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1977
Jaime José Rigon

13 CRUZEIROS NO BOLSO E NENHUM CONHECIDO
Essa era a situação de Jaime José Rigon quando desembarcou na rodoviária de Sinop. Hoje, ele é dono de diversos imóveis comerciais da principal avenida da cidade, e chega aos 50 anos de Sinop lançando um condomínio com mais de 400 lotes que se venderam em 40 minutos
Sinop foi o berço fértil para várias pessoas mudarem de vida. Sobram histórias de riqueza e progresso de quem chegou com quase nada e hoje tem “o suficiente para viver bem”. Mas o quão pouco era esse ponto de partida?
Para Jaime José Rigon foram 13 Cruzeiros, que logo viraram 4 Cruzeiros depois de um pastel e um café. Do desjejum na rodoviária até 2024, passaram-se 47 anos, hoje ele é dono de importantes prédios comerciais nas melhoras avenidas de Sinop e chega ao aniversário de 50 anos da cidade comemorando com o Lóris, um condomínio residencial com um conceito que se vendeu em menos de uma hora. Mas como é possível uma virada dessas em apenas uma vida? Conhecer a trajetória de Jaime talvez ajude a responder essa pergunta.
Jaime nasceu no dia 24 de maio de 1956, em Guabiju, um lugarejo no interior do Rio Grande do Sul que só viria ser reconhecido como município mais de 30 anos depois, e que mesmo hoje tem uma população de 1,5 mil habitantes. Foi nessas terras que a família Rigon se estabeleceu. Seu avô era peão de tropa em Vila Flores e em uma dessas comitivas para transportar gado acabou passando por Guabiju. Fiorelo Domingos Rigon, pai de Jaime, comprou uma pequena propriedade rural nesse local e ali fez sua morada. Casado com Terezinha Jandira Dallagnol Rigon, tiveram 7 filhos. Jaime foi o segundo.
A família criava burros e mulas para vender. Era a atividade que trazia algum dinheiro para casa. Aos poucos começaram a multiplicar as primeiras cabeças de gado. “Um dia, de manhã cedo, clareando o dia na hora do café, meu pai chega em casa feliz porque havia nascido um bezerro. Sua alegria é porque com aquele novo animal tinha alcançado a marca de 100 cabeças”, lembra Jaime.
A vida era bastante simples. Como todas as famílias daquela localidade tinham muitos filhos, se juntaram e construíram uma escola. Quem dava aula era Dulce, prima de Jaime, e alunos de diferentes idades e séries compartilhavam a mesma sala. Lá pelos 13 ou 14 anos de idade, um grupo de padres capuchinhos passou na escola do interior e falou para os alunos sobre o seminário. Jaime viu no convite uma oportunidade de abrir uma nova janela em sua vida.
O seminário ficava em Caxias do Sul, cerca de 150 km de distância de casa. Como em qualquer colégio interno, Jaime vivia 24 horas por dia as rotinas e regras do educandário. Estudos conciliados com tarefas e muita reclusão. “Nos 6 primeiros meses do seminário eu só sai uma vez para ir numa missa dos padres Capuchinhos”, conta Jaime.
Mas o jovem não lidava bem com tarefas repetitivas ou enfadonhas. Rindo, Jaime disse na entrevista que o serviço braçal que ele gosta é laçar e dançar, o resto é esforço físico e mental. Então, para driblar a rotina do seminário, tomava a dianteira nos serviços alternativos. Ao invés de fazer a faxina, ele manejava as vacas do seminário, tratando e tirando leite. A cozinha também era uma alternativa para desviar da mesmice. Mas a melhor driblada foi no ginásio. O seminário tinha duas quadras de futebol de salão e logo Jaime escalou para função de cuidar dos horários de locação. “Eu sempre quis fazer coisas diferentes, não igual aos demais. Isso me deu a opção de não ser repetitivo nas coisas. Eu me lembro de uma vez que fomos obrigados a fazer o curso de datilografia. Aquilo me deixava maluco, porque era muito repetitivo. Eu cheguei a falar para o padre: ‘por que alguém inventa uma máquina para quem não sabe escrever?’ Não parecia que precisava de uma máquina para fazer aquele serviço”, conta Jaime em tom divertido.
À sua maneira, o jovem evoluía como seminarista. Quando tinha quase 18 anos, decidiu dar uma “escapadinha” da reclusão. Com os amigos que conheceu nas quadras de futsal, saiu para dançar na discoteca da cidade. Jaime tinha a chave da porta, então nem precisaria pular a janela. Quando a noite caiu e todos os internos se recolheram, o seminarista colocou aquela roupa de ir na missa para visitar outro templo. Mas quando chegou lá, encontrou o padre, reitor do seminário, na pista, testemunhando ao vivo o pecado. Jaime não quis nem arriscar pedir a benção. “Nunca voltei tão rápido para o seminário como naquela noite. Nem dormi direito. No dia seguinte ele me chamou para conversar. Eu disse para ele: ‘mas o senhor também estava lá’. Ele falou que eu não tinha a vocação para seguir o caminho de um padre. Decidi deixar o seminário”, relembra Jaime.
O reitor do seminário deu uma direção. Levou o desertor para o “Shallon”, um ponto da cidade onde as pessoas costumavam pedir carona. Quando o padre deu as costas, Jaime rumou a pé até a catedral da cidade. Ele foi atrás do “tio padre”, como costumava chamar um primo de sua mãe que era diretor da diocese em Caxias. O jovem contou o que aconteceu no seminário e o “tio padre” pediu para que uma pessoa levasse Jaime para casa.
Mas depois de 4 anos de seminário, a sua casa já não era mais a mesma. Em suas reflexões, se lembrou do “Projeto Cura”, que o seminário desenvolvia, levando entre 30 a 40 alunos como missionários na região Amazônica. Jaime sempre pensou que a Amazônia fosse “logo ali”. Ele sempre quis embarcar nesse projeto, mas nunca foi chamado. Agora, do lado de fora do seminário, decidiu explorar esse “mundão de Deus” – palavras suas. O ano era 1975 e as normas do Regime Militar vigente estabeleciam a maioridade aos 21 anos. Jaime pediu para que seu pai o emancipasse, com 19 anos. “Eu tinha um pouco de dinheiro que juntei mexendo com vacas e vendendo leite. Então, arrumei minha mala e falei para minha mãe: ‘eu volto quando estiver bem de vida’”, conta Jaime, que lembra que na sua casa sequer havia chegado a luz elétrica ainda.
Jaime pegou carona com um caminhoneiro até Cascavel/PR, onde chegou à casa de um antigo amigo de seu pai. O conhecido comprava gado em Mato Grosso do Sul para vender aos frigoríficos. Fizeram umas 4 viagens juntos, mas o jovem notou que aquela atividade era perigosa. Ainda no Paraná, conheceu o presidente de uma cooperativa, lhe ofereceu um trabalho. A vaga era para controle de sacaria, serviço simples que Jaime realizou com facilidade. Logo passou a cuidar do estoque físico de soja e milho.
O trabalho era bom, mas repetitivo. E se tornou monótono quando uma seca intensa que atingiu o Oeste do Paraná diminuiu consideravelmente a produção e, por consequência, o fluxo de grãos. Às vezes, Jaime via pela televisão propagandas de Sinop, uma cidade no Mato Grosso que estava crescendo muito. Uma reportagem, que ele não lembra de qual programa era, afirmou que Sinop era o futuro. “Eu falei: ‘vou para Sinop’. E meu chefe disse: ‘você não vai não’”, rememora.
O tal presidente da cooperativa tinha uma fazenda, com cerca de 800 cabeças de gado e levou Jaime para trabalhar nela. Não tinha dança, mas tinha laço, então, em alguma medida, era um serviço prazeroso. Afeiçoado à nova função, foi cada vez ganhando mais confiança e respeito do patrão. Em pouco tempo ganhou uma camionete para o trabalho, mas podia usar o veículo à vontade.
Ele trabalhou naquela fazenda até 1977. Com algumas economias e o acerto do trabalho, comprou uma passagem em busca daquela terra prometida que viu na TV. As intermináveis horas dentro do ônibus e as chuvas que transformavam as estradas em um lamaçal sem fim não corrompiam seu entusiasmo. Jaime estava certo que se dirigia ao futuro, ao local onde poderia, enfim, dar certo da vida, como prometeu para sua mãe.
Depois de alguns dias, ele enfim fincava os pés no barro de Sinop. “Eu esperava achar uma cidade, mas o que eu vi foi uma vila. Tinha umas 100 casas e a igreja Santo Antônio era um galpão de madeira. Não era nada daquilo que eu tinha visto na TV e que me convenceu a vir para cá”, lembra Jaime.
Sem conhecer ninguém e nem saber para onde ir, resolveu tomar um tempo ali no ponto de ônibus mesmo. Quando pegou suas coisas, tomou um susto. O dinheiro que trouxe para começar sua nova vida havia sumido. “Não sei se perdi ou se me roubaram. Eu só tinha 13 Cruzeiros que estavam no bolso da calça. Comi um pastel ali no terminal e tomei um café. Me sobraram 4 Cruzeiros”, disse Jaime, narrando seu desespero.
A cidade não era a terra prometida que esperava, suas reservas desapareceram e ele não conhecia ninguém por ali. Não tinha como ligar para alguém, tampouco pegar uma passagem de volta. Naquele momento Jaime era um mendigo em potencial.
Ele ouviu algumas pessoas falando para ir até a Colonizadora, que lá alguém poderia achar um trabalho ou algo do tipo. Sem ter outra opção, arriscou. Aguardou até que alguém chegasse para lhe atender.
Duilian, um corretor da Colonizadora, puxou conversa. Jaime confessou sua penúria e o vendedor de terra aconselhou a esperar e tentar falar com o “Seu Uli”. “Uli” era Ulrich Ebherard Grabert, topógrafo e braço direito dos colonizadores Ênio Pipino e João Pedro Moreira de Carvalho – era o homem que fundou cidades para a Colonizadora no Paraná, apontou o Norte de Mato Grosso como uma região em potencial e abriu a primeira picada para implantar as cidades de Vera, Sinop, Santa Carmem e Cláudia. Uli estava no marco zero da fundação de Sinop e é atualmente lembrado como o primeiro desbravador. “De repente chegou um homem de semblante fechado, andando firme. O Duilian olhou para mim e disse: ‘você está com sorte, o Seu Uli está de chinelo de dedo’. Os funcionários da Colonizadora diziam que quando ele vinha de chinelos é porque estava de bom humor”, relembra Jaime.
Aproveitando que o possível benfeitor estava despido de rabugice, Jaime contou sua história. Uli subiu na sua camionete F-1000 branca e mandou Jaime entrar. Saiu da Colonizadora patinando e só parou quando chegou na casa da Dona Rosa. Mandou Jaime descer e, sem desembarcar da camionete disse para mulher: “Tem um quarto sobrando? Então dá pensão para esse sujeito. Se ele não pagar, eu pago”. Objetivo, Uli acabou de falar e saiu.
Com um teto sobre sua cabeça e refeição garantida – pelo menos enquanto Uli fosse fiador –, Jaime tomou um banho e saiu caminhando. Em uma edificação na avenida principal, estavam fazendo o piso para uma casa. Mesmo sem nunca ter trabalhado com construção, Jaime pediu se tinha serviço. Colocaram ele para bater massa.
Se a vida tem um roteirista, ele é tão sínico quanto auspicioso. De que outra forma explicar que o primeiro ganha-pão que Jaime encontraria na terra prometida seria justamente um serviço braçal maçante, e que, ao mesmo tempo, está conectado ao que gerou riqueza e estabilidade financeira para ele. Ali, com 21 anos de idade, derramando cimento na avenida principal de Sinop, Jaime não fazia ideia de que, em um futuro próximo, pavimentaria seu sucesso construindo nesse mesmo local.
O ofício de auxiliar do ajudante de pedreiro só serviu para dar esse tempero na história. Depois de trabalhar por 3 dias, Jaime recebeu pelas diárias e foi direto para a Padaria Xingu. A comida da pensão da Dona Rosa era boa, mas ele não via a hora de comer um pão. Sentado ao balcão, começou a conversar com o dono do estabelecimento, que lhe ofereceu um emprego. O salário era de 1.500 Cruzeiros – que na cotação da época correspondia a 166 pasteis com café. Além disso, o dono da padaria oferecia um quartinho nos fundos para Jaime dormir. “Eu fiz as contas e pensei: em 3 meses eu arrumo o dinheiro para ir embora”, lembra.
Depois de dois meses trabalhando na padaria, o pai do dono ficou muito doente e toda família foi para São Paulo. Jaime ficou tocando o estabelecimento. Apesar do emprego e da confiança, ele não estava feliz. Não queria ficar em Sinop, mas também não tinha como ir embora. Na verdade, não sabia ao certo para onde iria. Sem família ou amigos, a vida de Jaime era aquela padaria, seu local de trabalho e lar ao mesmo tempo. “Não tinha nenhum tipo de lazer para um jovem. Só tomar pinga no bar e eu não gostava disso”, explica Jaime. Faltava o cavalo para laçar ou uma parceira para dançar.
Mas para sua sorte, um dos fregueses assíduos da padaria era o Padre João Salarini – o segundo padre a chegar em Sinop, no ano de 1974. O sacerdote, ícone da história local, era conhecido por seus conselhos sem rodeios, diretos, porém amorosos. O padre aconselhou Jaime a não ir embora. Foi nessa época, inclusive, que surgiu o primeiro CTG (Centro de Tradições Gaúchas) de Sinop com o nome de Porteira da Amazônia. “Fui o primeiro professor de dança do CTG”, lembra Jaime.
O padeiro então decidiu retribuir a visita do amigo conselheiro e começou a frequentar a igreja. Lá conheceu Claudete Quallio, uma jovem por quem se encantou de imediato. Eles começaram a namorar em 1978, e depois de 2 anos Jaime venceu as desconfianças e eles se casaram, em 10 de maio de 1980. “Tinha uma grande rejeição da família dela, que eu até compreendo. Eu não tinha nenhum parente, não recebia visitas e não ia viajar para ver ninguém. Todos achavam que eu tinha vindo fugido para o Mato Grosso. Inclusive temiam que eu já fosse casado”, recorda Jaime.
Na época, todo comércio tinha um pequeno gerador. Cedo ou tarde, esses equipamentos tinham um defeito. Não foi diferente com o gerador da padaria. Jaime foi atrás do conserto. O único eletricista da cidade era Antônio, que trabalhava para Colonizadora, mas também atendia a clientela em geral. Já com idade avançada, Antônio provocou o jovem para que aprendesse o ofício. E assim foi.
Em 1980, quando começaram a chegar em Sinop os primeiros geradores da Cemat – Concessionária de Energia em Mato Grosso –, Jaime deixou a padaria e foi trabalhar na Macon, montando os padrões de energia que seriam instalados na frente das casas para medir o consumo. A Macon era originalmente uma loja de materiais de construção que mudou de ramo, partindo para parte elétrica com a chegada da Cemat e, anos depois deu origem à Dimel Materiais Elétricos. No novo emprego, recebeu outra proposta, de uma empresa recém-aberta, a Eletrowal Materiais Elétricos. “O que tinha na Eletrowal eram 6 rolos de fio e eu achei que seria interessante começar do zero”, comenta Jaime. No pagamento da primeira remessa de padrões montados, o dono da Eletrowal ofereceu sociedade, com 10% da empresa.
Em 1982, nasceu a primeira filha do casal, Michelli Fernanda Rigon. No retorno para Sinop, Jaime aumentou sua participação na Eletrowal para 20%. Foram mais 4 anos trabalhando na empresa até que o cometa chegou. Era o Halley, que a cada 75 anos pode ser visível da terra. Sua última visita foi em 1986, no ano que Jaime decidiu sair da Eletrowal. Com uma nova sociedade, dessa vez com 50%, abriu outra empresa. Nascia então a Instaladora Cometa.
Junto com a Cometa, também chegava o segundo herdeiro, Fábio Alexandre Rigon. A Instaladora foi bem, crescendo em um bom ritmo. Parte dos postes de madeira que ainda podem ser vistos pelas ruas de Sinop, foi a Cometa que instalou. Por não ter preparação para gerir uma empresa muito grande, Jaime bolou sua fórmula para lidar com o dinheiro que entrava. Parte era reinvestida na empresa, até que ela alcançasse certo tamanho. A partir disso, diversificava a aplicação, comprando gado, geralmente em pasto arrendado. Quando acumulava certa quantia, vendia o gado e comprava um terreno, na Avenida Júlio Campos, antiga Avenida dos Mognos, que foi rebatizada em 1984 para homenagear o então governador.
Em 1991, os sócios decidem se separar, mas ambos entendiam que precisavam fazer aquilo de forma justa, afinal, o patrimônio que acumularam naqueles 5 anos foi de fato construído a quatro mãos. O gado foi a parte fácil. Faltava a empresa, bem como a sede onde ela foi erguida, na Avenida Júlio Campos. O combinado foi o seguinte: cada um escreve um valor no papel de quanto acredita ser o preço justo. Aquele que escrever o maior valor, será o comprador, pagando aquela quantia para o outro sócio.
E foi assim que, em 1991, Jaime vendeu sua parte e abriu a Instaladora Astro Luz, uma referência sutil ao cometa. A empresa se tornou muito ativa na cidade. A técnica de capitalizar, no entanto, continuava a mesma: comprar gado e quando aparecer um bom terreno à venda, vender a criação para comprar o imóvel.
Nessa altura da vida, Jaime já tinha condições de ter o seu “luxo”, um cavalo. O gosto herdado do pai não havia se diluído em todos esses anos. No primeiro dinheirinho que conseguiu fazer sobrar, tratou de adquirir uma montaria. E assim, quando não estava trabalhando ou olhando o gado, passava seu tempo laçando em provas, competições ou mesmo a lazer. Seu escritório, repleto de troféus e medalhas, assim como as fraturas e os pinos de metal que têm no corpo, contam a sua história no lombo do cavalo.
Aos poucos Jaime foi migrando do mercado elétrico para o imobiliário, mas tentando manter os dois negócios. Concentrou-se em comprar e vender gado em áreas arrendadas e investir no mercado imobiliário. Começou a construir nos terrenos que comprou na avenida principal. “Um amigo de ascendência turca me disse para construir grande. ‘Faça prédio grande, que é mais fácil de administrar. Se não achar alguém para alugar, vá embora dessa cidade, que ela não tem futuro’, dizia ele”, conta Jaime.
Foi a melhor dica possível para quem estava em Sinop e com terrenos na avenida central. Hoje, Jaime tem vários imóveis nas principais avenidas da cidade, todos com comércios em atividade. Alguns inquilinos estão há 30 anos dentro do mesmo imóvel. Em 2024, Jaime construía um prédio comercial com 1.550 metros quadrados, erguido para abrigar a maior agência da Caixa Econômica Federal do Centro-Oeste.
Desde a sua chegada, ano após ano, Jaime galopava em direção ao sucesso, encontrando na terra prometida a realização dos seus sonhos. Família, progresso, realização financeira, estabilidade, amigos e felicidade. Até que em 2012 a vida lhe deu um duro golpe.
Claudete, sua esposa, havia concluído o curso de Direito e estava se preparando para fazer a prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Certo dia, sentiu-se mal e correram para o Hospital Santo Antônio, que já tinha uma boa estrutura na época, com médicos especializados. Tudo apontava um problema cardiovascular e aquele era o melhor lugar da cidade para atender um caso assim. Enquanto era submetida a um exame de eletrocardiograma, Claudete teve um enfarto fulminante. Mesmo com toda intervenção médica, ela não voltou. Aos 53 anos de idade, a vida de Claudete chegou ao fim. “Ela foi uma companheira sem igual para mim, uma guerreira, meu braço direito e amor incondicional. Claudete foi o primeiro lar que tive em Sinop, me acolhendo com seu coração e tendo coragem de me aceitar mesmo com todo temor de sua família. Por 32 anos ela foi meu alicerce. Um homem quando se sente seguro dentro de casa, vai trabalhar e conquista o mundo”, declara Jaime, tentado expressar o quanto Claudete representou na sua vida. Sua partida, porém, significou uma nova mudança para Jaime: “Tive a oportunidade, a partir de então, de ser pai, mãe, avô e avó, porque busco ser com meus filhos e netos tudo aquilo que a Claudete era”.
Michelli se casou com Daniel Sepi de Lima, e da união nasceram Isadora e Gustavo, que neste ano completaram 12 e 2 anos respectivamente.
Uma nova memória
Durante a vida, Jaime e Claudete faziam praticamente tudo juntos. Um dia, o dono de uma empresa que alugava um dos imóveis do casal disse que seu padrasto estava vendendo uma propriedade, perto da cidade. E o comentário se repetia de tempos em tempos. Jaime foi com Claudete ver a tal propriedade. Era uma área de 212 hectares, nas imediações da Estrada Nanci. “Eu só via guaxuma e toco naquela propriedade. Não queria comprar. Mas algo sempre me puxava de volta”, conta Jaime.
Ele voltou uma segunda vez com sua esposa, mas a percepção sobre o negócio não tinha mudado. Porém, Jaime ainda se sentia tentado. Em uma terceira visita, dessa vez sozinho, decidiu comprar. Só quando já estava com a escritura na mão, Jaime foi falar com a esposa. “’Fiz uma besteira e vou precisar 10 anos para consertar’, disse para ela. Eu imaginava que precisaria de uns 10 anos para entender que tipo de negócio daria para fazer com aquela área. Seria falta de modéstia se eu falasse que ia dar certo”, comenta Jaime.
Enquanto os 10 anos não passavam, a fazenda recebeu um pouco do gado e serviu para as provas de laço que Jaime tanto gostava. “Eu nunca trabalhei por dinheiro. Eu sempre trabalhei para ser feliz”, afirma Jaime.
E quando a década passou, o empresário já conseguia ver exatamente que tipo de negócio caberia naquela propriedade. Sua visão era um condomínio, com 400 casas de pessoas felizes. Um local que despertasse o orgulho de quem construiu e de quem vive nele. “Eu sempre tentei enxergar a felicidade que meu trabalho gerava, seja levando uma lâmpada na casa de uma pessoa ou construindo um prédio para alguém abrir seu negócio. O sonho precisa vir antes do dinheiro”, acredita o empresário.
São esses conceitos arraigados que orientarão o novo negócio de Jaime. Em uma parceria com a Incorpore Incorporadora e Loteadora, o empresário lançou em 2023 o Lóris Residence Spa Resort, um condomínio horizontal de alto padrão cuja proposta é ser “surpreendente”.
No total, o Lóris ocupará uma área de 30 hectares, com 438 lotes residenciais, a partir de 300 metros quadrados. Em 40 minutos após o lançamento do empreendimento, todas as unidades haviam sido vendidas. A implantação iniciou em agosto de 2023 e a previsão de entrega de toda infraestrutura é em 2026.
Dentro do empreendimento, para o uso dos condôminos, o Lóris terá piscina tropical, piscina infantil, bar da piscina, playground, spa, cinema, lounge jogos, brinquedoteca, espaço gourmet country, Sport Grill, beach tennis, o Lóris Bar Clube, espaço gourmet para festas, academia, duas quadras de tênis, campo de futebol society, pet place, horta e pomar e quadra de vôlei de areia. O Gourmet Beer terá uma micro cervejaria com produção própria. Já a área para churrasco, um espaço para fazer fogo de chão.
Dá para pescar referências de Jaime e Claudete nos espaços coletivos do Lóris. Em alguns casos, estão até assinados. A feirinha, que será abastecida pela horta e pomar locais, se chama “Quitanda do Sr. Jaime”. Já o Parque Central, assim como a avenida do condomínio, levará o nome de Claudete Quallio Rigon. “É para que nossos netos possam ver e sentir orgulho do que fizemos para nós e para outras pessoas”, explica Jaime.
Outros negócios ainda vão surgir no restante da área onde está o Lóris. Sejam idealizados por Jaime ou por seus filhos. Michelli Fernanda, que se formou em odontologia, e Fábio Alexandre, graduado como engenheiro civil, acabaram sendo atraídos para a empreita imobiliária. Junto ao pai, formaram a Aliança Sinop Empreendimentos Imobiliários – a Astro Luz, que agora não é mais instaladora, mas uma empresa do setor imobiliário, permanece somente sob a batuta de Jaime.
Além da parceria no negócio familiar, os filhos também são sócios no Lóris. “Eu me considero uma pessoa muito feliz e Sinop foi o lugar onde minha vida mudou”, encerra o seminarista, ensacador, peão de gado, pedreiro, padeiro, eletricista, empresário, pecuarista, locador, pai, avô e laçador, Jaime Rigon.
A proteção divina
Jaime tem uma história a parte que merece ser lembrada. Lá na década de 70, quando trabalhava na Padaria Xingú, um dos cliente habituais era o padre João Salarini, o segundo ordenado a exercer o sacerdócio na cidade. João ia até a padaria todos os dias, comer um pãozinho, tomar um café e papear no balcão com o dono do estabelecimento. Jaime, que assistia à distância, estranhou o padre na primeira vista. Ele estava acostumado com o rigor das vestes que via nos padres do seminário. Sapato social, calça e camisa com colarinho. Ver o líder religioso da cidade andando pelas ruas de bermuda, chinelo e camiseta lhe parecia peculiar. Padre João, no entanto, se vestia conforme era: um homem simples e trabalhador.
Além dos trajes informais, o padre andava sempre com um assessório: uma ‘capanguinha’ – termo como era chamada uma bolsa, geralmente feita de couro, que se carregava embaixo do braço. Certo dia, quando fechava o caixa da padaria, o padre e o dono estavam conversando sentados ao balcão. Quando João abriu a tal capanguinha para pagar a conta, Jaime viu no interior um sólido artefato de metal. “Pensei comigo: ‘Jesus, um padre armado?’. Enfim, eu vi o revólver, mas fiquei quieto”, conta Jaime.
João era um homem no seu tempo. Ele percorria a cidade, andava pelas estradas e visitava comunidades fazendo seu papel de sacerdote. Além da proteção divina, andava com sua arma de fogo para quando a oração não desse conta. Era uma segurança inclusive contra os animais. Naquela época era comum as pessoas portarem uma arma. Com o padre não seria diferente.
O tempo passou, mas Jaime nunca esqueceu a história. Em 2007 padre João Salarini morreu, sendo enterrado junto a catedral que ajudou a construir. Anos depois, em um almoço familiar, o novo pároco, padre João Schneider estava presente. Entre as conversas, Jaime contou para Schneider a história do revólver – também o quanto o líder religioso foi importante conselheiro em sua vida.
Dias depois o padre chamou Jaime para ir até a Catedral. Ele disse que se emocionou com a história e que queria dar o rosário que pertenceu a João Salarini para o empresário. “Eu me senti honrado em ter um presente que pertenceu ao Padre João. É um privilégio para poucos”, conta Jaime.
Mas havia um porém. O artefato religioso estava trancado dentro do cofre do finado padre e ninguém tinha o segredo. Jaime chamou um chaveiro para abrir a fechadura. Quando olhou para o interior do cofre, o empresário não viu nenhum rosário. O que estava guardado na caixa de metal era o revólver do padre. “Me emocionei. Até chorei. Guardo a arma do meu amigo padre como se fosse um troféu, junto com os prêmios das competições de laço e as homenagens que recebi ao longo da minha vida. É um dos itens de minha maior estima”, revela o empresário.
1977
Primeira escola e primeiras colheitas

OS PRIMEIROS FORMANDOS
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No ano de 1977, ocorreu a Primeira Formatura do Ensino Fundamental de Sinop. A missa de formatura foi celebrada pelo padre João Salarini, na Igreja Santo Antônio, e a solenidade de entrega dos certificados de conclusão foi realizada nas dependências do Centro Esportivo Enio Pipino, o Pipininho, que ficava ao lado da Igreja
PRIMEIRAS COLHEITAS
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Havia inúmeras plantações de café na área rural de Sinop, e a partir de 1977 começaram as primeiras colheitas. Junto com a lavoura cafeeira, foram cultivados também, em pequena escala e para a subsistência dos habitantes, arroz, mandioca, milho, legumes e hortaliças, além da criação de animais como o porco, galinha e gado leiteiro
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Apesar de um começo relativamente promissor, a lavoura cafeeira não alcançou os resultados esperados pelos agricultores e foi sendo substituída por outras lavouras. como a pimenta do reino, guaraná, milho e arroz