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1972
Família Pissinatti Guerra

A FAMÍLIA PIONEIRA QUE DESBRAVOU SINOP
Os Pissinatti Guerra estavam no caminhão de mudança que trouxe os primeiros moradores fixos para Sinop em 1972. E não é preciso modéstia para afirmar que a cidade só existe graças a gente como eles, especialmente Olímpio João, não apenas por seu pioneirismo, mas principalmente pelo senso de liderança natural, responsável por atrair e manter tantas outras pessoas que chegavam a uma região inóspita e incerta como a Sinop da pré-fundação
A persistência e a resiliência da família Pissinatti Guerra é o reflexo puro de generosidade e pensamento de comunidade que construiu Sinop ao longo destes mais de 50 anos. Sem almejar tal alcunha, eles se tornaram referência, construíram uma história e cravaram seu nome na Capital do Nortão – que hoje só pode ser chamada assim graças ao pioneirismo de gente igual a eles, que não desistiu nem nos momentos mais difíceis.
Quando a família chegou a Sinop, era tudo mato – literalmente. As únicas pessoas com quem tinham contato eram os trabalhadores responsáveis pela derrubada da mata e abertura das primeiras quadras e ruas. Mas quem é essa família que decidiu vir para cá, antes mesmo da fundação de Sinop, e que escolheu a cidade como sua residência fixa?
Tudo começa em 17 de maio de 1921, em Mogi Mirim (SP), quando nasce Olímpio João Pissinatti Guerra, o terceiro dos 9 filhos de Basílio Pissinati (1897) e Francisca Guerra (1899), agricultores descendentes de italianos. Personagem-chave dessa história, pode-se afirmar que a Sinop que conhecemos hoje é fruto do seu otimismo e espírito colaborativo.
Ainda jovem, Olímpio conhece Adelaide Barbieri, e eles se casam em 26 de julho de 1941. Ele recém tinha completado 20 anos, enquanto Adelaide tinha apenas 18. Juntos, o casal tem 10 filhos – 5 homens e 5 mulheres. O terceiro filho é Valdemar Pissinatti Guerra, nascido em 16 de maio de 1947. A família se instala em Sertanópolis (PR) em 1959, onde desbrava a região para plantar arroz, feijão e milho.
Como a família cresceu e a terra ficou pequena, era preciso buscar mais espaço. Em 1960, quando Valdemar tinha aproximadamente 12 anos, se mudam para o distrito de Paraná d’Oeste, que fica próximo a Goioerê (PR). Olímpio chegou a prospectar uma área no Paraguai, mas acabou permanecendo no Paraná. Optou por ampliar a lavoura, plantando soja e criando gado leiteiro.
Os anos passaram, até que, no início da década de 70, um corretor da Colonizadora Sinop, sabedor da busca insaciável por uma nova terra, procura Olímpio e oferece um solo ‘próspero’ no Norte de Mato Grosso.
Vera era a cidade onde, inicialmente, o traçado da rodovia Cuiabá-Santarém (PA) passaria, e que talvez atraísse os olhares de novos migrantes, mas o homem apresenta para Olímpio terras onde seria Sinop, uma das quatro cidades que a Colonizadora estaria implantando no Mato Grosso. Ele encara a aventura.
Olímpio gosta do que viu, mas em seu inconsciente preferiria que a BR-163 cruzasse Sinop. Ele volta para o Paraná e programa uma segunda visita à região. Dessa vez, traz o filho Valdemar junto. “Nós viemos numa Kombi. Foram 3 dias de viagem. De Campo Grande (MS) até Lucas do Rio Verde era [estrada de] chão, mas até Vera nem tinha estrada, viemos de avião. De Vera pra cá, viemos em um Jeep traçado, que fundiu o motor na estrada e nos obrigou a dormir num barraco. No dia seguinte, veio outro Jeep, da Colonizadora, que nos trouxe até Sinop. Nós chegamos onde hoje é o viaduto [que liga as avenidas Júlio Campos e Alexandre Ferronatto]. Naquele ponto tinha um ‘picadão’, e o corretor disse: ‘esse é o centro de Sinop, e aqui é a BR-163’”, narra Valdemar.
A essa altura, Valdemar já constituía a própria família. Ele conhecera Cleide Pacagnan, nascida na mesma Sertanópolis dos Pissinatti, mas só se conheceriam em Paraná d’Oeste. De origem humilde, a filha de Luiz e Inocência Ometto começou a trabalhar com 7 anos de idade como doméstica. Com 15 anos, vai trabalhar em um bazar e, em seguida, em uma loja de confecção. Ela conhece Valdemar, com que se casa quando tinha 18 anos de idade. Em 6 de fevereiro de 1970, nasce Marcos, primeiro filho do casal. Dois anos depois, Magda de Cássia vem ao mundo.
Quem conhece ou quer conhecer Sinop, com certeza já se deparou com imagens aéreas que mostram as primeiras clareiras e a abertura das primeiras quadras e vias. Mas para ter noção do tamanho do pioneirismo dos Pissinatti, não há registros aéreos da época em que vieram – apenas fotografias em solo que mostram os funcionários da Colonizadora em meio à mata. Por isso mesmo, vir para Sinop naquelas circunstâncias aumentava ainda mais o desafio de quem se propunha a recomeçar uma vida. Olímpio tinha essa vontade de querer crescer e desbravar, mas só o faria se o restante da família também topasse. Três filhos, incluindo Valdemar, toparam a empreita logo de cara. Mais à frente, quase todos os outros também vieram.
A decisão era um misto de empolgação com preocupação. Afinal, o Mato Grosso daquela época trazia dúvidas quanto ao seu potencial de desenvolvimento. A madeira era farta, mas o solo nunca – ou muito pouco – havia sido lavrado ou preparado para criação. Cleide, muito comunicativa, sabia que sentiria o baque vindo para tão longe. “Quando eu contei aos meus pais que viríamos para Sinop, eles ainda falaram para a gente pensar bem”, conta Cleide.
Os Pissinatti adquiriram da Colonizadora uma área de aproximadamente 450 alqueires, onde hoje está localizada a sede do grupo familiar, no Residencial Florença – e que, no início da abertura de Sinop ainda era parte da zona rural. Em troca, a empresa cedia um terreno na zona urbana da cidade, com a condição de que fosse edificada. A metodologia foi aplicada durante anos para atrair interessados em povoar Sinop. O local ficava às margens de onde seria (e é) a BR-163, mas algum tempo depois eles precisaram desmanchar as residências, já que as linhas de energia passariam sobre as casas.
Enquanto isso, Olímpio se tornava o principal divulgador das terras que acabara de adquirir. Empolgado, ele contava a todos no Paraná sobre as possibilidades de um futuro melhor numa nova região, buscando convencer mais gente a fazer o mesmo – papel que caberia aos corretores da Colonizadora Sinop, mas que ele desempenhava até melhor. Outras famílias compraram a ideia.
Olímpio (pela terceira vez) e Valdemar (pela segunda) vêm à Sinop novamente a fim de deixar uma moradia minimamente digna para quem chegaria em seguida. “Trouxemos machado, traçador, cunha e marreta para fazer os barracos, mas eu peguei malária e não conseguimos construir nada. Meu pai ficou desesperado. Na época, ainda não tinha estrada, era apenas uma promessa. Quando retornamos ao Paraná, ele cobrou uma providência e o seu Ênio mandou limpar a área”, relembra Valdemar.
Eles estavam decididos que viriam, mas cada qual no seu tempo. Olímpio ainda precisava alinhar os negócios no Paraná para poder vir ‘de cabeça’ para Sinop. Valdemar e outras famílias é quem fariam as honras de cravar seus nomes como os primeiros moradores fixos em Sinop.
Chegam os pioneiros
Era junho de 1972. Quatro famílias sobem no caminhão tipo ‘pau-de-arara’ e numa pick-up com destino ao Norte de Mato Grosso: Valdemar e Cleide Pissinatti; Jaime Gianotto e a esposa Florinda Pissinatti (irmã de Valdemar); Estanislau Belgrovicz e a esposa Leocádia Hoffmann Belgrovicz; e Aristides Fogarolli e a esposa Alice. Todos com seus filhos, de diferentes idades. “O Seu Augusto também veio conosco, mas sem a família. Ele havia comprado uma área de 25 alqueires e veio com a gente”, recorda Valdemar.
Cada uma dessas famílias reduziu ao máximo seus pertences para que tudo coubesse nos veículos. O grupo pernoita à beira do Rio Teles Pires para montar na bolsa logo ao amanhecer. O caminhão e a caminhonete chegam à futura cidade de Sinop no início da manhã do dia 25 de julho de 1972. Os motoristas vinham revezando, e um deles foi Olímpio, que só viria em definitivo para a cidade, a qual ajudava a ‘vender’, em agosto daquele ano, trazendo consigo uma nova leva de pioneiros, incluindo a filha Deolinda.
O primeiro acampamento montado pela Colonizadora para abrigar o grupo era uma picada onde hoje estão localizados o Banco do Brasil e a Praça da Bíblia. Se para quem chegou a Sinop no ano de sua fundação a vida já não era fácil, fica ainda mais difícil imaginar como foram os primeiros dias daqueles que aqui primeiro se instalaram.
Com tudo a se fazer, era preciso começar. “Nós compramos a terra e não podíamos ficar parados. Mas a gente nunca tinha derrubado árvore, não sabíamos as técnicas certas, como calcular o ‘tombo’ dela”, recorda Valdemar. A primeira motosserra só chegaria à cidade quase 2 anos depois. Contaram com ajuda vinda de Cuiabá e da própria Colonizadora para abrir a área.
Após se instalarem, os Pissinatti iniciam a o plantio de capim com o objetivo de dar sequência à pecuária, atividade que traziam do Paraná. Ao mesmo tempo, como conta Valdemar, 17 alqueires de arroz – cujas sementes também vieram do Sul – foram plantados à base de matraca, uma máquina no qual o operador deve segurar firmemente as duas empunhaduras e, em seguida, cravá-la no solo, com uma força mínima, mas suficiente, para aprofundá-la até uma profundidade em torno de 5 cm. “Descobrimos que a terra não era boa, tinha que ser tratada. [A produção de arroz] não vingou como o esperado”, explica Valdemar.
Pelo menos o capim deu algum resultado. O gado zebu era trazido de Nobres, sendo a pecuária leiteira uma das primeiras verdadeiras fontes de renda da família. “O objetivo da venda nem era ter tanto lucro, mas o suficiente pra podermos comprar o que precisávamos, como comida, utilidades e materiais de construção”, reforça.
Aliás, muitos dos produtos consumidos por aquela população que começava a se formar eram advindos do distrito de Vera, que estava levemente mais consolidado com alguns comércios e abrigava em torno de 70 famílias.
Já as telhas, tijolos e cimento para construções de alvenaria eram buscadas em Cuiabá em cima de um Wyllis Jeep Rural Pick-up. Olímpio e Valdemar é quem traziam de lá. Vale reforçar: sem visar lucros. “Se o material custasse X, a gente cobrava X e o ‘óleo’ [combustível] do frete, nada a mais”, conta. “O meu pai era um empreendedor, ele queria ver Sinop crescer e fazia questão de ajudar como pudesse”.
De fato, os Pissinatti perceberam da pior forma possível que aquele solo, capaz de desenvolver raízes de todo tipo de árvores, não era bom suficiente para plantio de culturas sem o devido tratamento. Em 1973, Olímpio traz do Paraná uma máquina de moagem de arroz (instalada no local onde mais tarde seria aberta a Rua Salvador, esquina com a Rua São Paulo, atual João Pedro Moreira de Carvalho, no Setor Industrial Sul), e o pouco que conseguiram colher era levado para Nobres, onde era limpo, retornando para o consumo em Sinop. “O nosso maior contato com o ‘vô’ era trabalhando na máquina de arroz. Ali, a gente passava boa parte do tempo com ele”, conta Marcos Cesar Pissinatti Guerra, empresário e filho de Valdemar e neto de Olímpio.
Sem apoio ou informação para entender como lavrar o solo mato-grossense, os Pissinatti buscavam alternativas. Uma delas foi a ‘junta de bois’, nome popular dado a uma dupla de bois usados para dar tração no arado. Mesmo isso foi insuficiente. “Em uma viagem que fizemos para o Paraná, esticamos até Rio Claro (SP) e compramos calcário, que estimulava o desenvolvimento e crescimento radicular”, cita Valdemar.
A correção de solo não era um problema restrito apenas a Sinop ou Mato Grosso naquela época. Os estudos para melhoramento do solo em nível Brasil ainda engatinhavam, ao mesmo tempo em que se tornava necessário plantar – tanto para subsistência quanto comercialização. “Hoje em dia, planta-se duas, três, até quatro safras por ano numa área, mas a evolução da tecnologia contribuiu pra isso. Mas lá nos anos 70, com a precariedade que eles [os pioneiros] enfrentaram, é de se ‘tirar o chapéu’ tudo o que conseguiram. Era tentativa e erro. Algumas culturas evoluíam mais que outras, daí também era preciso saber administrar as épocas de chuva e de seca”, comenta Marcos Pissinatti.
Essa determinação de Olímpio é constantemente reforçada pela família. Todos são unânimes em afirmar o quão ele era exemplo para atrair pessoas e, diante das dificuldades, dirimir a vontade de partir de quem veio e não teve sucesso. “Primeiro de tudo: ele veio e trouxe quase todos os filhos pra morar aqui. Segundo: a família era um ponto de referência. O Seu Ênio [Pipino] utilizava a família como exemplo de que esse era um lugar que ia dar certo, tanto é que era o nosso avô é quem recebia os migrantes. Dava almoço, janta, hospedagem, levava para conhecer a cidade e as terras que aquele pessoal havia adquirido. Isso inspirou muita gente a vir pra Sinop. E, principalmente, ele ajudava a ‘segurar a barra’ de quem queria partir. Ele premeditava: ‘essa cidade vai explodir, aqui tem tudo para crescer, basta um pouco de insistência e paciência que as coisas vão engrenar’”, narra o também empresário Evandro Pissinatti Guerra, irmão de Marcos
Os empresários, inclusive, lembram que o avô lamentava muito Sinop ainda ser carente de tudo. A malária era uma doença com alta incidência, e que ceifava muitas vezes. “Como as famílias recebiam um terreno na zona urbana, mas não tinham dinheiro pra construir, elas o ofereciam para o meu pai em troca de ele levar a mudança para qualquer outro canto. Mas ele não tinha dinheiro nem pro combustível”, informa Valdemar, ao emendar que o principal destino para quem ‘seguia adiante’ era Rondônia.
O ano de 1974 é um divisor de águas para Sinop, quando o distrito é oficialmente fundado em 14 de setembro. Entretanto, o ano guarda uma tristeza profunda para os Pissinatti. A total falta de estrutura oferecida a quem desbravou a região pagou seu preço. Após um incidente, Magda, com apenas 2 anos de idade, precisava ser imediatamente levada para Cuiabá. Mas chovia tanto que foi impossível o pouso de qualquer aeronave sob risco de atolar. Com a filha nos braços, Valdemar monta no Fusca de Oswaldo Paula em direção à capital, mas a água do Rio Verde que cobria a ponte inviabiliza a passagem. “Ela foi a segunda pessoa a ser enterrada na cidade. O cemitério ainda estava sendo aberto. Eu chorei muito”, lamenta profundamente dona Cleide. Como homenagem, seu nome foi dado à principal avenida do Residencial Florença, onde está localizada a G Pissinatti.
No ano seguinte, nasceria o segundo menino de Valdemar e Cleide: Evandro. Nos documentos, consta 27 de julho de 1975, mas o parto ocorrera um mês antes. “Acontece que um tio foi fazer um serviço em Cuiabá e aproveitou para ir ao cartório em Chapada dos Guimarães para fazer o meu registro de nascimento. O problema é que o cartorário entendeu errado, e colocou julho ao invés de junho”, comenta Evandro, que está entre os 10 primeiros legitimamente nascidos em Sinop. Ele é o único dos filhos nascido na cidade. O caçula da família é Clever Pissinatti Guerra, que nasceu em Mineiros (GO) no dia 8 de dezembro de 1979, dias antes da emancipação político-administrativa de Sinop em relação a Chapada, firmada no dia 17. “Minha mãe teve complicações durante a gravidez, e meu pai decidiu que era melhor leva-la daqui. Como na época ele viajava para o Mato Grosso do Sul levando madeira e trazendo combustível, aproveitou uma dessas viagens e a levou para Mineiros, que estava na rota dele e ele sabia que teria hospitais em boas condições”, explica Clever, que hoje é administrador de uma das fazendas do grupo.
O pioneirismo dos Pissinatti também chega à área da educação. Em 1973, já havia pelo menos 23 crianças em idade escolar – e Sinop ainda não tinha uma escola. Cobrada pelos moradores, a Colonizadora recorre às Irmãs religiosas do Sagrado Coração de Maria, em Vera. O pedido de abertura para uma sala de aula é enviado a Cuiabá. A documentação só ficaria pronta em setembro, sendo que a sala ficaria como extensão da Escola Estadual Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que era de Vera. Instigados pelos Pissinatti, os moradores de Sinop, em forma de mutirão, construíram a primeira sala de aula, localizada na esquina das ruas Aroeiras e Primaveras. A Colonizadora, sob administração de Ulrich Grabert, o Uli, forneceu madeira e todo o material necessário para a construção. Em um único espaço, as crianças foram divididas em quatro séries. Então, no dia 5 de setembro de 1973, coube à professora Terezinha Vandressen Pissinatti, casada com Otávio, irmão de Valdemar, iniciar os trabalhos de escolarização na comunidade.
A liderança comunitária dos Pissinatti, porém, não foi artifício para que qualquer membro da unidade familiar alçasse a política, nem para prefeito, vereador ou deputado – até hoje, inclusive. Olímpio foi um dos indicados para ser o primeiro administrador, mas se recusou. Oswaldo Paula assumiu a função. Em 1982, no pleito para decidir o primeiro prefeito por meio do voto popular, novamente surge o nome de Olímpio, que novamente abre mão. “Ele e o meu pai sempre estiveram diretamente envolvidos nas decisões, nas construções de igrejas, escolas, comércios. Mas nenhum almejava um cargo público”, conta Evandro.
Conforme os anos passaram, as áreas adquiridas por Olímpio, localizadas entre as comunidades Selene e Nilza, vão sendo divididas para os filhos. Alguns optaram por vender, enquanto outros plantavam e tinham criação, cada qual dando um rumo à sua vida. Valdemar compra um caminhão para carregar combustível, enquanto Olímpio seguia tirando leite de algumas vaquinhas que tinha na propriedade. “Eu cuidava dos filhos, ainda eram pequenos. Conforme eles cresceram, brincavam bastante”, rememora Cleide.
Uma memória de Marcos é de 1977, quando ele tinha em torno de 7 anos de idade. A única diversão daquelas crianças era jogar bola. “Quando abria uma rua, surgia um campinho de futebol. A gente furava o chão pra colocar uma trave, mal dava 20 centímetros de profundidade e minava água. Hoje em dia, ninguém acredita nisso porque não consegue imaginar o quanto os lençóis eram rasos”, explica.
O primeiro ‘trabalho’ do filho mais velho era no viveiro de café. Sua função era encher os saquinhos de terra e plantar o caroço, que geraria a muda. “Ainda nos primeiros anos de Sinop, se acreditava muito no café. A família também plantou, mas é uma pena que não deu certo. Eu lembro que esse viveiro era do seu Moacir”, cita Marcos. “Tinha a hora do lazer, mas nós todos, eu, meus irmãos, os primos, nos dedicávamos a essas atividades. Pra nós, era prazeroso, não era nenhum sacrifício, porque estávamos sempre juntos”, completa Evandro.
Quando o café não deu certo, a alternativa foi plantar capim. Tais memórias também estão presentes em Clever. “O Marcos vinha com um enxadão, abrindo a terra, o Evandro colocava a muda e eu, que era o menor, vinha tampando”.
Outra lembrança do primogênito de Valdemar era a construção das escolas. As paredes, feitas de tábuas, permitiam a ventilação, ao mesmo tempo em que evitava que o vento trouxesse a água da chuva para dentro da sala de aula. “Esse formato foi empregado no primeiro prédio dos Correios”, comenta.
Enquanto os filhos e netos cresciam na cidade em que apostou, Olímpio não teve tanto tempo para desfrutar e ver o que a cidade se tornou. Ele parte deste plano em 12 de novembro de 1986, com apenas 65 anos de idade, deixando um legado de companheirismo e solidariedade, cujos frutos são colhidos pela sua família e por todos que escolheram Sinop para morar. Seu nome estampa uma rua em Sertanópolis, onde também foi líder, e batiza uma Escola Estadual em Sinop.
Inclusive, a escola foi inaugurada no ano seguinte, contando com a presença de Adelaide, que cortou a fita de inauguração da unidade. A eterna companheira de Olímpio veio a falecer em março de 1991, aos 68 anos.
Novos negócios
Habituado a dirigir caminhão, uma nova empreita de Valdemar surge em 1991 quando ele abre a transportadora Rodoboi. Lá, a esposa e o filho Clever ajudavam. Aliás, fosse em posto de combustíveis, em agropecuária, em frigorífico e até mesmo no Conselho Tutelar, os 3 filhos de Valdemar e Cleide sempre correram atrás desde muito cedo. Serem ‘pioneiros dos pioneiros’ tornou os Pissinatti fundamentais na comunidade, mas nada do que conquistaram foi de mão de beijada. A única “sorte” que tiveram foi o avô Olímpio ter escolhido o lugar ideal que pudesse proporcionar a concretização dos sonhos.
Uma oportunidade de mudança de atividade, na qual agregasse essa família novamente num só negócio, surge no início dos anos 2000. Sinop já apresentava crescimento populacional significativo, o que representava a abertura de novas áreas para absorver toda essa população, vinda de todas as regiões do país.
A família percebeu esse movimento acelerado da época e o potencial imobiliário em franco desenvolvimento, decidindo então aproveitar uma de suas propriedades rurais – localizadas no perímetro urbano de Sinop – para auxiliar nesta expansão. É criado, então, o Residencial Florença, localizado a 1,5 quilômetro do centro da cidade. Em 2003, a G Pissinatti Empreendimentos nasce com o objetivo inicial de gerenciar o loteamento. Sua diretoria é formada atualmente por Valdemar, Cleide, Marcos e Evandro.
Um dos primeiros empreendimentos a se instalar na região foi a Faculdade Fasipe (hoje, Centro Universitário Unifasipe). “A faculdade surgiu na primeira fase de implantação do Residencial, comprovando que Sinop é um grande polo em educação, com destaque no ensino superior. Na época, o prédio parecia distante do centro, mas hoje já está longe de ser uma área periférica da cidade”, explica Marcos.
O lançamento do empreendimento foi um sucesso, comercializando os 307 lotes em menos de dois meses. A arborização da Avenida Magda de Cássia Pissinatti foi planejada com diversas espécies, principalmente a palmeira imperial. A iluminação é dotada de superpostes e a rede elétrica mantém um alto padrão de distribuição de energia e completa rede de água e esgoto, fatores que garantiram o êxito do empreendimento. O loteamento do Florença chegou à sexta etapa, com a denominação de Residencial Santa Cecília.
Reconhecida pelo trabalho horizontal, a G Pissinatti mergulhou na verticalização. Nos últimos anos, a empresa estabeleceu parceria com a Haacke Empreendimentos, culminando em dois grandes empreendimentos que prometem mudar o jeito de morar e de fazer negócios em Sinop. Na Avenida Bruno Martini está o Splendido, com 25 pavimentos, 68 apartamentos, e no térreo salas comerciais. Em 2024, o prédio já estava em construção. Na outra ponta da Avenida Magda está o World Trade Center, que promete ser o epicentro global do agronegócio, conectando produtores, empresários, traders, investidores locais e internacionais. Neste empreendimento, a G Pissinatti é parceira na comercialização.
No ramo da construção civil, a empresa ainda se ramifica com construtora própria e produção de artefatos de cimento.
Em junho de 2004, a família Pissinatti fundou a Fazenda Magda, atuando no segmento de pecuária de cria, recria e engorda. Quatro anos depois, mirando o desenvolvimento e melhoramento genético e a qualidade dos animais, adquiriram uma parte do plantel de Gilberto Porcel, criador referência na região e no país, com mais de 20 anos de experiência de seleção de gado P.O., nascendo assim o Nelore Magda. A fazenda está localizada às margens da MT-320, a cerca de 23 quilômetros de Carlinda, sentido Alta Floresta.
Desde o início, o objetivo da criação sempre foi ser inseminador de genética, desde a parte de transferência, FIV (fertilização in vitro), ultrassonografia de carcaça e programas de avaliação. “A Nelore Magda leva a preocupação de fazer um trabalho bem feito com uma seleção apurada, com precocidade, fertilidade e genética forte que gera bons resultados aos clientes”, explica Valdemar.
A família expandiu a atuação com a aquisição da Fazenda Ouro Branco, localizada em Terra Nova do Norte, entre 2015 e 2016. Clever foi quem convenceu o grupo a investir na localidade. A ideia inicial previa a instalação de uma pedreira, que foi convertida para pastagem. “Era tida como uma terra ‘suja’, mas busquei ajuda com especialistas pra transformar aquilo ali. Mas eu sabia que ali ia dar certo”, indica Clever, hoje responsável por gerenciar a fazenda onde é feita apenas recria.
Uma família consolidada
Uma pergunta foi feita a todos, tanto de forma coletiva quanto individual: o que Sinop significa na sua vida? Para quem se desenvolveu aqui, a oportunidade de dar uma vida melhor aos filhos, mesmo que a caminhada tenha sido árdua. “Sinop me deu tudo. O meu pai injetava coragem e confiança. Foi um empreendedor nato, que acreditou na cidade e profetizava que a cidade seria gigante. E hoje ela é, com cara de capital”, descreve Valdemar.
Opinião semelhante tem Cleide, que foi a única de sua família a vir para Sinop em 1972. “No início, eu chorava muito, estava distante dos meus pais, dos meus amigos. Mas meu sogro sempre dizia: ‘isso aqui vai dar certo’. Essa confiança dele era o que nos motivava a encarar qualquer adversidade”.
Marcos nasceu no Paraná, mas como chegou à cidade com apenas 2 anos de idade, se considera um sinopense pleno. “Eu vi essa cidade crescendo, as ruas sendo abertas, as famílias chegando, as crianças que também vinham do Sul. Eu vi a eletricidade, a TV, o telefone. Tive a oportunidade de ter uma infância pura, inocente, de muita brincadeira e diversão com a ‘primaiada’ que também estava aqui. É uma cidade fantástica e, hoje, se tornou uma potência em vários segmentos”.
Evandro corrobora com a opinião do irmão mais velho, citando ainda que tais oportunidades de crescimento talvez não seriam vistas em outro lugar. “É difícil a gente pensar no ‘se’, mas a gente sabe que ‘se’ tivesse permanecido no Paraná, talvez não teríamos conquistado tudo o que conquistamos aqui. Nossa felicidade está aqui”, resume Evandro.
O mais novo é o único que reside no Residencial Florença. Apenas a certidão de nascimento mostra o nascimento em cidade e estado diferentes, mas sua vida se resume a Sinop. “Tenho amizades fortes com mais de 35 anos. Aqui é um lugar que eu só vejo indo pra frente. Podemos até ter negócios em outros lugares, mas minha casa sempre será aqui”, completa.
Se Sinop completa 50 anos em 2024, os Pissinatti comemoraram o feito dois anos antes. Em junho de 2022, uma grande festa foi organizada para celebrar o cinquentenário da família na cidade.
Com 77 anos, Valdemar segue ativo na G Pissinatti e também administrando pecuária. Cleide faz trabalhos artesanais. Todos os filhos conheceram e se casaram com suas respectivas esposas em Sinop.
Marcos é esposo de Lara Beatriz Faria Almeida Pissinatti, com tem apenas um filho, Marcos Júnior Pissinatti. Evandro se casou com Alessandra Bonfiglio Pissinatti, é pai de Guilherme Bonfiglio Pissinatti, de 14 anos, e Luigi Bonfiglio Pissinatti, de 10. Já Clever é marido de Fabiana Prado de Moraes Pissinatti, e eles têm dois filhos: Lorena Prado Pissinatti, de 9, e Lorenzo Prado Pissinatti, de 4 anos.
Quem os vê hoje, grandes e consolidados, talvez tenha através deste testemunho alguma noção do quão difícil foi encarar Sinop em 1972. O legado que os Pissinatti deixam é de muita dedicação, companheirismo e confiança, de que a insistência é a chave do sucesso.
1972
Abertura da cidade

O COMEÇO DE TUDO
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O ano de 1972 se constitui num marco histórico para Sinop, pela ocorrência de dois eventos de expressiva importância histórica
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O primeiro marca o início dos trabalhos de abertura da área urbana da cidade, quando, em maio, tratores da Colonizadora rasgaram no meio da selva as primeiras ruas, quadras e avenidas da cidade
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O segundo evento marca a chegada da 1ª família pioneira de Sinop, de Olímpio João Pissinati Guerra
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Os trabalhos de abertura de Sinop, partiram do local onde atualmente se encontra o viaduto da BR-163, na entrada principal da cidade, e se estenderam até o local onde foi instalado o acampamento da Colonizadora - atualmente se encontram os prédios do Banco do Brasil e do Residencial Jacarandás
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Após a instalação do acampamento, começaram a ser abertas as primeiras vias da cidade
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A primeira avenida aberta foi a dos Mognos (atual Governador Júlio Campos) e as primeiras ruas abertas foram Pitangueiras, Lírios, Nogueiras e Primaveras