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1983
Família Trombetta

CORAGEM PARA EXPANDIR
Do chão da fábrica como funcionários ao sucesso em diferentes segmentos de mercado. Dois irmãos acompanharam o legado de trabalho do pai e construíram um patrimônio
Descendentes de famílias patriarcais italianas, que se casaram ainda jovens e seguiram a pacata vida do campo. Essa é a história de Antônio e Ângela, cujos pais vieram da Itália desbravar o Sul do Brasil. O marido fazia agricultura de subsistência em uma pequena propriedade, enquanto a esposa cuidava dos afazeres domésticos, das ‘criações’ e dos filhos.
Antônio se casou com 22 anos de idade. Plantava milho, feijão, trigo e tirava leite das vacas. Na época, não havia comercialização. Carlos Antônio Trombetta lembra-se de ir desde cedo para a roça com o pai. Nasceu em 16 de março de 1964, em Cerro do Meio Dia, pequeno distrito do município gaúcho de Severiano de Almeida, localizado Erechim (RS) e Concórdia (SC). Outros três irmãos seus nasceram no mesmo local: Itamir, em 25 de outubro de 1967, além de Jair e Valmir.
Irmão mais velho de Antônio, Alcides Trombetta, que morava em Catanduvas (PR), costumava visitar os familiares em Cerro do Meio Dia. Nessas visitas, ele contava sobre a vida no Paraná, um lugar com mais oportunidades de trabalho. Então, o irmão caçula se sentiu incentivado.
Em 1969, com a coragem e a ousadia de seus 28 anos, pegou todo o seu patrimônio, a esposa e os quatro filhos, arrumou um motorista e montou numa Kombi rumo ao Paraná. Na mala, carregaram um lençol amarrado nas pontas, trazendo todas as roupas da família. Saíram literalmente da roça com os filhos – Valmir ainda era um bebê.
Naquela época, Alcides era gerente de produção de uma madeireira, a Berneck S.A., e indicou um serviço para Antônio na mesma empresa para fazer serviços gerais. Além de ser uma migração, é um êxodo rural, pois era uma saída do campo para a indústria na cidade.
Antônio e a família foram, então, morar nos fundos da casa de Alcides em um pequeno compartimento. Na época, o problema mais difícil pelo qual a família passou foi saúde: sarampo e ‘brotoeja’, nome popular da malária. Muitas vezes, Ângela chegou a colocar os filhos em folhas de bananeira para dormir, pois o lençol grudava na pele.
Após cerca de seis meses morando nos fundos da casa do irmão, Antônio alugou uma casa onde a família ficaria por bastante tempo. Lá, Carlos, ainda criança, chegou a queimar a barriga ao fazer fogo. A rotina era acordar cedo e fazer fogo antes do preparo do café. Despejou querosene no fogão à lenha, mas esqueceu a porta da frente aberta, e o fogo foi para cima dele.
Proativo e trabalhador, após quatro anos na empresa, em 1973, Antônio Trombetta foi promovido, passando a gerente de produção. Gostava muito de ler e sabia da importância do dinheiro. Com as economias, compra uma casa. Carlos, com 9 anos de idade, já começava a trabalhar na indústria, com serviços gerais, “gradeando” lâmina, matéria-prima para compensado, além de outras atividades consideradas mais leves.
Naquela época, os irmãos saíam cedo para trabalhar com o pai na madeireira, e à tarde iam para a escola. Certo dia, Carlos chegou à escola sujo de graxa após ajudar a limpar as lâminas de um carrinho na fábrica. O professor o chamou de relaxado.
Para Itamir, a maior virtude de Antônio era ser um homem trabalhador. Levantava às 5 horas da manhã. Se não estivesse bravo, o pai vivia dando risada. Embora mandasse os filhos trabalharem, o pai também exigia deles o comprometimento com os estudos.
Como gerente de produção na Berneck, Antônio entendia do ramo. E como as madeireiras em geral estavam tendo dificuldades no Paraná, ele resolveu se mudar para um local onde o mercado estava se expandindo: o Mato Grosso. Na época, decidiu migrar para o município de Iguatemi, atualmente no Mato Grosso do Sul, próximo à fronteira com o Paraguai.
Em 1974, a família deixa o Paraná rumo ao Centro-Oeste de caminhão. Antônio estava indo para outra madeireira, a Mafra (empresa com matriz em Santa Catarina), ligada à lâmina e compensado. A matéria-prima saía do Paraguai e chegava ao Mato Grosso para que a madeira fosse feita. Naquele ano, Itamir começa a frequentar a escola.
Com experiência na área, Antônio iniciava, em 1979, uma nova migração no Mato Grosso (ano em que houve a divisão do estado). Foi quando a família se mudou para Várzea Grande. Ele trabalharia em uma filial de uma empresa de Curitiba, a antiga Madeireira Mapim, ligada também à lâmina e compensado. Cada vez que o pai arrumava serviço em novas indústrias, os filhos também acabavam conseguindo novos empregos. Porém, a mudança para Várzea Grande complicou a questão dos estudos. Ficaram por lá entre 1979 e 1981.
Em 1981, a família se muda de novo. Desta vez, para Juara, onde Antônio participaria da montagem da primeira laminadora da região Norte do estado, pertencente a Eduardo Muchalak. Além deles, um total de 42 pessoas, de quatro famílias, saiu de Várzea Grande. Praticamente lotaram um ônibus inteiro. Demoraram três dias e quatro noites para fazer o trajeto de Cuiabá a Juara, passando por Sinop no caminho. Era época de chuva e a impressão era de um local que sempre atolava os veículos. Itamir se lembra de o ônibus atolar na Avenida Júlio Campos antes de chegar na rodoviária.
Chegaram em Juara em 1º de maio, por volta das 22 horas, horário em que o motor de energia era desligado. Então, naquele momento, não se sabia sequer onde as famílias iriam dormir na nova cidade. Ao perguntarem onde estava localizada a laminadora, eles precisaram andar cerca de 3 quilômetros para chegar na estrutura da fábrica, em um barracão, ao redor de uma caldeira que ainda não estava instalada. Todas aquelas famílias dormiram no local, separando mulheres e homens, cada um para um lado. Na época, Carlos já tinha 16 anos e Itamir, 13.
À medida que os filhos foram crescendo, a vida foi facilitando para Antônio, pois já havia mais mão-de-obra. Em 1983, o pai negociou pacotes para ele e os filhos trabalharem na Indústria Mehl Florestal da Amazônia (filial de uma empresa de Curitiba), em Sinop. Em novembro, época de seca, Itamir, aos 15 anos, e seu irmão Jair, saíram de Juara com destino à cidade mais ao leste. Chegando lá, perceberam uma enorme transformação na cidade em relação ao que tinham visto dois anos antes. Foram morar em uma república com cerca de 40 outros rapazes, vindos de outros cantos do país. Embora o pagamento fosse equivalente a dois ou três salários mínimos na época, as madeireiras ofereciam, além do emprego, alimentação e moradia. O alojamento era composto por quartos e um banheiro comunitário no fim do corredor. Eram duas beliches em cada quarto. Uma vez, a cada 15 dias, o caminhão da empresa levava os funcionários ao mercado da cidade.
Carlos, desta vez, ficara em Juara com o restante da família, pois precisava ajudar a fechar a empresa de Eduardo. Na época, era ele quem cuidava do escritório da fábrica e seu pai sempre se preocupava em não deixar os outros ‘na mão’. Mas, 6 meses depois, toda a família se muda para Sinop. Porém, apesar de estarem na mesma cidade, os filhos acabaram se tornando autônomos, tendo em vista que já havia o alojamento na madeireira.
Desde esse período, já faltava mão-de-obra local; começava, então, a migração de outras regiões do Brasil. “A gente convivia nessa época com os andantes. Chegavam, ganhavam um dinheiro e já iam embora pra outra cidade”, lembra Carlos.
Estabelecidos em Sinop e em busca de estudo, os irmãos foram para a cidade morar em um cortiço. Itamir estudou a 7ª e 8ª séries na Escola Ênio Pipino. Carlos, por sua vez, fez o 2º grau no Colégio. Nilza de Oliveira Pipino. Naquela época, era uma cidade basicamente madeireira. Fora isso, existiam apenas alguns comércios na Avenida Júlio Campos.
Em 1987, porém, Antônio Trombetta volta para Juara. Nessa época, Carlos, que já era diretor na Indústria Mehl Florestal da Amazônia, arrumou uma namorada, Sandra Cavazzani, que cursava faculdade em Cascavel (PR). “Tudo o que a gente aprendeu em termos de gestão foi no período que ficamos lá. Desde o chão de fábrica, tanto eu quanto o Itamir. Fui sendo promovido porque o pessoal tinha dificuldade de encontrar pessoas de fora para vir trabalhar”, afirma.
No mesmo ano, Carlos se casou com Sandra, que foram morar em Sinop. Já Itamir é levado pelo proprietário da empresa para Cláudia para tocar a nova filial.
Em 1988, a empresa passava por dificuldades, pois tudo o que era produzido no Mato Grosso era destinado para a matriz, no Paraná. O proprietário mandava o dinheiro para que fossem pagas as contas em Sinop. A operação era feita com muita dificuldade, pois havia contratos de exportação e a filial fornecia matéria-prima para a produção de compensado na matriz. Em Sinop, só se fazia lâmina. O proprietário, às vezes, viajava até o Nortão apenas para assinar grandes contratos com fornecedores de tora de madeira para a produção de lâmina. Depois, ia embora.
Por influência de sua esposa, Carlos começou a perceber que a empresa não teria muito futuro. Foi então que José Carlos Pasa o chama para trabalhar com ele em sociedade, em um espaço no fundo de sua madeireira, a Pimadel. Nesse momento, ele percebe uma grande oportunidade e precisava apenas arrumar um maquinário para construir sua laminadora no barracão. Então, ele vai até Lapa (PR) e compra o maquinário que serviu para iniciar a parceria. Pasinha, como também era conhecido o amigo, arrumou-lhe dois funcionários para montar a empresa.
Carlos, assim, entra no mercado, vendendo lâmina para empresas que faziam compensado. Esse tipo de matéria-prima era bastante procurado à época. Um dos seus fornecedores era Ulrich Grabert, o Seu Uli, braço direito dos colonizadores Ênio Pipino e João Pedro Moreira de Carvalho. Nesta época, em 1989, Itamir casa-se com sua então namorada, Irene Basinski.
Em 1990, nasce o primeiro filho de Carlos, Matheus. Em dezembro daquele ano, porém, um baque enorme na sua vida pessoal e profissional. O amigo Pasinha passa em sua casa e pede ‘uma força’ na empresa, pois iria passar as festas de fim de ano com a família em Campo Grande (MS). No meio do trajeto, Pasinha sofre um grave acidente. Seu irmão liga desesperado pedindo que Carlos fosse até o local. Chegando lá, Carlos viu o amigo na beira da pista. Pasinha não resistiu e faleceu. A sociedade era dividida em 4 partes. Carlos tinha 25% da empresa. Após perder o amigo, chegou a manter a sociedade com Marcelo Pasa, um dos irmãos de José Carlos e ficaram juntos por um ano.
Foi então que Carlos recebeu uma ligação do irmão Itamir, ainda funcionário da filial da Indústria Mehl Florestal da Amazônia, em Cláudia, comentando sobre uma oportunidade. Carlos não estava feliz, pois acabara de perder seu melhor amigo e tinha de se acostumar com outro sócio. Após seis meses, Carlos toma a decisão de iniciar a parceria com o irmão.
A oportunidade era comprar a laminadora de Flávio Barden, um gaúcho de Venâncio Aires que venderia a madeireira em troca de produção. Na época, Itamir não tinha experiência com vendas, mas sabia produzir. Então, convidou o irmão para a parte comercial. Carlos topou. Então, eles pediram ajuda a um amigo, Milton Pelicano, que buscou o contato de José Carlos Haas (amigo de Flávio Barden no Sul), para que este intercedesse junto a Barden, prometendo o pagamento, caso os irmãos Trombetta não conseguissem honrar o compromisso. Com essa garantia, o empresário gaúcho rapidamente aceitou. Assim como a maioria dos madeireiros da época, ele possuía uma fábrica de compensado no Sul e uma laminadora no Mato Grosso.
Assim, em 1990, surge a Laminados FB, já com uma carteira de clientes e um estoque grande de madeira. Nessa época, Carlos, com pouco tempo de casado e filho pequeno, ia para Cláudia duas vezes por semana. “Eu destruía um carro a cada dois anos nessa estrada”, brinca.
Quando surgiu o Plano Collor, quase ninguém contava com matéria-prima na região. Carlos era um dos poucos que tinha estoque de tora de madeira. Por isso, fornecia madeira e fazia contatos, o que gerava credibilidade. Os compradores sabiam que podiam confiar. Como recebia antecipado em Sinop, Carlos também costumava pagar seus fornecedores de forma antecipada.
Itamir lembra de um fornecedor de Clevelândia (PR), chamado Laercio Pupo Paz. Em 1992, esse fornecedor comprava as lâminas dos irmãos Trombetta e chegava com talões de cheque para pagar duas cargas de lâmina de uma só vez. Até que um dia, foi sincero com eles: “Vocês estão ‘matando boi, ficando com a costela e mandando só os filés’ pra mim lá no Sul. Por que vocês não montam uma fábrica aqui?”, sugeriu.
Interessado, Carlos disse a Laercio que desejava comprar uma fábrica de compensados. Então, ele chamou os irmãos para visitarem Clevelândia para entenderem o funcionamento do negócio. De lá, os irmãos viajaram a Porto Vitória (PR) para observar um maquinário. Compraram a fábrica, desmontaram todo o maquinário e trouxeram para o Mato Grosso. Investimento alto. Então, ao invés de produzir apenas lâminas, os irmãos pegavam a mescla e começavam a fazer o compensado de madeira. Importavam trigo e cola de fora, juntavam com a lâmina que já era feita aqui e carregavam os caminhões.
Em 1992, então, surge a Compensados Trombetta. Foram comprados cerca de 500 metros cúbicos de madeirite, que custava o equivalente a R$ 900 mil. Nessa época, passaram de 30 para 150 funcionários dentro da empresa.
Mais focado na parte da produção, Itamir lembra de viajar bastante no início da Compensados Trombetta. “A fábrica nos obrigou a viajar muito para visitar clientes, fazer controle de qualidade, etc”, conta.
No início da nova empresa, eles verificaram que precisavam contratar, pelo menos, mais quatro pessoas. Um dos funcionários, Seu Alfredo, se ofereceu para ir até Peixoto de Azevedo trazer alguns amigos. Uma semana depois, porém, ele voltou com 40 pessoas em cima de um ‘pau de arara’. O que fazer com esse tanto de gente pra trabalhar? Então, surge a ideia de manter a empresa aberta por 24 horas. “Aprendemos tudo isso no chão de fábrica. Tudo começa na nossa preparação mental que veio de um auditor que vinha de Curitiba, da antiga empresa que a gente trabalhava”, explica Carlos. Ele falou de Ralph Carl Brandes, um homem com vasta experiência em grandes grupos empresariais. Devido à amizade desde os tempos da Mehl Florestal da Amazônia, Ralph foi contratado para auditar a empresa dos irmãos em Cláudia.
Em 1993, a empresa compra o primeiro caminhão, um Scania. Mas, o primeiro motorista contratado não ficou por muito tempo. Foi quando um menino de 19 anos chamado Adriano, o Menor, que operava empilhadeiras dentro da fábrica, havia dito ter o sonho de ser caminhoneiro. Itamir e Carlos resolvem dar-lhe uma oportunidade: levar 18 entregas de compensado até o Espírito Santo. Após três semanas, ele voltou. Com ele, de carona, veio junto o representante dos Trombetta naquele estado, Edmar Schimidt Berger, para conhece-los.
Arrojados e destemidos, Itamir e Carlos aproveitam mais uma oportunidade e compram uma fazenda em Sinop. A primeira matrícula era da Serraria Atonani e contava com 860 alqueires.
Com o aumento do número de funcionários, a empresa também já tinha um ônibus para transportá-los. E é nele que justamente acontece a maior tragédia da família. Era fim de tarde de um domingo qualquer. Antônio, Ângela e uma sobrinha voltavam da casa de um dos filhos. Eles moravam na cidade e estavam naquele ônibus que transportava funcionários. Na volta, o veículo bate na traseira de um caminhão carregado de toras. Uma delas atravessa o ônibus e acerta Ângela, que fica hospitalizada por 10 dias. A mãe dos Trombetta não resistiu.
Algum tempo após o trauma, já em 1994, Carlos e Itamir abrem filiais de laminadoras em União do Sul e Marcelândia para a produção de mais matérias-primas. Um ano depois, ao passar pela BR-163, Itamir viu um terreno com placa “vende-se”, onde ficava a antiga Madeireira Triângulo. No dia seguinte, decidiu que queria compra-lo e telefona para o proprietário, que residia em Curitiba. Pagou R$ 180 mil, valor dividido em 10 parcelas iguais. Ali, os irmãos decidiram montar outra empresa de compensados, com maquinário novo, de qualidade.
Em homenagem à falecida mãe, nominaram a empresa de Sinop de Compensados Ângela. Na época, a maioria dos clientes era do Sudeste. “Os clientes estavam em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, Espírito Santo e em São Paulo. A gente carregava duas carretas de compensados por dia, uma em Sinop e outra em Cláudia, de segunda a sexta-feira”, afirma Itamir.
Entretanto, uma crise no setor madeireiro faz os irmãos abandonarem o mercado interno. Ao todo, foram 15 anos até focar na exportação. Naquele período, a empresa já contava com mais de 400 funcionários. “Começamos a ter problemas de vendas com essa crise, pois tínhamos um volume alto. Nesse momento, decidimos mudar para a exportação”, diz Itamir. Carlos crê que a mudança para o mercado externo foi uma questão de necessidade. “O Brasil é cíclico, oscila muito, então passou por um período que demandou necessidade de olharmos para o mercado externo. A gente já estava bem estruturado. Em um intervalo de cinco a seis anos, houve um crescimento muito grande na empresa, triplicando o faturamento”, explica Carlos.
O mercado externo começou a ser prospectado através de amigos que já exportavam e de representantes comerciais, que ganhavam um percentual sobre o faturamento. Para fazer as viagens, os irmãos dependiam de um tradutor. “Os termos técnicos em inglês eram difíceis. Mas, é claro que com o passar dos anos, você vai pegando quando tem alguma conversa meio errada. Mas era preciso confiar no seu agente”, lembra Carlos.
A primeira viagem internacional ocorre em 1997, para Düsseldorf, na Alemanha, junto com o SEBRAE. O principal cliente era o belga André Belimer, que distribuía por toda a Europa. Em termos de volume, a Compensados Ângela se torna a maior exportadora de compensados da região norte do Mato Grosso. Eram duas fábricas, ambas sendo tocadas durante 24 horas. Entre 1999 e 2003, o auge da empresa. A frota chega a 30 caminhões. “Foi quando começamos a exportar com as duas fábricas, além de Matupá. Chegamos a ter 1,1 mil funcionários”, relembra Itamir.
Para a operação de venda ao exterior, a empresa precisava obter certificados. “Já tínhamos o CE (Certificado Europeu) e tínhamos toda a cadeia de produção certificada. Eu via que precisávamos certificar a floresta, que seria o nosso próximo passo”, explica Carlos. Naquele momento, foi identificada a necessidade de comprar grandes áreas para participar do Selo Verde, certificação que auxilia exportadores brasileiros a comprovar o cumprimento de normas, padrões e regulamentos ambientais dos principais mercados internacionais.
Então, os irmãos compraram vários hectares de áreas no Pará, pois pensavam que se perpetuariam no mercado de madeira. Em 2000, foi levantado o primeiro projeto de manejo, de mil hectares, na cidade de Miritituba (PA), em uma área de 45 mil hectares. “Se tivesse aprovado e perpetuado isso, teríamos migrado a fábrica de Sinop pra lá, porque seríamos mais competitivos, já que estaríamos ao lado do porto e da floresta”, disse Itamir.
Naquele ano, a Expand Empreendimentos, fundada em 1986 em Maringá (PR), migra para Sinop. Fundador da Expand, o engenheiro Carlos Honorato, ao lado do sócio Antônio Donadon, chega à cidade para concluir o acabamento do primeiro edifício da cidade, o Jacarandás.
Após dois anos, a situação da madeira começa a piorar. Carlos estava em um porto em Dublin, na Irlanda. Lá, ele viu que os produtos chineses chegavam de US$ 60 a US$ 100 mais baratos do que os produtos vindos do Brasil, por metro cúbico. Diante dessa situação, os irmãos Trombetta já sabiam que precisariam fechar a empresa.
Na época, havia a preocupação de uma demissão em massa. O compensado estava fadado a acabar como operação financeira devido à dura concorrência com os chineses. Com isso, os irmãos Trombetta passam a diversificar os negócios. Para fugir da linha de embate com a China, importam novas máquinas para produzir um produto diferenciado, o compensado de filmado. Itamir conta que eles vendiam o novo produto na Europa com garantia de 30 anos.
Neste contexto de diversificação, Carlos e Itamir decidiram comprar a Recapadora de Pneus Sinop. Também aceleram o plantio da soja na Fazenda Dona Ângela. A princípio, o investimento estava sendo feito na pecuária. Mas, após uma praga, Itamir vendeu todo o gado e começou o plantio de arroz.
Em busca de mais diversificação, Carlos conversou um dia com seu amigo Silvão do Painel, que lhe propôs outro negócio. Os proprietários da Expand Empreendimentos de Sinop estavam vendendo ações da empresa. Foi então que eles, junto de Itamir, decidiram pela compra da ação social de 93% da empresa de Honorato e Donadon. O restante (7%) foi mantido pelos antigos donos que, neste acordo, continuariam na gestão do negócio.
A Expand tinha know-how no mercado de construção e verticalização em Maringá, processo ainda embrionário em Sinop. O Edifício Vitória, localizado na Avenida dos Tarumãs, foi o primeiro projeto vertical após a chegada dos Trombetta como acionistas da Expand. Concluído em 2005, conta com nove andares e 28 apartamentos.
Mas em 2005, a sensação era de que Sinop iria acabar devido à crise madeireira. À época, todos os empresários da região estavam apavorados. Destemidos, os irmãos Trombetta começam a investir no segmento de recapagem com a abertura de mais filiais em duas capitais: Goiânia (GO) e Fortaleza (CE).
A construção do Edifício Porto Seguro, com 42 apartamentos e nove andares, foi o próximo projeto da Expand. As obras iniciaram em 2006 e seriam concluídas em 2011. Depois, vieram as construções do Residencial Ilha Bella e do Araucária, ambos com 10 sobrados cada. Nessa época, foram abertas mais duas filiais da Expand na região. A primeira, em Lucas do Rio Verde. Em seguida, em Sorriso.
Devido à crise no mercado madeireiro, a Compensados Ângela encerra suas atividades em Sinop, em 2007. Havia mais de mil funcionários em 5 cidades. Em seguida, foram também fechadas as unidades de União do Sul, Marcelândia, Matupá e, por último, Cláudia.
Se por um lado as madeireiras fechavam, por outro a Expand crescia. Em 2011, o projeto era a construção do Condomínio Residencial Ilhas Gregas, que seria entregue em 2016. Era um prédio de 19 andares, com 34 unidades.
Em 2014, Itamir Trombetta passa a fazer parte da gestão da Expand Empreendimentos. O primeiro projeto era do Edifício Copacabana, que seria concluído cinco anos depois, com nove andares e 28 apartamentos. Nessa época, Carlos não acompanhava o operacional, mas seguia acompanhando a gestão. Não era uma responsabilidade direta. Antes de Itamir assumir a gestão, a Expand era uma empresa com uma visão diferente. Um prédio era feito, em média, a cada cinco anos. A partir de então, o enfoque muda, diversificando produtos da construção, abrindo o leque para a construção de residências de alto padrão.
Em 2015, Carlos e Itamir deixam de plantar na fazenda e a arrendam. Já as outras propriedades, de Santa Carmem, Cláudia e União Sul são vendidas, exceto a do Pará. No Pará, os irmãos chegaram a ter 120 mil hectares de floresta. Atualmente, ainda há uma propriedade de 45 mil hectares, mas dessa área, 43 mil hectares viraram reserva florestal.
Por decisão conjunta, Carlos e Itamir decidem separar a sociedade das empresas em 2016, exceto as terras. Carlos fica com a administração da recapadora de Sinop, enquanto Itamir fica com a de Fortaleza. A filial de Goiânia, por sua vez, foi vendida. Em 2017, Rafaela Trombetta, filha de Itamir, já formada em Engenharia de Produção e recém finalizado o MBA de Gestão Empresarial, volta para Sinop e vai trabalhar com o pai na Expand, juntamente com seu esposo Anderson Araújo Watanabe, formado em Engenharia Civil.
Presente de Deus
Em 2019, 1.110 hectares da Fazenda Dona Ângela foram alagados, por cima de uma área adquirida desde a primeira matrícula. “Quando alagou, eu fui lá andar de barco e me deparei com a beleza do lugar. Eu considero que foi um presente de Deus por causa da quantidade de água que tem lá”, disse Itamir.
Com a experiência imobiliária pelos anos como acionista e gestor da Expand, Itamir visualizou um grande projeto para a construção de um resort. Ele conversou com o irmão Carlos e iniciou a procura por parceiros para o negócio. Só dois anos depois, decidiram colocá-lo no papel. Carlos admite ter se convencido do novo negócio a partir do uso do Master Plan, ferramenta de planejamento físico-espacial de uma área que dá orientações para a realização de projetos. “Isso me convenceu a arregaçar as mangas e acreditar no sonho do meu irmão. Foi crescendo à medida em que foi chegando mais informação e conhecimento. Até chegar ao modelo de hoje, muita coisa passou: viagens, pesquisa e busca de parceiros”, comenta.
Em 2021, os antigos parceiros de negócios voltam a se unir para a construção do Complexo Náutico Residencial Oásis da Amazônia. A propriedade rural era de 5 mil hectares. Deste espaço, foram desmembrados 260 hectares para a construção do empreendimento. O local contará com pista de pouso, homologada pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), Iate Clube, praia exclusiva e área de lazer disponibilizada pelo resort. A área envolta em 1,5 mil hectares de floresta e tudo foi pensado diante de um cuidado muito especial com a natureza, possui cerca de 7.500 metros de orla margeados literalmente pela floresta amazônica.
Paralela ao Oásis, a Expand Empreendimentos segue com outros projetos. Em 2021, foram concluídas as obras no Edifício Angra dos Reis, de 21 andares e 72 apartamentos. No mesmo ano, é iniciada a construção do Residencial Porto Belo, com configuração semelhante ao Angra e previsão de entrega para o final de 2026. O próximo lançamento “Van Gogh: Mansões Elevadas”, traz um conceito inovador para Sinop, um projeto arrojado de duas torres, um apartamento por andar, com piscina privativa. Mostrando novamente o perfil inovador da Expand para o mercado imobiliário de Sinop.
Na fazenda, os irmãos começaram com a pecuária. Depois, passaram para a agricultura, através do arroz e da soja, e aos poucos foram comprando mais áreas ao redor. “Assim como os outros negócios, a fazenda também veio crescendo. Não queria que ela se transformasse em mais uma chácara na beira de rio. Já estávamos com a vida mais ou menos resolvida, mas era uma oportunidade de trazer lazer, disseminar isso para mais gente poder usufruir, entregar turismo para as famílias da região. É isso que move a gente no negócio”, explica Carlos.
Seguindo a mesma linha do irmão, Itamir ressalta a preocupação que sempre tiveram com a região, e não apenas com Sinop. “Por termos tido a chance de estarmos em várias cidades, isso nos mostrou que não adianta sermos algo aqui e as outras (cidades) ficarem para trás”, assegura.
Mas Carlos acredita que o complexo náutico residencial não apenas tem um potencial de atrair moradores da região, como também de outras partes do Brasil e até do mundo. “Tem a parte de pesca, que é um atrativo e um condomínio de luxo. O grande diferencial é a bandeira internacional de resort, com a pegada da Amazônia, com todo esse potencial da região pra ser explorado. Não tínhamos oportunidades de lazer aqui. O negócio tomou uma outra proporção. Passou de um negócio nacional para internacional, porque haverá intercâmbio com gente do mundo inteiro aqui”, reitera.
Sobre a rápida expansão de Sinop, eles acreditam que isso se deve ao empreendedorismo e à força de trabalho do povo sinopense, independentemente do Poder Público. “O grande diferencial da nossa região são as pessoas. O que faz a diferença são os empresários, a força do nosso povo e a coragem. Juntou muita gente com a mesma gana, de querer melhorar, progredir. Isso vem um pouco dessa descendência de imigração italiana e alemã”, opina Carlos.
Na opinião dos irmãos Trombetta, a busca por lazer na região de Sinop ficou mais evidente após a pandemia. Segundo Carlos, as pessoas sentiram a necessidade de estarem mais próximas da família, de valorizarem o conforto. “A necessidade de ter mais convívio com a família. O conceito era de as pessoas irem para as praias de Santa Catarina. Mas, elas vão envelhecendo e o patrimônio fica parado. A pandemia aflorou esse sentimento nas pessoas de que precisa ter o lazer. Eu mesmo sou um deles”, admite.
O Oásis da Amazônia tem uma estrutura de 4,9 mil metros quadrados de área molhada. Possui quatro condomínios, todos com obras em andamento. O primeiro deles é o Uatumã, onde terá toda a infraestrutura de piscinas e área para grandes shows e festas. A entrega está prevista para 2025, quando será iniciada a construção das casas. A primeira etapa de vendas, de 200 unidades, foi atingida no final de 2023. Ao lado, estará o Iate Clube e o Hotel Resort. “O perfil do cliente no Uatumã é daquele que possui um equipamento náutico e estará abrigado dentro do Iate Clube. Mas, ele pode não ter esses equipamentos e querer usufruir do restaurante, usar a estrutura. Ou seja, pode ser associado do Iate Clube, mas não precisa necessariamente estar no Condomínio Uatumã”, elucida Carlos.
A parte de hotelaria será entregue em um segundo momento, após dois anos. As torres serão utilizadas para hospedagem, entre os condomínios Uatumã e Iate Clube, que foi lançado recentemente, no mês de julho, com a segunda parte das vendas, de 234 unidades. Em dez anos, todo o complexo estará pronto. A expectativa é de que 80% dos clientes sejam da região de Sinop, de cidades como Cláudia, Colíder, Alta Floresta, Sorriso, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum e Novo Progresso. Já os outros 20% viriam de outras regiões, que teriam como um dos grandes atrativos a pesca esportiva.
Além do Oásis da Amazônia, atualmente, a Expand constrói casas de R$ 340 mil, sobrados de até R$ 900 mil, apartamentos de R$ 2,5 milhões. São os chamados ‘produtos de prateleira’.
Dedicado 100% aos negócios da Expand, Itamir demonstra gratidão pelos ensinamentos do pai Antônio, por tudo o que ele e o irmão Carlos já conquistaram. “O maior patrimônio que ele deixou pra gente foi a coragem de acordar cedo e trabalhar para sobreviver. Precisava de muita coragem para pegar toda a família e colocar dentro de uma kombi para mudar de cidade em busca de um futuro melhor”, frisa.
Carlos faz questão de complementar. “Essas atitudes do meu pai fizeram com que a gente se tornasse, por necessidade, destemidos. Tudo que a gente tem, a base, veio da madeireira, porque foi a oportunidade de nós começarmos. Não existe um processo desses sem dor, emocionalmente e fisicamente, de ter que parar todo o trabalho, fechar empresas e começar de novo. Mas a gente pensou sempre lá na frente”, conclui.
1983
Dr. Milton Malheiros

O HOMEM QUE SE CONSTRUIU PARA RECONSTRUIR
Vendedor de picolé, engraxate, serralheiro, auxiliar de inspeção em frigorífico, açougueiro, vendedor de embutidos e promotor de bailes dançantes. Difícil imaginar que todas essas profissões anteriores estão presentes no currículo pessoal do Dr. Milton Malheiros, um médico otorrinolaringologista, especialista em rinologia, que se tornou referência nacional em cirurgia estética e facial
Milton Malheiros é um sinopense de coração. Conhecido e renomado médico otorrinolaringologista, se especializou em rinoplastia e cirurgia cérvico-facial para ganhar o mundo. Mas quem o conhece pelo seu prestígio na medicina não imagina a trajetória que precede todo esse reconhecimento.
Suas raízes remontam no Paraná. Nascido em 2 de fevereiro de 1970, na cidade de Colorado, considerada a Capital do Rodeio paranaense, morava com a família em uma localidade chamada Água do Sossego, em um sítio no qual o pai era o gerente – capataz, como se chama antigamente. Na propriedade, o cultivo basicamente era de café, cultura que tomava conta de grandes áreas de terra no Paraná naquela década, mas que algum tempo depois foi praticamente extinta, principalmente por causa das fortes geadas.
Milton vem de uma família de 6 filhos – ele é o mais novo dos 4 homens. No sítio em que os Malheiros moravam, não havia energia elétrica, que era compensava com as belíssimas paisagens ao redor, que traziam mais luz à mente do menino do que qualquer outra fonte luminosa artificial. “Pareciam quadros da Disney, com represa, rio, jardim, cafezal e o gado no pasto para tirar leite”. O pai, Paulino da Silva, e a mãe, Francisca Malheiros da Silva, saíram do sítio com os filhos por volta de 1980, quando resolveram se mudar para a cidade.
Os pais eram trabalhadores íntegros, transmitindo isso para a prole. Dona Francisca ainda seria acometida por depressão, doença que limitava algumas de suas tarefas habituais dentro de casa. Mesmo assim, ela sempre se esforçou, dentro das possibilidades, lavando roupa pra fora e contribuindo no sustento da casa e na educação dos filhos. “Anos depois, quando já cursava Medicina, diagnostiquei que ela tinha transtorno bipolar. Descobrir isso para poder trata-la e melhorar sua qualidade de vida... já valeu a pena ter estudado”, emociona-se o médico, ao lembrar que a mãe, hoje acometida pelo Alzheimer, carrega uma correntinha com um desenho de 6 filhos, e não permite que ninguém a tire de seu pescoço.
Na escola rural, era preciso tirar água do poço para beber e juntar estrume de vaca para adubar a horta, cujas frutos serviam para alimentar os próprios alunos na hora da merenda. Um professor em especial marcou a vida de Malheiros. José Carabolante era um verdadeiro construtor de pessoas. “É uma pessoa fantástica que eu visito até hoje”. Zeca, como era conhecido, lecionava para duas séries ao mesmo tempo, na mesma sala. Ele também era o professor de educação física, educação artística, diretor escolar e organizava festas para arrecadar fundos, a fim de promover melhorias na escola. “E sabia ser econômico, tanto gerindo a escola quanto o próprio salário, pois um dia conseguiu comprar um Fusca zero km trabalhando como professor, ou seja, além de inspirar pessoas, era disciplinado”.
Essa conduta inspirou Milton a estudar. Mesmo acometido por panarício (uma inflamação ao redor das unhas das mãos causada por bactérias que estão presentes naturalmente na pele), que atacou as pontas dos dedos, reduzindo as possibilidades de escrever, não faltou um dia sequer às aulas, sendo recompensado pelo professor Zeca. De presente, o aluno aplicado ganhou um estojo completo com lápis de cor, caneta e apontador.
Na casa dos Malheiros, todos precisavam trabalhar para ajudar na renda familiar. O que o pai ganhava como carpinteiro não era suficiente para sustentar tantas bocas. Por isso, com 10 anos de idade, Milton foi vender picolé na rua. Não durou nem 15 dias na atividade, porque logo na primeira semana, quando chegou com o carrinho de sorvetes na praça, levou um “corridão” dos vendedores mais antigos, que já haviam demarcado território. A alternativa foi ser engraxate – com menor concorrência. Com 11 anos, Milton ainda trabalharia mais um ano em uma serralheria – período relativamente curto, mas suficiente para deixar cicatrizes pelo corpo – e depois no armazém de secos e molhados de uma tia.
Os melhores alunos da Escola Estadual Cecília Meireles, onde estudava, conseguiam estágio supervisionado na maior e melhor empresa de Colorado, o Frigomendes. Com 13 anos de idade, Milton é um dos selecionados e passa a integrar a equipe de fiscalização com veterinários responsáveis pelo SIF (Sistema de Inspeção Federal). Ali, começou a conhecer e a estudar patologias. A função de auxiliar médico veterinário era inspecionar o gado e identificar animais condenados. Começou e estudar doenças como esquistossomose, brucelose, entre outras. “Naquele momento, despertou o desejo de ser veterinário”.
Mas o ânimo inicial se desfez quando, 10 meses depois de ingressar no frigorífico, a família decide migrar para o Mato Grosso. A vinda se deu por causa de um irmão de Milton. Sérgio Malheiros trabalhava em uma loja de móveis, e o patrão decidiu abrir uma loja de pneus em Sinop. Na Colorado Pneus, sua função seria a de gerente, o que garantiria remuneração mais interessante em comparação ao que recebia no Paraná – a loja, localizada às margens da rodovia federal (nos arredores onde hoje se encontra a Todimo), depois mudaria o nome para Pimpom Pneus. Por isso, dois anos após sua chegada em solo mato-grossense, o pai decide que todos viriam na esteira de Sérgio. Naquele momento, Milton vem a contragosto, pois sentia que evoluía profissionalmente em sua cidade-natal e também pelas amizades desta fase de vida.
A curta trajetória no Frigomendes despertou o lado médico em Milton Malheiros. Inicialmente veterinário, que mudaria de rumos alguns anos à frente. “Quando me perguntam em que momento eu decidi que queria ser médico, eu respondo que foi nas aulas de patologia com o médico veterinário do frigorífico”, conta Milton, demonstrando o poder do exemplo na vida de uma pessoa.
Malheiros sobe na cabine de um caminhão boiadeiro e atravessa o Rio Paraná em uma balsa. Nos próximos 3 dias, a viagem segue até Cuiabá, de onde Milton seguiria de ônibus para Sinop. Porém, o percurso para a cidade dura quase um dia inteiro. A BR-163 estava em boas condições, mas as paradas, por conta das obras, atrasavam a viagem.
Em dezembro de 1983, Milton Malheiros e sua família chegam a Sinop. A primeira impressão não foi das melhores. O período chuvoso, que transformava a terra em lama, também trazia dias de estiagem, que rapidamente se convertiam em poeirão – além da fumaça gerada pela atividade madeireira.
Na nova morada, precisava trabalhar. Primeiro, participou de um seletivo para uma vaga como estagiário em banco, mas não se adaptou àquela rotina burocrática. Dias depois, ventila-se que há vagas para açougueiro no Frigorificado Santa Cruz, localizado na esquina das ruas Pitangueiras com Primaveras, aos fundos da Panificadora Xingú. Milton já havia trabalhado em frigorífico, mas no setor de inspeção, e não no matadouro. “Eu não sabia nem desossar um boi. Só consideraram o fato de eu ter trabalhado em um frigorífico”, relembra. Logo, a habilidade de bom comunicador lhe rendeu a função de vendedor no balcão. Além da carne, passou a vender embutidos para clientes de outros estabelecimentos, permanecendo no açougue por pouco mais de um ano.
Esse período lhe rendeu um fato inusitado. Certo dia, em 1984, a ordem foi que todos os filés fossem guardados. Os habituais clientes reclamaram, e o motivo era político: tudo estava reservado para a visita do então presidente João Batista Figueiredo, que traria consigo uma comitiva a Sinop. Os tais filés ficaram longe da mesa do sinopense por mais de 2 longos meses. Eram pelo menos 100 quilos de carne reservados para 200 convidados. Milton não participou do “bife do presidente”. “Fui nos bastidores do almoço, fiquei apenas na vontade”, relembra.
Em 1985, Milton se torna bastante atuante em movimentos da igreja católica, sobretudo no grupo de Jovens Unidos em Cristo (JUCRIS), da Igreja Santo Antônio. Por esse envolvimento, foi convidado a trabalhar com vendas para o bispo Dom Henrique Froehlich, pois como era do Grupo de Jovens e amigo da irmã Xaveres (de quem até recebeu uma bela recordação, um presente, após uma viagem da religiosa à Alemanha), conseguiu um emprego na Editora Jornalística São José através de indicações. “Produzíamos o material gráfico da Diocese, como boletins da missa e avisos. Mas as máquinas ficavam a maior parte do tempo paradas. A igreja, então decidiu transformar essa ociosidade em lucro”, explica. Isso desencadeou a revolta de outros gráficos da cidade, que passaram a ventilar o argumento de que “a igreja não podia ser capitalista”. Mesmo com o trabalho comprometido, Milton tinha como principal produto os blocos de nota, necessários para qualquer comércio na era pré-digital.
Sobre o tempo de convivência com Dom Henrique, ele ainda considera que a homilia religiosa feita por ele era um privilégio para quem o ouvia e inclusive para ele próprio foi uma inspiração para a vida toda. Devido à inteligência que possuía, aos livros que lia e principalmente porque era uma pessoa “do povo”, que se misturava com os demais e, portanto, sabia chegar até elas com seus ensinamentos, principalmente espirituais.
Nesta altura do campeonato, Malheiros já tinha comprado um som em sociedade para a realização de eventos, pois quando estava no Grupo de Jovens percebeu que a locação proporcionava bom retorno. Eram muitos os eventos que precisavam contar com aquele equipamento. “Contratávamos o som com um rapaz, daí propus montarmos um som para trabalhar, fazer as festas da igreja, do grêmio da escola, entre outros clientes”. A dupla vai à região da Santa Efigênia, em São Paulo (SP), compra os equipamentos e monta o ‘Canal 1 Sonorizações’, referência à antiga Rádio Antena 1, que tinha como locutor Emílio Surita, hoje apresentador do programa Pânico, na rádio Jovem Pan.
Após um ano e meio, Malheiros decide mergulhar nos estudos. Segue para Cuiabá, onde por dois meses fez cursinho intensivo, pois já pensava agora em seguir carreira na Medicina. Na capital, estudava à noite para concluir o ensino médio na Escola Presidente Médici, e nos períodos da manhã e tarde se aplicava ao cursinho. Mas a ideia fixa era ter um conhecimento sobre a área, para se aplicar no ano seguinte. E apesar de ter tomado a decisão de ir estudar na capital, algumas situações impactaram: o medo de prestar vestibular para Medicina, pois não acreditava que passaria, confessa que teve a ideia de se inscrever inicialmente para Enfermagem, mas por conselho de um amigo, o Etelvino Garcia, desistiu. “Devo isso a ele, pois poderia ter iniciado e permanecido no curso, não retornando ao sonho da Medicina”, relembra ele. Presta vestibular para Medicina apenas para ‘cumprir tabela’. O jeito era continuar a estudar.
Os primeiros passos do Dr. Milton
Alceu, outro irmão de Milton, adquire uma madeireira em Bady Bassit, cidade vizinha a São José do Rio Preto (SP). Era janeiro de 1988, e Milton só tinha reserva suficiente para pagar o cursinho pré-vestibular. Alceu arranjou vale-transporte, hospedagem e alimentação. Mas o negócio não durou muito tempo, e após dois meses a empresa fecha as portas. A convite de um amigo do irmão, Milton vai morar nos fundos de uma marcenaria. Sujeitou-se a tudo isso porque o cursinho já estava pago, e a multa rescisória daria para pagar praticamente um ano todo. “Fiquei lá na marra, mas o cursinho era excelente. Creio que foi o ano em que eu mais cresci culturalmente graças ao elevado padrão dos professores mestres e doutores”.
Para o trajeto da casa até o cursinho, Milton tinha apenas um passe de ônibus diário. Como na ‘descida todo santo ajuda’, preferia ir caminhando. Na volta, o trajeto era feito de transporte coletivo. O subsídio mais ‘gordo’ que ele recebia do pai era para pagar uma pessoa que preparava comida diariamente. “Algo equivalente hoje a R$ 400, era um terço de um salário mínimo da época”.
Inicialmente, Milton começou a estudar na turma da manhã, mas aconselhado por um professor, migra para o período vespertino para melhor aproveitar as aulas. Nesse tempo devorando livros, além da presença no cursinho, eram mais 4 horas de estudo de manhã e 4 à noite, com intervalos de 10 minutos de hora em hora para arejar a mente. Manteve esse ritmo ao longo de todo aquele ano de cursinho.
Outro momento de mudança de mentalidade e comportamento de Malheiros aconteceu quando um professor de química orgânica, dentista de formação, questionou:
- Quando você ganhava nos tempos de açougue?
- Em média, dois salários mínimos.
- Algum dia faltou ao trabalho ou chegou atrasado?
- Não.
- Se para ganhar dois salários mínimos você nunca fez isso, então agora que futuramente pode ter ganhos de até 50 salários, por que você iria faltar ou atrasar para os estudos? Não é pra começar a estudar às 7h10, e sim às 7h. E não é pra terminar às 11h50, e sim às 12h.
“Ele fez minha cabeça com isso. Acho que esse episódio me fez ter ainda mais respeito pela profissão de dentista. Esse cara mudou minha vida”, afirma.
Depois daquele ano dedicado aos estudos em Rio Preto, Milton volta para prestar o vestibular da UFMT, em Cuiabá. Sabia que era sua chance única, porque o vestibular da rede federal era unificado, ou seja, todos eram feitos na mesma data – não haveria possibilidade de fazer mais de um no mesmo dia. Além disso, não havia a opção de não passar na prova. Ele não teria dinheiro para pagar novamente um cursinho, e mesmo que tivesse, jamais conseguiria assumir a mensalidade do curso de Medicina em uma faculdade particular. “Era tiro único, eu só tinha uma bala, mas eu estava convicto que seria aprovado”, revela. “Melhorei minhas colocações nos simulados, especialmente porque concorria com postulantes à USP, Unesp”, completa.
Milton fez a prova em dezembro de 1988, enquanto o resultado seria divulgado somente no mês seguinte. Eram 40 vagas, sendo 20 para a primeira turma. Como não havia telefone em casa, pede emprestado à vizinha e liga na universidade. É informado de que havia sido aprovado na 17ª colocação. “Eu saí gritando em volta do quarteirão, tamanha a felicidade. É um momento que jamais esqueci”. Na oportunidade, Milton estava de férias em Sinop trabalhando de carpinteiro junto com o pai em obras na cidade. As aulas iniciariam em fevereiro de 1989.
Para se manter na capital, Milton precisou conciliar os estudos aos ‘bicos’. Vendeu joias e semi joias vindas de São José do Rio Preto, camisas que a tia fabricava em Rondonópolis (a mesma com que trabalhou no armazém na infância em Colorado Pr.), aferiu pressão arterial num posto de gasolina na avenida do CPA por gorjetas, fez exames de piscina no Clube Sesc, foi estagiário no SESI. Mas a melhor oportunidade de todas foi quando passou no CIAVE (Centro de Informações Antiveneno). “Todo aluno de Medicina queria estagiar no Pronto Socorro, e muita gente ia de graça para aprender algumas técnicas, como suturar, mas tinha este serviço que todo mundo queria, o mais concorrido estágio, que pagava 3 salários mínimos”.
Outro momento marcante: aferir pressão em postos de combustível, para receber gorjetas pela sobrevivência, mas confirmava com isto a nobreza do propósito da profissão escolhida. Ali viu a diferença que os médicos podem fazer na vida das pessoas. Certo dia, detectou pressão alta em uma pessoa e informou a ele que precisaria ir a um cardiologista, evitando um possível infarto. “Um dia essa pessoa retornou lá para me contar o que o médico havia dito para ele: era um barril prestes a explodir, e que eu tinha salvo a vida dele. Até me deu uma gratificação por isso”, relata.
Conforme avançava no curso de Medicina, Milton precisaria decidir pelo menos uma área de especialização. Um dentista, que foi estudar Medicina na mesma turma, se torna referência profissional e inspiração pessoal. Milton já havia deixado o estágio no CIAVE e passou a trabalhar como auxiliar do dentista, especialista em cirurgia bucomaxilofacial, fazendo basicamente aspiração e outros serviços correlatos.
Milton Malheiros se forma em Medicina em 1994, mesmo ano em que conhece e se casa com Renata Martins, uma ex-Miss Sinop anos antes. Ela também estudava em Cuiabá. Em abril de 1995, nasce o primeiro filho do casal, Vinícius Martins Malheiros da Silva. Em fevereiro de 1998 nasce Izabela Malheiros, e em novembro de 2001, Sofia Malheiros. Vinícius seguiu os mesmos passos do avô, Antônio Carlos Martins, apaixonado por aviação. Formou-se em Ciências Aeronáuticas, é professor universitário e também responsável pelo Aeroporto DDA, do empresário Dilceu Dal’Bosco. Izabela é formada em Psicologia e atualmente cursa Medicina, assim como Sofia, que está na fase de internato do curso.
Após o casamento e a vinda do primeiro filho, Milton retoma os estudos. No Instituto Mineiro de Otorrinolaringologia, em Belo Horizonte (MG), foram 3 anos como médico residente e mais 2 anos após o final da sua residência médica. Lá, contou com muitos apoios para viver. Entre os nomes, o médico cita Vanderci Martinelli, primo da ex-prefeita de Sinop, Rosana Martinelli. “Fiquei morando de favor por três meses na casa dele, pois não tinha condições nem para alugar um quarto”, afirma.
Em outro momento, Milton cumpriu “plantões” no Instituto Médico Legal de BH, na realidade ia no IML aos domingos, para estudo anatômico dos seios da face e cavidade nasal nos cadáveres “frescos” por endoscopia, para desenvolver habilidades cirúrgicas nesta sub especialidade. “No meu primeiro plantão, já no Pronto Socorro João XXIII, numa sexta à noite, eu confirmei o que via no IML e entendi o quanto droga e álcool matavam. Num acidente, uma das coisas que quebram primeiro num impacto é o nariz, e aquilo me motivou a ser rinoplasta”. Dois pontos que se destacaram nesse período: trabalhar no Pronto Socorro e dissecação de cadáveres no IML, o que o levou também a fazer, já em Sinop, cirurgias de base de crânio com equipes de neurocirurgiões.
As condições em que os enfermos chegavam eram degradantes. Mais do que apenas estar presente na cena, era preciso prestar os socorros efetivos. Milton cansou de ver pessoas com a face comprometida depois de um acidente, e precisava ser frio o suficiente para que aquilo não o abalasse. Mas esse temperamento acabou se arrastando para a vida pessoal, algo que foi notado por Seu Paulino. “Era uma autodefesa diante de tudo o que eu vivenciava diariamente, há vários anos. Eu possuía habilidades técnicas, mas poucas emocionais. “O sofrimento do passado me fazia ser daquele jeito”. Hoje consegui resgatar isso, vejo detalhes, trato mais a alma do que o físico”.
Milton segue para João Monvelade, distante 100 quilômetros de BH. O objetivo era verdadeiramente começar a colher os frutos de tantos anos de estudo. Monta uma clínica e permanece na pequena cidade por 3 anos, mas retorna à capital mineira. “Acabei voltando a convite do meu antigo chefe da residência para ser coordenador. Tempos depois, ele me ajudou a entrar na USP”. Milton ingressa no mestrado, na área concentração de Otorrinolaringologia (pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, FMRP-USP), em 2001 e sai formado em 2005.
O doutorado era o próximo passo, que ficou muito próximo. Ele conseguira indicação para uma bolsa ‘sanduíche’ em Baltimore, nos Estados Unidos, para atuar no Johns Hopkins Hospital. De forma simplista, um doutorado sanduíche é o nome dado ao programa de doutorado que é parcialmente realizado em outra instituição brasileira ou estrangeira. Para isso, precisaria viajar para a terra do Tio Sam com frequência, se tornando cada vez mais ausente para sua própria família.
Notando esse distanciamento físico e emocional, o então sogro insiste para que voltasse a Sinop e retomasse o bom convívio do matrimônio. Apesar de refletir bastante, a tomada de decisão vem depois do conselho de um amigo, o Dr. Rogério Landi Paulino. “Ele me disse: ‘eu tenho 3 relacionamentos desfeitos, meus filhos nem me reconhecem mais’. E aquilo pesou pra mim”. Em meio a esse turbilhão de pensamentos, recebe a notícia de que o Dr. Rogério tinha infartado e morreu 2 dias depois dessa conversa.
Concluído o mestrado e assustado com o que havia presenciado em Minas Gerais, Milton decide retornar para Sinop em 2005. Nada que fosse suficiente para recuperar o tempo perdido depois de tanta ausência. A busca pela excelência pedia sacrifícios, além da ansiedade e stress, e o divórcio se tornou eminente.
No lado profissional, o requisitado coordenador de residência, com chances reais de um doutorado numa importante universidade americana, se via atendendo novamente em consultórios. O quase quarentão decide dar uma nova cara à própria vida e... cai na gandaia. A meta agora era curtir a vida, mas a timidez ainda era um empecilho para se aproximar das mulheres. Quebrava o gelo misturando whisky com energético. “Eu gostava de vinho, mas essas festas e barzinhos não costumam ter. Fui descobrir depois que era hipersensível a cafeínas e xantinas”.
Logo, o primeiro problema. Voltando de uma festa em Santa Carmem, caiu num valetão na MT-140. O veículo tem perda total. “Ainda bem que não atropelei ninguém, pois poderia estar preso hoje”, narra. Num segundo momento, saiu direto de uma balada para dar alta a uma paciente. Não havia bebido naquele dia, mas o cheiro forte do ambiente estava impregnado nas vestimentas, sendo interpelado pelo pai da paciente, um policial militar. Só não foi demitido por interferências externas. Depois disso, o médico decidiu que ia colocar o pé no freio.
O passo pra trás na carreira o levou a novas possibilidades profissionais. Malheiros, além dos atendimentos como otorrino no Centro Médico de Sinop, resolveu percorrer a região Norte do estado, clinicando e operando em Alta Floresta e clinicando em Guarantã do Norte e Juara pelo menos uma vez por mês em cada cidade, em períodos diferentes, para fortalecer sua marca profissional, alcançar e abençoar mais pessoas e aumentar o faturamento. Mais recentemente firma parceria para estabelecer outras salas de atendimento – além de projetos para instalação de outros serviços paralelos na clínica e futuro hospital Santa Matilde.
O caminho do médico otorrinolaringologista para o rinoplastia internacionalmente reconhecido perpassa por duas cirurgias bem-sucedidas, cujos desdobramentos abriram os olhos do doutor.
O primeiro procedimento era em um conhecido empresário sinopense com adenomas de hipófise (tumores intracranianos que afetam a hipófise, são em sua maioria benignos, mas provocam intensas dores de cabeça). Na segunda cirurgia, realizada no Hospital e Maternidade Jacarandás, outro paciente com tumor naso sinusal complexo. Em ambos os casos, Milton teve o apoio de médicos mais experientes na condução e sucesso das operações. Em ambos os casos, mal houve gratidão por parte dos pacientes, pelo contrário, estresse e cobrança demasiada, pois não era um sonho realizar a cirurgia, e sim eram obrigados. Em compensação, os detalhamentos nasais estéticos pós-cirurgia é que o supervalorizavam.
Milton se habituara a tratar narizes machucados e deformados durante o período de residência em Minas Gerais, e recebia feedbacks positivos quando transformava a autoimagem e autoestima dos pacientes. Fez especialização em Cirurgia Plástica da Face em São Paulo e se profissionalizou ainda mais na subespecialidade de rinologia – rinite, sinusite, pólipo, entre outras enfermidades específicas. Esse nível de especialização o transformou em referência não apenas em Sinop e Mato Grosso, mas também no Centro-Oeste, sendo agora um dos principais nomes da rinoplastia no país.
E isso não se trata de uma opinião, e sim de uma constatação. Os mais renomados profissionais seguiram mais ou menos este caminho: se destacar como cirurgiões em seu estado e, principalmente, em São Paulo (SP), e ser convidados para palestrar nos maiores congressos de sua respectiva área. Somente em 2024, Milton confirma todo esse reconhecimento. Em Mato Grosso, palestrou num congresso da especialidade na UFMT em Cuiabá. Em maio, foi um dos 40 escolhidos para palestrar no 3º Congresso Brasileiro de Rinoplastia, realizado em Belo Horizonte, com a presença dos maiores especialistas do mundo. E em setembro, estava prevista sua participação no Congresso da USP, em São Paulo, onde apresentaria além da aula, uma pesquisa autoral. “Na capital paulista, eu opero a cada dois meses. É também uma excelente maneira de estar próximo das minhas filhas”, se orgulha Milton.
E se tornou uma sumidade no assunto. Operando dentro da maior clínica privada de Sinop, Malheiros acumula em seu currículo, nestes 30 anos de formado, cerca de 11 mil cirurgias no contexto geral. Seu trabalho é procurado por pacientes de todo o país e também do estrangeiro. De cada 100 pessoas que passam por sus mãos, apenas 10 são da cidade. Por conta de profissionais do quilate de Malheiros que a saúde de Sinop se torna a cada dia uma referência para além das divisas do estado.
No plano da qualidade de vida, o médico é um dos idealizadores do Projeto Floresta Urbana, que envolve arborização e investimento em infraestrutura como calçadas ecológicas. A sementinha foi plantada durante um Congresso que participou em São Paulo, no ano de 2010. Naquela época, os inúmeros atendimentos às “ites” (sinusite, rinite, bronquite) chamaram a atenção para a questão climática. Por conta, fez um levantamento que revelou a baixa umidade do ar em Sinop no mês de agosto: 26%. Em uma região de floresta perto dali, a umidade chegava a 74%. A pesquisa foi ampliada, virou artigo e alcançou repercussão.
Fez a seguinte conta: um umidificador utiliza 4,5 litros de água para funcionar durante 12 horas, portanto, 9 litros durante um dia todo. Já uma árvore adulta, no mesmo intervalo de tempo, libera 100 litros de vapor d’água no ar. Equacionando: uma árvore faz o trabalho de 11 umidificadores, o que seria uma solução coletiva. Na época, como membro do Codenorte (Conselho de Desenvolvimento do Norte de Mato Grosso), buscou apoio de empresários locais para desenvolver o projeto. Atualmente, há uma parceria com a Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop, que mantém um viveiro com 3,5 mil mudas, de 25 espécies diferentes.
No âmbito familiar, Dr. Milton retomou gradativamente uma relação de pai mais amável com seus três filhos mais velhos, ao mesmo tempo em que curte a pequena Maria Fernanda, nascida em 17 de dezembro de 2022. Ela é fruto do casamento com Talita Grazieli Malheiros, uma mulher de metas que mudou os rumos da vida do médico. “É agora que estou curtindo a paternidade, pois antes não tinha tempo para isso. Acabei melhorando como ser humano, como pai, em todos os sentidos”.
Toda essa história de vida de um ex-açougueiro, que vendeu embutidos, trabalhou com som e fez “bicos” para sobreviver é um exemplo para quem vê no estudo uma verdadeira oportunidade de crescer na vida. Uma pessoa com poucas condições se dedicou, cursou Medicina em uma universidade federal, fez 11 anos de pós-graduações, aprendeu na teoria e na prática com verdadeiros mestres e hoje é uma referência profissional no segmento médico em nível nacional. Malheiros é gente boa, que faz o seu melhor sem empinar o nariz.
1983
Anésio Gonçalves Nogueira

QUEBRANDO OS PLANOS PARA TER UMA BOA ESPERANÇA
Após forte geada que dizimou os cafezais no Estado do Paraná, Anésio Gonçalves Nogueira, migra para Mato Grosso em busca de um lugar que tivesse plantação de café, nos idos de 1978. A ideia dá certo no começo, mas esbarra nas altas taxas de juros dos planos econômicos do governo então vigente. Aos 47 anos de idade, ele recomeça como caminhoneiro, junta dinheiro para comprar uma chácara e criar vacas leiteiras, mas a cidade, já perto demais, inviabiliza sua atividade. Com seus planos com gado leiteiro, sendo frustrados, o empresário rompe o planejamento de Sinop e acaba criando uma esperança para muitas pessoas terem a sua casa
Ao longo das últimas 3 décadas, muitas pessoas que escolheram Sinop para viver encontraram em uma imobiliária específica, a oportunidade de comprar um terreno menor e mais barato para construir a sua morada. Empreendimentos que, para alguns, foram uma quebra no planejamento urbano da CIDADE, e para muitos, uma boa esperança provida por Anésio Gonçalves Nogueira, o fundador da AGN.
Anésio é o primeiro dos 8 filhos que José Gonçalves e Benedita Nogueira tiveram. Nascido no dia 1º de abril de 1941, no distrito de Campos, município de Italva (RJ).
Em 1956, estimulados pela ocupação do Oeste do Paraná, a família vende suas posses e se munda para Maringá. Anésio, na época com 15 anos, trabalhava com o pai e começava a fazer seus pequenos negócios. Uma das primeiras atividades foi como comerciante ambulante, comprando pães em uma padaria local e revendendo pela cidade e interior. Depois, começa fazer o mesmo com galinhas, comprando as aves de sitiantes e revendendo na cidade.
No ano de 1962 ele se casa com Selina de Moura Nogueira, que era filha de sitiantes no Paraná. O casal teve 6 filhos: Suely, Célia, Levy, Marlene, Daniel e Marly. Com uma família grande, Anésio circula pelo Paraná sempre em busca de uma melhor condição.
Em 1966, o casal se muda para Icaraíma, no Noroeste do estado. Por volta de 1970, Anésio inicia no mercado do café. Por estar em uma região com muitos cafeicultores, ele monta uma estrutura de beneficiamento, comprava o grão rústico, beneficiava e vendia para indústrias que faziam o processamento a partir dessa etapa.
Seguindo o melhor movimento do comércio, 9 anos depois, em 1975, a família se muda para Assis Chateaubriand (PR), onde passa mais dois anos e muda-se para Carajá (PR), em 1974.
No ano de 1975, uma forte geada dizimou praticamente todas as plantações de café do Paraná. Os pés adultos foram simplesmente cortados. Estima-se que a intempérie tenha causado o êxodo de 2 milhões de pessoas, que do dia para noite tiveram que encontrar outra atividade que não fosse relacionada à produção de café.
No ano de 1977, o empresário fez uma nova migração, dessa vez para Jesuítas (PR), uma das 4 cidades abertas pela Colonizadora Sinop, no começo da década de 60. Sua situação financeira não era ruim. Nos anos anteriores ele havia crescido de forma sólida, construiu um patrimônio e se mantinha trabalhando sem esbanjar. No entanto, o poder dizimador do tempo, impossível de ser controlado, era uma ameaça evidente que poderia se repetir. “No Mato Grosso estão plantando café e não dá geada”, disse João Ribeiro, um amigo de Anésio.
A frase instigou o empresário. O amigo falava de uma cidade que havia sido aberta pela mesma empresa que fundou Jesuítas e que tinha terras em abundância, com preços bem menores que os do Paraná. Em 1978, Anésio, João Ribeiro e mais 4 amigos embarcaram em uma F-4000 em direção ao Norte de Mato Grosso. A viagem durou quase 3 meses. O grupo percorreu diferentes cidades, avaliou áreas de terra e observou a dinâmica da economia local – pelo menos o que dava para se ver. Nessa época, Sinop tinha cerca de 500 serrarias instaladas. Era um campo aberto de extração de madeira que abastecia o Sul e o Sudeste do país. Tudo com o aval do extinto IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal), que incentivava a derrubada da floresta para formar áreas de lavoura e pastagem.
A fumaça das queimadas, o pó de serra e o pó da terra não assustaram Anésio. Ele acreditava que poderia colocar ainda mais pó nessa economia: o pó que desperta. Nesses primeiros anos de Sinop, a Colonizadora Sinop mantinha lavouras experimentais com enormes pés de café e até um viveiro de mudas onde atualmente é o Ginásio Olímpico, que provavelmente era o local mais bonito da cidade na época. Todo o esforço era para convencer os cafeicultores flagelados pelo frio a comprarem terras e plantar café no calor de Mato Grosso. Para Anésio era o cenário perfeito, pois seria a garantia de muitos grãos para beneficiar e negociar. E de fato, muita gente apostou na cultura no começo de Sinop.
Em 1979, Anésio compra um terreno de 500 metros quadrados na cidade de Santa Carmem – também aberta pela Colonizadora. No mesmo ano, ele e a esposa vêm para Mato Grosso, junto com 5 funcionários e os maquinários para instalar a indústria. O beneficiamento é montado e preparado para processar café. Surgia então o “Café Nogueira”. Os filhos ficaram no Paraná, sendo cuidados pelos mais velhos e pela “Vó Vindilina”, sogra de Anésio. “Eles ficavam um mês em Sinop, e quando precisavam fazer uma ligação telefônica, deslocavam-se até Cuiabá a capital do Estado.
Após um ano de trabalho e a percepção de que o local iria prosperar, a família toda se muda para Mato Grosso. Em 1980, os filhos se instalam na casa construída junto ao beneficiamento. Anésio escolheu Santa Carmem porque não concorria diretamente com a Cooperativa Celeste que, também, comprava café.
Em 1982, a família compra um terreno em Sinop e muda o beneficiamento para cidade. Nessa época, o Café Nogueira produzia cerca de 120 sacas por mês do grão limpo, mas não torrados. A produção era comercializada majoritariamente em Londrina (PR), Guarulhos (SP) e Santos (SP). O café era o “ouro” do campo, tendo o papel na economia do Brasil que hoje é ocupado pela soja.
Quando traz o beneficiamento de café para Sinop, Anésio agrega o beneficiamento de arroz junto as suas atividades. As máquinas descascavam o grão, produzindo o arroz branco polido, que era vendido em pacotes de 5 quilos para o Mercado Machado e outros 10 mercados menores da região.
O negócio prosperava e Anésio buscava formas de melhorar sua atividade. Em 1986, agrega- se a torrefação de café, moendo e empacotando o grão que agora passava a ser vendido pronto para o consumo. Nas prateleiras dos supermercados locais era possível encontrar o Café Nogueira, plantado, colhido, limpo, torrado e moído em Sinop.
Mas, então, veio a crise de 1987, que atingiu a indústria madeireira, mas não deixou ileso quem atuava em outras atividades. Anésio havia contraído empréstimos para melhorar seu beneficiamento, e com os planos econômicos desastrosos do período, se viu soterrado por dívidas que dobravam de tamanho rapidamente em razão da alta taxa de juros. Chegou em um momento que ele não conseguia mais fazer o giro do seu negócio. Entre o ato de comprar o café e vender, todo o lucro desaparecia.
Em 1988, Anésio vendeu todas as suas posses para quitar as dívidas, lhe restou um veículo Belina.
Anésio, aos 47 anos de idade, recomeçava sua vida, agora como caminhoneiro. O empresário, agora sem empresa, faz fretes de madeira, mudanças e outros produtos, dentro e fora do Estado e passando muito tempo na estrada para conseguir virar a chave.
Após 5 anos fazendo fretes, Anésio junta dinheiro suficiente para comprar uma chácara, próximo da cidade, e algumas vacas para ter uma atividade que o deixe menos tempo longe de casa. Anésio tratava dos animais, tirava o leite fresco e vendia pela cidade. As coisas iam bem, se não fosse pelo lixo.
A chácara comprada por Anésio ficava fora do projeto urbano desenhado pela Colonizadora para a Cidade de Sinop. Especificamente na borda da cidade, com sua frente voltada para antiga Estrada Sílvia, atual Avenida André Maggi, que em 1992 sequer havia sido aberta. Era apenas uma dessas estradas que levam para a área rural. Mas com o crescimento de Sinop, logo a cidade já estava em cima da chácara. Até que chegou um momento em que, quase todos os dias, alguém jogava lixo no pasto. Lixo de todo tipo, incluindo até móveis velhos. Anésio ficava furioso com a situação. Depois de limpar várias vezes, colocar placas e fazer queixas na Prefeitura, ele desiste de manter o pasto. Anésio vende as vacas e doa a cerca para quem estivesse disposto a arrancá-la.
Já que a cidade estava em cima da sua chácara, era hora de mudar o propósito daquela terra. Com uma trena grande e estacas, Anésio, seu filho Levy e o topografo José Alves Ferreira (in memoriam) demarcaram 12 hectares da ponta mais urbana da chácara, marcando uma rua principal e as ruas paralelas, formando assim 790 lotes. Em 1993, a documentação foi enviada para a Prefeitura de Sinop, que registrou o loteamento. Surgia assim o Jardim Campo Verde – que anos depois seria rebatizado como Jardim Boa Esperança.
Foi um dos primeiros loteamentos fora do plano da Colonizadora Sinop. O empreendimento dos Nogueira oferecia lotes pequenos, mais baratos, para uma população com menor poder aquisitivo. Para negociar os imóveis, Anésio abriu a AGN Imobiliária, nome que deriva das suas iniciais. Os lotes eram vendidos em 36 meses e a parcela era de 4.639.800,00 Cruzeiros – parece muito dinheiro, mas esse era o valor de um salário-mínimo em 1993, que na conversão para o Real, em março de 1994, passou a ser R$ 65,00.
Em menos de um ano todos os lotes do Campo Verde foram vendidos. A AGN abriu as ruas, cascalhou, e instalou a rede elétrica. Essas eram as obrigações para novos loteadores na época. A exigência do asfalto só aparece 8 anos depois, em 2001.
Mas a AGN fez coisas além do exigido. Como a Prefeitura não fazia coleta de lixo no bairro, Anésio comprou uma C-10 para coletar o resíduo dos moradores. Ele também colocava um caminhão-pipa para molhar as ruas na época da seca.
Depois do primeiro loteamento, Anésio foi replicando a fórmula. Ele compra chácaras e no momento oportuno converte em loteamento.
Ao longo do tempo abriu o Jardim São Paulo II, Comunidade Campo Verde, Comunidade Betel, Jardim Novo Estado, Novo Jardim, Jardim Caribe, Jardim Maria Vindilina I, II e III – esse em homenagem à sogra que cuidou dos filhos quando veio para Mato Grosso, Jardim Ipiranga, Residencial Lisboa, Bom Jardim, Jardim Califórnia, Jardim Umuarama I e II, Jardim América, Residencial Brasília, Jardim Itália I, II e III, Jardim Boa Vista, e no grande São Cristóvão, a AGN abriu duas quadras no bairro com o mesmo nome. Por todos os cantos da cidade é possível esbarrar com um bairro aberto pela imobiliária de Anésio.
Em pouco mais de 3 décadas a empresa abriu 26 loteamentos. O mais recente deles é o Primor das Águias, ao longo da Estrada Cláudia, com 189 lotes. O empreendimento foi concluído em novembro de 2023.
“Seu Anésio é um homem muito visionário. O símbolo da águia na logomarca da AGN não é por acaso. Ele tem capacidade de ver muito longe, saber quando uma área tem potencial para cada tipo de negócio e o que deve ser feito, quando é hora de comprar e quando é de vender”, comenta seu filho Daniel Nogueira.
No ano de 2019, Selina de Moura Nogueira, esposa de Anésio e sua parceira de vida, é acometida por um câncer que acaba levando à morte. O empresário vai se afastando aos poucos da empresa, até que no ano de 2022 ele passa a condução para os filhos Daniel e Levy, que juntamente com suas irmãs fazem parte do quadro societário da empresa. Anésio ainda é procurado pelos filhos a cada novo negócio, emprestando sua visão e sabedoria para a segunda geração frente à empresa.
Daniel e Levy mantém a AGN na rota que seu pai deixou. A estratégia continua sendo a de comprar bons imóveis e transformá-los em empreendimentos imobiliários. Em 2024, a empresa conta com 9 chácaras, no eixo da Estrada Adalgisa, que tem potencial para virar um bairro com 2 mil lotes. A AGN ainda tem terras na região da Avenida André Maggi, onde começou o seu negócio, que deverá virar um residencial de 400 lotes em 2025. Entre os negócios futuros projetados pelos sucessores estão a construção de 3 torres, com 10 andares cada, próximas ao Shopping da cidade, onde possui áreas.
Aos 84 anos de idade, Anésio continua vivendo em Sinop e diz se sentir como se tivesse nascido na cidade. Todos os seus filhos moram em Sinop, dando a ele a proximidade com seus 13 netos e 16 bisnetos.
Anésio é um homem silencioso, de fala e comportamento contidos, despido de vaidades. Atualmente, alterna seu tempo entre ficar em casa e ir à igreja, com esporádicas visitas ao escritório da empresa. Muito religioso, Anésio construiu e doou templos para igrejas em boa parte dos bairros que abriu. Mas esse é um feito que poucas pessoas sabem, porque Anésio evita falar.
Muito embora tenha vindo para Sinop com o propósito de industrializar o café, foi no setor imobiliário que Anésio conseguiu dar a força para muita gente trabalhar. Uma xícara da bebida quente ajuda a despertar, mas não há motivação maior do que erguer a própria casa. Para muitos sinopenses, o lote pequeno, no bairro mais afastado, sem tanto glamour, foi a oportunidade de ter um lugar seu para viver. Uma esperança que teria se perdido se a expansão de Sinop seguisse apenas o seu curso planejado.
1983
CDL Sinop

A ENTIDADE QUE IMPULSIONA A ECONOMIA DE SINOP
Em 1983, comerciantes se uniram em busca de uma alternativa que atuasse na defesa dos interesses comuns da classe, proporcionando um clima de cooperação e troca de informações, garantindo segurança nas relações comerciais. Assim, nasce a CDL Sinop, que focou no crescimento coletivo de uma cidade com economia diversificada e pujante
No início da década de 1980, Sinop já existia como cidade, fundada e emancipada. Presenciava a chegada de centenas de famílias em busca do sonho de prosperar e se destacava em diversos segmentos, especialmente na indústria madeireira. Enquanto isso, os comerciantes ainda não tinham uma entidade na retaguarda para lhes garantir segurança na hora de vender.
Nessa época, pouco mais de 100 casas comerciais funcionavam na cidade, mas havia a necessidade de uma remodelagem no sistema de crédito, considerado precário. As vendas a prazo eram feitas na base da confiança e da caderneta, sem a certeza de que a dívida seria paga. Obviamente, muitos lojistas sofreram prejuízos nesse formato de crediário. Algo precisava ser feito.
Neste ínterim, surge a ideia da fundação de uma entidade representativa, que fizesse a economia da cidade respirar esperança. Muitos dos comerciantes locais já haviam participado de entidades de classe em Cuiabá, e agora era a hora de se mobilizar por Sinop. Tal mobilização para captar empresas interessadas em fazer parte do quadro associativo partiu de profissionais comprometidos com as causas das quais se propõem a defender. Diversos proprietários de estabelecimentos comerciais foram visitados, e boa parte se empolgou com a prometida notoriedade que a futura entidade traria.
A ideia era a implantação de um Clube de Diretores Lojistas, nos mesmos moldes do que já era feito na Capital. Frente à empolgação dos negociantes, os líderes do movimento lojista marcaram uma data para a realização da Assembleia Geral de Fundação do Clube em Sinop. No dia 22 de junho de 1983, exatamente às 20h30, teve início a reunião, realizada nas dependências do Restaurante O Colonial – local que recebia os principais e mais importantes eventos da cidade.
O presidente da comissão para a criação do CDL foi Jamel Auada, que tinha um perfil associativista. O desafio ia além de conduzir a entidade, visando ampliar seu quadro de associados. “Criamos o Clube de Diretores Lojistas de Sinop com 50 sócios fundadores, formamos a diretoria, incluindo várias integrantes de outros órgãos similares. Na época, as condições estruturais da cidade eram precárias, não tínhamos asfalto, havia atoleiros por toda parte, mas aos poucos fomos solidificando a entidade. Implantamos o SPC de forma manual, na fichinha, pois o sistema ainda não era informatizado e nós não tínhamos nem computador, muito menos internet”, destacou Auada na obra “CDL Sinop, uma história de sucesso”, da escritora Maria da Paz e lançada em 2023 – aliás, tal pesquisa ajudou a orientar o desenvolvimento deste conteúdo.
A primeira empresa ativa associada ao Clube foi o Machado. A rede de supermercados fundada pelos irmãos Martins acreditou na proposta dos idealizadores do então CDL e esteve envolvida desde as primeiras reuniões. “Eu fico feliz em ver que as sementes que plantamos brotaram e deram bons frutos. Eu não imaginava que a CDL ia ser tão forte e crescer tanto, e hoje é uma potência”, comentou o empresário Irineu Martins.
Alguns meses após a fundação do CDL Sinop, foi inaugurado o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), cujo objetivo era agilizar o sistema de crédito e proporcionar maior segurança aos lojistas. O SPC foi criado para centralizar e padronizar os sistemas de informações de proteção ao crédito de todo o país. Com ele, foi possível criar um ambiente de negócios mais seguro, democratizando o acesso ao crédito e fomentando o consumo e o fortalecimento da economia como um todo. O sistema ainda era embrionário em Sinop, mas o sucesso que alcançou em outras localidades conferiu a tal segurança que os comerciantes tanto aguardavam.
Os primeiros encontros da diretoria foram realizados em uma pequena sala, no centro. No dia 27 de junho de 1983, é realizada a primeira reunião ordinária do CDL. Auada expõem os problemas iniciais e coloca como pautas principais a abertura e funcionamento do escritório, a compra ou aluguel de um telefone e a aquisição de móveis. O jovem presidente, à época com apenas 22 anos de idade, conduziu a entidade com pulso firme, mesmo diante das dificuldades. A diretoria seguiu à frente do CDL até 1985.
Em 1987, o Clube seria reativado através da iniciativa do experiente empresário Ari Daher Santos, que reuniu um grupo de lojistas e replantou a sementinha da entidade. Em 2 de abril, uma comissão provisória é formada para dirigir os trabalhos do CDL até a eleição e posse da nova diretoria. Em 20 dias, no mesmo O Colonial de quatro anos antes, a chapa única encabeçada por Daher é eleita para o biênio 1987/1989. A posse marcou um novo ciclo da entidade de classe, tendo em sua diretoria empresários renomados na cidade, gerando credibilidade e incentivando a classe empresarial a aderir ao movimento com a filiação das empresas. O desafio era imenso, e ia muito além do âmbito empresarial. Foram inúmeras as intervenções da entidade junto ao Poder Público, impedindo a criação de leis que prejudicassem o comércio.
“Eu tinha uma sala comercial e emprestei para ser a sede da entidade. Contratamos uma secretária, mobiliamos e adquirimos material de escritório. Colocamos até uma fotocopiadora para ajudar a gerar renda à entidade”, destacou Ari Daher. Outras fontes de renda vinham a partir de cursos, palestras, jantares dançantes e festas comemorativas.
Certo dia, a fotocopiadora deu pane e a CDL não teria dinheiro para consertar. Ari conta que, por ironia do destino, viu o prejuízo se transformar em lucro quando um empresário do ramo de fotocópias decide adquirir o equipamento, mesmo quebrado, por um valor muito acima do pretendido. “Eu tinha pago algo em torno de 120 mil cruzeiros e o empresário ofereceu 700 mil nela. Apenas disse: ‘faça um cheque, me dê o recibo e pode levá-la’”.
Quando a entidade acumulou algum capital, a diretoria buscou terrenos para a construção da sede própria, cuja aprovação está registrada em ata no dia 6 de dezembro de 1988. Os lotes adquiridos ficavam na Rua das Amendoeiras, no local em que o prédio seria construído anos mais tarde. “Muitos empresários doavam o que podiam: um doava um milheiro de tijolos, outro doava a ferragem, outros emprestavam a mão de obra, e assim se construiu o prédio”. Da mesma forma séria com que conduzia seus negócios, Ari conquistou credibilidade suficiente para ser eleito presidente em mais dois mandatos: 1991-1993 e 2001-2003.
Com o fim da primeira gestão de Daher se aproximando, era preciso eleger um novo presidente. Desde sua fundação, a CDL sempre foi comandada por empresários de confiabilidade, sendo a escolha dos membros da diretoria, conforme estatuto, feita por meio de eleição. Entretanto, raras vezes houve apresentação de mais de uma chapa, já que a maioria dos integrantes comunga dos mesmos objetivos em prol da defesa dos interesses do comércio. Desta forma, o empresário Alcides Raiter é eleito o novo presidente da CDL em 19 de maio para a gestão 1989-1991.
Raiter já era respeitado e dotado de carisma quando assumiu a missão de administrar com seriedade a mais relevante entidade de classe de Sinop. Para aumentar o fluxo financeiro, Raiter mostrou a necessidade de intensificar o trabalho de cobrança junto às empresas que estavam em débito, e ao mesmo tempo investiu em diversas campanhas para atrair novos associados. Durante seu mandato, teve continuidade as obras de construção da sede própria, iniciada ainda sob o comando de Ari Daher.
Se hoje a CDL tem voz ativa junto ao Poder Público, muito se deve ao estreitamento provocado por Alcides. Ele se aproximou da Prefeitura durante a implementação do projeto de iluminação natalina na Avenida Júlio Campos durante os festejos de final de ano. Como resultado, aumento no movimento e, consequentemente, nas vendas.
Após concluir seu mandato, Raiter retornaria à diretoria em outras gestões, além de ser sempre um participante ativo da Câmara de Dirigentes Lojistas. No dia 27 de outubro de 2011, Alcides faleceu vítima de um infarto agudo. Em reconhecimento aos relevantes trabalhos prestados, a diretoria da entidade o homenageou, eternizando seu nome no Centro de Eventos.
O quarto presidente foi o empresário do ramo da construção civil João Peniani, que permaneceu no cargo por 4 anos – durante as gestões 1993-1995 e 1995-1997. Muito participativo nas gestões anteriores, Peniani assume a CDL com a missão de concluir a construção da sede própria sob as regras estatutárias – os recursos eram escassos e a entidade não podia ultrapassar o teto de gastos.
Entre suas bandeiras de administração, a qualificação profissional dos trabalhadores do comércio, bem como dos próprios empresários. A promoção do conhecimento técnico contribuía com a melhoria do atendimento e com o aumento das vendas e satisfação do cliente.
Mas a construção da sede era a prioridade, demandando total empenho, esforço e dedicação do presidente e toda a diretoria. Foram anos de construção, com poucos recursos e muitos eventos. Mas tudo foi recompensando. Em 25 de abril de 1996, é realizada uma grande festa de inauguração da sede da CDL (que nesta época já era tratada por Câmara de Dirigentes Lojistas, cuja sigla permaneceu a mesma do antigo Clube de Diretores Lojistas).
Após a conclusão do segundo mandato de João Peniani, quem assume a presidência da CDL é o empresário genuinamente mato-grossense Edmundo Costa Marques Filho. Ainda como vice-presidente na gestão 1995-1997, ele se destacou na defesa dos interesses do setor empresarial, sobretudo em relação aos impostos implementados pela Prefeitura, como aumento de IPTU e ITBI.
Apesar de inaugurada, a sede da CDL ainda seguia em construção, faltando ainda algumas partes do projeto arquitetônico e de engenharia a serem entregues. Coube a Edmundo Filho administrar a implantação de novos espaços e equipamentos para modernizar a entidade. Como exemplo, computadores, aparelhos de fax, retroprojetor, dentre outros foram adquiridos com o objetivo de interligar Sinop a Cuiabá para as consultas ao SPC.
Assim como o antecessor, Marques Filho comandou a CDL por dois mandatos consecutivos, sendo o segundo entre 1999 e 2001. Uma curiosidade é em relação à mudança de milênio. “Muita gente nos procurou pedindo ajudando com medo de perder seus bancos de dados com um possível ‘bug do milênio’. Tanto que muitas empresas desligaram seus equipamentos na noite do dia 31 de dezembro de 1999 com receio de haver perdas significativas. Mas, como vimos, não aconteceu nada”, conta o empresário.
Em 2003, o empresário Afonso Celso Teschima Júnior assume a presidência em seu primeiro de 5 mandatos. Logo que assumiu o cargo, Teschima colocou como meta aumentar o número de associados, pois entendeu que esta seria uma das formas de fortalecer ainda mais a instituição, dando-lhe mais visibilidade na conquista dos objetivos inerentes à classe empresarial. Para isso, disponibilizou diversos serviços aos associados, alguns deles sem custos adicionais, ofertando consultoria contábil e de informática.
Nos primeiros quatro anos (até 2007), Teschima defendeu de todas as formas os interesses da classe empresarial, representando a entidade diante o caótico cenário das operações ambientais, que esfacelaram o setor madeireiro entre 2004 e 2005. “Sinop vinha num crescimento muito grande, e a madeira era o carro-chefe da economia. Mas a cidade soube se reerguer, principalmente porque os empresários sabiam, e sabem bem até hoje, se reinventar”, explica.
Ainda na primeira gestão, Afonso Teschima lança a campanha Nosso Natal, gerando aquecimento no comércio e revertendo em vendas. Mas uma das mais importantes e conhecidas propostas foi a criação do prêmio Mérito Lojista, o Oscar do Varejo, que em 2024 completou 21 anos. “Já era um pensamento que a gente tinha, durante diretorias anteriores, de premiar empresas, instituições, entidades e profissionais liberais que se destacassem ao longo daquele ano como os melhores”, conta. O troféu Chama da Fortuna foi desenvolvido pela renomada artista plástica Mari Bueno.
Para fortalecer a marca da entidade junto aos veículos de comunicação, a CDL promove o Prêmio CDL de Comunicação com intuito de prestigia-los. Outra forma de gerar pautas jornalísticas foi a parceria com a UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso), através do CISE (Centro de Informações Socioeconômicas), que apresenta a evolução dos indicadores econômicos de Sinop. “Era uma forma de trazermos a imprensa para dentro da entidade, com o objetivo de apresentar dados reais compilados por especialistas”, lembra Teschima. Com o advento da tecnologia, a CDL investe em outras formas de comunicação, como O Lojista (impresso e virtual) e site.
Teschima também foi responsável pela implantação da Escola de Música da CDL, com aulas gratuitas para crianças, adolescentes e jovens. Empresário e pai do presidente da CDL, Afonso Celso Teschima realinhou o projeto e doou os instrumentos suficientes para a criação da escola, fundada em agosto de 2011. A seleção dos alunos participantes era de responsabilidade do PROERD, projeto da Polícia Militar, sendo ampliado e despertando o gosto musical nos mais novos.
Outra frente de atuação da gestão Teschima teve início ao grande projeto de implantação do Sicoob Norte MT, a primeira cooperativa de crédito genuinamente sinopense, que se consolidaria em 2015. O pioneiro esteve à frente da entidade entre 2003-2004, 2005-2007, 2009-2010, 2011-2012 e 2013-2014.
No intervalo entre a segunda e a terceira gestão de Teschima, o empresário do ramo de joias Nilson Lopes Ribeiro assume como o sétimo presidente da CDL. Com currículo de credibilidade e reputação inquestionáveis, Nilson focou na união da classe empresarial pela busca da garantia de direitos da categoria, especialmente no período pós-operações ambientais. “A CDL teve grande importância naquela época. A gente pegou esse momento de reconstrução da economia. O setor madeireiro deixou de ser o mais importante, dando lugar ao agronegócio, saúde, educação e serviços, que começaram a dar seus primeiros passos naquele período”, relembra Nilson.
Uma das campanhas mais bem sucedidas da entidade é o Liquida Sinop, implantada durante a gestão de Ribeiro e que segue sendo realizada até hoje em formato personalizado. “Era um momento de dar uma agitada, e ajudou a atrair não apenas o consumidor sinopense, mas também de várias outras cidades da região, que querem aproveitar as promoções”.
A administração de Nilson foi marcada por lutas em defesa não apenas dos lojistas, como também de toda a população. Entre as principais bandeiras, a manutenção da BR-163, principal porta de entrada do município, investimentos em segurança pública, redução de taxas de impostos e melhorias no trânsito.
No ano de 2015, após a quinta gestão de Afonso Teschima, quem assume a presidência é o empresário Luciano Chitolina. Assim como seus antecessores, ele também já havia sido membro da diretoria em gestões anteriores – por isso, seu nome foi consenso para assumir a gestão.
Persistente, Chitolina participou de diversos debates políticos que culminaram em benefícios não apenas para os lojistas, mas para a população em geral. Sua luta era coletiva, envolvendo todos os segmentos da sociedade que careciam de cuidados. Luciano lutou contra o aumento do IPTU e ISSQN em Sinop e contra o Decreto 380, que alterava a forma de cobrança do ICMS em Mato Grosso.
“Houve um aumento da carga tributária, que impactava toda a população. Por isso, fizemos uma mobilização muito grande, foram mais de 22 entidades participando das decisões, reunidas aqui na CDL. Lutamos para que a cobrança fosse feita de forma mais justa para que o munícipe tivesse condições de pagar os tributos e, ao mesmo tempo, continuar contribuindo para o crescimento do município”, destacou,
A habilidade de administrador foi comprovada com o início das obras de reforma do auditório da entidade, das salas, telhado, jardins, estacionamento e calçadas, além da total revitalização do Centro de Eventos Presidente Alcides Raiter, que ganhou nova estrutura.
Outro ponto positivo durante sua gestão foi o olhar da diretoria para o cooperativismo, modelo de negócio que une desenvolvimento econômico e social, produtividade e sustentabilidade, resultando em benefícios para todos os envolvidos. Por isso, um grupo de empresários se uniu com o objetivo de criar a primeira cooperativa de crédito genuinamente sinopense. A ideia de fundação do Sicoob Norte MT iniciou 2 anos antes, mas em abril de 2015, na sede da CDL, é realizada a Assembleia Geral de Constituição da Cooperativa de Crédito de Livre Admissão do Norte de Mato Grosso, contando com a presença de 109 pessoas relacionadas como associados fundadores. Norival Campos Curado acumulava expertise no mundo dos negócios e destreza no setor bancário, credenciais que o levaram naturalmente ao cargo de presidente do Sicoob Norte MT.
O empenho e liderança nas articulações junto ao Poder Público lhe renderam uma cadeira na Câmara Municipal de Sinop. Chitolina entrou para a história como o primeiro presidente da CDL Sinop a ocupar o cargo de vereador. Ele assume o mandato logo após encerrar sua gestão na entidade, em 2016.
Seu sucessor é Márcio Kreibich, que já estava na função de presidente da CDL durante o período de campanha eleitoral, no qual Luciano Chitolina precisou se afastar para concorrer. Esse viés de liderança o alçou a natural sucessor, especialmente pela destreza em conciliar a vida empresarial com a administração da mais importante CDL do interior de Mato Grosso. “A CDL vinha trabalhando muito em prol com o externo, enquanto esquecemos um pouco da nossa própria casa. Nossa gestão foi marcada por uma profunda reestruturação interna”, afirma Kreibich.
Entre os principais feitos, eventos e campanhas promocionais, que tinham por objetivo movimentar o comércio e aumentar as vendas dos lojistas, sorteando prêmios entre os clientes e, com os dividendos obtidos, contribuiu com diversas entidades filantrópicas da cidade. Campanhas como Liquida Sinop e Sonho de Natal se fortaleceram nesse período.
Como todo bom líder de entidade, Márcio Kreibich também transitou no meio político, estreitando relações com os poderes Executivo e Legislativo. “Quando ouvimos o lojista e especialistas em economia, entendemos que certas leis podem prejudicar a economia como um todo. Assim, cabia a mim demonstrar a inviabilidade de certas legislações e quais as consequências de sua aplicação, afetando negativamente o comércio”, completa.
Em 2019, o empresário Marcos Antônio Alves assume a presidência da CDL por dois mandatos. Ao longo dos 4 anos de mandato, Marcão, como era conhecido, repaginou completamente a entidade, desde a recepção à jardinagem, passando por uma verdadeira transformação. Os ambientes de trabalho foram integrados, permitindo maior interação entre os colaboradores, reformou, mobiliou e informatizou todos os setores.
Logo no início da gestão, priorizou a promoção de campanhas e realização de palestras, cursos e treinamentos de qualificação aos colaboradores das empresas filiadas e comunidade em geral. Na estrutura física, modernizou o Centro de Eventos, que teve seu espaço ampliado em 140 metros quadrados, totalizando 735 metros quadrados de área construída, com ampliação do hall de entrada e instalação da fachada em ACM, com iluminação em led. Agora, o local tem capacidade para atender a um público de aproximadamente 500 pessoas no formato auditório e 350 em festas com mesas. Neste período, a CDL investe em novas formas de comunicação, como a transmissão de programas e entrevistas por meio do podcast ‘CDL na TV’, além das mídias sociais.
O segundo ano de mandato, porém, foi marcado pela pandemia de Covid-19. As principais indicações em nível global era para que as pessoas ficassem em casa e, os comércios, por consequência, permanecessem fechados. Entretanto, Marcos foi arrojado ao costurar reuniões com as autoridades a fim de encontrar a fórmula ideal de trabalho, possibilitando a adoção de medidas sanitárias para que os lojistas pudessem atender. Para isso, a CDL contribuiu com a distribuição gratuita de máscaras e álcool em gel nos estabelecimentos, além de campanhas orientativas, institucionais e promocionais. Como reconhecimento pelo trabalho, a CDL e seu presidente receberam diversas homenagens como da CNDL, da Assembleia Legislativa de Mato Grosso e da Câmara de Vereadores.
No mandato de Marcos Alves, a CDL também marcou história com ações voltadas à comunidade, como a Casa de Fraldas, cujo objetivo é atender as pessoas em situação de vulnerabilidade social. A inspiração veio de projeto semelhante desenvolvido em Campo Mourão (PR), tendo apoio do Sicoob Norte MT, que doou o parque de máquinas para confecção das fraldas, enquanto a CDL é responsável pela fabricação e manutenção dos funcionários.
Após a conclusão de seu mandato, ao final de 2022, Marcão ainda seguiu sendo mente influente na entidade. Mas no último dia 12 de abril de 2024, nos deixou precocemente, com apenas 49 anos de idade. Um homem honrado, sério e determinado, que deixa um legado de muito trabalho e empenho em prol de que contribui com o crescimento desta cidade.
E quem diria que, no ano em que completou 40 anos, a CDL veria uma segunda geração assumindo a presidência! Em 2023, Edmundo da Costa Marques Neto torna-se o primeiro filho de um ex-presidente a assumir a administração máxima da entidade.
Dinho, como é popularmente chamado, atua na CDL há 15 anos, e assumiu o cargo com a missão de consolidá-la ainda mais como uma entidade forte e atuante no desenvolvimento de Sinop e incremento do comércio local e regional. “Focamos não apenas no crescimento, mas sim num crescimento com qualidade”, explica o presidente. O mandato de Edmundo Neto se encerra em 2025, com a meta de aumentar o número de associados: “precisamos pensar grande e estimular os lojistas a serem parceiros da entidade”, finalizou.
Hoje, a CDL Sinop oferece os seguintes serviços para os associados: banco de dados (SPC Brasil e Serasa), balcão de empregos, departamento de cursos, telefonia, Certificação Digital, escola de música, medicina ocupacional, assessoria jurídica, assessoria de marketing e jornalismo, salas de treinamento (para até 40 pessoas), auditório com capacidade para 200 pessoas, Centro de Eventos para festas, workshop, palestras, site (www.cdlsinop.com.br), informativo mensal com campanhas institucionais nas principais datas comemorativas e campanhas promocionais. Tais campanhas estão presentes nas seguintes datas: DLI (Dia Livre de Impostos), Dia das Mães, Dia dos Pais, Semana do Brasil, Dia das Crianças, Mérito Lojista, Liquida Sinop e Campanha Sonho de Natal.
A CDL também se envolve diretamente em projetos sociais, destacando-se o Luz do Amanhã – Cultivando Segurança com Integração Social, da Polícia Militar, além do Bombeiros do Futuro, que atende crianças e adolescentes de 10 a 13 anos, ofertando aulas de primeiros socorros, ordem unida e civismo, contribuindo com a formação de cidadãos conscientes, responsáveis e construtores de atitudes para o bem-estar físico, mental e social.
Outra vantagem dos associados a CDL Sinop são os convênios oferecidos com empresas parceiras em diversos seguimentos, como educação, saúde, serviços, instituições financeiras, entre outros.
A CDL Sinop foi uma das entidades que mais evoluíram nestes últimos anos e continua trabalhando com a finalidade de amparar, orientar e representar os legítimos interesses da entidade e de seus associados. Nota-se, através do tempo, que a entidade cumpriu seu papel e ampliou os horizontes para o interesse coletivo.
Ao completar 40 anos de história, a CDL Sinop ainda é reverenciada com a obra “Uma História de Sucesso, trajetória da principal entidade representativa do comércio do Norte de Mato Grosso”, escrito pela jornalista Maria da Paz – como citado lá no início.
Com mais de 2 mil associados, é uma das entidades mais representativas e fortes de Mato Grosso. Isso se deve pelo esforço de cada diretoria ao longo desses mais de 40 anos de existência, por todos aqueles que fazem o dia a dia da CDL e procuram dedicar cada minuto da sua vida a este trabalho.
1983
Geraldino Dal Maso, 1º prefeito eleito de Sinop

GERALDINO, O PRIMEIRO PREFEITO
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O primeiro prefeito eleito em Sinop foi Geraldino Dal Maso, que tomou posse no dia 1º de fevereiro de 1983, em cerimônia realizada nas dependências do Centro Esportivo Enio Pipino (Pipininho) - que ficava localizado ao lado da igreja Santo Antônio
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Neste ano, o primeiro prédio da Câmara Municipal, que funcionou por algum tempo num imóvel alugado, foi construído ao lado da Prefeitura (cujo prédio foi construído em 1982 e ampliado em 1983)
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São oficializadas três datas comemorativas em Sinop:
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13 de junho – Santo Antônio, padroeiro da cidade (feriado);
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14 de setembro – Fundação de Sinop (feriado);
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17 de dezembro – Emancipação Política do Município de Sinop.
FUNDAÇÃO DA CDL
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A CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Sinop foi fundada e constituída em 22 de junho de 1983, com denominação inicial de Clube dos Diretores Lojistas de Sinop. Naquela época, o crédito funcionava através de cadernetas, mas com a chegada de muitos migrantes na cidade, não havia mais segurança
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Os lojistas então precisavam de mais uma alternativa que atuasse na defesa dos interesses comuns da classe, proporcionando um clima de cooperação, troca de informações e de ideias, sendo capaz de garantir relações comerciais diversas
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Meses após a fundação da CDL, foi inaugurado o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), a fim de agilizar o sistema de crédito e proporcionar maior segurança aos lojistas. A mudança de nome aconteceu na década de 90, passando de Clube dos Diretores Lojistas para Câmara de Dirigentes Lojistas
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Hoje, a CDL Sinop oferece os seguintes serviços para os associados: Banco de Dados (SPC Brasil e Serasa), Balcão de Empregos, Departamento de Cursos, Telefonia, Certificação Digital, Escola de Música, Medicina Ocupacional, Assessoria Jurídica, Assessoria de Marketing e Jornalismo, Salas de Treinamento (salas para 40 pessoas), auditório com capacidade para 200 pessoas, Centro de Eventos para festas, workshop, palestras e outros