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1973
Oswaldo Paula

O PREFEITO NÃO ELEITO DE SINOP
Seguindo a veia da família, o comerciante compra terras no Norte de Mato Grosso com o sonho de ter tantos pés de café quanto o avô um dia teve. Na volta para casa, seu armazém explode e sua família quase morre. Ao invés de reconstruir sobre as cinzas, decide erguer o novo comércio no pó de uma cidade recém-aberta. O café não dá os frutos que ele esperava, mas ainda assim ele não desiste do chão onde foi o escolhido para cuidar
Ele está em todos os registros da memória de Sinop. Na galeria de prefeitos, seu quadro é o primeiro. Entre as 8 figuras que ocupam o mural do Executivo municipal, Oswaldo Paula é o único que não foi eleito. Ele foi nomeado, recebendo a responsabilidade de começar a história democrática dessa próspera cidade. Mas por que ele? Para responder essa questão é preciso conhecer a sua trajetória.
Oswaldo Paula vem de uma família de cafeicultores paulistas, descendentes de portugueses, que têm a migração em seu sangue. O avô de Oswaldo, Antônio de Paula, deixou o estado de São Paulo em busca da terra rocha do Paraná para formar seus cafezais. Se estabeleceu no distrito de Jaborandi, em Rolândia, região metropolitana de Londrina. Nessa região, Antônio somou mais de um milhão de pés de café. Patrimônio construído com a ajuda dos filhos. Olívio Paula foi um dos filhos de Antônio, que se casou com Hermina Herrero. Dessa união nasceu Oswaldo de Paula, no dia 20 de setembro de 1940. Oswaldo foi o primeiro dos 10 filhos do casal.
Sua criação foi no sítio do avô, grande patriarca da família. Nessa época, conta Oswaldo, famílias eram contratadas para explorar as terras. O contrato tinha 6 anos de duração e a obrigação da família contratada era abrir a área e plantar o cafezal. Nos primeiros 4 anos, o que o cafezal produzisse era inteiramente da família que plantou. No 5º e no 6º ano, a produção era dividida, meio a meio, com os De Paula. Depois disso, a colheita ia inteiramente para o dono da terra. Os colonos eram na verdade empregados, cada um com uma caderneta de trabalho.
Aos 13 anos de idade, Oswaldo foi estudar em um colégio em Londrina, em sistema de internato, mas não saiu do Segundo Grau. Nesse tempo, trabalhou com o pai fazendo o beneficiamento dos grãos de café.
Em 1959, na idade do alistamento militar obrigatório, Oswaldo foi servir ao Exército em Curitiba. A vivência no internato anos antes ajudou a lidar com o rigor disciplinar dos fardados. O jovem recruta se torna motorista do quartel, e no seu último mês de serviço passa a pilotar o Chevrolet 1940 que transportava o comandante do regimento de artilharia, o coronel Ubiratan Miranda.
Depois de 11 meses servindo a pátria, Oswaldo voltou para o interior do Paraná. Nessa época se dedicou ao trabalho em uma fazenda em Rondon (PR), administrando a terra e transportando os grãos colhidos para a indústria.
Em junho de 1960, foi realizada uma habitual procissão de Corpus Christi em Rolândia. Na tarde anterior, alguns jovens se reuniram para fazer flores de papel que seriam usadas para enfeitar o carro que puxaria a procissão. Nessa mesa estava Oswaldo e também Darcília, uma menina de 14 anos de idade, nascida em dezembro de 1945 em uma fazenda de café em Rolândia. Quando o artesanato foi concluído, Oswaldo se distanciou e uma amiga disse para Darcília que o jovem havia se interessado por ela. Depois da missa em honra ao Corpo de Cristo, Oswaldo fez corpo presente com Darcília, pedindo gentilmente para falar com a moça. Ele acompanhou-a até a casa da tia, onde estava ficando. E foi assim que começou o namoro. Em 29 de dezembro de 1963, 16 dias após Darcília completar 18 anos de idade, eles se casam.
O fruto do amor não tarda a surgir. Em novembro de 1964 nasce Wellington, o primeiro filho do casal. Já em abril de 1968, chega Jonas. Em 1970, Oswaldo abre seu primeiro comércio, um armarinho de secos e molhados, que vendia produtos para a comunidade local, desde querosene até farinha. Uma grande parte das vendas era “fiado”, anotando na cadernetinha para receber no final da safra.
Foi nessa casa/comércio que nasceu a terceira filha do casal, Alex Sandra, em janeiro de 1972. A caçula ainda mamava no peito quando Oswaldo foi provocado pelos corretores da Colonizadora Sinop. A empresa de Maringá noticiava aos quatro cantos a abertura das primeiras ruas de uma cidade chamada Sinop, colocando os lotes à venda. O sogro de Oswaldo também foi atingido pela notícia e juntos os dois viajam para o Norte de Mato Grosso, com os corretores imobiliários, no dia 3 de junho de 1972. “Fiquei empolgado com o lugar. Tinha uma mata grande, exuberante. Achava que iria ser uma região de muito progresso. Se a terra tinha força para árvores daquele tamanho, só podia ser boa também para o café”, comenta.
O que Oswaldo viu quando chegou em Sinop foi a mata, uma estrada aberta e um galpão. A cidade em si nem estava aberta. Olhando para o mapa, ele vê que a BR-163 passaria por Sinop, então decide comprar uma terra na promessa de cidade. “O Ênio Pipino queria que eu fosse para Vera”, conta Oswaldo, referindo-se ao fundador da Colonizadora Sinop e à primeira cidade aberta no Norte do estado.
Com o dinheiro emprestado por um irmão do sogro, Oswaldo compra o lote 60 da Estrada Viviane, uma propriedade de 121 hectares que só poderia ser identificada naquele momento olhando o lote da Colonizadora. O sogro comprou 240 hectares do lado. Com o preço das terras, Oswaldo já fazia planos de começar sua própria grande lavoura de café em Sinop.
Mas não era o que Darcília queria naquele momento. Sua mãe estava muito doente. “Eu disse para Oswaldo que enquanto tivesse minha mãe, não queria mudar para o Mato Grosso”, relata a pioneira.
Até que um sinistro muda tudo. No dia 19 de junho de 1972, exatos 8 dias após Oswaldo voltar do Mato Grosso, sua casa e seu comércio vão para os ares. Darcília estava atrás do balcão do armarinho, com a bebê Alex Sandra no colo. Na ponta, estava Jonas, na época com 4 anos de idade, riscando uma caixa de fósforos. Uma fagulha cai dentro da lata onde ficavam as bombinhas (rojões), e rapidamente tudo entra em combustão. A pólvora explode e o fogo se espalha, consumindo toda a construção de madeira e o estoque. Jonas fica severamente queimado e atordoado com a explosão. “Ele foi salvo por um milagre. Tiramos ele na hora, instantes depois a casa desabou”, conta Darcília.
A família perdeu tudo. Darcília não salvou sequer um chinelo para calçar. Oswaldo, que estava em Cianorte fazendo negócios, volta e vê sua propriedade em cinzas e seus amados em frangalhos. Sem ter onde morar, eles se abrigam na casa do irmão de Oswaldo, Antônio, e da cunhada Célia.
Para Oswaldo não fazia sentido reconstruir sobre o carvão. Então, ele junta forças para explorar as terras que acabara de conhecer. Em maio de 1973, ele pega uma camionete emprestada, coloca 3 carpinteiros em cima e vem para Sinop. A política de ocupação da Colonizadora Sinop naquela época era assim: você comprava uma área e ganhava um lote na cidade. O lote que Oswaldo ganhou ficava na primeira quadra da Avenida dos Mognos – atualmente Avenida Governador Júlio Campos. Era e ainda é a principal da cidade. O grupo derruba o mato e começa a construir um armazém, repetindo a fórmula do Paraná. Não que houvesse muita gente para comprar no comércio. Conforme narra Oswaldo, tinha umas 4 famílias na cidade, acampadas com caminhões e lonas, montando suas casas. “A primeira casa de Sinop foi do Valentin Vandrezzi. E o primeiro comércio montado não foi o meu, foi do Mauri Verichi, que todos chamavam de Gauchinho”, relembra Oswaldo.
A madeira usada no armazém veio de serrarias instaladas em Vera. As portas e janelas vieram de Santa Catarina. O próprio Ênio Pipino mandou as telhas, do Paraná, para a cobertura. Quando a habitação ficou pronta, Oswaldo voltou ao Paraná para organizar a mudança da família.
No caminhão Mercedes-Benz de Antônio vieram as poucas posses, um burro, uma carroça e mais outra família de carona, que também migrava para Sinop. Enquanto o irmão dirigia o caminhão, Oswaldo guiava um Fusca com Darcília, Jonas, Alex Sandra e um padre, que veio conhecer a região – Wellington, o mais velho do casal, ficou no Paraná para continuar seus estudos, morando com os parentes.
E assim eles rumam para Sinop, fazendo uma parada em Cuiabá. Oswaldo queria montar seu armazém, e para isso precisava de mercadorias. Ele chega cedo em frente à Casa Domingos, um comércio com produtos diversos que existe desde 1950, fundado pelo mercador ambulante Elias Domingos. Em frente à loja estava Toninho Domingos, filho do dono e gerente, varrendo a calçada. Oswaldo conta sua história e fala que estava vindo para Sinop, que não tinha dinheiro para uma carga inteira, pedindo para que o comerciante aceite vender meia carga. Oswaldo então começa a fazer sua lista de compras, imaginando o que seria bom vender em Sinop. Pega carne seca, farinha, arroz, feijão, banha, açúcar e café. Depois, parte para panelas e ferramentas, como machado, foice e pregos. Na hora de pagar, Toninho não aceitou Oswaldo dar um centavo de entrada. “Ele me disse: ‘vai vender, depois você me paga’”, lembra o pioneiro.
No dia 6 de junho de 1973 eles chegam em Sinop. Darcília vive uma emoção mista. Por um lado, deixou a mãe e um filho de 8 anos de idade para trás. Por outro, voltava a ter uma casa sua para manter um lar. Assim que organizam o armazém, ela comanda o balcão. O menino Jonas ficava sentado no chão, longe dos fósforos, e avisava quando um cliente chegava. Enquanto isso, Oswaldo trabalhava de taxista com seu Fusca, transportando pela cidade curiosos visitantes que vinham de ônibus.
Mas o que fez Oswaldo deixar o Paraná para desbravar o Mato Grosso foi a possibilidade de ter um largo cafezal. Ele começa a abrir a chácara que comprou e planta as primeiras mudas. “O café vinha muito bonito, com força, mas na hora de produzir, não botava grão. A planta precisava de chuva em agosto, o que não acontecia”, conta Oswaldo.
Dos 9 mil pés de café que plantou, Oswaldo colheu 14 sacas. No Paraná, com mil pés se colhiam 60 sacas. A produção era entregue em “latas” (medida da época), na Comicel, cooperativa montada por Ênio Pipino. Como diz o pioneiro, era para ser uma cooperativa de produção, mas a Gleba Celeste não produzia nada. Apenas serrava madeira. “Por cada lata de 20 quilos, a cooperativa pagava o de uma saca de café de 80 quilos. O preço era bom porque a produção era pouca. O café não funcionou em Sinop. A maioria das pessoas veio para cá por causa do café e logo foi embora. Eu aguentei porque tinha comércio”, narra Oswaldo.
Outras culturas foram sendo apresentadas como alternativas e o pioneiro embarcou em todas elas. Cultivou arroz, que negociou com a cooperativa. Depois veio o guaraná, com tanta promessa quanto o café. Oswaldo plantou 1.200 pés, mas quando estava pronto para colher a primeira safra, uma fagulha de fogo vinda dos montes de pó de serra, das madeireiras, queimou toda a produção. Então, tentou novamente com a pimenta do reino branca, que produziu muito bem. Oswaldo colheu em Sinop cerca de 4.500 quilos da especiaria que seus antepassados navegavam até a Índia para encontrar. Parecia ter potencial, mas a cultura durou pouco, sendo acometida por uma doença.
Em 1976, Oswaldo vai buscar com sua F-4000 mudas de seringueira multiplicadas pela Empaer para distribuir em Sinop. Várias propriedades iniciam o cultivo, consorciado com o gado. No mesmo ano, a camionete seria usada para transportar votos. O xará do pioneiro, Oswaldo Sobrinho, na época secretário de Educação do Estado de Mato Grosso, estava organizando um plebiscito para decidir sobre a elevação de Sinop para condição de distrito de Chapada dos Guimarães. Sim! Mesmo estando há mais de 530 quilômetros de distância, Sinop era parte do território de Chapada, no que já foi o maior município em extensão territorial do mundo. Para dar esse passo em direção à emancipação, o lugarejo aberto pela Colonizadora precisava computar 100 eleitores legítimos, votando pelo plebiscito em Sinop. Oswaldo Paula pega sua F-4000 e percorre por todas as fazendas e grotas da Gleba Celeste e até fora dela. Busca gente em Vera, Cláudia e Santa Carmem para assinar a cédula em Sinop. No fim, 150 pessoas são transportadas por Oswaldo para votar e Sinop e elevada a distrito de Chapada. Era seu primeiro envolvimento com a política, mas não seria o último.
Em outubro de 1977, o general presidente Ernesto Geisel assinou a lei complementar nº 31, desmembrando o Estado de Mato Grosso e criando o Mato Grosso do Sul. A canetada desencadeou uma urgência do estado mais ao Norte, que precisava criar, para fins fiscais, mais 18 municípios.
O movimento culmina na emancipação política e administrativa de Sinop, em dezembro de 1979. Era enfim uma cidade. Ao longo do ano, Vasco de Medeiros monta o primeiro cartório da cidade. Até então, o mais próximo era em Diamantino. Com um cartório, já seria possível casar em Sinop, faltava apenas um juiz de paz.
Ulrich Grabert, o Uli, braço direito dos colonizadores Ênio Pipino e João Pedro Moreira de Carvalho, responsável por abrir de fato a Gleba Celeste, chamou Oswaldo para o Hotel Tábua do Cacique, onde morava em 1980. A conversa foi um convite para Oswaldo exercer a função de Juiz de Paz. O comerciante foi mandato para Cuiabá, com as custas e indicação da Colonizadora, onde recebeu o treinamento e foi nomeado para o posto.
Como Juiz de Paz, Oswaldo faz o primeiro casamento da história de Sinop e outros 199 que vieram na sequência. Na função, ele também fazia a homologação dos acertos trabalhistas, das empresas com os funcionários. Não era atribuição do cargo, mas Oswaldo também era uma espécie de “mediador de conflitos”. Naquela época, Sinop tinha apenas dois policiais. Não haviam outras autoridades. A situação levou Oswaldo a ser uma espécie de conselheiro local, intermediando desde brigas de vizinhos até casais desalinhados. Oswaldo não era nem um padre, nem um magistrado... ele atuava no meio desse caminho.
Em 1976, quando Sinop virou distrito, o churrasqueiro Plínio Callegaro foi eleito vereador por Chapada dos Guimarães. Ele é considerado o primeiro político de Sinop. Virgílio Campaner também foi eleito nesse pleito, mas morava em Vera. No final de 1980, quando o Estado se preparava para nomear um prefeito para Sinop, os dois nomes despontaram como possíveis administradores, já que eram os políticos da cidade. O mais cotado, no entanto, era Sebastião de Matos, uma liderança local forte do MDB, partido que fazia contraponto a Arena. Oswaldo conta que Sebastião tinha até comprado a roupa para posse, tamanha era sua convicção de que seria o escolhido.
O que prosperou foi a articulação do dono da cidade. Ênio Pipino tinha muita confiança em Oswaldo e usou todo seu traquejo para garantir que o comerciante fosse nomeado o primeiro administrador de Sinop. “Deu uma dor de cotovelo em muita gente”, lembra o pioneiro.
Oswaldo convidou o professor José Roveri para ser seu secretário-geral. Os dois foram para Cuiabá receber a posse assinada pelo governador Frederico Campos em janeiro de 1981. Em seu discurso, Campos diz aos 18 administradores municipais nomeados para que voltem para suas cidades e preparem a primeira eleição municipal.
O governador estabelece uma cota de repasse para formar o orçamento de cada novo município. Maçao Tadano, um deputado estadual muito amigo de Ênio, consegue garantir que a fatia de Sinop seja duas vezes e meia maior do que a de outros municípios. Isso garantia o caixa para Oswaldo começar seus trabalhos.
Ênio cede uma casinha ao lado da unidade dos Correios, na Avenida das Embaúbas, e Oswaldo instala lá a Prefeitura de Sinop. Além de Roveri, o prefeito chama outras 3 pessoas para compor o Executivo municipal: um contador e dois funcionários.
Em 1980, o general presidente João Batista Figueiredo fez sua primeira visita em Sinop. Mulheres com lenços brancos recepcionam o Chefe de Estado, pedindo gentilmente por sinal de televisão e linha telefônica. Darcília estava nesse grupo. Em 1981, quando a antena da Embratel enfim é ligada, o técnico vai até a Prefeitura chamar o prefeito para fazer a primeira ligação. Oswaldo chama Uli e juntos eles ligam para a sede da Colonizadora Sinop, em Maringá. Foi a primeira ligação de telefone feita na cidade. Oswaldo fala com Ênio e a esposa, Nilza de Oliveira Pipino. Na sequência, Oswaldo liga para seu pai e seu avô. “O telefone em Sinop foi uma redenção. Antes disso era preciso ir até Cuiabá para fazer uma ligação”, lembrou o pioneiro.
A primeira grande compra que Oswaldo fez com o orçamento municipal foi para saneamento básico. Ele adquiriu um caminhão e Ênio Pipino doou uma caçamba para fazer a coleta de lixo. O colonizador também vendeu uma patrola para a Prefeitura pelo irrisório valor de 10 Cruzeiros. “Ênio tinha muita influência, tanto no Estado como no Governo Federal. Foi o que salvou, porque da terra não vinha nada”, pontuou Oswaldo.
Na mesma leva, o prefeito comprou uma retroescavadeira e um caminhão para aguar as ruas, a fim de amenizar o sofrimento com a poeira na época da seca. A relíquia amarela ainda pode ser vista em 2024 pelas ruas da cidade molhando os canteiros centrais das avenidas. Quando o caixa da gestão ganhou corpo, Oswaldo comprou 3 caminhões novos e uma fábrica de tubos de concreto, que acabou nunca funcionando.
O gestor também construiu o primeiro prédio da Câmara de Vereadores, garantindo o espaço para o primeiro legislativo municipal atuar, em 1983. Em 1982, Oswaldo fez o que o governador pediu, preparando a cidade para sua primeira eleição. Era de se imaginar que, com o trabalho, seria natural que Oswaldo também fosse o primeiro prefeito eleito. Mas ele tropeçou na burocracia. Acabou perdendo o prazo para se descompatibilizar do cargo e, com isso, não teve legalidade para disputar a eleição. Constatando a falha, o grupo procurou Comercindo Tomelin, provocando-o para ser o candidato a prefeito. Provavelmente Tomelin seria eleito, mas ele recusou veementemente a proposta e, como prometeu para si mesmo, nunca colocou os pés na política, embora se envolvesse sempre com o assunto. A aprovação de Oswaldo foi testada de forma lateral com seu braço direito na gestão municipal. José Roveri, seu “supersecretário”, foi o vereador mais votado da situação na primeira eleição, ficando atrás apenas de Waldemar Brandão.
Oswaldo administrou Sinop entre 1981 e 1982. Em janeiro de 1983, passou o cargo para o primeiro prefeito eleito da cidade, Geraldino Dal Maso, também indicado por Ênio. No caixa, Oswaldo deixou para seu sucessor 36 mil Cruzeiros, o suficiente para comprar 3 caminhões na época.
Por mais de uma década, Oswaldo acompanhou a política à distância. Ele viu o primeiro prefeito eleito enfrentar uma das primeiras crises econômicas da cidade, que fez boa parte dos imóveis de Sinop estamparem placas de vende-se e aluga-se. Depois de 6 anos de Geraldino, veio o médico Adenir Alves Barbosa, tendo como vice-prefeito o empresário fundador dos Supermercados Machado, Irineu Martins. Para Oswaldo, a dupla reergueu a cidade, imprimindo um novo ânimo. Em 1993, quando Antônio Contini, o melhor secretário da gestão Adenir, se torna prefeito de Sinop, Oswaldo vê um hiato de crescimento. Tanto que, em 1996, decide voltar para a política, sendo candidato a vice na chapa encabeçada por Adenir, que vence. Na segunda passagem pelo executivo, Oswaldo atuou como secretário de Administração, sendo considerado um “bombeiro”, sempre pronto para reduzir a temperatura dos problemas que atingiam a gestão.
Adenir poderia ter sido o primeiro prefeito reeleito de Sinop e o único até então a acumular 3 mandatos. Mas sua gestão e de Oswaldo encerra em 2000, após Adenir ser derrotado por Nilson Leitão, um jovem emergente na política, que por acaso é um dos grandes amigos de Jonas, filho de Oswaldo e Darcília.
Combustível do progresso
Depois que entregou a Prefeitura de Sinop para Geraldino, Oswaldo foi cuidar dos seus negócios. Acabou montando em sociedade o posto de combustível Santa Paula, ao lado do viaduto da cidade. A iniciativa acabou desencadeando uma “guerra dos combustíveis”. Haviam outros dois postos nas imediações, um deles do primeiro prefeito eleito. Nessa concorrência, cada posto tentava jogar o combustível para um preço mais baixo, com o objetivo de atrair a clientela, operando no limite do prejuízo. Jonas, que havia saído de Sinop para estudar, voltou e começou a trabalhar no negócio do pai. Logo percebeu que um posto era pouco para dois sócios. Sobrava pouco para cada comerciante. Oswaldo é convencido a deixar a sociedade e compra um posto já em funcionamento, do Paschoal. Jonas lidera o negócio, e anos depois compra o Posto Trevão, passando a operar com TRR (Transporte-Revendedor-Retalhista de diesel). Wellington, o mais velho, também se estabelece no Norte, atuando como engenheiro agrônomo e montando a Selvaplan. Os dois irmãos se associam no negócio de combustíveis. Alex Sandra, a caçula, faz Pedagogia e depois Farmácia, e então abre a Essência Farma. “A gente fazia, sempre acreditando no melhor, e dava resultado. Não tinha muito tempo para pensar se ia dar errado. Era trabalho e mais trabalho”, comenta Oswaldo.
Darcília diz que nunca passou pela sua cabeça deixar Sinop. Mesmo com todas as dificuldades que a região oferecia, era aqui que a família queria se estabelecer. “Dizem que quem vem na frente bebe água limpa. A gente veio fazer o poço!”, descontrai Darcília.
Em 2024, o casal vive uma vida simples, mas confortável, em um dos apartamentos do Edifício Jacarandás, o primeiro prédio da cidade, que começou a ser construído por Geraldino. Darcília é ministra de eucaristia na igreja católica há mais de 30 anos e atende aos enfermos com presença e oração. O casal até hoje participa de cursos de noivos e de batismo, doando-se à comunidade.
Aos 84 anos de idade, Oswaldo leva uma vida normal, sem vícios, dormindo bem e rezando. Ainda é bastante ativo, tem uma farta memória e com frequência se aventura dirigindo por mais de 300 km até Alta Floresta. “Sinop precisava de mais indústrias. A cidade está crescendo, mas cadê os empregos”, opina o pioneiro que ainda não conseguiu perder o cacoete de se preocupar com a coletividade.
1973
Construção do escritório da Colonizadora Sinop

PRIMEIRAS CLAREIRAS
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Com a derrubada da mata, abertura das primeiras quadras, ruas e avenidas, e a chegada das primeiras famílias pioneiras, as primeiras residências e salões comerciais começaram a ser construídos
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As famílias pioneiras de Sinop, procedentes em sua maioria da região Sul do país, vieram motivadas pela perspectiva de novas oportunidades e oferecer um futuro melhor para os filhos
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Enfrentaram muitas dificuldades e desafios, mas a maioria das famílias - com fé em Deus, coragem, determinação e crença no futuro da terra que escolheram para viver - permaneceu e fincou raízes na cidade que hoje é sinônimo de modernidade e pujança, e que orgulha a todos que nela vivem