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2013
José Carlos do Carmo - Nova Sinop

A MATÉRIA-PRIMA QUE CONSTRÓI UMA NOVA SINOP
Na labuta desde os 7 anos de idade, José Carlos aprendeu com os erros e se tornou mais forte. Lavrou a terra, dirigiu trator, cotou peças e viu o mundo mais de perto. Como empreendedor, quebrou a cara algumas vezes e se desdobrou para não passar fome, mas encontrou no Nortão a oportunidade de construir sua morada e uma nova cidade
O que você fazia quando tinha 7 anos de idade? Dependendo de qual geração pertence, alguns dirão que se divertiam no parquinho, andavam de bicicleta, jogavam bola, brincavam nos valetões. Outros já nasceram na era digital, com mundo na palma da mão. Mas, especialmente para aqueles que desbravaram o Mato Grosso da década de 1970, a infância foi sinônimo de trabalho, que se presta ao redor do seio familiar. Claro, eram outros tempos, mas que não minimiza em nada a relevância e o quanto uma atividade com responsabilidade atribuída lhes dignificava.
José Pedro do Carmo se mudou da Bahia para Campo Mourão (PR), onde conheceu Marilene de Aguiar. Juntos tiveram 5 filhos, cuja prole teve início com José Carlos do Carmo, nascido em 18 de janeiro de 1976. José Pedro era trabalhador de fazenda, daqueles que fazia de tudo, desde ajudar no plantio até mexer com gado. No Paraná, ele foi o primeiro funcionário de Vilson Vian (personagem que irá aparecer aqui algumas vezes). Marilene era a típica dona do lar, que cuidava das crianças, fazia comida, lavava a roupa e deixava a casa impecável.
Enquanto isso, José Carlos levava uma vida com pouco tempo para brincadeiras. Sua “diversão” estava na escola e no trabalho no campo. Acordava cedo, percorria 7 quilômetros até a escola, e quando voltava, tratava das galinhas, dos porcos e varria quintal – o que tivesse pra fazer. Quando cresceu um pouco, começou a manobrar maquinário. Tais responsabilidades lhe foram dadas quando tinha seus 7 anos de idade. A dificuldade da infância se reflete na quantidade de vezes por ano em que tomava aquele refrigerante famoso. “Foi uma infância dura, de trabalho e sofrimento. De tomar Coca-Cola uma vez por ano”, recorda José Carlos com carinho. As tarefas de casa passaram a ser divididas com os irmãos que vinham na sequência: Joseni (1977), Marcelo (1978), Jucilene (1979) e Jorge (1984).
Um tanto distante dali estava Juscimeira, em Mato Grosso. Os avós maternos de José Carlos haviam migrado para lá em 1980, onde plantavam milho, feijão e algodão em uma pequena área, e o lugarejo se tornou destino de visitas da família. Com tantas bocas para alimentar, José Pedro precisava ganhar mais, e vislumbrou uma nova oportunidade nessa região. Em 1986, pede as contas em Campo Mourão e traz esposa e os 5 filhos para Juscimeira. Naquele ano, porém, uma seca castigou as plantações, e José Pedro se viu obrigado novamente a trabalhar como empregado.
Vilson Vian tinha uma propriedade em Primavera do Leste, e convida José Pedro para ser o gerente na fazenda de 500 hectares. No ano de 1988, a família se muda para Primavera. Nesta nova função, os rendimentos de José Pedro eram melhores, os churrascos aconteciam com maior frequência e José Carlos podia agora beber Coca-Cola 3 vezes no ano. “Na Páscoa, Natal e Ano Novo”.
A casa ficava a 15 quilômetros do centro. Os filhos pegavam o ônibus escolar toda manhã e iam para a cidade estudar. De volta, por volta das 12h30, todos almoçavam e iam para a lavoura. Como irmão mais velho, José Carlos dirigia trator (CBT, Massey Ferguson e Valmet) e caminhão, com o qual levava os produtos da fazenda para a cidade. “Foi nessa época que eu percebi que precisava estudar para ser alguém. Meus pais mal sabiam assinar o próprio nome, mas eles eram rígidos quanto ao estudo. O ‘baianão véio’ (sic) falava: ‘se você não estudar, vai ser analfabeto igual a tantos que estão aí trabalhando em cima de trator’. Eu gostava mais de trator, chorava pra não ir pra escola. Mas eu ia, porque sabia que tinha que ir”.
Nessa primeira passagem por Primavera, José Carlos se lembra de um momento marcante: “eu participei do primeiro desfile cívico após a fundação da cidade. Estava vestido de gaúcho”, narra, mostrando no celular uma fotografia encaminhada pela irmã pelo WhatsApp dias antes da entrevista.
Vian tinha uma fazenda em Paranatinga, e convida José Pedro para gerencia-la. Ele aceita. Em 1990, a família vai morar na zona urbana pela primeira vez. Durante a semana, José Carlos e os irmãos se dedicam apenas aos estudos, e na sexta à tarde o pai os buscava e levava para a fazenda. A principal distração era pescar. “Meu pai era pescador nato, sem usar vara nem nada, era na mão mesmo”. A passagem por ali duraria apenas dois anos, com a família voltando para Primavera do Leste.
Quando completa 18 anos, José Carlos começa a trabalhar como comprador de peças da fazenda que o pai trabalhava. Pelo telefone, cotava o preço das peças e ia busca-las montado em uma bicicleta cargueira. Pouco depois, com o aumento da demanda – e devidamente habilitado –, fazia os fretes de carro. Ele exerceu essa atividade por 13 anos (até 2007). Acompanhando o ritmo de crescimento das fazendas do grupo de Vian, liderava 7 funcionários responsáveis pela compra de peças para manutenção do maquinário.
Essa função de responsabilidade lhe conferiu oportunidades de enxergar o mundo por outros ângulos. Para se aprimorar, fazia cursos em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Onde tinha fábrica de peças para maquinário agrícola, José Carlos estava. “No início, eu fazia fotos de uma peça quebrada, usando aquelas câmeras de filme, escaneava e mandava para os engenheiros. Mas, com o tempo, eles começaram a me convidar para ir lá direto nas fábricas para ajudar, sugerindo melhorias”. Era o conhecimento adquirido em tantos anos lavrando a terra e comprando peças, com o devido apoio e incentivo de Carlos Vian, irmão de Vilson. “Tem muito equipamento usado até hoje que tem um dedo meu nesse desenvolvimento. Nas fábricas, eu apontava as falhas, e eles melhoravam. Quando tinha algum lançamento, eles me convidavam”.
A qualificação profissional se consolida na formação como auditor da ISO 9001 (sistema de gestão com o intuito de garantir a otimização de processos, maior agilidade no desenvolvimento de produtos e produção mais ágil) e da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), além de se especializar como líder 5S, cujo método de gestão é baseado em 5 palavras japonesas, os 5 sensos: Seiri (de utilização), Seiton (de organização), Seiso (de limpeza), Seiketsu (de padronização) e Shitsuke (de disciplina), que funcionam de forma integrada e complementar.
Na vida pessoal, José Carlos vai conquistando bens duráveis. Compra carro, casa e terrenos. Mas seu bem mais precioso não tinha preço: o primeiro filho, Leandro Brunetto do Carmo, nascido em 2005, fruto de seu primeiro casamento. Entretanto, dois anos depois, o mundo que José Carlos enxergava tão bem começa a perder a cor, e uma sequência negativa de acontecimentos passa a testar sua capacidade de reinvenção.
Em 2007, José Carlos perde o pai, sua principal referência. Decide alçar voo solo, abre em sociedade um posto de combustíveis e venda de óleo diesel em Primavera do Leste. O negócio não decolava, e em 3 anos, quebra de vez. Boa parte das dívidas da empreita ficaram em seu nome. Sem ter como honrá-las, José Carlos recebia a indesejável visita de credores na porta de casa. Nesse meio tempo, a primeira separação.
Após o negócio derreter, vendeu o carro para comprar uma motocicleta (daquelas mais simples, modelo Yamaha Neo) e pagar dívidas. No tempo de vacas gordas, José Carlos comprou não apenas imóveis para si, mas também como investimento. Um deles foi em um conjunto de 3 quitinetes para locação. O valor era de R$ 400,00 cada uma, que lhe rendiam R$ 1.200,00 por mês. Certo dia, chega em casa e o botijão de gás havia acabado. Não daria nem para preparar a pouca comida que tinha. “Eu não tinha um centavo no bolso. Enquanto eu pensava como contornar isso, meu telefone tocou. Era uma das inquilinas que queria fazer o pagamento antecipado do aluguel. Ela ficaria fora uns dias, e preferiu pagar antes. Peguei esse dinheiro, comprei o botijão e mais comida. Foi coisa de Deus acontecer aquilo bem naquela hora”.
Em 2010, nasce a construtora Carmo & Carmo. Sem experiência, José Carlos foi na onda de quem dizia ser uma maneira mais fácil de ganhar dinheiro – “era só contratar alguns funcionários que conseguiria fazer ela crescer”. A empresa prestava serviços, em sua maioria, para órgãos públicos e alguns poucos particulares. Entretanto, não prospera como o imaginado.
Enquanto a construtora não engrena, José Carlos descobre um novo ramo. Em 2011, arrenda uma grameira em Primavera do Leste e passa a bater de porta em porta oferecendo o produto e o serviço. O foco eram as construções em fase final de obras. O lucro não era tão grande, mas o dinheiro pingava diariamente, sem falta. “Eu media (o terreno) na hora, pegava o contato da pessoa e passava o orçamento. Muita gente fechava comigo e eu executava (ou pelo menos começava) o serviço no mesmo dia. Ia até a grameira, cortava e ia até a obra plantar, junto com um ajudante”.
O dinheiro que José Carlos recebia para encher a despensa e pagar as contas vinha quase que exclusivamente da grameira – já que a construtora praticamente não rendia nada. E foi esse dinheiro que também o ajudou a saldar aquelas dívidas herdadas da primeira empreita. “A empresa ficou devendo em toda praça. Pra conseguir pagar, eu fazia uma fichinha, daquelas que se usava antigamente nas mercearias, como promissória. Ia quitando as dívidas aos poucos. Pagamentos eram de R$ 2, 00, R$ 5,00... R$ 10,00 era muito! Se num dia bom de serviço sobrava R$ 100,00, eu fatiava em partes para 10 devedores e ia abatendo assim. Não tinha como pagar todo mundo de uma vez, essa era a única forma”. José Carlos narrou esse período com o semblante cansado, de quem não quer passar por isso nunca mais na vida.
Construindo uma nova Sinop
Em 2013, José Carlos tinha 37 anos, um filho para criar, uma empresa no limbo e outra que lhe dava muito trabalho e pouco retorno. Nesse período, Vilson Vian já tinha terras em Sinop e queria investir em algo relacionado ao desenvolvimento urbano da cidade. José Carlos já havia visitado a cidade 20 anos antes, imaginando que um dia moraria aqui. Um amigo de infância, o advogado Otávio Freire Neto entra em contato e avisa: “O Vilson vai te ligar e pedir para você ir até Sinop, é para alguma coisa dele”. Em novembro, José Carlos vem a Sinop, reconhece a cidade em avançado desenvolvimento e tem uma grande surpresa na volta. “Quando cheguei em Primavera, a expectativa era ser chamado para trabalhar como empregado, mas o Vian me fez outra proposta. Ele disse: ‘você vai trabalhar como meu sócio’. Quase chorei de emoção. Eu estava passando de empregado – e depois de um patrão frustrado – para sócio de um grande empresário, que já tinha uma estrutura sólida. Mas eu disse a ele que queria plantar grama aqui também, porque era algo que eu tinha desenvolvido bem em Primavera e vi que Sinop estava crescendo. Ele topou”.
O benefício de ser sócio era o de compartilhar os lucros, mas até que estes fossem alcançados, José Carlos ia precisar ralar muito. Vilson não lhe deu nada de mão beijada. No final de 2013, eles estavam plantando grama em uma pequena área de 4 hectares em uma fazenda na região do bairro Alto da Glória; enquanto isso, corriam atrás da regularização da área de outra fazenda de Vilson, na região do aeroporto, onde seria aberta a cascalheira. No ano seguinte, o plantio de grama esmeralda já dava os primeiros frutos. Entre 2014 e 2015, as licenças da cascalheira são liberadas. Nasce a Mineração Aeroporto, que tinha ainda um terceiro sócio. “Começamos com um caminhãozinho apenas”, lembra José Carlos.
A década foi marcada por um ‘boom’ da construção civil em Sinop. Novas moradias para uma população em crescimento. Mas além de morar, construir virou sinônimo de bom investimento. A economia aquecida clamava por materiais de construção a pronta entrega. A frota veicular da Mineração ia ampliando com a compra de retroescavadeiras e pás carregadeiras. Em 2017, a empresa inaugura seu porto de areia. No ano seguinte, inicia a comercialização de todo tipo de pedra e amplia a área de plantio de grama. O negócio parecia não encontrar pedras pelo caminho até o começo de 2020, quando José Carlos e Vian já não falavam mais a mesma língua do outro sócio. A sociedade cai por terra, a Mineração Aeroporto fecha, mas a dupla mantém a parceria. Nasce, então, em 18 de janeiro, a Nova Sinop.
Algum desinformado pode até questionar: “por que nova Sinop? Existia uma velha Sinop?”. Bem, não que fossem classificadas desta maneira, mas o produto que a empresa comercializava ajudava a construir novas edificações – fossem residenciais, comerciais ou industriais. “Fizemos uma pesquisa, veio todo tipo de sugestão: Depósito do Zé, Sinopedra e Areia, nenhum deles deu liga. Mas como estávamos ajudando a construir uma nova Sinop, o nome pegou”.
A grama e o porto de areia ficavam em propriedades do ex-sócio. A sociedade de José Carlos e Vian precisaria recomeçar – praticamente do zero. Enquanto as licenças do novo porto de areia não eram liberadas, a Nova Sinop comprava e revendia o produto. Esse mecanismo durou por 2 anos, até que o porto, localizado próximo ao Rio Teles Pires, fosse autorizado a funcionar. “Sempre trabalhei muito duro. E mesmo quando tinha dois sócios, eu sempre acordei cedo e dormi tarde. Às 5h30 já estava de pé e ia dormir 23h. Isso é até hoje”, conta José Carlos.
No final de 2022, José Carlos e Vian abrem a Grameira Nova Sinop, outra empresa do grupo, com outro CNPJ e operação diferenciada. “Temos a Nova Sinop, que vende areia, cascalho e terra, enquanto a Grameira comercializa a grama esmeralda. Temos hoje uma área de 50 hectares de grama”. Uma terceira empresa foi aberta, a JLD Materiais de Construção, que compra e revende pedra, no atacado e no varejo. As três empresas agregam hoje mais de 30 colaboradores, com uma considerável frota veicular e plantão de atendimento.
Voltando um pouco no tempo, entre 2013 e 2014, nascem mais dois filhos de José Carlos: Geovana Pereira do Carmo, e Davi Luiz Sampaio do Carmo, este fruto da união com a atual esposa, Lindiane Oliveira Sampaio. “Meus filhos são tudo para mim. O Leandro é um garoto pronto, focado no que faz; a Geovana é uma menina focada nos estudos e atenciosa; o Davi Luiz também é um garoto esperto, comunicativo, educado e um verdadeiro braço direito. Com tão pouca idade, ele já conhece todo o funcionamento da empresa”. O quarto filho foi batizado de José Pedro do Carmo Neto, uma homenagem de José Carlos a seu pai. Porém, o nascimento de José Neto é uma história de luta e companheirismo.
Pequeno milagre
Lindiane engravidou pouco antes de a pandemia de Covid-19 se disseminar pelo mundo. Apesar dos riscos (especialmente por se tratar de uma doença nova, que não se sabia o que poderia deixar de sequelas), a gravidez transcorria normalmente e a previsão era de que José Neto viesse ao mundo entre novembro e dezembro. Mas um mal pressentimento tomava conta de José Carlos. “Tinha algo na minha cabeça dizendo que ele ia nascer em setembro, e isso não seria possível, porque ele teria 7 meses de gestação”. Certo dia, Lindiane começa a passar mal e o casal vai para o hospital. A médica ginecologista, com o olhar preocupado, constata na ultrassonografia que o feto pouco se mexia no útero. “O seu filho está quase sem líquido, e ele parou de crescer há um mês. Precisamos fazer a cesariana urgente e interna-lo em uma UTI neonatal por, no mínimo, 30 dias. E no máximo 24 horas para tirar o feto da barriga”. A palavra ‘feto’ causou um frio na espinha de José Carlos.
Começa a corrida pela vida de José Neto. Nenhuma unidade hospitalar do Norte de Mato Grosso possuía uma UTI neonatal para acomodar o bebê. E em virtude de o sistema de saúde estar direcionado às emergências desencadeadas pela Covid-19, não havia condições de se estruturar uma UTI desse porte na cidade. Os contatos para buscar uma solução eram vários, desde vereadores a ex-prefeitos. “Tenho uma estima enorme a todos que me atenderam e me ajudaram nesse momento”, agradece José Carlos.
Através de uma ligação do amigo Pedro Contini ao administrador do Hospital Santo Antônio, Wellington Randall, este se comoveu com a situação e providenciou com rapidez uma UTI neonatal. Naquele 10 de setembro de 2020, dia em que recebeu a preocupante notícia, José Carlos ligou para a médica e agendou o parto para às 20h. Na hora da cesariana, o médico fez o alerta: “se o menino chorar no nascimento, é um ótimo sinal; se não chorar, aí é preocupante”. Para alívio de todos os presentes, José Neto nasceu chorando! Da sala de cirurgias foi direto para a incubadora. José Carlos não assistiu ao parto; preferiu rezar sentado no corredor do hospital. Quarenta minutos depois, o médico lhe chama: “venha conhecer seu filho”.
“O José Neto nasceu com o tamanho de um palmo, com 7 meses de gestação, mas com 6 meses de desenvolvimento. Não tinha orelhinha pronta, o narizinho estava em formação, os dedinhos minúsculos. Eu coloquei a mão, ele apertou meu dedo com aquela mãozinha pequena. Ele engordava apenas de 15 a 20 gramas por dia”, se emociona José Carlos, com a mesma emoção hoje de quase quatro anos atrás. No total, foram 41 dias de internação. “Hoje, esse garoto é terrível, sabe de tudo, pergunta tudo. Foi Deus que deu a vida a ele”. José Neto entrou na sala durante a entrevista, e a Fator MT constatou a veracidade da afirmação de José Carlos.
O ano de 2020 foi assaz difícil também para José Carlos. Acometido pelo novo coronavírus, ele precisou ficar internado no CTI (Centro de Terapia Intensiva). Os seis meses seguintes foram tensos. A memória de curto prazo foi afetada. “Foi um período que me obrigou a desacelerar. Antes, acontecia de eu deixar a família e focar demais no trabalho. Sempre foi minha prioridade, nunca tirei férias, raramente alguns dias. Mas depois da Covid eu percebi que precisava dedicar mais tempo a eles, aos filhos e à esposa”, reflete. Esse tempo foi essencial, inclusive, para curtir os últimos momentos com a mãe Marilene, falecida em 2022.
No lado social, o trabalho de José Carlos é reconhecido através dos títulos de Cidadão Sinopense (2021), de Cidadão Mato-grossense (2022), além der um dos fundadores, colaborador e membro da diretoria da AVIP (Associação dos Voluntários do Instituto de Prevenção do Câncer do Norte de Mato Grosso). É coordenador de núcleo do Sicredi Celeiro MT/RR. Na prateleira do escritório, o empresário ainda acumula outras tantas honrarias concedidas por órgãos como Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, etc.
Sua qualificação não ficou no passado. Continuamente, José Carlos participa de cursos voltadas ao desenvolvimento profissional de outras tantas pessoas. Na mineradora, onde além de sócio proprietário é administrador, implantou o CQTNS (Controle de Qualidade Total Nova Sinop) – uma metodologia própria que agrega o 5S com o ISO 9001. “O trabalho e a inovação, a gente bate em cima regularmente”.
Hoje, José Carlos tem muito a agradecer ao Mato Grosso e a Sinop. Foi a sua força de trabalho que o trouxe até aqui, mas a cidade e a confiança de tantos que o fizeram crescer. A estima se amplia aos colaboradores, a quem José Carlos dá enorme valor. “Sinop é uma cidade fora da curva. O empresário que não se der bem em Sinop, não vai se dar bem em nenhum lugar. Essa região é abençoada. E eu faço questão de agradecer à família Vian, ao Vilson e ao Carlos, que foram meus alicerces na minha trajetória”.
O homem que trabalha desde os 7 anos de idade, agora, ajuda toda uma região a despontar no mapa do desenvolvimento. Por onde se anda, sempre haverá um caminhão da Nova Sinop levando pedra, pedrisco, areia, cascalho, terra e o verde das placas de grama esmeralda para as obras que edificam uma nova Sinop.
2013
Juarez Costa reeleito prefeito

POPULAÇÃO DE SINOP
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A prévia da contagem da população apontou aproximadamente 123 mil em 2013
PIB DE SINOP EM 2013
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Sinop registrou R$ 3,5 bilhões
POSSE DO REELEITO JUAREZ
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No dia 1º de janeiro de 2013, toma posse Juarez Costa, prefeito reeleito para o segundo mandato (2013 a 2016)
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As solenidades de diplomação e posse de Juarez e de sua vice, Rosana Martinelli, ocorreram nas dependências do Centro de Eventos Dante de Oliveira
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Neste ano, foi inaugurado o asfalto da estrada rural Brígida e de dois Conjuntos Habitacionais
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É realizada a 34ª Noite Cultural com o VI Festival Musi-canto, Feira do Artesanato e Exposição Literária
PIB PER CAPITA (2010-2021)
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2013: R$ 29.095,15
2013
Marco Kunzler

ACREDITANDO NA ALTA DA CIDADE
Depois de rejeitar Sinop em 2002, um experiente empresário do setor imobiliário do Paraná redescobre a cidade após uma década e se encanta com o seu progresso. Nesse novo campo, ele faz o Cidade Alta, abre 6 mil terrenos e contribui com a implantação do maior empreendimento comercial do Norte de Mato Grosso
Que tal trocar meio boi por 10 mil metros quadrados de terra, de frente para a Avenida Bruno Martini, uma das regiões mais valorizadas da cidade de Sinop? O escambo, surreal para os dias de hoje, foi visto como um mal negócio por Marco Kunzler, quando pisou na cidade pela primeira vez, no ano de 2002. Embora o preço do hectare fosse pelo menos 20 vezes menor do que o praticado na sua cidade, o experiente empresário do setor imobiliário no Paraná achou que não valeria a pena. A reviravolta dessa história acontece 10 anos depois, quando ele retorna a Sinop para investir no setor imobiliário. Abre o Buritis e outros dois loteamentos, se torna sócio do Shopping Sinop e, mais recentemente, começa a construir 3 mil habitações populares. Como tudo na vida, essa história precisa de contexto e é um ótimo exemplo sobre momento.
Marco Kunzler nasceu em 29 de janeiro de 1961, no Distrito de Conventos, uma comunidade antiga pertencente ao município de Lajeado, no Rio Grande do Sul, que se tornou o reduto de uma colônia de imigrantes alemães. Foi o único filho de Osmar Kunzler e Adélia Erpem.
Seu avô paterno foi um dos fundadores da Cervejaria e Maltaria da Serra Ltda, que ficou conhecida pelo seu primeiro rótulo, presente até hoje no mercado dentro do guarda-chuva da gigante multinacional Ambev: a Serramalte. Osmar seguiu os passos do pai e se tornou comerciante. Mas, ao invés do malte, sua matéria-prima foi a farinha, que era transformada na padaria aberta pelo empresário.
Marco tinha 4 anos de idade quando sua família se muda para Medianeira, no Paraná. Um tio, irmão da sua mãe, morava naquela cidade paranaense. Em busca de um lugar melhor para seu comércio e talvez ter a chance de comprar terras, Osmar migra em 1965. “Da minha infância, recordo dos valores que cultivávamos: a obediência e o respeito pelos mais velhos, a compreensão de que em tudo existe uma hierarquia, que deve ser seguida para manter a ordem, e da seriedade que uma pessoa deve ter com relação ao certo e ao errado”, comenta Marco.
No ano de 1968, o casal se separa e Marco vai morar com a mãe, em Campo Mourão (PR). Adélia montou um bar e restaurante, que garantiu o provento dos dois. Marco estudava, tendo a disciplina a seu favor. Entre os clientes habituais do restaurante estava o gerente do Bradesco, que sempre almoçava no local. Um dia, além da comida, Adélia também entregou para aquele homem um pedido. Seu pleito foi por um emprego para o filho.
Foi assim que, em 1975, Marco conseguiu uma entrevista de emprego e, por consequência, sua primeira assinatura na Carteira de Trabalho. Na agência do Bradesco de Campo Mourão, ele começa como estafeta – o equivalente a um office-boy.
Marco continuou estudando. Terminou o segundo grau e iniciou a faculdade de Administração. Foi subindo posições da hierarquia do Bradesco, enquanto tentava passar em um concurso da Caixa Econômica Federal. Passar em um concurso público, ainda mais de um banco federal, na época, era o desejo de muitos pais para seus filhos. Em uma região com poucos postos de trabalho, a estabilidade de um funcionário concursado e a remuneração acima da média significavam uma vida estável e vitoriosa. Marco alcançou isso.
Assim que se formou, foi chamado pelo concurso que passou. Ele deixa o Bradesco em 31 de maio de 1984, e, 6 dias depois, começa a trabalhar na CEF. Tinha 23 anos de idade, dos quais 9 foram trabalhando no Bradesco. O planejamento da Caixa Econômica era estabelecer uma imobiliária vinculada ao Banco. Com isso, Marco foi provocado a fazer o curso de corretor e obter o registro no Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis). No fim, a Caixa acabou mudando sua estratégia e nunca abriu a imobiliária, mas em 1985, Marco já era um corretor de imóveis com registro. “Durante um bom tempo, trabalhei à noite fazendo o processamento das operações do Banco. Toda a movimentação feita durante o horário comercial precisava ser contabilizada e transmitida, e esse serviço era feito no expediente noturno”, explica Marco.
A Caixa não utilizou o Creci obtido por Marco, mas o registro não foi em vão. Ele acabou sendo convidado para fazer parte de uma sociedade e abrir uma imobiliária – atividade que exigia o Creci. Em 1987, nasce a Tapowik Administração de Imóveis, uma imobiliária focada em locação – e que ainda está em atividade em Campo Mourão. Marco vai tocando a imobiliária junto com seus sócios, em paralelo com o emprego na Caixa Econômica.
No banco, ele conhece Célia Galhardi, com quem namora por 4 anos e se casa, em 1989. Nos negócios, Marco começa a mirar objetivos maiores do que simplesmente intermediar a locação de casas e salas comerciais. Ele queria ter algo maior para alugar. Em 1990, formata o projeto do “Campo Free Shopping”, um grande empreendimento comercial que seria o primeiro Shopping Center de Campo Mourão. Mas foi podado. Lideranças vinculadas à Associação Comercial e Empresarial local boicotaram o projeto. Mobilizando lojistas e conseguindo adesão política, a entidade conseguiu inviabilizar a iniciativa. “Até hoje, Campo Mourão, com mais de 100 mil habitantes, ainda não tem um Shopping”, pontua Marco.
Mas a ideia de expandir não foi abandonada. Percebendo uma demanda por novos imóveis, Marco começa a urbanizar pequenos vazios urbanos de Campo Mourão. Ele montava cooperativas com compradores interessados, intermediava a negociação com o dono da área e contratava as obras de urbanismo. Assim, um pedaço daquele grande imóvel, que no passado foi rural e agora já estava dentro da cidade, era convertido em quadras. Funcionou. Marco percebeu que havia encontrado um nicho de mercado, e para desenvolvê-lo fundou a Marcowik Incorporadora.
Em 1991, nasce Giovana, a primeira filha de Marco com Célia. Em 1993, sua empresa começa a abrir as primeiras quadras do que viria a ser o Jardim Albuquerque. Antes de ser um bairro de Campo Mourão, o Jardim Albuquerque era a maior escritura da área urbana do município, com 84 hectares. Nesse espaço, a Incorporadora criou mais de mil lotes. “O primeiro lote, de 346 metros quadrados foi vendido por R$ 1.400,00. Hoje, um terreno no bairro está avaliado em R$ 200 mil. O interessante é que foi o primeiro loteamento de Campo Mourão aberto com toda a infraestrutura, asfalto, drenagem, rede de água e energia. Depois desse empreendimento, se tornou obrigatório na cidade abrir loteamentos já com a infraestrutura”, revela Marco.
Quando a Marcowik iniciava o Jardim Albuquerque, um dos sócios de Marco é vítima fatal em um acidente de carro no ano de 1995. Marco, então, deixa a Imobiliária Tapowik, em 1998 – na época com mais de mil imóveis locados – para a viúva e fica com a parte da incorporação. Entrega também o “wik”, que fazia menção ao sobrenome de seu sócio, mudando a Tapowik para Marcovic, tentando conservar a sonoridade e ressignificar o nome: Marco Venda, Incorporação e Construção. A objetividade é um traço dos descendentes germânicos; a criatividade, nem sempre.
Marco tinha toda a empreita de 84 hectares do Jardim Albuquerque pela frente e já não contava com o amparo de seu probo sócio. Ainda era preciso conciliar a incorporadora com a jornada na Caixa Econômica. “Nesse momento, eu estava lotado na agência de Maringá, que era maior. O objetivo era entender se eu queria ser economiário [que trabalha para Caixa] ou empresário. Eu vi funcionários da imobiliária com um ganho mensal maior que eu no banco. Acabei entendendo qual era meu caminho. No primeiro Programa de Demissão Voluntária da Caixa, em novembro de 1995, eu aderi e me desliguei da carreira no banco para me dedicar aos imóveis”, conta Marco.
Nesse período, o Jardim Albuquerque avançou, conferindo experiência e também capital para a Incorporadora. Mais estruturado, Marco retoma o projeto do shopping, mas dessa vez com uma roupagem diferente. Em 1995, ele participa de uma concorrência para a conclusão do “Shopping Cidade”, um street mall com 3 pavimentos e 42 salas comerciais, no centro de Campo Mourão. O empreendimento tem sucesso e mantém a expansão da empresa nos anos seguintes. Por ironia, atualmente a sede da Associação Comercial e Empresarial de Campo Mourão fica no Shopping Cidade, que foi renomeado para Centro Empresarial Cidade – da qual Marco foi presidente no biênio 2000-2002.
Em 1996, nasce Guilherme, o segundo filho de Marco e Célia. O empresário avançava com seus empreendimentos em Campo Mourão e se tornava um membro ativo da comunidade de corretores. Anos antes, em 1993, ele já havia sido convidado a participar do CRECI Paraná. Durante uma reunião do conselho realizada em Curitiba, no ano de 2002, Marco conhece um corretor de Umuarama (PR), que se desgasta fazendo propaganda não da sua cidade, mas sim de um município em nova região em franca expansão: Sinop. “Joel Venâncio (também morador de Sinop até os dias de hoje), esse corretor, falava muito de Sinop, dizendo que eu deveria conhecer a cidade. Naquele ano, embarquei em um avião da Trip, daqueles turboélice, que era o que pousava em Sinop, e parti para ficar uma semana na cidade”, lembra Marco.
A lei que surgiu em Campo Mourão em 1994, com o Jardim Albuquerque, só chegou em Sinop no ano de 2001. A cidade passou suas primeiras três décadas sem ter a obrigatoriedade de abrir loteamentos com asfalto e rede de drenagem. Por isso, o que Marco viu quando chegou a Sinop foi uma urbanização que entrava no século 21 ainda com cara de sítio: estradas de terra, postes de madeira, casas de madeira, valetões e um asfalto restrito ao miolo central, que terminava antes de chegar à Catedral – que começava a ser construída.
Joel, o corretor de Umuarama, queria fazer uma parceria com Marco para construir 150 casas populares na região onde viria a ser o prolongamento da Avenida das Figueiras, para além da Avenida Vitória Régia, fora do plano original da cidade, perto de onde está hoje um batalhão do Corpo de Bombeiros. Quando Marco declinou da proposta, achando o projeto inviável, Joel tenta oferecer “alguns hectares” ao longo da Rodovia dos Pioneiros, atualmente Avenida Bruno Martini. “Não tinha nem rua direito. Tinha só mato. Na época o valor que ele negociava era o equivalente a 15 arrobas de gado por hectare [R$ 3.200,00 em valores de 2024]. Era ‘dado’, cerca de 20 vezes mais barato do que o preço de um hectare em Campo Mourão. Ainda assim, decidi não fazer negócio. Vi que a crise era eminente”, comenta Marco.
Hoje, é evidente que Marco deveria ter comprado o máximo de hectares que pudesse ao longo da Avenida Bruno Martini. A região se tornou uma das mais valorizadas da cidade a ponto de um único lote residencial custar o suficiente para se comprar 70 hectares em 2002. Mas o empresário lidou com a obviedade diante dos seus olhos. Na semana que passou em Sinop, viu 41 loteamentos sendo vendidos ao mesmo tempo. O mercado estava saturado e os novos empreendimentos concorriam com os antigos, abertos sem asfalto e, portanto, com um preço menor. A crise de 2004 e 2005, provocada pela sequência de operações ambientais que solaparam a economia local, levaram o empresário a acreditar que, além da sua leitura do mercado, também teve sorte.
Então, Marco volta para Campo Mourão, desenvolvendo seus negócios em um terreno conhecido. E prospera bastante. Até o ano de 2006, cerca de 20% da área urbana de Campo Mourão foi aberta através de empreendimentos gerenciados por ele. Diferente do frenesi registrado nas mais emergentes cidades de Mato Grosso, o Paraná tem um mercado imobiliário estável, sólido e previsível. Essas característica operam independente da predileção de que empreende. E depois de um tempo, Marco percebeu que se quisesse dar velocidade e tração aos seus negócios, precisaria sair do campo conhecido e abrir outro.
Semeando Buritis
No ano de 2008, o Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal, começava a enfrentar o déficit habitacional em todo país. Uma casa para pagar em 25 anos, por vezes com um bom desconto gerado pelo subsídio governamental, era uma ótima chance de assalariados saírem do aluguel – e também uma oportunidade para quem abria loteamentos e construía casas. Marco conseguiu modelar seus negócios ao programa. Construiu e vendeu várias casas em Campo Mourão. Chegou a montar uma fábrica de blocos de cimento para suprir sua demanda. Mas ainda estava operando em um campo conservador.
O advogado de Marco também atendia uma empresa de Nova Mutum. Ele comentou sobre a necessidade de novas moradias na cidade de Mato Grosso, e dessa vez Marco se convenceu a colocar o pé fora de casa. Em 2006, ele vem para Nova Mutum, monta uma fábrica de blocos, firma parceria para abrir um loteamento e começa um projeto para construir 400 casas. Nascia então o Residencial Buritis. “O nome vem da palmeira, que conheci nas viagens para o Mato Grosso. É uma planta bonita, com muito simbolismo, que acabou virando a marca de outros empreendimentos nossos”, comenta Marco.
Nessa época, Marco funda uma nova empresa em parceria com o Sr. Reginaldo Czezacki e os irmãos Wilson e Nilson Martins Marques: a Campo Incorporadora Ltda, que passa a capitanear os empreendimentos em Mato Grosso. Além das 400 casas do Jardim Buritis, a empresa constrói outras 100 habitações através de um contrato com a Prefeitura de Nova Mutum.
O projeto é exitoso e dá energia para a expansão exponencial que Marco pretendia quando veio para Mato Grosso. Em 2010, ele inicia um loteamento em Primavera do Leste, repetindo o nome do empreendimento em Nova Mutum. Nessa empreita atrai um novo sócio, Reginaldo Czezacki. O Residencial Buritis de Primavera do Leste é gigantesco a ponto de reconfigurar o setor imobiliário local. Em uma área de 500 hectares, a Campo projeta a abertura escalonada de 11 mil lotes – que na época tinha pouco mais de 52 mil habitantes. O loteamento continua sendo implantado em etapas, com a previsão de ser concluído em 2025. Quando estiver pronto, a Campo será responsável por abrir 30% dos terrenos urbanos de Primavera do Leste.
Em 2012, a expansão continua em Campo Verde (MT). Em uma área de 50 hectares, Marco abre o terceiro Residencial Buritis, com 768 lotes. Procurando novos mercados no proeminente Mato Grosso, ele percorre as cidades de Tangará da Serra, Campo Novo e Sorriso. E decide também fazer uma nova visita em Sinop, uma década após a primeira. “Em 2013, Sinop já era outra realidade. A cidade se urbanizou, o comércio era forte e a agricultura estava bem desenvolvida”, lembra Marco.
Corretores de Sinop ofereceram uma área de 50 hectares, na MT-140, que poderia ser utilizada para abrir um loteamento. Era uma chácara, cujo solo era utilizado para plantio e pertencia a um casal de idosos que já não tinham muita disposição para trabalhar. A princípio, o negócio seria em parceria com os donos da área, mas eles acabaram desistindo e optando pela venda. Marco pagou R$ 3 milhões pelo imóvel, em 2013, e no ano seguinte começou as obras. “Na região da MT-140 só tinha um loteamento e um pequeno condomínio fechado. A rodovia era o único acesso. Mas eu já entendia que a frente do loteamento seria para o centro, o que acabou acontecendo com a expansão da cidade”, avalia Marco.
A filosofia de trabalho da Campo Incorporadora é fazer a obra primeiro e só vender depois de pronto. Em 2015, iniciaram as vendas da primeira etapa do Residencial Buritis em Sinop, com lotes a partir de R$ 57 mil – dinheiro suficiente para comprar 17 hectares quando Marco fez sua primeira visita a Sinop, em 2002. No início, o empreendimento não performou bem. O financiamento em 120 meses deixou parcelas altas, o que atrasou as vendas. Na segunda etapa, quando abriu a Avenida Nelson Moggi, colocando o Buritis de frente para a área central, a procura aumentou. No total, 768 lotes foram postos à venda. Em março de 2024, cada terreno está avaliado em R$ 130 mil.
Em 2017, vem o segundo empreendimento da Campo em Sinop. Na entrada da cidade, às margens da BR-163, em uma área de 96 hectares, a empresa implantou o Cidade Alta. O loteamento misto, com espaços industriais, comerciais e residenciais, mirou o déficit do mercado local por produtos mais baratos. Com 1.701 terrenos, o Cidade Alta tinha lotes a partir de R$ 40 mil – que em 2024 estão avaliados no dobro do valor. No centro do loteamento está uma grande área reservada para empreendimentos comerciais, algo que lembra, vagamente, o Shopping Cidade que Marco implantou em Campo Mourão.
Mas shopping mesmo ele só foi ter em Sinop. No ano de 2018, Marco foi convidado a ser sócio investidor do Shopping Sinop – empreendimento que começou a ser idealizado em 2010, começou a ser construído em 2016 e foi inaugurado em 2021. O convite veio da proximidade de Marco e demais sócios da Campo com o Grupo Sinop, sócia-fundadora do empreendimento. Além da memória de um empresário que um dia desejou montar um shopping em Campo Mourão, entrar no negócio era uma forma de Marco estabelecer vínculos longevos com Sinop e defenestrar a ideia de que se tratava apenas de um forasteiro loteando áreas. A Campo Incorporadora possui 23% do Shopping Sinop.
“Acredito que passamos a ser reconhecidos de forma diferente depois que investimentos na concretização do Shopping. Para mim me emocionou muito estar lá, cortando a fita, na inauguração. Quando eu vejo uma área de terra, eu já consigo enxergar o loteamento pronto. Quando vi o shopping, também senti isso. O Shopping Sinop é importante para a cidade, uma obra grandiosa, mas ainda não está no auge. Eu vejo que ele ainda vai evoluir muito”, comentou Marco.
No mesmo ano que o Shopping Sinop foi inaugurado, a Campo lançou na cidade o Jardim Oriente, com 491 lotes. Em 2024, a empresa trabalha com o projeto do Residencial Morada do Bosque, na continuidade da MT-140. Em parceria com a Construtora Pacaembu, uma das maiores do país, a Campo vai construir 3 mil casas populares, de 50 metros quadrados, em terrenos com 160 metros quadrados. O projeto é voltado para se enquadrar ao Minha Casa Minha Vida, oferecendo moradias acessíveis para a população local. “A Campo conserva os valores de honestidade, transparência e legalidade. A gente leva a sério o que faz. Sinop é uma cidade que cresce e que precisa prosperar. Eu vou fazer parte desse processo, continuando a construir essa cidade. E é por isso que brigo para que a expansão urbana não seja feita de qualquer jeito. A época de apagar fogo, da expansão desenfreada, já passou. Agora, tem que estruturar e deixar a cidade melhor. Não dá mais para pensar como os desbravadores. Eles foram importantes na fundação, fizeram o que foi necessário e abriram a cidade como dava. Mas o mundo mudou, tudo evoluiu e quem continua expandindo a cidade precisa evoluir também. Sinop precisa de gente para desenvolver e é importante pensar em todos. Tem que ter casa para todas as pessoas morarem”, avalia Marco.
De descrente a embaixador informal de Sinop em menos de duas décadas. Hoje, além dos seus empreendimentos e da sociedade no Shopping, Marco também comprou um imóvel no Resort Residencial Carpe Diem, para onde convida empresários de São Paulo e do Paraná a fim de mostrar o potencial de Sinop.
Não há nada mais sinopense do que tentar vender a pujança da cidade para quem ainda não conhece a cidade.
2013
Alex Barreto

A VIDA NÃO É SÓ ARMAÇÃO
Com 15 anos, viu o pai morrer na sua frente; com 20, foi enganado pelo chefe, e com 24 anos teve sua primeira loja completamente roubada 3 dias após abrir as portas. Para melhorar a visão vem para Sinop, onde em 11 anos abre 11 negócios de sucesso
Essa é a breve sinopse da vida de Alex Barreto, um empresário de 36 anos de idade. Você pode não o conhecer, mas certamente já viu a loja preta e amarela que vende óculos a preço de fábrica. Por trás das lentes que fazem as pessoas enxergarem melhor, há uma história de superação de um jovem que aprendeu que cada ação exige uma explicação.
Alex é o filho mais novo dos três de Izabel Vicente e Isaias Barreto. Ele nasceu em 1º de novembro de 1987, na cidade de Paranavaí (PR). A família de 5 pessoas vivia em uma casa simples no Jardim São Jorge, um bairro popular, com residências construídas através de programas habitacionais do Governo.
Isaias era o pilar de sustentação da família. Ele trabalhava como pedreiro, pegando pequenas empreitas na cidade. Sempre que possível, levava o seu filho “temporão” (filho que nasce muitos anos depois do irmão que o antecede) junto. Na obra, enquanto batia o cimento ou assentava os tijolos, Isaias explicava para seu filho cada detalhe do trabalho e por que cada coisa era feita daquela forma. As palavras lançadas pelo pedreiro não se perderam no tempo. Aquela criança curiosa absorveu a lição e cresceu carregando em sua mente que não deve fazer nada se não souber a razão. Para ter um dinheiro, começou a vender algodão-doce aos 10 anos de idade.
Em 1998, a família decide tentar uma vida nova em São Bernardo do Campo (SP). Não estava fácil conseguir emprego no Paraná, e São Paulo era apresentada como uma terra de oportunidades. Mas para o jovem Alex, era uma terra de adversidades. Em Paranavaí ele brincava na rua, tinha amigos na escola e primos. Era uma cidade pequena em que ele conhecia todo mundo. Diferente de São Paulo, onde sentia medo de sair de casa, pela violência. Mas tentou viver da forma que era possível.
Na mesma época, conheceu um senhor que criava cabritos e se ofereceu para cuidar dos animais. Ganhava R$ 10,00 por semana pelo pastoreio.
Depois de 3 anos, Isaias recebeu uma proposta de emprego em Itanhaém, no litoral paulista, lugar mais agradável para um moleque de 14 anos de idade. Alex continua seus estudos e com 15 anos consegue um emprego em uma oficina de bicicletas, ganhando um salário mínimo – R$ 186,00 com os descontos. A vida parecia estar se ajeitando.
Na noite de 4 de janeiro de 2003, Alex voltava do trabalho quando chega em casa e vê as luzes desligadas e o carro estacionado de um jeito estranho, todo errado. Quando entra em casa é recebido com uma arma apontada para seu peito. Seu lar havia sido invadido por 4 assaltantes armados. Sua mãe estava presa em um quarto e seu pai caído em outro quarto, ferido. Era uma noite de sábado, aniversário de Isaias. Ele já havia ido deitar quando os bandidos chegaram. Os assaltantes renderam Izabel e começaram a revirar a casa em busca de pertences. Quando entraram no quarto de Isaias, ele acordou assustado e reagiu. Arremessou o ventilador contra um dos invasores e achando que era uma arma falsa, partiu para cima. Nessa hora tomou um tiro.
Alex estava no meio da sala, com uma arma apontada em sua direção. Um dos bandidos dizia que iria matar o jovem porque havia visto seu rosto. Em seu último suspiro, Isaias se levanta e vai até a porta do quarto, gemendo de dor. Alex tenta socorre-lo, gritando que seu pai estava morrendo. Em meio à confusão, os bandidos trancam a casa e saem. Isaias respira pela última vez e morre nos braços do seu filho mais novo. “Eu sempre quis dar orgulho para meu pai, mas agora ele estava morto. Tiraram isso de mim”, desabafa Alex.
A tragédia conturba o jovem. Sua vontade era sumir daquele lugar sem levar sequer a roupa do corpo. Mãe e filho sepultam o provedor da família em uma cova no cemitério de Itanhaém e deixam a cidade para nunca mais voltar.
Abalados, tentam recomeçar no lugar de origem. Em Paranavaí, mãe e filho se estabelecem. Alex entra em depressão. A tristeza se misturava com a raiva de ter seu maior bem arrancado à força. Debaixo do mesmo teto do jovem de 15 anos de idade estava uma senhora, que a vida inteira trabalhou em casa para seu marido e filhos, olhando para a aliança em seu dedo, sentindo o luto e o vazio deixado. “Só saí da depressão quando percebi o quanto minha mãe estava sofrendo. Eu estava sendo egoísta. Meu pai, durante toda sua vida, me ensinou a trabalhar e honrar com a palavra, fazer valer o fio do bigode. Ninguém é obrigado a combinar nada, mas se combinou tem que honrar. Eu não estava honrando minha família naquele momento. Era eu quem precisava assumir a casa e cuidar da nossa família”, comenta Alex.
Então, o jovem começa a se reerguer. Larga os estudos e consegue um emprego de office-boy na “Ótica Visão”. Lá, faz serviços de banco, paga boletos e envia cobranças. Quando terminava o serviço na rua, voltava para loja e ficava observando como os vendedores trabalhavam. Depois de um ano no emprego, em dado dia, um cliente entra na loja e não tinha nenhum vendedor livre para atender. Alex toma a frente e faz o atendimento. Era uma senhora, procurando óculos de grau. O boy vende para ela uma armação e uma lente. A iniciativa rende uma promoção. Alex agora era vendedor da ótica.
Depois de 2 anos trabalhando bem como vendedor, Alex recebe uma proposta para ser gerente da Ótica Precisão, em Londrina (PR). Com a promessa de um salário melhor, ele sai de casa e vai morar em uma pensão. “Fiquei 2 meses comendo miojo cru porque não tinha nem onde fazer”, conta Alex.
Era uma ótica pequena, bem localizada, com 3 funcionários. Depois de 7 meses administrando a loja, Alex chega na segunda-feira para abrir o estabelecimento e percebe que a chave não gira a fechadura. Ele chama um chaveiro e quando a ótica abre, Alex vê o local vazio. O dono do negócio limpou o caixa, o estoque e sumiu da cidade, deixando todos os funcionários na mão, do dia para noite.
Alex volta para Paranavaí. Nessa época ele havia financiado um VW Gol, 1998, confiando no salário de gerente. Sem conseguir pagar as parcelas de R$ 248,00, ele vende o veículo por R$ 3 mil. Pega o dinheiro, compra uma mochila e vai para Maringá (PR), enchê-la de roupa. Alex volta para Paranavaí com uma mala de camisetas, que vende por R$ 25,00 cada. Quando esgota o estoque, repete a fórmula. Ele vai fazendo isso por 6 meses.
Até que um dia, no começo de 2011, tomando um café em uma padaria, ele vê na banca uma edição do Diário do Noroeste, um periódico de circulação local. Na capa havia um anúncio de venda de um lava-jato, por R$ 18 mil. O valor incluía o ponto e os equipamentos. Era entrar e trabalhar.
Alex oferece seu Fiat Pálio, que havia comprado com as camisetas, uma quantia em dinheiro e o resto parcelado. O dono do lava-jato aceita. Alex acabava de se tornar dono do seu primeiro negócio. Bastava descobrir como fazê-lo funcionar. “Eu liguei para um amigo, o Pierri. Disse para ele que precisava de ajuda, que comprei um lavador, mas que não entendia nada. Ele ficou 15 dias comigo lavando carros e me ensinando”, lembra Alex.
O lava-jato não foi colocado à venda por acaso. O movimento era muito fraco. Alex imprime uma pilha de panfletos e sai distribuindo pela cidade. Seu jeito de trabalhar e o comprometimento fideliza uma clientela. Em pouco tempo, o lavador tem um movimento de 35 carros por dia.
Foi nessa época trabalhando no lavador que Alex conhece Elen Rodrigues, uma jovem de 18 anos. Eles começam a namorar e Elen começa a ajudar no negócio, fazendo a limpeza interior dos veículos.
Depois de um ano, Alex coloca o lavador para venda por R$ 36 mil – exatamente o dobro do que o dono anterior pedia desesperadamente com um anúncio no jornal. O motivo de colocar um negócio lucrativo à venda era claro na cabeça de Alex. Assim como o pai ensinou, ele não fazia nada sem saber o porquê. Alex sabia porque trabalhou um ano no lavador: para abrir sua ótica. “Desde o primeiro dia eu senti satisfação em vender um óculos para uma pessoa que precisava. É o ofício que eu realmente aprendi. Então, a venda das camisetas e o lavador foram passos que eu dei com o objetivo de abrir a minha ótica”, explica Alex.
No começo de 2012, com 24 anos de idade, Alex vai para Maringá (PR) onde aluga um prédio comercial. Elen decide acompanhar o namorado e eles passam a viver juntos. A sala vazia precisava ser preenchida para ser chamada de ótica. Alex volta a recorrer aos seus amigos. Ele pede ajuda para Axel, que trabalhava como marceneiro. O amigo passa uma lista de materiais que serão utilizados para os móveis e se compromete em fazer a fabricação após o seu expediente. “Na lista tinha serra elétrica. Era muito caro, não tinha dinheiro para isso. Então decidi levar um serrote. Quando o Axel chegou e pediu a serra elétrica, eu mostrei o serrote. Ele disse: ‘assim não dá! Nós vamos levar um mês para fazer os móveis com o serrote’. Mas não tinha como ser diferente”, conta Alex.
O aspirante a dono de ótica pede então para seu amigo marceneiro fazer as marcações que ele serraria as peças durante o dia. Com o serrotinho, Alex faz todos os cortes. Se afeiçoou tanto à ferramenta que a guarda até hoje em seu escritório. Com as peças cortadas, Axel conseguiu montar os móveis fora do seu expediente. E assim, em março de 2012, abria a Ótica Cidade, na Avenida Brasil, em Maringá.
Com o dinheiro que restou, Alex comprou seu estoque: 100 óculos. Parece muito, mas é difícil preencher uma loja, por menor que seja, com peças tão pequenas. O estabelecimento abre as portas em uma quinta-feira. Alex compra um cento de salgado e uma jarra para servir refrigerantes, fazendo um movimento para atrair a clientela. Consegue fazer algumas vendas na quinta, na sexta e no sábado. Ele fecha a loja e vai para casa descansar, realizado. Enfim, tinha a sua ótica.
Mas a alegria dura pouco. Às 5 horas da manhã do domingo, a Polícia Militar vai até seu apartamento informar que sua loja havia sido arrombada. Roubaram todo o estoque. Só não levaram os móveis. Ao se deparar com seu negócio usurpado, Alex desaba. Ele senta no meio fio e chora de soluçar. Todo o esforço dos últimos anos acabava de ir para o ralo. Vendo o desespero, um policial se aproxima de Alex, coloca a mão em seu ombro e diz: ‘Se acalme. Se você deu um jeito uma vez, vai dar de novo’. “O policial não sabia por tudo o que eu passei”, pensou Alex.
Ficar chorando na sarjeta não era uma opção. Alex liga para seus fornecedores e conta o ocorrido. No fim, pede para que eles vendam seus produtos “fiado”. Um fornecedor se solidariza com a situação e manda alguns itens para a ótica.
Manter o apartamento não era mais uma opção. Alex e Elen passam a morar dentro da loja, de forma bem improvisada. Quando o expediente acabava, eles fechavam as portas e se recolhiam dentro do trabalho. “Tinha um fogão, mas a gente só fazia coisas cozidas para não deixar cheiro na loja. Fritura? Nem pensar! Eu e a Elen dizíamos que quando a gente enfim alugasse um lugar para morar, nós iriamos fazer tudo que fosse possível frito”, brinca Alex.
E foi o que aconteceu 4 meses depois. O empresário conseguiu pagar os produtos que pegou a prazo e fez sua loja voltar a ter caixa. Com um pouco do dinheiro que entrou, alugou uma quitinete e mobiliou com móveis usados: tudo em segredo. Quando deu 18 horas, Alex fechou a loja e chamou Elen para ir na casa de um “amigo” e levou ela para o apartamento que havia montado. “São momentos como esse que um casal leva na lembrança para sempre. Elen foi fundamental no meu crescimento”, comenta Alex.
De quando em quando, Alex ouvia alguém falando de Sinop. Maringá é a cidade sede da Colonizadora Sinop, que fundou a expoente do Norte de Mato Grosso. Diziam para o novato ótico que em Sinop “tudo dá certo”. Alex precisava de um lugar assim, para variar.
Em abril de 2013 ele vem conhecer a tal cidade. De Cuiabá para Sinop pagou R$ 97,00 na passagem aérea, mas quando desceu no aeroporto o táxi até a cidade foi de R$ 100,00 – memória de um tempo em que não existiam os aplicativos de transporte. Quando chega ao centro de Sinop, Alex se depara com uma cidade organizada, com um movimento frenético na Avenida Júlio Campos. Ele olha as placas dos carros e vê nomes de outras cidades. Compreende logo que Sinop é o centro de comércio de toda uma região. O empresário vê universidades, clínicas, hospitais, órgãos públicos... Sinop se mostrou vibrante e parecia honrar a fama de que tudo dava certo.
Ele volta para Maringá decidido a mudar para Sinop. Alex pergunta a Elen se ela quer ficar ou acompanhá-lo. Sua companheira escolhe embarcar na jornada. Alex coloca a ótica à venda e um fornecedor de alianças compra o negócio. Com o dinheiro e um carro, ele e Elen se mudam para Sinop em junho de 2013.
Eles alugam uma casa no Residencial Florença para morar. Para montar a ótica, escolhe uma sala comercial de 60 metros quadrados na Rua das Nogueiras, ao lado da atual sede da sua empresa. Alex sabia que o melhor seria abrir na Avenida Júlio Campos, a mais movimentada, mas embora seja apenas uma quadra de distância, o aluguel era 4 vezes maior. “Não dava para errar dois meses, senão quebrava. Decidi usar essa diferença na despesa do aluguel com um marketing agressivo. O plano era se consolidar para depois tentar um imóvel na Avenida Júlio Campos”, explica Alex.
Um mês depois, em julho, Alex abre a Fábrica dos Óculos. O nome é escolhido para passar a mensagem de que a loja vende óculos com preço de fábrica. Já nesse momento, o empresário escolhe as icônicas cores preto e amarelo, que se diferenciam das demais óticas e acabam se tornando um traço importante da marca. Do lado de dentro, 500 peças no mostruário preenche a loja. Nos expositores, marcas importantes como Vogue, Ray-ban e Carrera. Na equipe, Alex, Elen e um funcionário. Dessa vez o empresário consegue fazer uma “inauguração de verdade”, com um coquetel e presença da imprensa local.
A primeira venda da Fábrica dos Óculos foi um óculos de grau no valor de R$ 987,00. Foi o suficiente para satisfazer as expectativas de Alex com a cidade de Sinop. “Quando vi o ticket médio do primeiro dia pensei: ‘achei o lugar’”, conta.
Alex investe uma quantia considerável em publicidade nas televisões locais. Sua estratégia acaba inaugurando um movimento que durante um tempo transformou as óticas nos maiores anunciantes das TVs de Sinop. Era uma corrida pela audiência e pelas vendas. A manobra dá resultados positivos e, 4 anos após inaugurar, a Fábrica dos Óculos já não comportava a quantidade de clientes. Era preciso ampliar.
Em 2017, Alex aluga o prédio ao lado – seu ponto atual. Ele monta uma loja de 300 metros quadrados. Seu negócio estava tão consolidado que já não fazia diferença ir para Avenida Júlio Campos.
No ano de 2018 vem a primeira expansão. Alex recebeu uma proposta de uma ótica em Cuiabá, mas não gostou do negócio. Um amigo chamou para dar uma volta, que os levou até Várzea Grande, perto de uma clínica de oftalmologia, sem qualquer ótica por perto. Alex firma uma parceria com o dono de um terreno e constrói uma loja de 330 metros quadrados. Surge então o Atacadão dos Óculos. “Me senti realizado em construir do zero minha primeira ótica”, revela Alex.
Durante a pandemia, em 2020, o empresário abriu outras duas unidades. A primeira foi em Sorriso, que começou com uma loja pequena de 50 metros quadrados e que atualmente tem 250 metros quadrados de área comercial. Depois, abriu outra Atacadão dos Óculos em Cuiabá, na região do CPA, com uma loja de 140 metros quadrados.
E aí, a progressão foi em escala. Em dezembro de 2021, a Fábrica dos Óculos inaugura sua mais luxuosa loja no Shopping Sinop. Em fevereiro de 2022, uma loja popular, com 100 metros quadrados, na Avenida André Maggi. No mesmo ano, abre a segunda loja em Cuiabá, com 100 metros quadrados, no bairro Pedra 90. E em novembro de 2023, inaugura sua 4ª loja em Sinop, na Rua das Pitangueiras, com 200 metros quadrados e estacionamento coberto.
A Fábrica dos Óculos virou uma fórmula desenvolvida e testada por Alex de como abrir e operar um negócio lucrativo. Em novembro de 2023, o empresário entendeu que seria oportuno passar essa fórmula a diante. Ele começou a modelar um sistema de franquia para sua marca. A primeira unidade foi aberta na cidade de Primavera do Leste. Trata-se de uma loja de 130 metros quadrados com a marca, identidade visual e catálogo de produtos da Fábrica dos Óculos. “O modelo foi validado. Essa unidade roda nas mãos de pessoas que não são originariamente do ramo de ótica e o resultado foi positivo”, pontua Alex.
Em 2024, o empresário se concentra em fazer a multiplicação das lojas através do sistema de franquias. Alex tem um plano que mira a abertura de 1,5 mil unidades em todo território brasileiro.
Atualmente, 102 pessoas trabalham na rede de óticas da Fábrica dos Óculos. A empresa é a maior compradora de relógios da Technos do Mato Grosso. Nos mostruários é possível encontrar produtos das suas marcas próprias como Zoom, Start, Rizze e Riveira. São produtos de entrada, com qualidade e valor acessível, fazendo jus ao nome da empresa e ao slogan: “O melhor preço de fábrica”. A performance da Fábrica dos Óculos fez a empresa ganhar alguns prêmios de destaque, conferidos pela Associação Comercial de Sinop. Para manter o time na mesma linha de trabalho, Alex promove todos os anos uma convenção com todos os funcionários da empresa.
Embora tenha obtido sucesso no segmento de óticas, Alex não parou nos olhos. Decidiu trabalhar com o corpo inteiro. Em fevereiro de 2024, diversificou seus negócios abrindo a “Fábrica do Corpo” – uma academia de musculação. A estrutura de 632 metros quadrados conta com equipamentos e instrutores para ajudar os clientes a cuidar da saúde. “Foi uma questão de entender que existe um mercado e uma necessidade”, explica Alex.
Ele já havia feito algo similar antes. Em 2017, Alex queria alugar um espaço para fazer sua festa de aniversário, mas não encontrou nenhum lugar disponível. Ele havia acabado de comprar um terreno de 400 metros quadrados onde pretendia construir sua casa. Mas sem ter lugar para fazer festa, mudou de ideia. Ergueu o Espaço Prime, um local destinado à realização de eventos, com piscina, churrasqueira, cozinha e banheiro, todo mobiliado.
Em 11 anos de Sinop, Alex abriu 11 negócios. Todos deram certo. A cidade descrita como “o lugar onde tudo dá certo” acabou se mostrando uma Fábrica de Oportunidades.