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1999
Família Buzzi

VESTINDO TODA UMA REGIÃO
De uma máquina de costura familiar para atender poucos clientes à confecção de milhares de peças, a Uniformes 1000 Cores é referência no mercado mato-grossense no segmento; o sucesso é fruto de muita dedicação e visão de seus fundadores e proprietários
Presente há 25 anos em Sinop, a Uniformes 1000 Cores, através de seus proprietários, tem grande participação no que diz respeito ao desenvolvimento da cidade. “Nascida” em Alta Floresta, é fruto do empreendedorismo de seus fundadores, que vieram originariamente do Paraná. E não apenas cresceu no Extremo Norte de Mato Grosso, mas também se expandiu para outras regiões tendo como base a família, cujos filhos fizeram questão de levar adiante a empreita que os pais iniciaram. Este é mais um exemplo do pioneirismo que transformou a região na qual a Capital do Nortão é responsável por levar adiante o desenvolvimento econômico.
O casal Vilmar e Elisete Buzzi tinha uma carreira consolidada em São Miguel do Iguaçu (PR), mas viam no emergente estado do Mato Grosso uma nova oportunidade. O desejo era latente. Em 1984 o casal com suas duas filhas Elizandra de 1 ano e 4 meses e Daniela de apenas 3 meses deixam o Paraná, acompanhando o restante dos familiares em uma jornada que os levaria a uma cidade mais próxima do Pará do que da própria capital do estado, Cuiabá, onde fariam investimentos para aproveitar o ciclo madeireiro com a intenção de ganhar dinheiro e melhorar de vida.
“Eles pensavam em ter alguma coisa a mais, buscar novas oportunidades. Por isso, trocaram os empregos em solo paranaense pela possibilidade de realizar novos sonhos. Nós moramos primeiro em Trivelato, uma vila que fica a 120Km de Alta Floresta, onde meu pai, junto com seus irmãos, trabalhava em uma serraria e minha mão cuidava de uma pequena mercearia.” Em 1986 nasce o 3º filho do casal Fabio Buzzi. Ali permaneceram por alguns anos, e no ano de 1991 a família se mudou para Alta Floresta. Foi naquela época que a mãe Elisete e a vó Brígida começaram a costurar. Primeiro fazendo roupas íntimas, depois vestidos e outras peças sob encomenda.
Com o aumento dos pedidos, Vilmar e Elisete viram a oportunidade de investir em um ramo bem específico: o de uniformes. O Mato Grosso como um todo, mas especialmente o Médio Norte e o Norte, estava sendo rapidamente povoado, com a chegada de inúmeras famílias advindas principalmente do Sul. Era apenas uma questão de enxergar a equação: mais gente vindo e mais empresas se instalando culminaria no aprimoramento do atendimento e na apresentação do colaborador – entre outros fatores.
A chegada de tanta gente também fomentaria a educação, que precisaria absorver o aumento da população estudantil nas cidades. Vilmar entendeu que produzir uniformes escolares seria o primeiro bom investimento. Na época, ele trabalhava com o irmão em um mercado, mas decidiu sair do emprego e trabalhar junto com a mulher. Em 1993, formalizaram a empresa com o nome fantasia Uniformes Mil Cores, nome escolhido em uma conversa com funcionários. Na época, a empresa já tinha três profissionais trabalhando, sendo elas a mãe e outras duas costureiras. Vilmar chegou para colocar a mão na massa – ou, no caso, nos tecidos.
Nesse período, Elizandra (hoje, ela possui ainda o sobrenome de casada Arrotheia) tinha 11 anos e também já ajudava na confecção, pois a malharia funcionava praticamente na sala de casa – somente anos depois é que mudou de local para uma região mais centralizada comercialmente e que proporcionou maior exposição. Isso ocorreu porque os pais compraram uma outra casa, com mais espaço, e na frente funcionava a empresa. Mas aos poucos a produção também foi tomando conta da residência.
Elizandra recorda que os pais trabalhavam integralmente, e aos poucos ela também foi se integrando à rotina, principalmente à tarde, depois de estudar na parte da manhã. “A principal função era fazer de forma manual o que chamamos de enfestar malha: ficava uma pessoa em cada ponta da mesa, esticava o tecido (em quatro pontas) e depois íamos fazendo os moldes. Hoje, com a máquina, precisa de duas pessoas no máximo”, explica.
Além de fornecer às escolas, Elizandra lembra que o período eleitoral era um momento de “festa”, possibilitando ganhar mais dinheiro, tendo em vista que ainda eram permitidas camisetas entregues pelos candidatos. “Era realmente muito bom e o faturamento aumentava bastante durante as campanhas eleitorais”, comenta. Fora isso, o principal produto na época eram as camisetas que compunham os uniformes.
Buscando sempre, desde o início, oferecer produtos de bastante qualidade aos clientes, a mãe Elisete era quem fazia os contatos em busca de bons fornecedores. E para isso, como os recursos ainda eram poucos, ela emprestava um telefone para fazer as ligações. A ideia era negociar diretamente com os melhores fornecedores, ela ia buscando informações e ligando para as empresas, principalmente do Paraná, no intuito de ter sempre um bom material à disposição. A expertise para buscar um bom material e bons preços era realmente algo muito difícil, mas primordial para que a empresa continuasse a crescer.
Com o passar do tempo, a família notou que era necessário ampliar espaços, buscar novos mercados. A melhor opção se tornava ir para a maior cidade da ampla região Norte do estado. Por isso, em 1999, a Uniformes 1000 Cores abre sua primeira unidade em Sinop. Os primeiros a gerenciar a loja foram os tios de Elizandra, que vieram de Alta Floresta especificamente para isso. A opção por este novo mercado ocorreu inclusive pela própria expansão da cidade, pois os pais faziam vendas no local e já percebiam o potencial.
Fábio Arrotheia e Elizandra se conheceram em 1996, começaram a namorar e se casaram em 2002. Fábio, na época, trabalhava na gerência de uma empresa de bebidas, cujo irmão era proprietário. No ano de 2003, ele acabou comprando, em sociedade com o sogro, uma distribuidora de embalagens, mas o próprio Vilmar queria que ele trabalhasse junto na loja de uniformes.
Fábio conta que após algum tempo foram percebendo que a empresa de embalagens não tinha tanta viabilidade. “Em 2004, vendi a loja de embalagens e fui trabalhar junto na 1000 Cores, atuando principalmente na parte de vendas, mas também supervisionando”, relembra.
Em 2006, Vilmar e Elisete pretendiam ampliar a loja de Sinop com o intuito de as filhas darem continuidade ao negócio. “Ofereceram para que eu e a Elizandra trabalhássemos exclusivamente na empresa. Minha única condição era deixar de ser funcionário e passar a administrar diretamente o empreendimento. Eu queria um negócio próprio”, revela Fábio. “Eles estudaram a proposta e acabaram vendendo a loja para nós. Apesar de ser uma empresa familiar, cada um assumiu um negócio de forma distinta”, emenda.
Então, em março de 2006, Fábio e Elizandra se mudam para Sinop e também inauguram uma nova loja da Mil Cores em um novo endereço – onde permanecem até os dias atuais.
Com o passar dos anos, novos mercados foram sendo buscados. Em julho de 2009, a 1000 Cores abre sua filial em Sorriso, por considerarem também um mercado promissor e com bastante potencial, ampliando assim para 3 unidades de atendimento. Em Lucas do Rio Verde, os irmãos de Elizandra iniciaram as atividades em 2017, e em Cuiabá foi aberto um showroom, no ano de 2021. Atualmente, são cinco unidades abertas, além da indústria em Alta Floresta, responsável pela maior parte da produção, sendo que lá trabalham mais de 160 pessoas. Considerada somente a estrutura presente em Sinop, trabalham 25 colaboradores e mais 20 terceirizadas que prestam serviços no setor de confecção.
Variedade
A Uniformes 1000 Cores tem um mix de produtos bastante variado e atende praticamente todas as áreas: uniformes escolares, esportivos, serviços, administrativo, operacional, hospitalar e gourmet o que significa uma produção de materiais com acabamentos nos mais diferentes níveis. Em relação aos modelos, são aproximadamente 500 tipos diferentes, entre cortes, tecidos e bordados em todos os formatos possíveis.
A exemplo do início, quando Elisete buscava os melhores padrões possíveis de qualidade, os tecidos atualmente continuam sendo comprados de acordo com o que há de melhor disponível no mercado, principalmente no estado de São Paulo, mas também outras regiões. Já em relação aos clientes, além de Sinop e demais praças nas quais a empresa está instalada, algumas áreas no Pará também já contam com os produtos confeccionados em solo mato-grossense.
Elizandra explica que os uniformes são confeccionados tanto sob encomenda quanto à pronta entrega, possibilitando ao cliente solicitar apenas o bordado, o que representa maior agilidade. Grandes marcas, inclusive franquias, são atendidas, como a rede de escolas canadense de inglês Maple Bear e o Colégio Marista, a partir da qual a empresa pode atender tanto as escolas do estado quanto do país todo.
Fábio relembra uma curiosidade com relação ao nome da loja, que trouxe até certa dificuldade nos anos iniciais em que se instalou em Sinop. Segundo ele muitos potenciais clientes pensavam que eles vendiam tinta. “Ninguém sabia o que era, não tinham conhecimento do ramo da nossa empresa. Então, a estratégia foi divulgarmos de forma muito forte, para que o nome e também a atividade ficasse conhecida. Hoje, isso mudou e já temos uma grande penetração, mas é preciso sempre reforçar a marca”, frisa.
Um dos principais aspectos a serem considerados dentro dessa realidade é realmente o tempo, a longevidade que a empresa possui no mercado local. O contexto econômico contribui principalmente pelo franco desenvolvimento que a cidade atravessa, mas o fato de estarem há 25 anos no mercado coloca o empreendimento como um dos principais no segmento não apenas da região, mas do estado. Isso ocorre apesar da concorrência desleal com produtos importados que chegam a preços bem menores, em que pese a qualidade ser menor, como por exemplo os produtos chineses. Aliado a isso as compras on-line que são característica de grandes centros, mas que em outros estados ou até mesmo em Sinop ainda não significam uma realidade semelhante.
E mesmo em que pese tudo isso, as perspectivas de ambos, principalmente para o futuro de Sinop e dos negócios, são as melhores possíveis e eles consideram que a cidade vai continuar a crescer. “E com ela a empresa também vai continuar crescendo, atendendo sempre da melhor forma e trazendo o que houver de maior qualidade e novidades no mercado. Pretendemos ampliar ainda mais as atividades, seja aqui em Sinop ou em Alta Floresta, apesar das dificuldades”, considera Elizandra. Ela citou um problema comum, que é a falta de mão-de-obra qualificada.
Fábio lembra que as costureiras, grandes responsáveis pela confecção das peças, são na grande maioria com idade acima dos 55 anos de idade e não encontram novas profissionais. Para isso, segundo ele, seria necessário desenvolver um programa para formação de pessoas nesta área, o que realmente vai fazer falta em um futuro bastante próximo. “O que não é uma realidade apenas de Sinop, mas de Alta Floresta e de outras cidades de forma geral”.
O segmento de confecções é muito promissor, com rendimentos consideráveis dependendo da produção, e destoa da realidade do mercado, sendo que todas as pessoas que trabalham conseguem se sobressair. Mas infelizmente a falta dos profissionais é uma realidade e apesar de a empresa ter máquinas disponíveis falta quem possa operá-las. “Em Alta Floresta foram feitos cursos, parcerias, mas ao final, de 38 que fizeram o curso, 10 se interessaram e apenas 5 acabaram realmente trabalhando para a empresa”, considera Elizandra.
Já sobre morar e investir em Sinop, o casal avalia que foi a melhor decisão. “O principal foco é a continuidade do crescimento, por isso as duas escolhas, tanto pela cidade quanto por iniciarem um negócio próprio, foram acertadas. Fábio recorda que na época em que chegaram a cidade passava pela crise instituída com o fim do ciclo madeireiro, com o fechamento de diversas empresas muitas pessoas desanimadas.
“Eu pensava que devíamos acreditar, correr atrás e fazer o contrário, buscando o crescimento e foi o que ocorreu. Hoje vemos dezenas de novos prédios sendo construídos, empresas grandes chegando, outras menores também iniciando as atividades e então realmente foi bem acertado. No nosso ramo, o de uniformes, não vai acabar, pode haver uma determinada retração em algum momento, mas em seguida os investimentos continuarão a ocorrer”, ressalta Fábio.
Eles não têm ideia de quantas empresas já ajudaram a se vestir até hoje, mas consideram que são milhares de empreendimentos e milhares de pessoas que atualmente ou já vestiram ou têm uma peça de roupa confeccionada pela Uniformes 1000 Cores. “Se não comprou ou recebeu da empresa pode ter ganhado em algum evento e isso é muito legal, porque na rua a gente reconhece se a pessoa está usando algo que fabricamos.” sorri Elizandra.
A família projeta a sucessão familiar. Larissa (1996), filha de Fábio, trabalha na 1000 Cores há 10 anos. Júlia (2004), que cursa Medicina em Curitiba (PR), Mateus (2007) e Davi (2021) são os candidatos a dar continuidade à Uniformes 1000 Cores. Mas até lá, o casal com certeza ainda deverá vestir muitos clientes em Sinop e região.
1999
Valmor Bressan - Grupo Vianorte

“JUNTOS NA DIREÇÃO"
Esse é o slogan que a Chevrolet adotou no ano de 2024, mas também poderia ser o mote da família Bressan, que no final da década de 90 resgatou a concessionária Chevrolet em Sinop, criando um grupo que opera hoje com 5 marcas de montadoras em 10 unidades, vendendo para toda região norte do Mato Grosso
A Vianorte parece estar lá desde sempre. A loja ampla, do ladinho do viaduto de Sinop, é a mais antiga concessionária de veículos em atividade na cidade. Quem comanda o negócio é um casal, que juntos escolheram Sinop como o lugar para começar sua vida, no começo dos anos 2000. Mas a história dessa empresa familiar começa muitos anos antes, com um menino de 11 anos de idade saindo da escola na 5ª série e indo trabalhar como taxista, no carro do pai. Parecia uma escolha errada, mas foi assim que ele colocou a sua vida nos eixos. Esse “menino” é Valmor Bressan, o fundador do Grupo Vianorte e de outras duas concessionárias Chevrolet no Sul do país.
Valmor nasceu em 18 de abril de 1951, em um lugarejo chamado Constantina, na época um distrito de Frederico Westphalen, no Norte do Rio Grande do Sul. Ele é o segundo filho de Ilário Bressan e Gessemina Pedro Bressan, que tiveram 5 filhos.
Quando Valmor nasceu, o principal trabalho de seu pai era fabricar e ensinar a fazer selas. Ele aprendeu o ofício no Exército. Anos antes, Ilário havia sido recrutado pelo Exército para servir na Segunda Guerra Mundial. Acabou não sendo mandado com as tropas brasileiras para Itália, mas recebeu a instrução de seleiro.
Em 1958, entra na história de Valmor o primeiro carro. Ilário comprou um Ford modelo 28 e começou a trabalhar como taxista. Nessa época, com 7 anos de idade, Valmor trabalhava de engraxate no centro da cidade. Aos 9 anos de idade conseguiu um emprego com um dentista que fabricava próteses (dentes e dentaduras). Com isso, aprendeu o ofício de protético.
Da 1ª à 5ª série, Valmor estudou no Colégio Irmã Santa Terezinha. Depois disso desistiu da escola. O diretor do colégio nutria uma rivalidade com o dentista, pois atuavam no mesmo segmento. Valmor era perseguido pelo diretor dentro da escola. Houve um dia em que, por mais de 40 minutos, o aluno foi espinafrado pelo diretor em frente de toda a classe. “Naquele dia, eu decidi que não ia mais estudar, mas iria trabalhar e vencer na vida com meu esforço”, conta Valmor.
Não era bem esse tipo de lição que uma escola deveria ensinar, mas funcionou para Valmor. Um amigo de Ilário, que constatou as humilhações que o menino era submetido, explicou a situação, fazendo o pai aceitar que o filho deixasse a escola. Sem obrigações com o estudo, Valmor continua trabalhando como protético, e nas horas vagas pilota o táxi da família – com 11 anos de idade.
Com 13 anos de idade, Valmor pega um emprego de cobrador de ônibus, mas fica por um pequeno período. Ele então começa a trabalhar como “vendedor de santos” para uma loja de artefatos religiosos. Valmor enchia a mala do carro com imagens de santos e rodava pelas comunidades da região oferecendo os produtos.
Aos 15 anos, Valmor passa a apenas dirigir. Ele trabalha com o táxi e com uma Kombi, fazendo o transporte de alunos da rede escolar. Em uma das corridas de táxi, encontra Domingos Martini na rodoviária. Domingos era um importante empresário local, proprietário de uma loja de máquinas agrícolas. Valmor recebe um convite para trabalhar com Domingos, vendendo maquinários.
Dos 17 anos de idade até os 27, Valmor trabalhou vendendo máquinas agrícolas. Foi nesse período que ele conhece Mirtes Maria Lemen. No ano de 1970, Valmor foi em uma festa de aniversário de uma prima, em Palmeiras das Missões. “Nessa comemoração, uns amigos e parentes me apresentaram a Mirtes. Disseram: ‘essa aqui vai ser sua esposa’. Ela tinha 17 anos de idade na época e eu 19. Ela ficou toda envergonhada”, lembra Valmor.
Eles começam a namorar e se casam 7 anos depois, em 12 de novembro de 1977. Em maio de 1978, Martini convida Valmor para fazer uma visita a Nilo Soares, gerente de distrito da General Motors. Rui Martini, filho de Domingos, também estava nessa conversa. Passadas as apresentações, Nilo oferece a oportunidade de abrir uma concessionária da Chevrolet, em Sarandi (RS), para Valmor e Rui. “O Rui olhou para mim e perguntou o que eu achava. Eu olhei para o Nilo e falei: ‘o senhor trouxe o contrato?’. Eu não tinha dúvida de que queria”, conta Valmor.
O documento vem um mês depois, em junho de 1978, com a nomeação de Rui e Valmor como concessionários Chevrolet. Eles constituem a Martini Veículos, um pequeno e inchado CNPJ, com 11 pessoas no seu quadro societário. Todos os gerentes de loja e proprietários do Grupo Martini foram inscritos como sócios da revenda. No dia 10 de novembro de 1978, a concessionária abre as portas, exibindo no salão os lançamentos da época: Marajó, Chevette, Opala, Caravan e D10. “Antes de abrir a concessionária, eu fiz uma pré-venda. Visitei empresas e comerciantes e vendi 30 carros”, comenta Valmor.
A GM havia escolhido Valmor mesmo ele não tendo muito capital. Não era dinheiro que os diretores da montadora procuravam, mas um comerciante habilidoso que fosse honesto, para não vandalizar a marca. A experiência em Sarandi dá certo e a concessionária se torna lucrativa.
É em Sarandi, no ano de 1979, que nasce Priscilla, a primeira filha de Valmor e Mirtes. Em 1981 nasce Micheli. Nessa época, Valmor começa a ter desentendimentos com os sócios e percebe que precisa se preparar para sair do negócio. Ele vai até o Escritório Regional da GM, em Porto Alegre (RS), na tentativa de conseguir a permissão para abrir sua própria concessionária, sem uma penca de sócios junto. O empresário explica para Rui que queria deixar a sociedade em Sarandi e abrir uma revenda. “O que o Rui me disse foi: ‘o negócio que tu for montar eu quero ser sócio. Se for, assim eu te libero’”, revela Valmor.
O pleito junto à GM não teve força. O tempo corria e nada de uma aprovação cair do céu. Durante uma churrascada de confraternização da equipe de tapeçaria da GM, em São Caetano do Sul (SP), Valmor conversa com dois diretores regionais de vendas da companhia. Ambos sugerem para que o empresário compre uma concessionária que já existe, ao invés de abrir uma. Um deles ainda sugere uma concessionária que poderia ser negociada com o aval da GM.
Valmor acata a ideia, e em 1982 compra a Casmol, revenda GM em São Miguel do Oeste (SC). O empresário cruza o Rio Uruguai e se estabelece com a família no Oeste catarinense. Rui entra na sociedade, conforme o acordado. Valmor também chama João Gobbo para o negócio. A junção das primeiras sílabas do sobrenome dos 3 sócios dá origem o nome dessa nova empresa: Bregomar Veículos. Em maio de 1982, a concessionária inicia a operação. “O desafio era recuperar a confiança da marca na região”, pontua Valmor.
É também em 1982 que nasce, em São Miguel do Oeste, Emanuelle, a caçula do casal. Passados 17 meses de funcionamento da Bregomar Veículos, os sócios pedem para que Valmor venda a sua parte da concessionária em Sarandi e compre a parte deles da revenda em São Miguel. O negócio é selado. O sucesso da Bregomar agora era um assunto só de Valmor. Para manter seus melhores quadros na equipe e comprometidos, o empresário dá 2% de participação na Bregomar para 3 dos seus funcionários, que passam a ser sócios.
A concessionária se estabelece em São Miguel do Oeste e passa a ser a revenda de confiança da marca Chevrolet em toda a região. Com dinheiro em caixa, Valmor capitaliza. Em 1985, o empresário compra a Fazenda Belvedere, em Primavera do Leste (MT). Sua pretensão era desenvolver a criação de gado na área, mas acabou não acontecendo.
No início dos anos 90, por ter investimentos no estado do Mato Grosso, o empresário foi convidado pela General Motors para abrir operação Chevrolet no estado. Analisou as praças, sendo elas Primavera do Leste, que quando chegou já estava descartada por ter outro indicado, Tangará da Serra e Sinop, aonde chegando em Tangará não se sentiu confortável o que inclusive o desestimulou a continuar viagem e conhecer Sinop, indicou nomes para estes e retornou ao Sul.
No ano de 1999, ele faz uma viagem para visitar a sua terra no Mato Grosso. O “bom amigo” Raul Kavitchan o acompanha na excursão. Em Primavera, eles decidem dar uma esticada e conhecer Sinop, cidade que todos falavam ser promissora. Quando chegaram no Nortão, o carro apresentou uns problemas e Valmor precisava de uma oficina e acabaram passando na Diskavel – nome da revenda Chevrolet em Sinop. O empresário, então, volta para São Miguel do Oeste e dias depois recebe uma ligação oferecendo sociedade na Diskavel. Valmor recusa. Então se propõe a venda da concessionária.
Em setembro de 1999, abre a Vianorte. O nome foi mudado por sugestão da GM e criado por Valmor com o objetivo de registrar o “desbravar no norte”. Valmor chamou para a sociedade o empresário José Biondo e o médico Rudi Nehls, da Maternidade Jacarandás, que era de São Miguel do Oeste e havia migrado para Sinop. Na abertura, a Vianorte tinha 15 funcionários, vendendo uma média de 30 carros por mês. Os carros da Chevrolet na época eram a Silverado, a D20, a picape Montana e o popular Corsa. “Eu decidi por montar uma concessionária em Sinop porque vi uma região de muito progresso. As madeireiras já estavam em um processo de decadência, mas eu apostava em uma virada de chave na economia. Se falava que o solo era infértil, mas eu sabia que isso pouco importava. Era uma questão de tempo para o Norte de Mato Grosso se tornar uma região agrícola muito rica”, comenta Valmor.
Além disso, também teve o “fator Sinop”. O empresário se sentiu acolhido desde a sua chegada. Os conhecidos do Sul, que vieram antes dele, tentavam a todo custo persuadi-lo a se estabelecer na cidade. “Um mês depois que você está aqui em Sinop, quando alguém vem te visitar, você começa convidar a pessoa para se mudar pra cidade. É algo curioso, que acontece com todo mundo que vem para Sinop”, brinca Valmor.
O empresário continuava morando em São Miguel do Oeste e sua equipe tocava a Chevrolet Vianorte que seguiu expandindo regionalmente ao abrir concessionárias da GM em Lucas do Rio Verde e Sorriso.
Em 2003, a filha mais velha de Valmor se muda para Sinop a fim de conduzir o negócio da família. Priscilla praticamente cresceu dentro da Bregomar. Desde os 11 anos de idade, ela já desempenhava tarefas na concessionária. Valmor nunca pediu para que Priscilla viesse trabalhar na Vianorte. Sinop surge como uma espécie de “acordo de casal”, escolhendo um campo neutro para seguir a vida.
Isso porque a família de Priscilla e seus negócios estavam em São Miguel do Oeste. E para Claudio Bagestan, a vida se organizava em Passo Fundo (RS). Os dois são primos de segundo grau. A mãe de Cláudio, Enedina Pedro, é irmã da avó de Priscilla. Eles sempre viveram em cidades diferentes, sem muito contato na infância. Em 1997, durante um velório, eles se reencontram e passam a se relacionar. Priscilla estava no primeiro ano da faculdade e Cláudio tinha acabado de se formar em engenharia eletroeletrônica quando começam a namorar. Quando decidem se casar, Cláudio já estava profissionalmente estabelecido em Passo Fundo, fazendo projetos para o shopping da cidade e também para a rede de supermercados Zafari. Ele, inclusive, era engenheiro credenciado junto à Caixa Econômica Federal para fiscalizar projetos. O casal iria se unir em definitivo com uma condição: não iriam morar nem em São Miguel do Oeste, nem em Passo Fundo. Foi assim que Sinop entrou no roteiro.
O casamento foi marcado para o dia 21 de junho de 2003. No dia 1º de dezembro de 2002, Priscilla sofre um grave acidente de carro, no trevo de Maravilha (SC), perto de São Miguel do Oeste. Na colisão ela fratura a vértebra C1, a primeira da coluna e tem seu couro cabeludo arrancado. “Me casei careca”, conta ela.
O sinistro que quase ceifa sua vida não muda os planos do casal. Na data marcada, eles se casam na presença de 600 convidados e anunciam que vão se mudar para Mato Grosso. Quinze dias depois, em 6 de julho de 2003, eles rumam para Sinop. A viagem foi a bordo de uma Chevrolet Meriva, entulhada com os presentes do casamento. Priscilla lembra do quão desconfortável foi fazer o trajeto de mais de 2,5 mil quilômetros naquela condição de saúde que estava. Foram 18 horas de estrada de Cuiabá até Sinop.
Assim que chegaram em Sinop, não conseguiram achar casa para alugar. O salário inicial dela era de R$ 800,00 e os aluguéis estavam na faixa de R$ 1.400,00. Então eles montam seu primeiro lar em um puxadinho em cima da oficina da Chevrolet Vianorte. Nesse espaço improvisado, o casal morou por 4 anos. “Eu me lembro que nos primeiros dias eu fiz uma faxina na nossa ‘casa’. Passei horas limpando, e no dia seguinte já estava tudo sujo. Tinha muita poeira. A concessionária também não inspirava. Era um prédio feio, quente, sem ar-condicionado, muito diferente do que é hoje”, comenta Priscilla.
A cidade não tinha beleza, mas dispunha de outros predicados. Priscilla e Cláudio lembram do quanto as pessoas de Sinop foram acolhedoras. Por anos o casal não almoçou em casa nos domingos, tamanha quantidade de convites que recebiam de recém-conhecidos. Eles sentem uma espécie de espírito de colaboração coletiva, em que todos parecem torcer pelo sucesso do próximo.
Isso sem falar da parte financeira e profissional. Sinop transpira crescimento. Quando chegaram à cidade, Cláudio tinha 29 anos e Priscilla 24. O casal logo é chamado para dar aulas na Fasipe, faculdade que estava dando seus primeiros passos e que hoje é um conglomerado da educação superior. Cláudio cedo é procurado para realizar projetos de engenharia. Executa os diagramas para a sede da CGF Contabilidade, da empresa de segurança Inviolável, para o Senai, ala de UTI e de Oncologia do Hospital Santo Antônio. Ele chega a montar um escritório de engenharia em Guarantã do Norte. “Sinop é um organismo vivo que cresce em espiral. É uma cidade que tem cheiro de oportunidade, um DNA empreendedor. A cada dia Sinop tem uma coisa nova para mostrar. Quem não é daqui tem dificuldade de entender a dimensão do crescimento desse lugar”, avalia Cláudio.
Quando Priscilla começa a trabalhar na Chevrolet Vianorte, a empresa já era uma operação consolidada. A concessionária tinha 70 funcionários contratados e um volume de vendas que hora o outra lhe colocava em posição de destaque no ranking da GM. No salão da loja, os principais produtos eram o Astra, o Corsa Millenium e a camionete S-10. “Lembro que, no meu primeiro dia de trabalho na Vianorte, tinha uma faixa escrito: Celta zero quilômetro por R$ 9.999,00. Quem me dera ter um produto com esse preço hoje”, conta Priscilla. Vinte anos se passaram e aquele Celta, que valia R$ 10 mil, hoje é vendido pelo mesmo preço no mercado de usados.
A camionete S10 era o principal produto da Chevrolet Vianorte na época. Entre 2003 e 2004, a empresa fez uma ação de vendas, comprando um estoque de 120 unidades. Encheu o pátio da concessionária, que vendeu tudo em menos de 3 meses.
Com 4 meses que Priscilla e Cláudio estavam em Sinop, receberam a proposta para abrir uma franquia da Localiza. A locadora de veículos foi a primeira de uma série de expansões.
Nos anos de 2004 e 2005, Sinop é acometida por uma sequência de operações ambientais que desestruturam a indústria madeireira, principal setor da economia local até então. A Chevrolet Vianorte sentiu o reflexo. As vendas caíram pela metade e manter o negócio foi um desafio. Apesar do tranco, o casal sequer cogita deixar a cidade. Ao invés disso, dobram a aposta. Ou como diz Cláudio, “investem no meio do pó”, porque era o que tinha em Sinop naquele momento.
O movimento do casal não foi solitário. Muita gente seguiu em Sinop, investimento, mesmo diante da adversidade. E isso fez com que a cidade virasse a chave da sua economia em um intervalo de dois anos. Sinop passou a ser polo de comércio e serviços de toda a região, desenvolveu-se em outros setores, como educação e saúde, alcançando no fim um modelo econômico plural e muito mais sólido que o anterior.
Em julho de 2007, José Biodo sai da sociedade e Osmar Lamonatto passa a ser sócio trazendo para Sinop sua esposa Gersi e deixando os negócios de Carazinho com os filhos Jaison, Saimon e Jaisa.
A consolidação de um novo ciclo se materializa em 2010. Depois de uma sequência de melindrosas tratativas, Priscilla e Cláudio conseguem ganhar os exigentes japoneses. No dia 3 de dezembro, abre as portas da primeira concessionária do Grupo Vianorte que não vende Chevrolet. Era o início da Honda Aika – nome que significa “Casa do Amor”. Com a Aika, passava ser possível comprar um Civic, um Fit ou a cobiçada C-RV sem sair de Sinop, inclusive podendo fazer a assistência na concessionária.
No ano de 2012 muita coisa acontece. A Emanuelle, filha mais nova de Valmor, se mudam para Sinop, integrando os quadros da Vianorte. É também em 2012 que nasce Enzo Bressan Bagestan, o primeiro filho do casal, Claudio e Priscilla. A expansão segue com a abertura de outra concessionária em Sinop, com mais uma marca para o grupo. Em agosto de 2012, inicia a atividade da Renault Morel – nome que em francês significa “pessoa de pele morena”, uma referência clara ao povo culturalmente miscigenado do Norte de Mato Grosso. “Eu costumo perguntar que sotaque Sinop tem? Sinop não tem um sotaque. É um mosaico cultural, de ideias e experiências, que promovem um ambiente de elevação cultural, que se manifesta como um pioneirismo tecnológico, de gente que não para de desenvolver e buscar evoluir. Esse é um dos fatores que fazem Sinop estar na vanguarda”, pontua Claudio.
Foi também em 2012 que surgiu a operação da loja Multimarcas Grupo Vianorte, operando com a comercialização de seminovos. Unidades da revenda multimarcas foram abertas em Alta Floresta e em Lucas do Rio Verde. No mesmo ano, o grupo também inaugura a Mirai, concessionária Nissan, mas após um período a empresa descontinuada pelo Grupo. Em outubro de 2015, outra marca forte entra para o grupo com a abertura da Monte Cristo, concessionária Jeep em Sinop.
Em 2017, a família aumenta, mas não com novas marcas. É a chegada de Eloá, a segunda filha de Priscilla e Cláudio. No ano 2020, Osmar Lamonatto, que tocou a Vianorte por 17 anos, se aposenta. O sócio gestor faz uma transição, preparando Priscilla para assumir a administração de todo o grupo. Desde então é a primogênita de Valmor que gerencia toda essa operação, que envolve 5 diferentes montadoras e comercializa em média 2 mil veículos por ano – sendo metade disso Chevrolet. “A Vianorte não é apenas um negócio do meu pai. É um projeto de vida para muita gente. Temos duas pessoas em nossa equipe que estão na concessionária há 24 anos. E outros tantos com 18 anos de empresa. Em todas as unidades do grupo são mais de 300 funcionários que por um período de tempo vivem esse negócio”, comenta Priscilla.
2023 foi cheio de novidades, além da mais recente concessão do Grupo Vianorte a adesão da marca RAM, junto a concessionária Jeep, especializada na produção de camionetes, produto preferido do Norte de Mato Grosso, e da Pista de Test Drive Off Road anexo ao Estacionamento do Shopping Sinop que é a primeira pista permanente em Shopping no Brasil, a família cresceu, agora com Mariana filha de Emanuelle, a caçula de Valmor. E em novembro de 2023 teve novidade da GM também que relançou a camionete Silverado, a Chevrolet Vianorte foi a concessionária que mais vendeu no Centro-Oeste. “Sinop não se explica, se sente. Não há uma explicação lógica pra essa cidade”, sublinha Cláudio. “Eu tenho a sensação de que se você acorda às 6 horas da manhã em Sinop, já está atrasado”, complementa Priscilla.
Atualmente, Priscilla e Cláudio administram, lado a lado, com apoio de Emanuelle Bressan e Osmar Lamonatto, as empresas do Grupo Vianorte. Já Valmor tem duas casas, uma em São Miguel do Oeste e outra em Sinop, passando um tempo em cada lugar. Quando perguntamos para o pioneiro do Grupo que carro ele dirige, a resposta é: “depende o dia”. O empresário troca de carro com muita frequência, às vezes em um intervalo de uma semana. Mas quando o assunto é a paixão por automóveis, a marca GM grita alto. Na sua garagem, Valmor guarda 3 relíquias. A mais antiga é um Chevrolet Impala branco 1969. Ao lado estão o último e o penúltimo Chevrolet Ômegas emplacados no Brasil, um preto e outro prata, ano 2011. “Esses 3 carros vão ir para o inventário”, garante Valmor.
Enquanto esse dia não chega, é possível ver o velho menino que parou de estudar na 5ª série, passeando pela cidade com seu GM, de vidros abaixados, acenando para os conhecidos como se estivesse dirigindo o Ford do pai nas ruas de Constantina.
1999
Deivison Pinto

O TRANSFORMADOR LEGADO DA EDUCAÇÃO
A história de uma criança que cresceu trabalhando em uma escola e que, através da Educação, construiu um império, lecionando uma nova matriz econômica para cidade de Sinop
Imagine o quão a Educação pode ser transformadora. Não apenas para um indivíduo, mas para uma sociedade inteira. Agora vá para além da evolução cultural, acadêmica ou científica, reflita sobre como a Educação pode transformar, economicamente, uma cidade, ao ponto de conduzi-la da condição de exportadora de madeira à importadora de estudantes.
Nessa jornada do “pau ao papiro”, Sinop tem um exemplo ímpar da capacidade de comutação que o saber proporciona. A história de um professor formado em Economia que escolheu empreender na cidade e, em duas décadas, constrói um império da Educação, colaborando expressivamente com a ressignificação da matriz econômica local. Uma faculdade aberta no começo dos anos 2000, em uma cidade essencialmente madeireira, e que hoje recebe o título de universidade, está presente em seis municípios do estado de Mato Grosso e no Distrito Federal, com 20 cursos que atendem a mais de 6,5 mil estudantes universitários. Esse é o império conhecido como Unifasipe, ou Grupo Fasipe, fundado pelo professor Deivison Benedito Campos Pinto.
Hoje, a marca da instituição transcende seu fundador, mas não há como dissociá-los. O conceito de Educação que reforma está na trajetória pessoal de Deivison. Ele foi transformado pela Educação e com Educação transformou.
Deivison nasceu em 1970. É o segundo filho mais velho de uma família de cinco irmãos. Cresceu em um lar cuiabano, simples e regrado. Aos 13 anos, começou a trabalhar como auxiliar de cantina no Colégio Afirmativo, uma escola particular, em Cuiabá. Embora trabalhasse no colégio privado, ele estudava em uma escola pública. Seu dia inteiro era dentro de uma escola, seja estudando ou trabalhando.
No ofício não pegou recuperação. Logo foi promovido a office boy, depois auxiliar de tesouraria, ao Recursos Humanos e, no fim, chegou ao posto de diretor da escola. Mas não sem antes se formar e passar pela sala de aula. Quando já havia completado o Ensino Médio, o Colégio Afirmativo iniciou o processo para fundar a Faculdade Cândido Rondon. Deivison participou desse processo, o primeiro de muitos que o futuro lhe reservava. Em razão do vínculo, acabou ganhando uma bolsa de 50% no valor da mensalidade para cursar Ciências Econômicas. Na época, essa meia mensalidade que ele ainda precisava pagar correspondia a 80% do salário que recebia da escola.
Quando chegou a hora de quitar o primeiro boleto, o então diretor, professor Adonias, disse para Deivison guardar o dinheiro, em uma poupança, para o futuro. Até que um dia o diretor presenciou o jovem aluno indo para casa após a faculdade debaixo de chuva. No dia seguinte, Adonias perguntou se Deivison estava guardando o dinheiro da mensalidade. Ao receber resposta positiva, o diretor disse para ele comprar um carro. As economias foram suficientes para comprar um Fusca 1963.
Quando concluiu o curso de Ciências Econômicas, em 1994, Deivison foi efetivado no quadro de professores do Colégio Afirmativo. Ele já havia dado aulas para 1ª e 3ª séries antes de completar a graduação. Embora goste de ser chamado de professor até hoje, a passagem pela sala de aula foi curta. Cedo, ele assumiu o posto de diretor geral e depois diretor presidente da instituição.
No ano de 1996, ele já havia concluído sua primeira pós-graduação, em Administração. Dois anos depois, em 1998, após 18 anos dentro do mesmo grupo educacional, uma diáspora fez com que Deivison e outros sete professores se afastem da instituição. Juntos, eles fundam a FAUC (Faculdade de Cuiabá).
Era a segunda faculdade que o economista ajudava a fundar, mas não seria a última. A “Pietá” desse cuiabano que cresceu trabalhando em escolas seria esculpida não no concreto da capital, mas no pó de serra e sob a fumaça de uma proeminente cidade no norte do estado.
Com as primeiras turmas da FAUC estabelecidas, os sócios já discutiam a expansão. Duas cidades estavam na mira para receber a primeira filial: Campo Novo dos Parecis e Sinop. Em 1999, Deivison e outros dois sócios rumaram para a cidade mais ao norte. Depois de uma extenuante viagem por uma rodovia precária, o professor deparou-se com um município com menos de 65 mil habitantes, com tantas madeireiras quanto ruas não pavimentadas. Mas não foi isso que Deivison viu. “Quando eu entrei na cidade, eu senti um ar de crescimento, de progresso. Eu via Sinop como uma cidade muito promissora. Pensei na hora: é aqui que eu quero ficar”, lembra Deivison.
Mas nem todos compartilhavam da sua visão. O empresário conta que, quando falava que abriria uma faculdade em Sinop, muitos davam risada. Inclusive seus dois sócios que o acompanharam na viagem. Entre os incrédulos e os desconfiados, o professor conseguiu encontrar aqueles que compartilhavam do seu entusiasmo. “Foi uma rede de pessoas motivadas que formou a Fasipe. Muita gente quis ver esse projeto acontecer”, avalia Deivison.
Logo o fundador de faculdades conseguiu um prédio, no centro da cidade, onde antes funcionava um colégio particular e que agora é a sede da Escola Estadual Cleufa Hubner. Trocou o aluguel, pago pela Prefeitura, por bolsas de estudo. No imóvel compartilhado, montou-se a estrutura possível, não a ideal. “Tinha um corredor com 70cm de largura que eu passava de lado”, relembra.
O primeiro passo para fundar uma instituição de Ensino Superior é o documental – situação que Deivison já dominava naquetla época. Enviou, então, para o MEC (Ministério da Educação e Cultura), o processo para fundar a Fasipe, Faculdade de Sinop, com quatro cursos: Administração, Gestão da Informação, Marketing e Turismo. O pedido foi previamente aprovado e, no ano 2000, a Fasipe preparava-se para receber a comissão avaliadora do MEC.
Uma força tarefa foi montada para esse dia. Deivison conseguiu convencer dez professores, amigos de Cuiabá, a se apresentarem na avaliação da fasipe. Deu certo, a autorização foi concedida e começaram os trâmites para contratação de professores, captação de alunos e outras providências para o início das aulas em 2002. Do quadro de professores iniciais, permanecem na instituição, até hoje, duas professoras: Marli Chiarani e Stela Maris Hoffmann que, ao longo desses anos, testemunharam o crescimento da instituição e a transformação de vidas por meio da Educação de Nível Superior.
Para o laboratório de informática, Deivison convenceu um empresário do setor a lhe fornecer, a toque de caixa, os computadores, em um negócio que mais parecia um aluguel provisório, suficiente para superar o crivo do MEC. “Tudo isso foi possível porque essas pessoas acreditaram na Fasipe e entenderam o quão era importante Sinop dar esse passo no Ensino Superior. Nesse momento, a Fasipe começou a puxar a vocação de Sinop, que se tornou uma cidade universitária”, argumenta o empresário.
O MEC aprovou o pedido e a Fasipe iniciou sua operação. O primeiro grupo contava com pouco mais de 150 alunos – cerca de 90% das pessoas fora da idade escolar. Eram profissionais já atuantes no mercado de trabalho, donos ou filhos de donos de empresas, que buscavam a qualificação. “Eram alunos que já trabalhavam, diferente dos grandes centros, onde as pessoas buscam a faculdade para conseguir acessar uma profissão. Entre os desafios, estava a dificuldade de conciliar o trabalho e os estudos. Quando a primeira turma formou 60% dos acadêmicos, foi a glória. Tive certeza de que havia tomado a decisão certa de estar em Sinop”, conta o professor.
Mas o negócio estava longe de ser a potência que é hoje. Deivison casou-se com Giane Castro em 1998 e com ela teve seu filho Nathan Leonardo de Castro em 1999. Enquanto o economista vivia sua aventura desbravando a Educação no interior, sua família continuava na capital. Boa parte do tempo de folga do professor, era gasto dentro de um ônibus, entre Sinop e Cuiabá, tentando conciliar esses dois lares. À medida que a instituição ia se consolidando, Sinop apresentava-se como o lugar de morada da família inteira. Não era mais uma aventura; era o lugar em que o sonho se tornou realidade e a família precisava estar aqui também, inclusive porque havia nascido Natália, a segunda filha do casal. Infelizmente, o bebê morreu aos quatro meses em razão de uma SMSI (síndrome da morte súbita inesperada), que ocorre com recém-nascidos aparentemente saudáveis, até um ano de vida.
Em 2004, Giane estava grávida, gestando Raissa Beatriz de Castro Pinto. A família muda sua residência para Sinop, no mesmo ano em que a Fasipe ganha uma área de terra no Residencial Florença, onde mais adiante construiria sua primeira sede própria. O “presente” não foi em vão. A Fasipe estava crescendo e compartilhando, ganhando relevância. A instituição chegou a abrigar, por dois anos, a UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), que estava no embrião.
Empolgado, Deivison começa, em 2005, a construir a sede da Fasipe. No mesmo ano, estoura a Operação Curupira, uma ação em conjunto entre Polícia Federal, Ibama e Ministério Público que esfacelaria o setor madeireiro da cidade, até então pilar da economia local. O movimento financeiro gerado pelo setor de base florestal nunca mais foi o mesmo depois dessa operação.
O golpe duro na economia respingou para quase todos os segmentos e não foi diferente com a Fasipe. Deivison conta que 70% dos alunos desistiram do curso. Dos que restaram, 70% estavam com mensalidades atrasadas. “Insolvência total! Ficamos dez meses sem pagar o salário dos professores”, lembra o empresário.
Um esforço coletivo de professores, funcionários e apoiadores impediu que a Fasipe fechasse. Comercialmente, a instituição pertencia à FAUC e seus oito sócios. A faculdade de Cuiabá estava financeiramente estável, com exceção da sua prima do interior. Nesse momento de crise, entre abandonar a Fasipe ficando com um pedaço da FAUC ou insistir com a faculdade de Sinop, Deivison escolheu insistir no Nortão. Separou-se da sociedade, levando a sua parte: a Fasipe. “Me chamaram de louco”, conta Deivison.
A insanidade não era apenas por renunciar à sua parte na sólida faculdade de Cuiabá para insistir na pequena filial instalada em uma cidade com a economia colapsada, ou mesmo por estar com uma obra em curso nesse momento de dificuldade financeira. O diagnóstico de temeridade foi fechado quando, em meio a esse cenário, Deivison decide abrir um curso de Direito da Fasipe – a mais cara cadeira da instituição criada em pleno momento de recessão. “Na crise, é preciso se reinventar”, justifica o empresário, tentando disfarçar até hoje o nível de ousadia da sua decisão.
Os mais crédulos costumam dizer que Deus protege os bêbados, os loucos e as criancinhas –uma interpretação livre do capítulo 1 de Coríntios. Na época em que Deivison estava pleiteando o curso, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) havia movido uma ação contra o MEC a fim de proibir a abertura de novas cadeiras de Direito, alegando a precarização desse curso em razão de sua popularização desmedida. Mas quando a comitiva do MEC veio avaliar a implantação do curso de Direito na Fasipe, não apenas aprovou, mas concedeu nota máxima, autorizando a abertura com 200 vagas. No entanto, insano mesmo foi o modo como Deivison tomou conhecimento dessa decisão.
Era uma sexta-feira, já passava das 20h. O telefone da casa de Deivison toca: - Alô! Aqui é o ministro Fernando Haddad, tenho a satisfação em informar que a Fasipe está na relação dos últimos novos cursos de Direito que serão aprovados pelo MEC. Haddad era o ministro da Educação na época. “Eu achei que fosse trote!”, conta Deivison.
A nova cadeira começou a funcionar no ano de 2006 e foi o renascimento da instituição. O curso lotou, recobrando o vigor financeiro. As obras na sede avançavam aos poucos e a colaboração do empresário Edilson Macedo – que investia em condomínios na mesma região – transformou a estrada de terra da frente da nova Fasipe, em via de asfalto. Depois disso, a Fasipe não parou de crescer.
Renascimento pós-crise
Talvez o fator decisivo do sucesso da Fasipe tenha sido a capacidade de se manter conectada às suas origens, à sua terra e à memória de como foi edificada. Deivison costuma dizer que o DNA da instituição é “a construção em sociedade”, sempre lembrando que a trajetória da Fasipe é marcada pela cooperação coletiva.
Nessa esteira, o fundador da Fasipe empenhou-se em trazer cursos da área da saúde, mirando a carência do setor no interior do estado. Na época, Sinop tinha dez enfermeiros formados. O curso de Enfermagem começou com cinco turmas. “A maioria dos enfermeiros de Sinop hoje foi formada na Fasipe”, resume Deivison.
Ao longo dos anos, a instituição foi estruturando uma cadeia de formação em torno da saúde. Foram implantados os cursos de Biomedicina, Educação Física, Estética e Cosmética, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Odontologia e Psicologia. Defendendo a sua filosofia de que a Educação deve transformar a sociedade e que a formação profissional passa pelo exercício, a Fasipe instalou a Fasiclin – uma “clínica escola”, que atende a população local, permitindo aos acadêmicos exercitarem suas práticas. Cerca de duas mil pessoas são atendidas por mês na unidade.
Em 2023, a Fasipe iniciou o processo para completar essa cadeia da saúde. A instituição está implantando o seu curso de Medicina. Uma estrutura de ponta foi montada para que a primeira turma tenha formação completa. A meta, afirma Deivison, é que a Fasiclin evolua para um hospital universitário, que agrupe todas as formações na área da saúde oferecidas pela instituição, direcionado para atender a comunidade, através do SUS. “A formação em massa dos profissionais da área da saúde favorecida pela Fasipe colaborou, significativamente, com o fato de Sinop ter se tornado um polo de saúde”, expõe Deivison.
Consolidação e expansão
À medida que a Fasipe foi crescendo e se estabelecendo, ela começou a atrair estudantes de todo norte de Mato Grosso. Prefeituras da região começaram a ser acionadas por associações de estudantes universitários para viabilizar o transporte até Sinop. Eram acadêmicos buscando, na capital do Nortão, a sua formação.
No ano de 2019, a Fasipe conseguiu colecionar oito cursos de graduação reconhecidos pelo MEC que obtiveram conceito elevado na avaliação in loco realizada pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). Com isso, a faculdade de Sinop foi elevada a condição de Centro Universitário, tornando-se Unifasipe.
Nesse mesmo momento, a recém coroada universidade vivia um frenesi de expansão. Uma segunda unidade da Unifasipe, ampla e moderna, foi erguida no Aquarela das Artes, bairro nobre e proeminente de Sinop. Prefeitos de diferentes cidades procuram Deivison para implantar uma unidade da Fasipe em seus municípios. Começam os projetos para fincar uma sede da instituição nas cidades de Sorriso, Primavera do Leste, Lucas do Rio Verde e Rondonópolis – todos concretizados.
Mas talvez a expansão mais simbólica da Fasipe tenha sido a volta para casa. Em 2017, Deivison começa a trabalhar no projeto de implantar uma unidade em Cuiabá. Não era uma questão de negócio. “Foi por sonho, por desejo, utopia. É a minha cidade natal. Senti que tinha uma conta para pagar”, comentou o empresário.
Para a Fasipe da capital, Deivison escolheu a região do CPA, próximo da divisa com o bairro Tancredo Neves. Nessa região mais periférica, vizinha a uma favela, o empresário achou, na capital, uma fronteira a ser desbravada. As viagens de ônibus retornaram à vida de Deivison, embora cada vez mais raras, agora intercaladas com as de avião. A construção da sede da Fasipe ressignificou aquela região da capital, desencadeando expressiva valorização imobiliária, mas também social.
Depois de firmar seus pés na capital do estado, Deivison mirou a capital federal. Passando muito tempo em Brasília para acompanhar os processos de abertura dos cursos e de novas unidades, o empresário conheceu Taguatinga, uma região administrativa do Distrito Federal que concentra uma população de aproximadamente 600 mil habitantes. Lá viu a oportunidade de implantar mais uma Fasipe. No prédio alugado, Deivison reservou um andar inteiro que, segundo ele, “vai ficar vazio, até que o curso de Medicina seja aprovado”.
Repetindo a máxima de que é preciso inovar nas crises, Deivison criou, no ano de 2020, durante a pandemia de Covid-19, uma escola de educação básica - da Educação Infantil ao Ensino Médio - o Colégio San Petrus; que é um projeto pessoal do empresário para fornecer o ciclo completo de formação, da tinta guache ao contraste. O Colégio San Petrus já está presente nas cidades de Sinop, Sorriso, Rondonópolis, Cuiabá e Lucas do Rio Verde.
A sede do império é Sinop
Embora tenha investido em implantar unidades em cidades muito maiores que Sinop, a cidade do Nortão conserva a mesma preferência na mente de Deivison que tinha no final da década de 90.
Nesse momento, a Unifasipe trabalha na implantação da sua terceira unidade no município, na região da MT-140. Será um campus focado no desenvolvimento de formação superior para os operadores do Agronegócio. Na nova unidade, além dos cursos de Agronomia, a pretensão é oferecer a graduação em Medicina Veterinária.
Para Deivison, Sinop está longe de ter alcançado o seu pico de desenvolvimento. “Nos próximos dez anos, Sinop vai crescer três vezes mais do que cresceu nos últimos anos. Sinop é a mola propulsora de uma região essencialmente rica e próspera. Um modelo para o país e que só não é maior, porque ainda não se tornou capital. Quem sabe esse seja o futuro guardado para essa cidade”, vislumbra Deivison.
Depois dessa lição de duas décadas, fica difícil discordar do professor de Economia.
“Eu AMO casar!”
Essa foi uma frase solta por Deivison durante a entrevista quando falávamos um pouco sobre sua vida pessoal. Seu primeiro casamento foi com Giane Castro, no ano de 1998. Com ela, além de Natan, Natália e Raíssa, também teve a caçula Maria Sophia de Castro Pinto, no ano de 2013.
No ano de 2017, ele se casou com Larissa de Lima. Em abril de 2024, ele se casa com Mirielly Datsch.
O empresário cultiva gratidão para com suas ex-esposas e talvez esse seja o motivo pelo qual “ama casar”.
1999
Família Migliorini

VIRAR A PÁGINA E RECOMEÇAR
Foi com essa motivação que a família Migliorini veio para Mato Grosso no início dos anos 2000. Depois de uma longa empreita no Sul do país, eles escolheram Sinop para recomeçar, tirando da gaveta o rascunho de um sonho antigo, que agora seria reescrito a 10 mãos
Década de 70. A propaganda militar enaltecia as estradas que estavam sendo abertas pelo Exército no Centro-Oeste e no Norte, rasgando vastas extensões de terra e convocando brasileiros para “Integrar para Não Entregar”. Lá no interior de Santa Catarina, um jovem ouvia o chamado e se alvorava em dar um passo adiante na jornada migratória iniciada pelos seus pais. Vitório Migliorini tinha uns 20 anos de idade quando sentiu pela primeira vez a tentação de desbravar o Mato Grosso. A quantidade de terra, a topografia, o clima... tudo o entusiasmava na nova região.
Vitório nasceu em Vila Maria, no Rio Grande do Sul. Quando criança, seus pais migraram para Irati, em Santa Catarina, em busca de mais terras e mais oportunidades. A jornada da família Trevisan foi similar. Eles partiram do Rio Grande do Sul para Santa Catarina, se estabelecendo em Faxinal dos Guedes. Foi nessa cidade, em outubro de 1956, que nasceu Mari Inês Trevisan.
Em meados da década de 70, os caminhos de Vitório e Mari se entrelaçaram. No final de dezembro de 1978 eles se casam – ele com 25 e ela com 22 anos de idade. Mari já era professora concursada pelo Estado desde os 19 anos. Já Vitório observava, quando ainda era jovem, a forma como as famílias lidavam com o trabalho e com o patrimônio. Ele via patriarcas fatiando suas terras em porções cada vez menores, à medida que os filhos cresciam e seguiam a vida. Para Vitório, o mais sensato seria unir forças entre os descendentes e multiplicar ao invés de dividir.
Seguindo sua percepção, ele montou sociedade com mais dois irmãos. O trio trabalhava com lavoura, prestava serviço com maquinários (trator de esteira) e tocavam um posto de combustível, tudo no interior de Santa Catarina. Conforme a parceria prosperava, o sonho do Mato Grosso ficava cada vez mais apagado. No mês que completaram dois anos de casado, em dezembro de 1980, nasce o primeiro filho, Fábio Migliorini.
Quando chegou na casa dos 30 anos, Vitório se mudou para Passo Fundo (RS), em 1983, juntando-se em sociedade ao outro irmão que já estava no ramo de papelaria. Ao invés de ir para o Norte, Vitório voltava para o Sul, não para mexer com agricultura, como sonhou no passado, mas para entrar no comércio. Mari acaba pedindo exoneração do sólido e estável cargo público, apostando que a nova empreita traria um futuro melhor.
Em Passo Fundo, o casal se reinventa pela primeira vez. Aprendem os macetes do comércio, como comprar e, principalmente, como vender uma infinidade de itens que enchem as prateleiras de uma papelaria. De usuária, Mari virou fornecedora de material escolar. “Aqueles anos foram de muito aprendizado para o que viria no futuro”, conta Mari Inês. A sociedade foi próspera. Novos comércios e patrimônios foram sendo adquiridos em parceira. Fábio, que cresceu dentro de uma papelaria, recebeu seu primeiro irmão, Diogo, já nascido em Passo Fundo, no ano de 1986. E nesse religioso intervalo de 6 em 6 anos, Fernanda chega ao mundo em 1992 para completar o quinteto.
Na década de 90 a sociedade expande e começa a abrir novos negócios. No auge, chegaram a ter 4 lojas e 2 atacados, tanto em Passo Fundo como em Chapecó (SC). Em 1998, Fábio ingressa no curso de Ciência da Computação, na Universidade de Passo Fundo. Tudo parecia sólido e estável até então.
Seguindo uma intuição, Vitório decide vir para Mato Grosso em 1999. Um dos bens adquiridos pela sociedade na papelaria foi uma terra na cidade de Sinop. Era o início da concretização de um sonho. Neste percurso rumo ao Norte do estado, ele observou cada cidade no trecho. “Eu olhava como era a cidade e como eram as pessoas de cada lugar, se eram de uma só raça [descendência] ou se tinha mais mistura. Quando cheguei em Sinop deu aquele ‘clique’ (sic). Tinha gente de todo canto do país. Para o comércio, pela nossa experiência, era melhor uma cidade com mais miscigenação”, comentou Vitório.
O tal “clique” pregou Vitório na terra. Ele ficou em Sinop e começou a se preparar para empreender no Norte de Mato Grosso. A família ainda ficou no Sul. Em julho de 2001, a sociedade com os irmãos chegou ao fim. A parte de Vitório e de Mari na divisão foi a terra em Sinop e uma parte do estoque da papelaria. No dia 28 de agosto de 2001, Mari chega em Sinop com os dois filhos, Diogo e Fernanda. Fábio ficou para trás, terminando a faculdade e empreendendo em duas empresas de software. Quando terminou o curso, foi logo contratado pela Agrenco, uma multinacional francesa do agronegócio, onde chegou ao posto de gerente de TI.
Além dos filhos, Mari trouxe na bagagem o estoque da papelaria que recebeu no encerramento da sociedade. A ideia era montar o comércio em Sinop, mas bem diferente de como fizeram no Sul do país. Vitório estava com 48 anos e Mari com 45. “Era para ser algo para a família tocar. Algo menor. Eu, a Mari Inês e os filhos. No máximo mais 2 ou 3 pessoas, não mais que isso”, revela Vitório.
Por isso o primeiro nome pensado para papelaria foi MT5: Migliorini, Trevisan e o 5 referente ao casal mais 3 filhos. Mas o nome já tinha sido registrado. A segunda opção foi encolher o sobrenome: Mig Papelaria. Não aderiu, parecia ruim de lembrar. Então resumiram mais ainda, salvando só duas consoantes. E foi assim, que em setembro de 2001, surgiu a MG Atacado – hoje conhecida como MG Papelaria.
Atualmente a empresa tem um daqueles jingles bem ‘chiclete’ e que faz todo sentido. O bordão final é: “Tem sempre uma MG pertinho de você”. Mas quando abriu as portas, a MG não estava nem um pouco pertinho de você. A primeira loja foi instalada às margens da BR-163, na Rua Colonizador Ênio Pipino, nº 1293. Não é um bom ponto comercial para uma papelaria hoje, quem dirá na época.
O casal era novo em Sinop, mas não no segmento. Vitório e Mari tinham trabalhado com comércio e papelaria nos seus últimos 17 anos. O estoque era razoável e de qualidade. A família teve a sacada de batizar a loja como MG Atacado, deixando claro que seus preços seriam competitivos. “A gente trabalhou com a mesma margem que praticava lá no Sul, na distribuidora, acrescentando apenas 3% no valor para cobrir o custo extra do frete”, lembra o empresário.
E Mari Inês não ficou no balcão esperando ser visitada pela clientela. Ela pegava a lista telefônica e fazia uma relação de empresas. Depois, listava os materiais que estavam na promoção e mandava, por fax, para essas empresas. “Aliás, era o auge do fax, então eu já mandava promoção de bobina de fax”, conta Mari.
Com qualidade no produto, bom preço, sabendo dar um bom atendimento e com estratégia de venda, o negócio do casal prosperou. Diogo, na época com 15 anos, e Fernanda, com 9, completavam a equipe da loja, ajudando e se formando no ofício.
Três anos depois, a MG já tinha comprado um terreno, construído um prédio próprio e se mudado para a Avenida dos Flamboyants, no Jardim Jacarandás, onde até hoje está o escritório administrativo e o depósito da empresa. “Levei três anos para conseguir um FCO (linha de crédito) junto ao Banco do Brasil. Mas quando finalmente conseguimos, foi uma guinada. Saímos de um aluguel para o nosso prédio próprio, economizando na parcela. Além de ser mais barato, estávamos pagando algo que era nosso”, pontuou Vitório. “Em 2004, quando mudamos para nossa sede própria, a loja ficava no meio do capim, de frente para um valetão. Não tinha ponto comercial por perto, era tudo muito novo. Alguém me disse que a gente ia quebrar porque ninguém ia ver aquela loja. Eu respondi: ‘não vamos quebrar não, porque a gente vai fazer o que sabe e gosta’. Não importa a localização da loja, o importante é fazer bem feito, com amor e dedicação”, lembra Mari.
Quando a MG começou a operar no novo endereço, a cidade passava por um momento de incerteza. Uma forte crise estava em curso, provocada pela derrocada do setor madeireiro, até então motor da economia local. Centenas de serrarias deixaram de existir nos dois anos subsequentes. Além das empresas fechando, a massa assalariada perdeu seus postos de trabalho. “Eu me lembro dessa época que uma grande quantidade de pessoas iam até a loja pedir caixas de papelão, vazias, para fazer a mudança, porque estavam indo embora de Sinop. Eu falava para elas não fazerem isso, para tentar resistir porque era só uma fase, que depois da madeira viria a agricultura e que Sinop seria o centro de toda essa região. Acho que a maioria de quem desistiu e foi embora nessa época depois acabou voltando”, comenta Vitório.
Para Mari, os primeiros anos da MG foram desafiadores. Recomeçar do zero, em uma cidade sem nenhum conhecido, construindo relações comerciais, parcerias e contatos, além de lidar com o fator localização, foram obstáculos do começo da jornada. “Vir para um lugar novo força você a se reinventar e mostrar que é capaz. Acho que foi isso que aconteceu com nossa família aqui em Sinop. Mas demos sorte. Sinop nos acolheu de forma maravilhosa. As pessoas dessa cidade são gente boa e os filhos abraçaram o negócio. Depois, vieram as noras e, agora, os netos também, somando com a empresa”, avalia a empresária.
A MG só começou a ficar mais “pertinho de você” em 2008. A clientela cada vez mais fiel vinha cobrando uma unidade mais central, perto dos escritórios, lojas e bancos. Então, quando surgiu a oportunidade, o casal comprou a Universal Papelaria, um ponto comercial tradicional, na Avenida das Sibipirunas, bem no centro da cidade. O prédio foi reformado e a loja abre como “MG Papelaria” – até então a empresa se apresentava como MG Atacado. O novo nome marca uma ampliação no mix de produtos, trazendo além da linha de papelaria, artigos para festas, presentes, brinquedos e artesanato.
O período também marca a reunião do quinteto. Após muita insistência de Vitório, Fábio, o filho mais velho, deixa seu emprego estável e promissor na grande multinacional para se juntar aos negócios da família. “A gente sabe que ele sofreu para se adaptar, afinal, estava abrindo mão do que já tinha conquistado”, comenta Vitório. “Eu viajava bastante, conhecia muitos países. Eu realmente trilhei um caminho diferente, mas sabia que meu pai queria todos por perto”, contou Fábio.
Com o filho mais velho por perto, Vitório tratou de fazer o que sempre almejou: plantar no Mato Grosso. Com Fábio e sua esposa, Elidiane Andréia, de sócios, o patriarca retomou as atividades na fazenda, mecanizando a terra e produzindo grãos. “Antes tinha a terra e uma motosserra”, lembra Vitório do começo.
A atividade agrícola vingou. Os 1.200 hectares de área plantada foram ampliados para 2.200, através de uma permuta de terras no ano de 2020. Hoje, a fazenda dos Migliorini conta com maquinários, armazém, secador de grãos e uma boa sede.
O negócio da família
“O pai sempre dizia que, aquilo que a família já tinha, era deles, do pai e da mãe. A partir disso, tudo o que nós conquistássemos seria nosso, dos filhos. Ele nos mostrou que nosso esforço em fazer o comércio crescer traria nosso crescimento pessoal e profissional”, conta Fernanda, que durante muitos anos esteve dentro da loja, e que hoje atua como arquiteta.
A loja do centro, a MG Papelaria, ficou sob a responsabilidade de Diogo administrar. Ele tinha 21 anos quando a unidade abriu. “Eu aceitei, me senti motivado. Meus pais já tinham aberto caminho, a gente precisava apenas dar sequência e fazer o negócio prosperar”, comenta Diogo, que hoje atua juntamente com a esposa Stéfany na administração da fazenda.
Além da fazenda, Fábio também faz a administração geral das lojas do grupo, que foram multiplicadas. Dois anos depois, em 2010, a MG abriu sua terceira unidade, na Avenida dos Ingás, Jardim Imperial, atingindo outro setor da cidade. A expansão continuou em 2015, com uma MG Papelaria na Avenida das Sibipirunas, no Jardim Botânico, aposentando a função de loja do primeiro prédio, MG Atacado, e oferecendo um espaço primoroso para a clientela da região onde a empresa despontou.
Deixando a MG mais pertinho de outra região da cidade, a empresa abriu em fevereiro de 2022 uma unidade na Avenida André Maggi, atendendo um dos eixos da cidade com maior volume demográfico.
Contrariando aquela vontade inicial, de quando o casal chegou em Sinop, de ter um negócio pequeno, a MG se tornou uma rede com 5 unidades e em 2024 conta com uma equipe de 70 funcionários, incluindo a atividade agrícola. Ao longo dos anos, a empresa conseguiu montar um time de colaboradores de longa data. Há funcionários que trabalham na papelaria há mais de 15 anos, vestindo a camisa.
Mari conta um caso muito emblemático e emocionante que teve com uma das suas colaboradoras de longa data. Esta pessoa trabalhava em outra empresa e chegou à MG dizendo que iria trabalhar lá. Mari e Vitório acharam que fosse apenas uma brincadeira. Dias depois, aquela mulher voltou, dizendo que havia pedido demissão do emprego anterior e que estava pronta para começar. “Ela disse assim: ‘se vocês confiarem em mim, eu vou trabalhar aqui na MG até que Deus permita’”, lembra Mari. Quis o destino que a frase fosse literal. A funcionária se aposentou e, mesmo assim, continuou trabalhando na loja. Foram 17 anos na mesma casa. Essa funcionária só deixou a loja quando foi acometida por uma grave doença e teve que ser internada. Acabou falecendo, mas conforme o prometido, partiu ainda estando registrada na MG. “Ninguém faz nada que seja grande sozinho. Nós tivemos ao longo desses anos de empresa, em Sinop, muitas pessoas que trabalharam conosco com dedicação, compartilhando do nosso sonho. Somos gratos por isso”, pontuou Mari Inês.
No fim, tudo que a família Migliorini desejou, encontrou em Sinop. Quando nessa terra aportaram, tinham o desejo de prosperar em família. Não foi com os irmãos, mas com os filhos. Almejavam semear no chão do Centro-Oeste; demorou, mas aconteceu. Terminaram com uma grande rede e uma equipe comprometida. E aquele que parecia estar longe, muito longe de casa, acabou pertinho de vocês.
1999
Construção do viaduto na entrada principal

PRINCIPAL VIADUTO
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Esse ano marca o início da construção do viaduto da BR-163 na entrada principal de Sinop - entroncamento com a as avenidas Júlio Campos e Alexandre Ferronatto, a partir de convênio entre Prefeitura e Governo Federal. O viaduto foi concluído e inaugurado no ano 2000
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No ano de 1999, foi realizado o 1º Encontro de Corais de Sinop, nas dependências do Sesi Clube. Participaram deste evento, que marcou a vida cultural da cidade, os corais de diversas instituições escolares e religiosas de Sinop
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Neste ano, é criada a Sala de Memória do Município, que daria origem ao Museu Histórico de Sinop e o Conselho Municipal de Cultura
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Sinop comemora o 25º aniversário de fundação da cidade com diversos eventos: Festa das Nações, Jogos Olímpicos e Desfile Cívico Escolar
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Também é realizada a 13ª Noite Cultural da cidade, nas dependências do Sesi Clube
SINOP TRICAMPEÃO MATO-GROSSENSE
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Após um longo campeonato, com 26 partidas disputadas em 4 fases distintas, o Sinop FC emenda seu segundo título estadual consecutivo, o terceiro na sua história
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Naquela campanha, venceu 15 jogos, empatou 7 e perdeu 4
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A final foi contra o Juventude, de Primavera do Leste, em 3 partidas
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Na ida, o Juventude venceu em casa por 2 a 1
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No segundo jogo, empate em 1 a 1 no Gigante do Norte
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No terceiro e decisivo jogo, o Galo do Norte goleou por 4 a 2, superou o adversário na somatória dos placares, e levou o caneco
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Mais uma vez, assim como no ano anterior, o Sinop foi campeão e teve o artilheiro da competição: Tatau, com 17 gols
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A equipe teve o melhor ataque, com 52 gols marcados
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Para a tristeza do torcedor, este é até hoje a última conquista estadual da equipe, que ainda somaria mais 4 vices