. Até hoje, a Real contabiliza mais de 300 mil ordens de serviço. Desde a criação do Prêmio Mérito Lojista, da CDL Sinop, a empresa levou a Chama da Fortuna por 20 anos consecutivos, tanto na categoria Autoescola quanto na Despachante.
No lado social, Valdemir Alcântara sempre se apresentou como uma importante liderança, desde os tempos no Paraná, quando integrava o Interact. Já em Sinop, foi presidente do Rotaract e membro do Rotary Clube. Também foi Venerável Mestre da Loja Maçônica, e até o último dia 15 de julho de 2024, presidiu o Conselho Regional dos Despachantes Documentalistas de Mato Grosso, seguindo na diretoria sucessora do CRDD-MT como vice-presidente.
Ao longo da caminhada, Valdemir perdeu duas peças importantes. O irmão mais velho, que administrava a fábrica de placas, perde a vida em um acidente de trânsito, em 2011. Quatro anos depois, o pai vai para o descanso eterno por complicações de saúde. Enquanto isso, a mãe, Dona Iolanda, segue firme aos 82 anos, morando sozinha, mas sem recusar a visita diária do filho caçula. “Faço questão de tomar café com ela, levo-a em consultas médicas. Quando eu não apareço na casa dela, ela me liga contando que fez alguma das minhas comidas favoritas só pra me atrair”, se diverte Valdemir.
Formado em Administração, na primeira turma da UNIC (atual Faculdade Anhanguera), Valdemir é suspeito para falar de Sinop quando o assunto é agradecimento. Para ele, a cidade é o que é graças ao olhar e pensamento visionário dos colonizadores Ênio Pipino e João Pedro Moreira de Carvalho, e também dos pioneiros, que visavam não apenas lucro, mas a criação de uma verdadeira comunidade. “Sempre se voltaram para o desenvolvimento coletivo, para a partilha, para o acolher. Aqui, o pensamento sempre foi de agregar. Isso criou um ambiente e uma cultura difíceis de encontrar tão facilmente em outras cidades”, reflete.
Acolhido há 35 anos, Valdemir Alcântara se emociona ao lembrar das dificuldades do início de sua trajetória, a distância dos familiares e amigos do Paraná, mas que não o abalaram. Foi querendo materializar seus sonhos que ele teve foco suficiente para construir muita coisa real.
O termômetro das eleições
A cada 4 anos, todos os mais de 5,6 mil municípios brasileiros elegem seus prefeitos, vices e vereadores. O aniversário de 50 anos de Sinop culmina justamente no período eleitoral, que vai eleger o Chefe do Executivo, além dos 15 nomes que ocuparão as cadeiras na Câmara Municipal, entre 2025 e 2028. Muito se especula. Mas palpites sem base não são nada. Atuando no Norte de Mato Grosso há 24 anos, existe um instituto com 100% de aproveitamento e que cravou com exatidão, nas 6 últimas eleições, quem será o novo prefeito de Sinop.
No ano 2000, Valdemir e o amigo Waldomiro Teodoro dos Anjos Júnior, o Miro, montam a Real Dados e Pesquisas. A ideia era trazer a realidade das verdadeiras intenções de voto dos sinopenses. Até então, as pesquisas eram desenvolvidas por institutos vindos de outras localidades, principalmente de Cuiabá. No início, a dupla era responsável por tudo. Miro cuidava dos números, do plano amostral e do processamento de dados, enquanto Valdemir coordenava a pesquisa de campo, selecionando, treinando e transportando os pesquisadores até as áreas de pesquisa, além de formular os questionários.
Naquele ano, se aflorava a disputa entre o médico Adenir Alves Barbosa e o jovem ex-vereador e então deputado estadual Nilson Aparecido Leitão. A favor de Adenir estava o fato de que ele já havia sido líder do Executivo (inclusive, o segundo prefeito eleito pelo voto popular) em dois mandatos, sendo que era naquela altura o atual prefeito de Sinop. Valdemir conta que as primeiras pesquisas indicavam equilíbrio, com ligeira vantagem para Adenir. Porém, a realidade dos números em diversas regiões da cidade apontava uma reviravolta. Algo que causava certa apreensão dentro da Real Dados. “A gente se questionava: ‘será que está certo isso?’. Porque era a nossa primeira eleição, não poderíamos errar”.
E a Real Dados não errou. O resultado das urnas é compatível com as pesquisas, e Nilson Leitão é eleito prefeito (depois, se reelegeria em 2004). A empresa de pesquisa cravava seu nome como o principal termômetro eleitoral municipal.
O índice de acertos aponta que não se trata de resultado, mas de pesquisa. A metodologia utilizada pela Real Dados trouxe credibilidade e respeito em todo o Mato Grosso. E não que isso seja uma tarefa fácil. Diversas vezes, Valdemir e Miro receberam propostas indecorosas para manipular os dados, a fim de favorecer determinado candidato e modificar o cenário da corrida eleitoral. “Focamos na nossa metodologia, na fiscalização dos colaboradores, que estão sujeitos a esse jogo de interesse, que é muito bruto. A credibilidade veio justamente conforme os resultados das pesquisas eram confirmados pelas urnas e as pessoas perceberam a seriedade com que o trabalho era realizado”, reforça Valdemir.
Para 2024, a empresa retomou as atividades a partir de março. Diversos veículos de comunicação e outros institutos contratam o serviço da Real Dados. Esse trabalho, que se inicia com a prospecção de nomes, passando pela definição de candidatos após as convenções partidárias, e segue até o dia da eleição, abastece o marketing das campanhas e orienta o planejamento de atuação de um determinado candidato. “Pesquisa é algo que não tem erro, se for bem feita, com cuidado e seriedade. A gente sabe como começa uma eleição, mas não sabe como termina, é um processo à parte. Estamos indo para a nossa 7ª eleição, e até hoje acertamos o resultado em todas. Em algumas, até os decimais dos percentuais”, explica.
Após a eleição, Valdemir e Miro pretendem fazer da Real Dados uma empresa com atividade contínua, e não apenas pontual, desenvolvendo um banco de dados das cidades. Nele, seriam agregadas informações pertinentes especialmente a investidores. “Hoje, há uma carência para coisas simples, como preço dos aluguéis, quantidade de empresas em cada segmento”.
Ao fim da entrevista, a ‘pergunta de milhões’: qual será o resultado do pleito de 2024? “Vamos esperar o dia 6 de outubro”, respondeu o imparcial Valdemir Alcântara. Pelo nível de acertos, basta acompanhar as pesquisas da Real Dados para imaginar quem será eleito.
1989
Asfalto na Avenida Júlio Campos

POSSE NO BENEDITO SANTIAGO
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No dia 1º de janeiro de 1989, tomou posse, nas dependências do Ginásio de Esportes “Benedito Santiago”, Adenir Alves Barbosa, o segundo prefeito de Sinop
FUNDAÇÃO DO HOSPITAL SANTO ANTÔNIO
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Em 3 de agosto de 1989, é criada a Fundação de Saúde Comunitária de Sinop, instituição sem fins lucrativos mantenedora do Hospital Santo Antônio
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A gestão da Fundação é feita por um Conselho Curador composto de 35 pessoas que representam os vários segmentos da sociedade sinopense (igreja, indústria, comércio, profissionais liberais, etc)
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Do Conselho Curador, são eleitos 6 membros para o Conselho Diretor e 6 para o Conselho Fiscal
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A Colonizadora Sinop doou uma quadra inteira para edificação do Hospital, enquanto Dr. Josef Wennemann arrecadou doações junto aos benfeitores na Alemanha e o Padre Karol conseguiu projetos com Dioceses da Alemanha
INAUGURAÇÃO DO PASINHA
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Durante as comemorações do 15º aniversário de fundação de Sinop, foi inaugurado o Ginásio Olímpico José Carlos Pasa, o Pasinha, com a realização da primeira edição dos Jogos Olímpicos de Sinop e da 1ª Festa das Nações
INFRAESTRUTURA NA JÚLIO CAMPOS
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A Prefeitura reurbaniza a Avenida Júlio Campos com obras de drenagem, pavimentação asfáltica e iluminação pública central, com a instalação de super postes
VIVEIRO MUNICIPAL
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Foi implantado o viveiro de mudas municipal, que por muitos anos produziu mudas de árvores de várias espécies que foram plantadas nas ruas e avenidas da cidade e distribuídas à população
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O viveiro também produziu por vários anos, hortaliças que compunham a merenda escolar das Escolas.
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A indústria madeireira continua a ser a principal atividade econômica do Município.
PARQUE FLORESTAL
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Em 1989, foi implantado o Parque Florestal de Sinop, na reserva do Córrego Iva, que foi represado para a formação do lago hoje ali existente. Com o passar dos anos, inúmeras melhorias foram sendo feitas - a mais recente em 2023
ESTÁDIO IMPROVISADO
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Neste ano, a Prefeitura efetuou melhorias no Estádio Municipal e cercou o mesmo com tábuas de madeira. A partir daí, o estádio passou a ser denominado “Madeirão”, e em razão do campo muitas vezes ficar alagado devido às chuvas, também ficou conhecido pelo pejorativo nome de “Lagoão”