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1986
Família Guadagnin

AFIADOS ATÉ O ÚLTIMO FIO DE CABELO
A mola propulsora da economia sinopense das primeiras décadas foi o principal atrativo para que os Guadagnin deixassem o Sul do país em direção ao Norte de Mato Grosso. A terceira geração deixou o fio da serraria e migrou para a Medicina para focar tanto no cuidado da saúde quanto na estética capilar
É comum – quase uma tradição – que as famílias oriundas do Sul do país, especialmente Santa Catarina e Rio Grande do Sul, morassem próximos e dividissem os negócios. Com os Guadagnin, a história não foi diferente. Ivo e Nelita Paula eram um casal de agricultores que lavrava a terra em Ronda Alta, uma pequena cidade ao Norte do Rio Grande do Sul, com menos de 10 mil habitantes. Juntos tiveram três filhos, sendo o caçula Maurício Guadagnin, nascido no dia 13 de julho de 1972.
A infância de Maurício foi tipicamente tranquila. Porém, sua mãe morre em março de 1980, quando ele tinha apenas 7 anos. Anos mais tarde, o pai se casa novamente e nasce a irmã mais nova de Maurício.
Quando tinha 12 anos de idade, Maurício começou a trabalhar. Não que fosse necessário, mas o jovem queria seu próprio dinheiro. Ia para a escola à tarde, utilizando as manhãs para vender ‘jogo do bicho’ pelas ruas. Funcionava assim: quem jogasse 3 números tinha uma boa chance de ganhar, apesar do rendimento ser menor. Alguns arriscavam 4 ou 5 números; se acertasse, rendia mais. O garoto dava sorte pra muita gente, que lhes retribuíam dando uma gorjeta generosa. “Minha comissão era de 40%. Eu chegava aos banqueiros com o dinheiro das apostas feitas e eles já davam a minha parte. Eu guardava tudo”.
No ano de 1986, o tio de Maurício, Domingos Guadagnin, adquire terras em Sorriso. Junto com um amigo, ele estica a viagem até Sinop e nota que o ramo madeireiro estava em alta. Eles comentam com Ivo – que já tinha experiência no setor – sobre o potencial que a cidade oferecia. Os irmãos vêm a Sinop e compram uma madeireira, em sociedade com este amigo. Ivo fica responsável pela administração, enquanto os outros ainda se dedicavam à lavoura.
Sinop tinha mais de 700 madeireiras naquela época. Diante dessa concorrência, o diferencial estava nas mãos de Ivo, que tinha o ‘time’ da gerência para se destacar. Por isso, um mês depois da primeira visita, os Guadagnin partem de Ronda Alta no dia 13 de julho de 1986 em direção a Sinop. “Nós saímos de lá no dia do meu aniversário, e chegamos aqui dois dias depois, no dia 15 de julho”, recorda Maurício. Eles ainda voltariam para o Sul a fim de buscar a mudança.
A madeireira dos Guadagnin ficava na região do Grande São Cristóvão, beirando a BR-163. Depois de 4 anos, Ivo decide deixar a sociedade para Domingos e o outro sócio para empreender sozinho no ramo. Sua nova madeireira ficava do outro lado da pista – hoje, trecho inicial da Rodovia João Adão Scheeren, a MT-140, que liga Sinop a Santa Carmem, a pouco mais de 100 metros da rodovia federal. “Ali era cheio de madeireira. As mais antigas foram fechando, o pessoal foi saindo da atividade. As operações derrubaram muita gente. Não é qualquer um que conseguia aguentar. E ainda na época do [ex-presidente Fernando] Collor tinha os planos econômicos, o dinheiro do pessoal virou pó”, conta Ivo.
A madeireira supria as necessidades da família, e o que Maurício ganhava guardava para si. Logo após chegar à cidade, comprou uma moto Yamaha DT 180, vermelha, ano 1985, quando tinha ainda 14 anos de idade. “Paguei à vista”, lembra com orgulho. “A fiscalização era quase inexistente na cidade. Eu tomava todo cuidado [no trânsito], mas andava sem capacete e sem habilitação. O policiamento era bem precário”, emenda.
A residência de Ivo ficava distante da madeireira, já que na época a família morava na Rua das Thumbérgias, próximo à Igreja São Camilo. O patriarca decide sair do aluguel, em 1987, e eles se mudam para a casa própria, na Rua das Pileias, mais ao centro da cidade. Maurício estudou nas escolas Olímpio João Pissinatti Guerra e Nilza de Oliveira Pipino. Enquanto isso, ajudava na madeireira. O pai fazia as entregas, enquanto ele media madeira para ser serrada. “Meu pai deu uma prancheta, uma régua, me explicou mais ou menos como media e fui aprendendo. Eu marcava larguras, espessura, fazia Nota Fiscal. Era um bloco de 6 vias e a gente usava papel carbono. Fazia na mão ou na máquina de escrever. E desde então não parei mais, estou até hoje dentro de serraria”, afirma Maurício.
Os anos seguintes não foram fáceis para os Guadagnin. O setor madeireiro começava a apresentar saturação, enquanto as operações florestais sufocavam os empresários. Ao menos, Maurício se orgulha ao relembrar que a madeireira estava com a documentação em dia, sempre que fiscalizada.
As mudanças das moedas foram outro ponto culminante para que o setor fosse estrangulado. Do Cruzeiro veio o Cruzeiro Real, uma Unidade Real de Valor (URV) usada como base no cálculo de compra e venda. Como trazia altas variações, a comercialização em médio e longo prazo se tornava inviável. Cabia aos madeireiros negociarem ‘no fio do bigode’. “A gente vendia uma carga para ser paga num prazo de 30 dias. Acontece que, nesse meio tempo, o valor da URV subia assustadoramente. Por isso, pra gente poder vender e o cliente poder comprar, ficava estabelecido o valor da URV do dia da compra”, explica Maurício. Mesmo a flexibilização não foi suficiente para que a família passasse apertos. “Eu só tinha uma (Ford) Pampa velha, que fundiu o motor e eu precisei ficar a pé um tempo. Era meu pai que uma mão. Com o tempo, o mercado foi melhorando e a gente se reerguendo”.
Quando tinha 21 anos, Maurício conhece Mariana Schwanke, jovem com quem se apaixona – e que compartilharia sua vida até hoje. Após uma viagem de férias em família, Mariana engravida, e eles decidem se casar em 9 de maio de 1994. Apenas 3 meses depois, em 23 de agosto, nasce o primeiro filho do casal, Maurício Júnior Guadagnin. A caçula da família é Ana Paula Guadagnin, nascida em 2003. Em 2024, ela estuda Medicina em Sorriso.
A madeireira não tinha dívidas, mas também não vendia. Às vezes vendia, mas não recebia. Maurício, que era sócio de Ivo, decide então vender sua parte ao pai para se tornar funcionário – é responsável pela administração da empresa – e diversifica os negócios. Com dinheiro, ele monta em 1995 a Transportadora IGM (sigla de Ivo Guadagnin e Maurício). Ivo decide entrar no negócio e eles se tornam sócios novamente. O turbulento período de desaceleração econômica de Sinop fica para trás, e logo a IGM e a madeireira voltam a ganham corpo. Hoje, a transportadora possui uma frota de 12 caminhões, sendo 3 responsáveis por transporte de madeira, enquanto a serraria, mesmo em regime familiar, agrega 9 funcionários.
Da serraria para a saúde
Maurício Jr. nasceu no Hospital Dois Pinheiros, estudou nas escolas Valter Kunze e Nilza de Oliveira Pipino. Quando chegou à 8ª série (atual 9º ano), ficou três semanas em casa por conta da greve de professores. Sem perspectiva de retorno das aulas, a mãe decide matriculá-lo num colégio particular, e ele decide pelo Objetivo. A Sinop da virada do milênio ainda era uma cidade tranquila para brincadeiras na rua. Estourar o dedão do pé jogando futebol, brincar de Bets e se aventurar nos valetões era o divertimento das crianças daquela época.
Desde jovem, Maurício Jr. falava que queria ser médico. Não que houvesse qualquer referência na família, mas a área da saúde o fascinava. Quando concluiu o ensino médio, com 17 anos de idade, prestou o vestibular em uma universidade de Cuiabá. Não passou na primeira tentativa. Ainda assim, foi para a Capital fazer cursinho a fim de fortalecer os estudos. Dedicando um ano inteiro a se preparar, é aprovado no vestibular de Medicina da Uniderp, em Campo Grande (MS). Como prática comum aos calouros, seus colegas do cursinho aproveitaram para raspar sua cabeça. Antes de se mudar para o estado vizinho, ainda aproveita para tirar a carteira de motorista e vem passar as férias de fim de ano em Sinop. O descanso é interrompido pois era necessário ir à universidade efetuar a matrícula. No início das aulas na faculdade, em 2013, é pego novamente pela maquininha de cabelo.
Como conta Maurício Jr., a Uniderp utilizava o método de ensino PBL (tradução de Problem-Based Learning, ou seja, aprendizagem baseada em problemas; também se aplica para a mesma sigla o método de Projeto-Based Learning, aprendizagem baseada em projetos). Em vez da figura clássica do professor apresentando conteúdo teórico e expositivo num quadro branco ou projetor, o aluno é instigado a desenvolver projetos e a resolver problemas. A nota é atribuída conforme a participação e envolvimento do acadêmico no processo. “Eu penei até me adaptar. O professor trazia o problema, direcionava a turma e era você que tinha que buscar as alternativas para resolver o problema. Éramos obrigados a estudar, não tinha outra alternativa”, comenta.
Em meio aos estudos, um tempinho para a diversão. Beber com os amigos nos fins de semana tinha seu custo, que era compensado com macarrão instantâneo no restante da semana. Para um jovem de 18 anos, que recebia um auxílio do pai e do avô para se manter na capital sul-mato-grossense, era difícil resistir à tentação das festas universitárias. A mais marcante foi o Intermed 2014, realizado em Dourados (MS). Ele e mais 3 amigos foram de carro para a cidade e dormiriam no estádio local numa espécie de acampamento. Porém, o colchão de um dos colegas desapareceu, obrigando-os a se hospedarem em um hotel. Para participar dos jogos em si, era necessário passar por qualificatórias. Maurício Jr. jogava sinuca – típico ‘esporte’ de bar – em dupla com um amigo, mas perderam na final da seletiva e não se classificaram para a competição representando a AAAMUNT (Associação Atlética dos Acadêmicos de Medicina da Uniderp Nelson Trad). Porém, o ambiente festivo na cidade era um chamariz irresistível. “Fomos para torcer e festar”.
Quando estava no terceiro ano da faculdade, Maurício Jr. conhece Dayane Ferreira. Poucos meses após o início do namoro, ela engravida. Gabriel vem ao mundo em 3 de julho de 2016. Em 2019, chega ao fim a graduação e Maurício Jr. é, a partir de então, oficialmente um médico.
Buscando rumos para iniciar a carreira, Dayane convence Maurício Jr. a migrarem para Sinop em busca de uma oportunidade. Naquele mês de agosto de 2020, o mundo estava em alerta total devido à pandemia de Covid-19. Era uma situação que cobrava mais médicos, portanto, trabalho não lhe faltaria. Todavia, a primeira chance real não seria em sua cidade natal, mas em Cláudia, como plantonista. “Na época, eu já estava instalado com a família em Sinop, mas a melhor proposta de trabalho, considerando todos os fatores, era no Hospital de Campanha de Cláudia”, recorda o médico. O primeiro plantão foi no dia 1º de setembro daquele ano. Durante o dia, Maurício Jr. atendia pacientes com sintomas gripais; à noite, ficava de sobreaviso. Permaneceu na cidade praticamente morando em um hotel, vindo para Sinop apenas a cada 15 dias para passar um fim de semana com a família.
Seguiu com essa rotina até 15 de fevereiro de 2021. Curiosamente, não havia pego a doença mesmo trabalhando na linha de frente. Porém, constatou que havia se infectado durante uma viagem de férias no Réveillon. De molho em sua casa em Sinop, buscou serviço na cidade. Fez plantões na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) – sempre nos piores dias e horários, como acontece com a maioria dos novatos. Até que recebe uma ligação do Hospital de Campanha de Sorriso. Lá, o atendimento seria no regime de 12/36, ou seja, trabalharia 12 horas seguidas para folgar as 36 seguintes. Iniciou na unidade em 1º de março, mantendo os plantões noturnos em Sinop. “Eu estava recém-formado, estava ‘no gás’, queria aproveitar essas oportunidades”. Em novembro, sai do Hospital de Campanha e passa a atender na UPA de Sorriso. Mesmo em meio à correria da rotina de ida e volta para Sorriso e o atendimento em Sinop, Dayane engravida do segundo filho do casal. Théo nasce em 21 de março de 2022.
Uma nova vertente
Ainda que estive empregado e trabalhando bastante, Maurício Jr. não estava plenamente satisfeito com os rumos que a carreira tomava. Ele buscava algo diferente, ligado à saúde, mas que também trouxesse ajudasse a recuperar a dignidade de seus pacientes. Uma amiga médica havia saído de Sinop e buscado uma vaga em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, onde o valor pago pelos plantões seria bem maior do que o praticado em Mato Grosso. Dayane, então, propõe que o casal mude para São Paulo.
Maurício Jr. ficou apenas 6 dias, tempo suficiente para pegar plantões e se encantar com São Paulo. Aquela uma semana se transformaria em um ano. Isso porque durante um plantão em uma UPA, numa comunidade em Santo André, conversa com um colega plantonista sobre uma nova vertente. O ginecologista obstetra comenta que estava prestes a casar, e por isso fazia um ‘pé de meia’ nos plantões antes de ingressar num curso de transplante capilar. “Um cara que eu nunca tinha visto mudou os rumos da minha vida”.
Este curso seria na cidade de Sorocaba (SP), com uma nova turma iniciando em novembro de 2022. “Conversei com minha esposa, amadurecemos a ideia, e decidi fixar residência em São Paulo para poder estudar”. Havia até a possibilidade de uma parceria com um amigo, dos tempos de Uniderp, mas a ideia não avançou. Abrir uma clínica em São Bernardo era uma possibilidade, mas o mercado estava saturado e os valores dos procedimentos lá embaixo. Maurício Jr., então, volta o olhar pra casa. “Por que não investir em Sinop?”, se questionou.
Assim, o bom filho à casa torna pela segunda vez. A ponte-aérea São Paulo-Sinop se torna frequente, e é Dayane que fica responsável por organizar o novo espaço junto com arquitetos e engenheiros. Enquanto trabalhava e estudava, Maurício Jr. ia investindo para a abertura do Instituto Guadagnin, inaugurado em abril de 2023. A partir de então, o médico plantonista acrescenta no currículo Tricologista e Especialista em Transplante Capilar. Dayane também se especializou na área de tratamentos capilares.
Finalizados os estudos, começa a atender a partir do mês de maio e realiza o treinamento da equipe. Agora, quem busca restaurar cabelo, barba e sobrancelha tratar doenças do couro cabeludo pode encontrar no Instituto o atendimento especializado em Transplante Capilar e Tricologia Clínica. Os primeiros pacientes foram um tio, um cunhado e um famoso colunista social em Sinop, que realizaram cirurgias para recuperar cabelo, barba e transplante capilar, respectivamente. “Viemos para revolucionar a tricologia e transplante capilar em Sinop”, garante.
Maurício Jr. estudou fora e trouxe os conhecimentos para Sinop, cidade polo regional em saúde, educação e serviços. A cidade que os acolheu é a mesma que lhe deu a oportunidade de investir e atrair gente da região, tanto que a maioria dos pacientes do Instituto vem de fora. “Até 60% dos atendimentos que chegam aqui são de cidades vizinhas, o que mostra que as perspectivas sobre o crescimento de Sinop são ainda mais positivas. Eu me formei em Campo Grande, amadureci em São Paulo, mas é aqui, na minha casa, que pude desenvolver essa nova vertente de atendimento, que traz bem-estar e melhora a autoestima de quem quer melhorar a estética”, completa o médico.
ASSALTO QUE VIROU SEQUESTRO
Você já deve ter ouvido naquela expressão: “no lugar errado, na hora errada”. Foi justamente o que aconteceu com Maurício e Mariana no ano 2000. O casal, muito atuante na Igreja Santo Antônio, havia participado anos antes do ECC (Encontro de Casais em Cristo) e passaram a contribuir com o projeto, visitando casais interessados em ser membros da comunidade.
Estes interessados preenchiam uma ficha com informações básicas, incluindo endereço. Então, Maurício e a esposa escolhem uma dessas fichas e vão até a casa de um deles. Tratava-se de um gerente de banco. Na primeira visita, o homem agradece, mas explica que provavelmente não poderia participar daquele ECC por conta de um concurso que se aproximava, e ele precisaria servir na aplicação das provas. “Nós marcamos uma nova visita, num dia em que ele teria a confirmação se esse concurso seria realizado ou não”. Assim, uma semana depois, eles voltam à casa do gerente. O prazo para entrega das confirmações se encerrava às 20h, e a visita por feita por volta das 19h. Com a confirmação do concurso, o homem e sua esposa não poderiam participar do Encontro naquela oportunidade. Mas, como bons anfitriões, convidam Maurício e Mariana para prosear e ‘matear’ na sala de estar.
Algum depois, uma pessoa, visivelmente nervosa, bate palma em frente à casa, cujo muro era baixo suficiente para ser pulado. A esposa do gerente atende, mas não entende o que o homem falava. Quando ela se vira para a sala para comentar com o marido, é surpreendida com o bandido invadindo a residência. Em seguida, mais 3 adentram o imóvel – dois deles bem vestidos, de calça e sapato social e blazer. Por coincidência, o tesoureiro da mesma agência morava bem próximo, sendo trazido também para a residência do gerente. Assim, os três casais e mais 5 crianças – os 2 filhos do gerente, os 2 do tesoureiro, além de Maurício Jr. – ficaram sob vigilância dos meliantes durante toda a noite.
Os bandidos tinham informação de que, naquela semana, o banco recebera uma alta remessa de dinheiro para pagamento de funcionários de diversas repartições na cidade – e usar gerente e tesoureiro seria a maneira mais fácil de acessar aquela grana. O que eles não sabiam é que o cofre da agência em questão tinha diversas camadas de proteção, sendo a última delas determinada pela matriz, em Brasília (DF). Por isso, seria impossível entrar na agência à noite sem chamar atenção. Maurício foi questionado sobre quem era e o que fazia, ouvindo de um dos bandidos: “você é o cara que está no lugar errado na hora errada”.
Tanto bandidos quanto reféns permaneceram acordados até o nascer do sol. A partir daquele momento, gerente e tesoureiro poderiam acessar o cofre e retirar o dinheiro para o pagamento do ‘resgate’. Maurício acompanhou o grupo, e até permaneceu em frente à agência, sendo reconhecido por pessoas que passavam por ali. Naquele momento, o sumiço da família, que se desenhara desde a noite anterior, já preocupava Ivo Guadagnin. “Eles (assaltantes) fizeram eu ligar pro pai pra falar que estava tudo bem e que eu não ia trabalhar no dia seguinte porque não estava bem do estômago, mas meu pai não acreditou muito pois sabia que dificilmente eu deixava de ir para a madeireira por qualquer coisinha”, aponta Maurício.
Enquanto isso, uma parte dos bandidos levou as mulheres e as crianças para uma cascalheira, localizada pouco antes da Baixada Morena, no sentido Itaúba. O dinheiro – algo em torno de R$ 300 mil – foi guardado em uma caixa simples de papelão. Como combinado, o quarteto de assaltantes, que emendou um sequestro, leva os 3 reféns para se juntar aos demais. “Eles falaram pra gente só se manifestar depois de 10 minutos deles saírem. Nós corremos para o meio da BR pedir ajuda. Fugiram em um veículo, que era do tesoureiro, mas nos demais carros, usados para o sequestro, eles levaram as chaves justamente para atrasar qualquer reação”, lembra Maurício. Um morador da região passava em uma F-1000 e parou para acudir o grupo.
Apesar de ser uma das vítimas da história, Maurício ainda teve sua vida vasculhada e revirada. “O banco mandou me investigar para saber se eu tinha envolvimento com os bandidos”. A busca pelos bandidos começou, mas eles – e o dinheiro – jamais foram encontrados.
1986
Alfredo Clodoaldo de Oliveira Neto

O ARQUITETO QUE REDESENHOU SINOP
As largas avenidas, os espaçosos canteiros centrais, as exageradas rotatórias e a admirável área verde que marcam a cidade de Sinop surgiram da prancheta, do lápis e do esquadro empunhado por um arquiteto de 28 anos. Seu trabalho pode ser visto não apenas na terra, mas também acima dela, em prédios e construções. Conheça a origem e o legado de Alfredo Clodoaldo de Oliveira Neto
A invejável amplitude dos espaços urbanos de Sinop, que atrai a atenção de 10 entre 10 pessoas que visitam a cidade, é resultado de um “Plano B”. Ou melhor, de uma revisão. O município, elogiado por reservar espaço físico público em sua área central, projetando um crescimento futuro que talvez nunca se concretizasse, teve um começo bem diferente. O primeiro projeto urbano era tão inovador que se tornou inaplicável em seu tempo e na realidade do Norte de Mato Grosso. Foi quando a cidade já tinha 4 anos de fundação que Sinop ganhou os contornos que conserva até hoje.
O dono dessas linhas é o arquiteto e urbanista Alfredo Clodoaldo de Oliveira Neto, e a sua ligação com Sinop começa no berço. Alfredo nasceu no dia 4 de maio de 1950, filho de Áurea Rodrigues de Oliveira e Waldir Ribeiro de Oliveira, em Presidente Venceslau, no interior de São Paulo. Quando tinha apenas um ano e meio de idade, perdeu o pai. Ao lado da mãe, já casada novamente, e seus três irmãos, Waldir Ribeiro de Oliveira Jr., Luiz Fernando e Carmem Helena, mudaram-se para Iporã, no Paraná. Alfredo, então, foi amparado pelos seus tios, Nilza de Oliveira Pipino, irmã de seu pai, e Ênio Pipino – os ‘pais’ fundadores da cidade de Sinop. Mas a colonização do Norte de Mato Grosso ainda não estava no horizonte. Na década de 1950, o casal, junto com o sócio e amigo João Pedro de Carvalho, se dedicava a desbravar a fronteira Oeste do Paraná, onde semearam cinco novas cidades.
Aos 10 anos de idade, junto com o irmão Waldir Jr., Alfredo foi para Botucatu, no interior de São Paulo, uma cidade maior onde estudou no colégio interno administrado pela ordem católica dos Irmãos La Salle. Na instituição concluiu o ensino fundamental e o ensino médio (na época chamado de “científico”). Alfredo conta que, quando jovem, demonstrava uma vocação pelo desenho, explorando traços e formas, desenvolvendo sem muito esforço uma habilidade artística. No entanto, com o passar dos anos, seu interesse migrou para agropecuária. Ele pensava seriamente em cursar Agronomia, mas no fim acabou optando pela Arquitetura – decisão que teve uma leve influência dos tios, formadores de cidades.
Sua primeira tentativa foi na Universidade Federal de Curitiba, mas não passou. Em 1970, prestou vestibular na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Braz Cubas, em Mogi das Cruzes (SP). Enquanto ele estudava os fundamentos essenciais para fundar cidades, seus tios iniciavam a empreita no Norte de Mato Grosso, fundando Vera (1972), Sinop, Santa Carmem (1974) e Cláudia 1979). “Eu me lembro de mostrar para os professores na faculdade os mapas e projetos das cidades que a tia Nilza e o tio Ênio estavam fundando, e a classe discutia sobre eles”, conta Alfredo.
Quando o ato oficial de fundação de Sinop foi realizado, no dia 14 de setembro de 1974, Alfredo se preparava para formatura e, por isso, não esteve presente nas festividades, que contaram com um desfile cívico, descerramento da placa comemorativa e um grande almoço oferecido pela Colonizadora Sinop, no terreno que anos depois abrigaria o restaurante Colonial.
Graduado, Alfredo buscou uma especialização. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, capital referência em urbanização, fez uma pós-graduação nos anos de 1975 e 1976. Com mais bagagem, se mudou para Maringá (PR), no final de 1976, com o propósito de trabalhar na Colonizadora Sinop.
No primeiro semestre de 1977, foi convidado por João Paulino Vieira Filho, então prefeito de Maringá, para prestar serviços ao município. O gestor precisava lidar com o surgimento de novos bairros, para além do plano original da cidade, que começavam a brotar. A missão de Alfredo era elaborar um Plano de Expansão Urbana para Maringá, cidade planejada que havia sido fundada no ano de 1947. A meta era resguardar o traçado contínuo das avenidas, a fim de assegurar o fluxo e a ordem urbana. Sua preocupação também era garantir para o futuro espaços para áreas verdes e arborização, hoje presentes em Maringá. Em um grupo formado por 3 arquitetos e um topógrafo, sob a direção do arquiteto Nildo Ribeiro Rocha, Alfredo desenhou as linhas futuras para a cidade de Maringá – traços que mais tarde seriam reprisados no seu grande projeto.
Na parte da manhã, Alfredo dava expediente na Prefeitura. À tarde, na Colonizadora. No final de 1977, Nilza e Ênio o convocaram a fazer a revisão e alteração do Projeto Urbano de Sinop.
Vera foi a primeira cidade implantada pela Colonizadora Sinop no Norte de Mato Grosso. Quando o traçado da BR-163 (Rodovia Cuiabá-Santarém) foi revelado, deixando Vera fora do eixo, a empresa encomendou um projeto para uma cidade-satélite, posicionada às margens da rodovia que seria aberta. Quem elaborou o projeto foi o engenheiro civil Roberto Brandão, natural de Campo Grande (MS), que também projetou Vera e Santa Carmem, além de outras cidades no Paraná, como Terra Rica, Iporã, Ubiratã, Formosa do Oeste, Jesuítas e várias vilas.
O projeto de Brandão recebeu a aprovação do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), no ano de 1972. Neste, Sinop tinha a forma de um trapézio, com sua área central retilínea formada por 42 quadras, onde se imaginava ser a região de comércio da cidade, dispostas no espaço atualmente compreendido entre a Avenida das Figueiras e a Avenida das Embaúbas. Mas o projeto de Brandão não tinha as largas avenidas, os espaçosos canteiros centrais ou as exageradas rotatórias que são uma marca da Sinop moderna.
O ponto inovador no projeto de Brandão estava na área dedicada à ocupação residencial. Inspirado no arquiteto espanhol Idelfonso Cerdá, que projetou Barcelona, Brandão trouxe para área residencial de Sinop quadras abertas, com áreas não construídas em seu interior e ruas que não se conectavam. Essas divisões urbanas, em formato de “S” foram chamadas de “Superquadras”. A proposta era fazer com que em frente de cada casa houvesse uma pequena área de lazer, aproximando vizinhos, afastando o trânsito frenético e melhorando a qualidade de vida. Era um projeto a frente do seu tempo... e esse foi o problema.
O conceito das Superquadras se mostrou inaplicável para época. O volume de chuvas, combinado com a dificuldade em implantar um sistema de drenagem, transformava as superquadras em ‘mini brejos’. Serviços de saneamento, como uma simples coleta de lixo, eram dificultados pelo modelo. Soma-se a isso a presença de uma “cultura rural” dos primeiros migrantes, que utilizavam a parte dos fundos dos seus terrenos, voltados para parte interna das quadras, para a criação de animais, como galinhas e porcos. Além disso, por duas décadas Sinop não teve um palmo de asfalto e as primeiras construções eram todas de madeira. No pico das chuvas, fossas e pocilgas se misturavam. “As superquadras são lindas hoje, com infraestrutura de drenagem, pavimentação asfáltica e rede de esgoto que a cidade tem. Mas na época era um problema de saneamento básico”, avalia Alfredo.
O arquiteto também tinha outros desafios na revisão do Plano Urbano de Sinop. Inicialmente, a cidade foi projetada para 20 mil habitantes. Os primeiros anos já mostravam que precisava ser maior. O projeto urbano de Brandão também não previu os córregos e nascentes presentes no perímetro urbano.
Assim, no final de 1977, Alfredo vem a Sinop a trabalho. Sua primeira vez aqui havia sido em 1976, no segundo ano de aniversário da cidade, meses antes de Sinop ser elevada a distrito de Chapada dos Guimarães. Acompanhado do engenheiro e topógrafo Sadao Watanabe, eles começam a demarcar as nascentes dos córregos Iva, Marlene e Nilza. Nesses espaços, Alfredo projetou uma larga área de reserva florestal permanente, com o propósito de que tivessem um uso futuro, como parques urbanos. Hoje, nestas áreas estão, respectivamente, o Parque Florestal de Sinop (que só seria implantado na década de 90), a reserva nos fundos da Unemat (circundada por uma pista de caminhada), e a reserva do Jardim Botânico (em fase final de implantação no ano de 2024). “Lembro de abrirmos uma picada onde era a Rua dos Cajueiros e fomos andando até mais ou menos onde viria a ser a Avenida das Palmeiras. Em dado ponto, cutuquei o solo com uma vareta e verteu água, de tão aflorado que era o lençol freático”, lembra Alfredo.
Muito inspirado pelo plano urbano de Maringá, o arquiteto queria garantir que Sinop fosse tão verde quanto. Além das reservas em torno das nascentes, Alfredo projetou largas avenidas na cidade, com 40, 50 e até 60 metros de largura, recheadas por um espaçoso canteiro central. Ele também projetou as generosas rotatórias, que anos depois se tornariam praças. “Me arrependi! Se fosse refazer o projeto hoje, deixaria as avenidas10 metros mais largas”, exagera Alfredo.
Com o redimensionamento, o perímetro urbano de Sinop, estabelecido por Brandão, alcançaria 160 mil habitantes quando totalmente ocupado. A ONU (Organização das Nações Unidas) recomenda, como urbanamente ideal, 12 metros quadrados de área verde por habitante. Sinop alcançou 25 metros quadrados de área verde por habitante após o redesenho.
Algumas coisas do projeto inicial tiveram que ser mantidas, afinal, a cidade já estava na altura da Praça Plínio Callegaro e algumas das superquadras estavam ocupadas com edificações. É em uma dessas porções urbanas em formato de ‘S’ que Alfredo mora até hoje, uma confortável residência arborizada, com um grande flamboyant florido na entrada dando as boas-vindas. “Quando cheguei em Sinop, em janeiro de 1986, estávamos descarregando a mudança do caminhão e tinha um palmo de água no quintal da casa. O conceito de superquadras é lindo, mas não tinha como manter na época”, explica o arquiteto.
Em 1978, o novo projeto urbano de Sinop estava pronto. As superquadras foram eliminadas e as avenidas ampliadas. Ao invés de um trapézio, agora o desenho de Sinop lembrava uma casa, evocando uma lembrança de Maringá. Dentro dessa “casa” caberiam 8 vezes mais pessoas do que foi projetado inicialmente. Outra coincidência com a cidade paranaense foi a disposição dos espaços no Centro Administrativo, de forma semicircular, com a catedral no centro e a sede dos demais poderes no entorno. Com exceção de algumas mudanças no contorno da parte destinada ao Centro Administrativo e o fechamento de algumas poucas ruas para unificar quadras, todo restante do projeto de Alfredo foi seguido ao longo desses 46 anos.
Ainda naquele ano, ele fez o projeto urbano da cidade de Cláudia. Alfredo também promoveu ajustes no plano de Santa Carmem.
De volta à sede da Colonizadora em Maringá, Alfredo atendia aos compradores de terra que precisavam de projetos arquitetônicos para suas futuras sedes no Norte de Mato Grosso. Nessa época fez vários projetos comerciais e residenciais.
Em 1978, criou o projeto urbanístico de Cláudia. No ano seguinte, concomitante com o trabalho da Colonizadora, Alfredo foi convocado para colaborar com a Becker Consultoria de Empreendimentos Industriais, uma empresa com sede em Curitiba (PR), que desenvolve projetos industriais. Nessa empreitada, Alfredo realizou projetos assessórios à implantação da Usina de Etanol de amido da Sinop Agroquímica. O arquiteto projetou o sistema viário da área da usina, o escritório e demais estruturas de apoio da indústria, como ambulatório, oficina e refeitório, além de dimensionar o impacto urbano do empreendimento no plano da cidade.
E ainda encontrou um tempo para casar. No ano de 1979, ele e a professora Tânia Pitombo (que acrescentou ‘de Oliveira’ ao nome) consagram o matrimônio, tendo sua primeira filha, Maira, no ano de 1981. Luiz Henrique, o segundo filho do casal, nasceu dois anos depois, em 1983.
Até o ano de 1985 ele continuou atuando no escritório da Colonizadora em Maringá, fazendo projetos, como as primeiras casas de alvenaria para os gerentes da usina de álcool. Ele também fez o projeto da primeira creche em alvenaria da cidade, construída pela Colonizadora e doada para a Prefeitura.
Foi nesse mesmo período que ele fez o projeto arquitetônico do Restaurante O Colonial – erguido no exato lugar da solenidade de fundação de Sinop, com o propósito de ser uma estrutura digna de receber um Chefe de Estado. E foi nesse restaurante que, anos depois, em 1984, Sinop recepcionou pela segunda vez o presidente João Batista Figueiredo.
A alegria foi nublada por um daqueles acontecimentos que fogem do controle dos homens. No dia 20 de fevereiro de 1984, cerca de 4 meses antes do presidente comer no restaurante que Alfredo projetou, a pessoa mais admirada pelo arquiteto partiu para nunca mais voltar. Nilza estava no avião privado da empresa quando a aeronave apresentou problemas e caiu, levando à morte da tia de Alfredo e de outras duas pessoas que estavam no avião, o piloto e um juiz de direito. Nilza tinha 63 anos de idade. “Foi um momento muito triste, uma perda irreparável. Ela era como uma mãe para mim”, revelou Alfredo na entrevista que concedeu quase 40 anos após o trágico acidente.
O constante e frenético crescimento de Sinop tornava a tentativa de acompanhar os negócios da empresa morando em Maringá insustentável. Em dezembro de 1985, ele e a família decidem mudar sua residência para Sinop. O arquiteto, sua esposa e o casal de filhos se alojaram em uma casa da diretoria da Colonizadora Sinop – residência grande para os padrões da época, que já havia servido de morada para o primeiro diretor do Banco do Brasil e para o 1º bispo da Diocese, Dom Henrique Fröehlich. O problema é que os padrões da época estavam longe de ser um palacete vitoriano. A casa erguida entre 1974 e 1975 era de madeira, com as paredes duplas de forrinho, coberta por uma telha ondulada de 3 milímetros. Ou seja: esquenta no calor e esfria no frio.
A mudança só chegou 3 meses depois. Nessa época, Alfredo constituiu a Ângulo Arquitetura e Urbanismo, um escritório independente onde tocava projetos em paralelo com os negócios da Colonizadora. Essa empresa está ativa até hoje. “Tinha muito trabalho. As pessoas compravam o terreno em Sinop e queriam fazer o projeto”, revela Alfredo.
Entre os muitos projetos que o arquiteto fez nessa época está o Hotel Acácias, construído na avenida de mesmo nome, perto da Praça Plínio Callegaro. Esse prédio funcionou como hospedaria por muitos anos, e no seu fim foi alugado como sede da Delegacia de Polícia Civil do município. Com o avanço urbano acabou sendo demolido, e agora, em 2024, no seu lugar está sendo erguido o maior prédio vertical da cidade até o momento.
Tânia também se estabeleceu. No dia 1º de abril de 1986, ela se reuniu com o professor Luiz Erardi – hoje um dos principais historiadores e guardião da memória de Sinop –, que na época atuava como diretor regional de Educação. Desse contato veio a contratação de Tânia como professora. Em 1994 nasceu Liara, a última filha do casal.
Mas o ciclo de vida e morte é uma irrefreável constante. Em 16 de junho de 1995, após 11 anos da perda da sua “tia-mãe”, Alfredo teve que se despedir do seu pai postiço. Ênio morreu em Bebedouro (SP), aos 78 anos de idade, acometido por um infarto agudo logo após participar do sepultamento do seu amigo e sócio na fundação de Sinop, João Pedro Moreira de Carvalho. “No último dia que seu Ênio estava em Sinop, antes de ir para Bebedouro, ele foi até minha casa almoçar antes de ir para o aeroporto. Não imaginava que aquela seria a última vez que o veria”, rememora o arquiteto.
Com os pais fundadores de Sinop em memória, a Colonizadora precisou ajustar seus quadros para manter o curso do seu exitoso projeto. Em setembro de 1995, Alfredo foi elevado ao posto de Diretor Técnico da Colonizadora Sinop, função que exerceu por 21 anos, até janeiro de 2016.
Nesse longo intervalo de tempo, ele projetou os escritórios sede da Colonizadora em Sinop e Santa Carmem, a fachada e a praça da Igreja São Camilo, o Colégio de Freiras, Regina Pacis e a igreja do Menino Deus. Até o Mondrian, o primeiro condomínio horizontal fechado do Norte de Mato Grosso, foi projetado por Alfredo – inaugurando o que viria a se tornar o conceito de mais alto padrão residencial da cidade de Sinop. Dentro da Colonizadora, projetou 13 loteamentos quando esteve na função de diretor, sendo inclusive responsável pelo desenvolvimento dos projetos urbanísticos do Cidade Jardim e do Jardim Terra Rica (etapas 1 e 2). O charmoso Jardim Curitiba foi seu último projeto como Diretor Técnico da Colonizadora, no ano de 2015.
Em 2016, ele deixa o cargo, mas nunca se afasta por completo da empresa. Em 2020, retorna para desempenhar a função de responsável técnico da Colonizadora junto ao CRECI (Conselho Regional de Corretores de Imóveis). Por uma questão de lógica – ainda que de forma tardia –, Alfredo recebe, em setembro de 2020, a Comenda Colonizador Ênio Pipino, uma homenagem prestada pela Câmara de Vereadores de Sinop que figura entre as maiores honrarias que pode ser concedida pelo município.
Uma pessoa pode percorrer pelos muitos logradouros que Alfredo projetou e ainda assim não encontrará nenhum que leve o nome de seu pai, ou mesmo do avô, seu homônimo. O mais fácil de ver são nomes de árvores, flores e folhagens batizando as ruas e avenidas do município. “Ao executar o projeto de Sinop, a Dona Nilza sugeriu que as ruas e avenidas recebessem nomes de árvores, frutíferas e flores. Ela era amante da natureza”, resgata o arquiteto.
Esse presente de Nilza à cidade ainda sobrevive, mesmo com o “desmatamento” histórico promovido pelos entes políticos, que rebatizam as vias da cidade com o epíteto dos seus admirados de ocasião. O exemplo mais flagrante disso está logo na avenida central de Sinop, originalmente chamada de Avenida dos Mognos, mas que foi podada e incinerada para ser anunciada como Avenida Governador Júlio Campos, em honra ao ex-governador, que a despeito das suas muitas contribuições para cidade, ainda está vivo e disputando eleições.
Da Avenida dos Mognos restou as cinzas na memória dos mais antigos. Alfredo, que redesenhou a cidade, não quis tomar nenhum espaço para rebatizar, nem acredita que seja muito prodigioso fazê-lo. Mas essa não é sua principal dor. “Hoje eu admiro o trabalho da Administração em normatizar continuadamente o prolongamento das avenidas nos loteamentos fora do perímetro urbano”.
Apesar das cicatrizes urbanas, Alfredo enaltece, como bom sinopense ufanista, a grandiosidade de Sinop. “É uma cidade ampla, espaçosa, moderna, arborizada e que economicamente não tem igual. Em menos de cinco décadas, alcançou e ultrapassou aquilo que havíamos projetado, se tornou o lar e o sonho de muitas pessoas. É uma potência em educação, saúde, comércio e indústria, da mesma forma que Maringá. Olhando para Sinop hoje, o que vejo é a necessidade de reparos cosméticos. Melhorar as calçadas, dar mais espaço para as pessoas, avançar com a arborização e resolver a questão da poluição visual, causada pela desordem das fiações da rede elétrica e de internet, pelos painéis de publicidade, pelas lixeiras antigas já sem função, as bocas-de-lobo mal cuidadas e os semáforos. Apenas alguns ajustes que a cidade vai alcançar com o tempo”, avalia o arquiteto, que assim como um zeloso pai, não deixa os defeitos dos seus filhos se sobressaírem às qualidades.
1986
Antônio Galvan

A LIDERANÇA QUE BROTOU NO GRITO
Nas últimas duas décadas um produtor rural que tentou de tudo antes de voltar para a roça se tornou a maior liderança do agronegócio que Sinop já produziu. Com um discurso poderoso, sem filtros, eivado das dificuldades que só sente quem planta, Antônio Galvan se tornou uma voz em defesa daqueles que precisam lembrar aos outros quem é que alimenta o ser humano mundo afora
O Brasil é um país agrícola, tudo que se faz depende do que o campo produz e saciar a fome é a primeira prioridade. Esse é o resumo do pensamento de Antônio Galvan, uma liderança do agronegócio que emergiu em Sinop no ano de 2005 e chegou ao posto de presidente da Aprosoja Brasil, sendo uma voz ativa nas discussões internacionais sobre a produção agropecuária do país.
Antônio Galvan nasceu no dia 13 de novembro de 1957, em Sananduva (RS). Ele é o quinto dos 6 filhos de Albino Galvan e Esperança Maria Cara Galvan. A família vivia em uma pequena propriedade rural de aproximadamente 12 alqueires (ou 30 hectares), onde criavam porcos, vacas leiteiras e cultivavam seus alimentos, tudo manualmente. O “trator” era uma junta de bois e a “colheitadeira”, os braços da família.
Quando criança, Galvan estudou em um colégio de freiras que ficava próximo ao sítio. Nas fileiras escolares já demonstrava uma liderança nata, encampando as atividades e mobilizando outros alunos. No segundo grau, se formou como técnico em contabilidade.
Na roça, plantavam milho, mandioca e, no inverno, trigo; já na horta, plantavam hortaliças e legumes para vender na cidade.
Em 1975, quando tinha 18 anos, Galvan junta as economias e compra um Fusca 1200, ano 1962, seu primeiro carro. No início de 1978, ele adquire uma Kombi, utilizada como lotação para trazer alunos das comunidades do interior para estudar na cidade. Poucos meses depois, Galvan muda de carro e de ramo. Agora, com um Corcel I, vira taxista na pequena cidade. A nova profissão rendia um bom dinheiro, mas tirava o sono. Dirigir para outras pessoas exigia trabalhar em sábados, domingos e feriados, muitas vezes de madrugada.
Galvan pilotou seu táxi por pouco mais de um ano. Em 1979, ele foi para Sede Sulina, na época um distrito de Chopinzinho (PR) – e que anos depois se emanciparia, se tornando o município de Sulina –, visitar um tio, irmão da sua mãe. O Bradesco estava inaugurando uma agência na cidade e não haviam funcionários suficientes. O banco chama Galvan para trabalhar como escriturário e fazer serviços de caixa. “Foi meu único registro na Carteira de Trabalho em toda a vida”, conta Galvan.
No mesmo ano Galvan se casa com Neusa Bozik e o casal tem seu primeiro filho, Rafael Galvan. Depois de 9 meses trabalhando no banco, Galvan pede as contas, e com o acerto e as economias, financia em torno de 80% de um caminhão. “Tem gente que nasceu para mandar e gente que nasceu para ser mandado. Eu sou do primeiro tipo. No banco era uma briga por dia. Então percebi que precisava ser dono dos negócios onde trabalho e ser caminhoneiro era uma opção possível”, comenta Galvan.
Em janeiro de 1980, com seu Mercedes-Benz 1113, ele faz fretes transportando os grãos colhidos na região. Levava soja até Ponta Grossa (PR) e para o porto de Paranaguá (PR) e voltava com calcário, ração, areia e tijolos. Nunca voltava com o caminhão vazio. Também puxou madeira do Paraguai para uma empresa de Francisco Beltrão (PR). Após um ano ele vendeu o caminhão e passou a negociar veículos. Ele comprava um carro e procurava um comprador ou intermediava negócios de outros. Foi nessa época, em 1981, que nasceu Darina, a segunda filha do casal.
Em 1983, aparece uma oportunidade de negócio, e Galvan compra um restaurante em Guarapuava (PR). O estabelecimento na beira da rodovia era frequentado por caminhoneiros e viajantes. Em 1984, nasce Albino, seu terceiro filho. No ano seguinte, Galvan se cansa do negócio, vende o restaurante e compra um caminhão, voltando a atividade de caminhoneiro, mas agora com fretes mais curtos, transportando lenha para uma indústria de papel, permitindo que ficasse mais tempo em casa, próximo da família. “Eu estava o tempo todo tentando achar um negócio melhor para fazer. Sempre foi assim desde que saí da roça. O desejo era de vencer, de crescer”, comenta Galvan.
Mesmo no restaurante ou como caminhoneiro, Galvan não deixava de fazer negócios de compra e venda de veículos. Um veterinário do Rio Grande do Sul queria comprar um carro para ir até o Rio Verde de Mato Grosso (MS), e estava desconfiado que o Fusca oferecido pelo vendedor não daria conta da viagem. Galvan então propõe ir dirigindo o carro e, quando chegasse ao destino, o veterinário pagaria pelo veículo.
A proposta não foi apenas para vender o carro. Há anos Galvan tinha curiosidade de conhecer o Mato Grosso. Ele via no programa de televisão Globo Rural reportagens falando da grandiosidade do setor produtivo do estado, com largas lavouras e pecuária. Após entregar seu passageiro e o carro, Galvan pega um ônibus e vai até a cidade de Sorriso. Depois, pega um carro e vai conhecer a região de Guarantã do Norte e Matupá, que tanto se falava à época. Ele nem parou em Sinop, passou direto. “Em 1985 já era tudo caro em Mato Grosso, tanto o preço de áreas para plantar, como os terrenos urbanos e alugueis. E não tinha nada de estrutura que justificasse. Voltei para o Paraná convencido de que não viria para o Mato Grosso”, revela Galvan.
Mas um ano depois um amigo o faz mudar de ideia ao falar que pessoas estavam conseguindo um bom dinheiro com extração de madeira para abastecer as indústrias de Sinop. Galvan vende o caminhão, e com o dinheiro compra outro caminhão e um trator CBT, e no dia 5 de setembro de 1986 se muda para Sinop. Ele adquire uma área de 60 hectares na região do Canarinho, coberta de mato e com muitas árvores de tamanho comercial. Com a madeira que colheu e vendeu para as indústrias, Galvan conseguiu pagar a terra. “Quando comecei a extração da madeira, os valores do metro cúbico para as serrarias era o equivalente a R$ 300. Chegando ao final de 1986, com o plano Cruzado, esse metro cúbico de tora chegou ao equivalente a R$ 1.000. Era uma madeira boa, de lei”, explica o produtor. “Fizeram um torneio de futebol no Canarinho e mataram 3 vacas para fazer o churrasco. Foi quando deu pra comer carne. Comprei 3 espetos e fomos comendo ao longo da semana”.
No final de 1990, com metade da propriedade aberta, ele começa a criar gado. No começo de 1991, mesmo ano que nasceu Caroline, sua última filha, ele adquire uma segunda propriedade, em Vera. Comprou mirando a madeira, porque a terra em si não tinha valor. Nos anos seguinte, Galvan foi comprando vários lotes pequenos de terceiros ao longo da Estrada Márcia. Em 1975, segundo os moradores que ali estavam, eram em torno de 26 famílias que moravam ao longo da estrada, que contava até com uma escola em funcionamento. Devido às más condições da estrada e um solo pouco fértil, aqueles residentes foram deixando o local aos poucos, restando apenas 2 moradores no início dos anos 90. Galván começa a abertura de área para criação de gado. Comprando matrícula por matrícula, Galván acumula 30 documentos de terra naquela região ao longo de mais de 30 anos. A dificuldade em acessá-las tornava-as baratas. Tal região, inclusive, foi povoada pela Colonizadora Sinop, e é dela que Galvan adquire sua primeira área – de 100 alqueires, sendo duas de 25 alqueires (equivalente a 60 hectares cada) e uma de 50 alqueires (equivalente a 121 hectares), no final do ano de 1990. “Quem tem a atividade agrícola no sangue, jamais dela sairá. Às vezes, a gente sai da agricultura, mas a agricultura não sai da gente”, reflete Galvan.
Após extrair a madeira, em 1995 ele inicia com agricultura nessa propriedade, motivado pelo aperfeiçoamento das cultivares de arroz agulhinha. Nos 72 hectares de lavoura conseguiu colher uma média de 60 sacas por hectare. Com essa produção dava para investir na agricultura. No ano seguinte ele amplia a área plantada para 190 hectares e no terceiro ano para 360. Depois de 3 anos cultivando arroz, Galvan conseguiu entrar com a soja, que exigia mais investimento, mas prometia ser mais rentável.
Nessa época ele praticamente parou de mexer com a extração e venda de madeira, se dedicando à agricultura. Quando começou a plantar soja, buscou informações com quem já trabalhava com a cultura. O grão era lucrativo e, com o dinheiro que sobrava, Galvan ia comprando mais terras. Quando chegou em Sinop, sua ambição de vida era conseguir chegar aos 240 hectares. Acabou acumulando bem mais do que isso. No seu auge, o produtor chegou a ter 4,1 mil hectares de área plantada. “Eu sempre acreditei que não tinha como a terra não valer. Eu pensava: ‘um dia vai abrir esse corredor para o Norte e essas terras vão ser valorizadas’. No fim foi o que aconteceu”, comenta Galvan.
Por volta de 1994, as terras que o produtor adquiriu eram negociadas por 4 sacas de soja o hectare. Atualmente, em 2024, a área em produção é avaliada entre 500 e 1.000 sacas de soja o hectare. “Nós vivemos dois momentos nessa região. No começo precisava ter uma imensidão de terra para pegar uma mixaria de dinheiro no banco para financiar a safra. Pendurava 10 matrículas no banco para plantar em uma. Hoje a terra vale muito mais, o que é uma vantagem para quem tem e um obstáculo para quem quer comprar”, pontua Galvan.
Até então Galvan era apenas um entre tantos produtores rurais da região de Sinop. Não era o maior, nem o menor, o mais ou menos técnico, tampouco vanguardista. Era apenas um migrante sulista, que voltou para agricultura porque acreditou que era o melhor que poderia fazer naquele momento. Em suma, um sobrevivente. Isso até uma forte crise mudar a história.
Um grito que despertou o agro
Crises na agricultura são cíclicas em todo o país, ao ponto de serem quase previsíveis. No Norte de Mato Grosso, ainda mais distante dos grandes portos e refém do frete, o setor se retorce a cada 10 anos. Houve uma crise em 1985, outra em 1995 e em 2005 não foi diferente.
No ano anterior, em 2004, a saca de soja na região de Sinop era comercializada a R$ 45,00, o arroz a R$ 42,00 e o milho R$ 23,00. O bom momento elevou os preços de tudo que estava envolvido com a produção agrícola. Adubos e maquinários praticamente dobraram de preço, o que tornou o plantio da safra 2005 muito mais caro.
Mas quando chegou a hora de colher, os grãos já não tinham mais valor. A saca de soja chegou a R$ 14,00 e o arroz a R$ 13,00. Para piorar, a Conab mudou a classificação do Cirad-141, principal variedade plantada no Nortão. O grão, antes “longo fino”, passou a ser comprado apenas como “longo”, o que derrubou seu valor em média para R$ 7,00 a saca.
Enquanto agricultores amargavam prejuízos, o setor madeireiro, até então alicerce da economia de Sinop, era dilacerado por uma sequência de operações ambientais, que levaram a desativação de várias indústrias madeireiras e um período de inatividade dos poucos que ficaram abertos. “Em 2005 não teve quem não ficou no chão”, lembra Galvan.
Como a última crise havia ocorrido há 10 anos, havia um vácuo de lideranças. Embora o Sindicato Rural de Sinop existisse desde 1989, não havia uma voz que arregimentasse os produtores e fosse efetiva em sua defesa. O setor madeireiro até estava mais organizado, com um sindicato forte – o Sindusmad. Mas o produtor rural estava órfão.
Foi quando, em uma reunião promovida dentro do Sindusmad, uma voz se fez ser ouvida. Falando tão alto, com um sotaque carregado, mas proferindo palavras de indignação repletas de verdades, Galvan expressou seu descontentamento. O discurso autêntico, sem filtros e no tom que mais parecia uma briga, encheu a sala e se multiplicou para fora das portas do Sindicato. Em pouco tempo, Galvan já estava sendo seguido e estimulado por outros produtores para representar o setor.
Em abril de 2005, Galvan e demais produtores rurais puxaram uma manifestação – com 2 quilômetros de extensão – que levou maquinários às principais ruas e avenidas de Sinop. Em maio, um novo protesto. Dessa vez com mais produtores mobilizados, bloqueia a BR-163 próximo ao bairro Alto da Glória. Com esses atos públicos, Galvan colocava na pauta da imprensa em por consequência da sociedade, as dores do agronegócio. “Parte da nossa briga era com os bancos. Um dia entrou chorando no sindicato um produtor com mais ou menos 80 anos de idade. Ele tinha 50 anos de conta no Banco do Brasil, sem nenhum tipo de problema com o banco, e nesse momento seu nome foi colocado no Serasa por causa das dívidas relacionadas à sua produção. Esse é um caso. Muitos produtores tiveram seus nomes colocados na lista de devedores”, pontua Galvan.
Entre os dias 31 de maio e 1º de junho de 2005, o grupo liderado por Galvan deflagra o “Tratoraço”, com as máquinas posicionadas na rodovia federal. No dia seguinte, estoura a Operação Arco de Fogo. No mesmo dia, os produtores acampam na Praça da Bíblia, próximo ao Banco do Brasil, onde permanecem até o dia 22 de junho. Depois, 46 tratadores partem em comitiva para Brasília (DF), onde se somam a produtores de outras regiões. Mais de 5 mil maquinários agrícolas foram estacionados na Esplanada dos Ministérios, com a presença de 25 mil produtores rurais. Galvan estava lá, como uma liderança nata, mesmo não sendo presidente do Sindicato. Na Capital Federal, lideranças de 12 estados conseguiram uma audiência com a Comissão de Agricultura, Pecuária e Abastecimento da Câmara dos deputados federais e depois uma reunião com o próprio presidente da época.
De volta a Sinop, Galvan já era o presidente do Sindicato Rural de fato, restava ser de direito. A diretoria da entidade na época acabou antecipando as eleições para enquadrar o novo líder no posto. Em 17 de setembro de 2005, Galvan tomava posse como presidente do Sindicato Rural de Sinop.
Quando assumiu o posto, o Sindicato tinha menos de 40 filiados. Não tinha dívidas, mas também não tinha caixa para se mobilizar. Sendo reconhecido pelo produtores como uma liderança legítima, Galvan atrai novos filiados, estruturando a entidade. Em sua gestão, o Sindicato alcança 600 produtores filiados, com 300 pagando a mensalidade em dia.
Em abril de 2006, com o final de uma nova safra e sem melhorias significativas no cenário, o setor produtivo volta a se mobilizar. No pequeno município de Ipiranga do Norte, um grupo de produtores que acumulavam as dívidas do plantio – que jamais seriam pagas com a colheita – iniciam um protesto bloqueando armazéns, impedindo que as tradings compradoras de soja recebessem os grãos. O movimento acaba sendo multiplicado em Sinop com o comando de Galvan e em outros municípios pelos seus sindicatos, até todo Norte de Mato Grosso estar bloqueado.
O ato conservou seu local de origem e ficou conhecido como o Grito do Ipiranga – uma alusão tanto ao município de Ipiranga do Norte quanto à fábula de independência do Brasil, que narra Dom Pedro I, às margens do Rio Ipiranga, gritando ‘independência ou morte’. No caso do setor produtivo, era intervenção do Governo Federal ou falência.
Em Sinop, o Sindicato Rural mobilizou um acampamento na BR-163, bloqueando a rodovia federal por onde verte a produção com caminhões e maquinários agrícolas – alguns desses incendiados para dificultar a remoção e também gerar notícia, chamando a atenção das autoridades e da população. Carros de passeio tinham o trânsito liberado em alguns momentos do dia, mas caminhões carregados com grãos eram retidos no bloqueio.
O acampamento na rodovia durou 40 dias em Sinop. O Ministério Público tentava intimidar o Sindicato Rural para que diluísse o protesto. Galvan concedia entrevistas para veículos de comunicação nacionais, falava com outras lideranças regionais e políticos de Brasília, tudo para manter o Grito alto, a ponto de ensurdecer o Governo Federal – tudo isso em um ano de eleição presidencial.
Os agricultores pediam a renegociação das dívidas rurais, assim como em 2005, mas também uma forma de garantir a lucratividade da atividade através de políticas de sustentação e um programa de preços mínimos para a soja, milho e arroz. O pleito por uma logística melhor também compôs a pauta, mas era algo menos urgente e palpável.
No fim, o Grito do Ipiranga se alastrou para 10 estados brasileiros, e dentro de Mato Grosso fortaleceu entidades como a Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso) e a Famato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso). “O Grito do Ipiranga acabou ganhando repercussão devido à luta e a crise pela qual o setor produtivo passava. Hoje, o setor conseguiu equilibrar as contas e liquidar boa parte das dívidas daquela época. O governo alongou o prazo, mas os juros viraram uma bola de neve. Alguns ainda estão pagando. A agricultura no Brasil era difícil naquela época por não remunerar o produtor”, explica Galvan. Vale lembrar que a Aprosoja-MT nasce em fevereiro de 2005, ainda mais fortalecida a partir do ano seguinte, num momento em que se previa as crises no campo que se desencadeariam.
Para Galvan, pouco foi conquistado. O único “benefício” conquistado à época foi o alongamento do tempo para saldar as dívidas. Em 2007, após a reeleição do presidente Lula, Mato Grosso passou a ter o comando do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes), com a nomeação de Luiz Antônio Pagot para a superintendência do órgão. Foi com Pagot que se começou a tirar do papel a pavimentação da BR-163 até Santarém (PA), garantindo o acesso aos portos do chamado Arco Norte – que deixaram as lavouras de Sinop a menos de mil quilômetros de distância do frete aquaviário.
Durante todo o tempo que foi presidente, Galvan também encabeçou com o sindicato vários movimentos pela melhoria da logística para a agropecuária da região. Houve um movimento grande para a implantação de uma hidrovia nos Rio Teles Pires e Tapajós, que redundaria a rota da BR-163 para o Norte, mas por água, barateando muito o preço do frete. Essa campanha foi frustrada, já que nunca saiu do papel.
Mas as diversas missões Estradeiro garantiram que a BR-163 fosse construída e oferecesse condições para escoar a safra pelo Norte. O sindicato também motivou as discussões para implantação da Ferrogrão, uma estrada de ferro entre Sinop e Miritituba (PA). Esse projeto andou um pouco mais, estando na lista de obras de infraestrutura que são estratégicas para o Brasil.
Em 2008, Galvan foi reeleito como presidente do Sindicato Rural, ficando até 2011 por força do estatuto que não permitia 3 mandatos em sequência. Em 2010, disputou seu primeiro cargo político, concorrendo a deputado federal pelo PDT. Fez 7.115 votos, que não foram suficientes para elegê-lo. Galvan ficou como vice-presidente do sindicato até 2014, atuando com vigor, até retornar ao cargo no mesmo ano. Em 2017, foi novamente reeleito, mas acabou entregando o cargo em 2018 após vencer a eleição da Aprosoja em Mato Grosso, se tornando o primeiro produtor de Sinop a presidir a associação. “Desde 2007, eu fiz parte da Famato, mas sempre em cargos menores, e entre 2013 e 2016 cheguei a disputar a presidência, mas sem sucesso. Na eleição da Famato, quem vota são os presidentes de Sindicatos. Na Aprosoja, são os produtores”, explica Galvan.
Com mais de 1.200 votos, cerca de 53% do total, Galvan venceu o pleito que o tornou uma liderança estadual do setor produtivo. Foi na condição de presidente da Aprosoja que o produtor protagonizou um momento ímpar, similar ao seu primeiro discurso na reunião com o Sindusmad, que o catapultou para liderança do Agro, mas em escala internacional.
O episódio se passou no dia 19 de novembro de 2018, em Bruxelas, na capital da Bélgica. A plateia composta por comerciantes, industriários, políticos e ambientalistas da Europa, que integravam o workshop para discutir sobre a produção sustentável de soja no Brasil, ouviu um discurso áspero do líder ruralista. A fala começou com uma provocação. Galvan perguntou para plateia presente quem conhecia o Brasil, o Mato Grosso e a forma com que o Estado produz. “Será que podemos e precisamos discutir produção de soja responsável e sustentável no Brasil? Será que tem alguém no mundo que produz de forma mais sustentável que no Mato Grosso? Os números estão aí. Menos de 8% do território nacional ocupado por soja e 11% do território de Mato Grosso. Temos dois terços de nossas áreas preservadas. Tem algum país do mundo que está nessa sala que tem essa preservação?”, desafiou Galvan com seu discurso e seguiu indagando os motivos que fazem a soja do Brasil incomodar tanto a Europa. “Por que essa cruzada contra nós?”, questionou.
A base do argumento de Galvan era de que alguns setores econômicos do Velho Continente foram contaminados por falso propagandismo ambientalista, a ponto de fazer com que a Europa cobre o Brasil, mas sem olhar para seus próprios exemplos. “A Europa perde sua essência ao cuidar da perfumaria. Eu aprendi que educação vem de casa. O que vocês fazem na Europa que pode ser exemplo de preservação ambiental? Onde está a preservação dos rios de vocês? Aí falam um monte de asneiras sobre o Brasil e não fazem nada em sua casa. Eu pergunto: com que moral?”, indagou Galvan. “Pedem desmatamento zero. Às custas de quem? Nós temos uma legislação ambiental rígida, que os produtores seguem à risca. O Brasil tem soberania e suas próprias leis. Não somos mais colônia. Se vocês acham que a preservação é importante, coloquem dinheiro no bolso e vão lá negociar. Porque conversa nós não vamos mais aceitar”, completou o ruralista.
Passados 6 anos do discurso que percorreu o mundo, Galvan conta à FATOR MT que esse não era o plano original. O assessor, contratado pela entidade, havia preparado uma apresentação em inglês, técnica e mansa, para apresentar no evento. Mas, em dado momento, ouvindo as manifestações de ambientalistas e diretores de órgãos públicos e empresas, o brio de Galvan foi atiçado, fazendo-o pegar o microfone e falar de improviso, em português mesmo. “A briga ambiental tem apenas viés econômico. Atrapalha o desenvolvimento de um país e o Brasil tem sido o alvo principal dessa agenda. A questão mais importante que o mundo deveria discutir é a segurança alimentar. Ninguém vive sem comida. Quando nossos bisavós ou outros vieram da Europa para o Brasil não foi pela guerra, foi pela fome. Guerra sempre teve. O que os motivou a migrar para tão longe foi a fome. O Brasil tem condições de superar os Estados Unidos em produção e ser um país que domina o mundo por garantir seu alimento. Toda vez que uma sociedade cresce, o primeiro ganho que ela tem é na mesa, comendo melhor”, defende o ruralista.
Em 2021, Galvan é alçado a presidente da Aprosoja Brasil, o posto de liderança nacional do agronegócio. “Como presidente da Aprosoja Brasil viajo por todo o país ajudando a organizar a associação nos diferentes estados, alinhando e fortalecendo nossa categoria”, explica.
Em 2022, Galvan tentou novamente arrastar seu movimento pelo setor produtivo para dentro do Poder Público. Ele disputou a eleição para Senador, somando mais de 337 mil votos – ficando em segundo na disputa. Em 2026, quando vai completar 69 anos de idade, ele pretende disputar novamente o cargo. “Tive votos em todos os municípios de Mato Grosso. Em alguns deles, tive maior expressão de votos para mim, principalmente onde predomina a agropecuária. O Senado é meu foco porque lá eu vou conseguir ampliar a representação do setor produtivo, que me dedico de corpo e alma para defender”, argumenta Galvan.
Atualmente, Galvan é casado com a advogada Paula Boaventura, e adotou com o coração sua filha Anna Larissa. Também desfruta da companhia e convivência com os filhos biológicos Rafael, Albino e Caroline. Atualmente o vovô Galvan aconselha e brinca com os netos Brenda e Arthur (filhos de Rafael), Otávio e Alice (filhos de Albino) e Catarina (filha de Caroline).
Paula se tornou sua companheira na maratona do sindicalista pelo Brasil em defesa do setor produtivo. O casal transita especialmente entre Chapada dos Guimarães e Sinop, rodando pelo estado na maior parte do tempo. As terras no Norte do estado continuam sendo cultivadas pelo filho Albino, que cuida da lavoura, tratos culturais e colheitas, enquanto Galvan segue fazendo a gestão – especialmente compra de insumos e comercialização da produção. Rafael, o filho mais velho, ingressou na política em 2024, concorrendo como pré-candidato a vereador por Rondonópolis (até a data da entrevista).
A esposa advogada, de histórico político na carreira profissional, segue fiel na missão de eleger o marido patriota ao Senado Federal, acreditando piamente que ele irá defender a nação e lutar pelos direitos do setor produtivo de alimentos.
Nestes anos militando nas lideranças de entidades, Antônio Galvan foi homenageado pela Assembleia Legislativa com a medalha de Comendador do Agronegócio em Mato Grosso.
Sobre a cidade que viu ser construída e que escolheu como sua há 38 anos, o líder do agro é ufanista. “Mato Grosso existe há 300 anos. Precisou vir um povo aqui para reformular e transformar essa região. Quem veio para cá, teve coragem e trabalhou. Não tinha razão para não dar certo, mas quem acreditou fez a cidade acontecer. É como eu digo: tem quem nasceu para mandar e quem nasceu para ser mandado. Em Sinop, veio muita gente de natureza empreendedora, que transformou um lugar no meio do nada na região mais produtiva do Brasil”, avalia Galvan.
Quando questionava se é gaúcho, Galvan responde bem-humorado: “mais da metade da minha vida está em Mato Grosso, portanto, eu me considero hoje um ‘Matucho’. Agradeço ao Rio Grande do Sul, terra em que eu e meu pai nascemos, mas é aqui, em Mato Grosso, especialmente em Sinop, que tive grandes conquistas, tanto em relação à liderança quanto ao patrimônio”.
Foi gente que plantou na dúvida e viveu tempo suficiente para colher certeza.
1986
Família Leobet

PROVIDÊNCIA DIVINA DE FILHO PARA PAI
Um pioneiro empreendedor que atravessou ciclos, construiu uma história de sucesso e proporcionou que o filho, pelo próprio esforço, se transformasse em uma das maiores autoridades no direito ambiental de Mato Grosso
A história da família Leobet em Mato Grosso vai muito além do simples estabelecimento na cidade de Sinop em 1986. Começa quase 30 anos antes, ainda Sul do país. Dari Leobet nasceu em Três Passos (RS), no dia 7 de junho de 1958, em uma família com outros 6 irmãos, sendo ele o quarto filho. A família morava na zona rural e mantinha as atividades básicas da lavoura, principalmente com o plantio de arroz, feijão, trigo, e criação de porcos e galinhas que eram vendidos na cidade. Tudo era feito de forma manual na propriedade que era pequena – cerca de 10 alqueires.
Ainda quando Dari tinha somente quatro anos de idade, o pai decidiu mudar de ares e levou a família para São João, município na região Sudoeste do Paraná, próximo a Pato Branco. Corria o ano de 1962 e, mesmo ainda novo na época, conta que havia uma ‘febre’ migratória de moradores que vinham sobretudo do Rio Grande do Sul para habitar terras paranaenses – o solo roxo era propício ao desenvolvimento de diversas culturas. Os Leobet já tinham parentes por lá, então foram sabendo mais ou menos o local em que iriam se instalar.
“Tinha um sistema de colônias, nas quais as pessoas que se identificavam etnicamente se juntavam em comunidades. Por exemplo, uma região com alemães, outra de italianos, e assim por diante”, comenta Dari. O pai foi então morar com a família nas terras do tio – em uma área que até hoje é dos parentes. Alguns anos depois, adquiriram uma área própria onde foram morar e, entre as memórias de Leobet, o fato de que não falava português, só o idioma alemão, o que de certa forma dificultava um pouco as coisas.
Lembra-se também de neve que caiu na região, por volta de 1969, que caiu durante pelo menos dois dias, além de uma carroça, que ficava ao relento, chegou a ficar pela metade com gelo dentro. Por sua vez, as crianças não reclamavam do frio, pelo contrário, transformavam aquele gelo todo em escorregador gelo.
Ali, foi se criando. Os irmãos estudavam, mas iam a pé para a escola, cerca de seis quilômetros (que jamais era considerada uma longa distância naquela época). Sob chuva ou frio, as crianças iam descalças, levando o calçado limpo dentro de uma sacolinha. “Minha mãe tirava leite e depois eu ainda levava alguns litros para entregar, no caminho da escola mesmo. Também trabalhava ajudando meu pai a fazer quirera, eu ficava colocando o milho e tirando a quirera para ele alimentar os porcos”, conta.
Dari entende a modernidade, mas agradece ‘ter nascido na época certa’. Pôde montar a cavalo, andar de charrete e carroça, e brincar como ‘as crianças de antigamente’. Às vezes, aprontava umas. Certa vez, o pai comprou uma Kombi, e Dari ficou atiçado para passear. Numa noite, quando se preparava para dormir, ouviu o motor do veículo ligado e correu para se pendurar na parte traseira. Deu um jeito de montar na Kombi e se deu por satisfeito depois de uma volta próximo à entrada da propriedade. Dali saltou, e ali ficou, estatelado no chão. “Ralei toda a cara e um vizinho me tirou dali. Só deu tempo de fazer isso, porque passou um caminhão carregando porcos. Se eu estivesse ali, teria morrido esmagado”, recorda.
Nessa Kombi que Dari aprendeu a dirigir, porque o pai pedia para buscar água em casa quando estavam na roça e ele ia correndo, tirava a água, pulava dentro do veículo, dava uma volta e, em seguida, varria com uma vassoura para apagar as marcas dos pneus, o que lhe dava o tempo certo para voltar com a água.
Antes de sair de casa, Dari já tinha se interessado pelo Mato Grosso. Quando tinha 14 anos de idade, recebeu uma proposta de um importante comerciante da cidade para trabalhar em Chapadão do Sul, hoje município localizado no estado vizinho de Mato Grosso do Sul. A empolgação era tanta que ele já tinha até engraxado as botas. Dari só sairia de casa aos 18 anos para trabalhar em um posto de combustíveis em Foz da Areia, que fica próximo ao município de Pinhão, na região de Guarapuava, onde ficou por algum tempo e depois de dois anos retornou para casa.
Foi nesta época, quando já tinha por volta de 21 anos de idade, que conheceu Jussara de Fátima Almeida Correia. O primeiro encontro foi inusitado. “A gente se conheceu durante um carnaval que acontecia em São João. Ela morava em Chopinzinho. Mas daí eu bebi demais e, no dia seguinte, nem lembrava mais quem era a moça”.
O segundo encontro aconteceria algumas semanas depois. Os amigos o convidam para ir a um baile em uma cidade próxima, Sulina. Apesar de não ter habilitação, era ele o motorista do ‘Jipão’ do pai. A saga contou com um pneu furado no meio da estrada e uma última mesa disponível no salão. “O baile era com Valter Basso, cantor da música Castelo dos Sonhos e que estava no auge naquela época. Quando entramos no salão, vi uma moça muito bonita que logo tirou um cigarro Galaxy da bolsa e eu me ofereci para acendê-lo”, narra Leobet. Minutos depois, um convite para dançar e foi aí que ele a reconheceu: “era a namorada do Carnaval, que eu não me lembrava mais”. Depois daquele dia eles namoraram por dois anos, se casaram e tiveram dois filhos: Dari Júnior e Jiancarlo.
Após o casamento, Dari foi morar com os sogros por um período; depois, arrendou uma área para plantar e ali também foi morar, mas acabou falindo. A alternativa foi voltar a trabalhar em um lavador arrendado. O pai queria que Dari estudasse Direito, mas ele nunca se interessou. O incentivo, porém, seria transmitido diretamente aos filhos.
Dari conta que o avô era considerado rico para os padrões da época, com juntas de bois, cavalos, trilhadeira e outros maquinários. Já o pai perdeu quase todo o patrimônio conquistado em cinco anos para apostas e jogos. O recomeço da família foi como meeiros – lavrando a terra e dividindo os lucros, se houvesse.
Enquanto via parte da família em apuros, Dari buscava alternativas para melhorar o padrão da sua. Saiu do lavador e se transferiu para a Companhia de Eletrificação Rural de Chopinzinho. Na cooperativa, foi apelidado de “tatu”, justamente pela função de fazer buracos para instalação dos postes, função em que permaneceu por seis meses. Em seguida, virou instalador interno. Mais seis meses e chegou a encarregado de turma, e após um ano e meio trabalhando na Cooperativa, chegou a ser o encarregado geral no setor de manutenção, o que poderia ser considerado o cargo máximo na área.
Durante uma Assembleia, a Cooperativa define que os funcionários não poderiam mais vender suas férias; a ordem agora é descansar no período combinado. Ele questionou o motivo, já que o valor pago pelas férias era assaz interessante e ele já havia negociado um Fusca contando com aquele dinheiro. “O então presidente da Cooperativa, Armando Batistussi, me chamou e disse pra que eu fosse ao banco e pegasse um empréstimo para pagar a prestação do Fusca”. Como Dari precisava de avalista, o próprio Armando, junto com o prefeito de Chopinzinho à época, deu o aval.
Com parte do dinheiro fruto do empréstimo, Dari recordou do tão sonhado Mato Grosso de outrora, e organiza uma viagem para Sorriso, cidade que ainda engatinhava. Tudo arrumado, combinou a saída – iria com o filho de Batistussi até Cuiabá e seguiria de carona. A epopeia apenas começava. Ainda próximo de Mercedes (PR), o motor da caminhonete S10 quebrou. Veículo consertado, agora o rumo seria Bandeirantes (MS). Lá, platô e disco de freio quebraram. Dari desiste da viagem no veículo e pede sobre horários de ônibus para o Norte de Mato Grosso. “Comprei a passagem, tomei um banho e já pulei para dentro do ônibus, onde me sentei ao lado de uma freira. Quando passamos pelas curvas de Jangada, cai sobre o colo dela e ela já fez um escarcéu, gritando que eu estava bêbado. O ônibus parou, o motorista veio ver o que estava acontecendo. Mas disso só fiquei sabendo no dia seguinte, porque não acordei naquela hora!”, relata. Como o motorista percebeu que ele não estava bêbado, a viagem seguiu.
Mas o sono profundo o fez perder o ponto de chegada. Sinop era o destino final da rota, e ali o motorista o acordou aos berros: “acorde, seu louco!”. Assustado, Dari questiona: “o senhor pode me avisar quando chegarmos em Sorriso?”, ao que o motorista responde: “nós já passamos, a cidade ficou pra trás”.
O motorista então o aconselha a caminhar pela avenida principal e conhecer Sinop, antes de pegar o ônibus para Sorriso. Foi até as proximidades da Cobal, onde havia uma cabine telefônica. Enquanto aguardava na fila para ligar para a esposa e contar o que aconteceu, reconhece um antigo cliente dos tempos de lavador no Paraná. “Ele me perguntou o que eu estava fazendo e disse que vim conhecer a região e arrumar um serviço para mim e para minha esposa”, conta.
Tratava-se do advogado Armando Novaski, que o levou ao escritório onde trabalhava, e já arranjou um emprego para a esposa Jussara. “Foi pelas mãos divinas que vim parar aqui, porque se não tivesse dormido dentro do ônibus teria parado em Sorriso em vez de vir para Sinop”.
Novaski ainda o convida para almoçar e resenha sobre a limpeza de uma fossa. Ele queria ir pescar, mas não poderia sair sem antes resolver o problema. Dari conhecia do trajado e executa a limpeza necessária. Após o serviço, a pescaria é liberada. Logo ao acordar, em meio aos sons de araras, pensou: “estou em um paraíso. Obrigado meu Deus”. “Fiz uma oração e aquilo me marcou muito. Vindo embora, nunca tinha visto anzol de colher e o colega jogou aquilo na água e logo pegou vários tucunarés, uma fartura muito grande”, recorda.
Na volta para a cidade, outra surpresa: no hotel em que se hospedou, o dono, Nicolau Flessak, era de um antigo colega de escola, ainda no Paraná, pois haviam estudado juntos em um colégio de freiras na cidade de Chopinzinho. Definitivamente, Dari se sentia cada vez mais em casa. Antes, era necessário trazer a esposa e a mudança para o Mato Grosso.
No retorno ao Paraná, quando foi fazer sua rescisão, afirmou para si próprio que nunca mais trabalharia como funcionário – seria autônomo dali por diante. Em agosto de 1986, Dari e Jussara chegam a Sinop ‘de mala e cuia’.
Aprendida a função de eletricista, Dari vai atrás de clientes. A primeira grande empreita é uma obra intermediada por uma empresa para instalação de 68 postes de energia do Linhão, cujo trabalho foi feito em aproximadamente cinco meses e, posteriormente, aprovado pela então Rede Cemat. “Eu balizei, fiz os buracos e montei a rede juntamente com um diarista que nem sequer tinha conhecimento. Foi uma obra que marcou muito”, relata Dari Leobet.
Após dois anos, os Leobet já estavam estabilizados. Não tinha mais o Fusca, que foi substituído por um Corcel II, branco. Montou uma parceria com um colega, que ficava na administração, enquanto Dari fazia o serviço braçal. Essa sociedade foi desfeita após um ano e meio.
Deixando as atividades de eletricidade de lado, foi trabalhar na área de contabilidade em um departamento específico que atendia ao IBAMA, emitindo guias e outros documentos relacionados a áreas de terra. Como Jussara trabalhava em um escritório de contabilidade, ele resolveu abrir uma empresa própria para trabalharem em família: a JL Contabilidade, que esteve em atividade de 1990 a 1993, ano em que receberam uma proposta para compra de um outro escritório em Vera, junto com um sócio, e para lá se mudaram. Deixaram inicialmente uma pessoa encarregada de manter as atividades do empreendimento em Sinop, mas após algum tempo acabaram vendendo o JL e ficaram apenas com a recém adquirida empresa em Vera.
Pouco tempo depois, em 1995, o filho Jiancarlo foi estudar em Ponta Grossa (PR), inicialmente no Colégio Agrícola, mas acabou não se adaptando e deixou a escola para estudar em Pato Branco (PR), onde permaneceu por dois anos fazendo o ensino médio. Lá, fez o primeiro ano de Medicina Veterinária, mas não quis seguir a carreira e volta para Vera.
Dari iniciou na política e se candidata vereador em 2004. Naquele pleito, é eleito com o maior número de votos – com a maior proporção em relação aos eleitos no estado (população x votos). No ano seguinte, assume tanto a função parlamentar – inclusive como presidente do Legislativo – quanto inicia na atividade madeireira, adquirindo uma empresa.
Dari sempre se considerou um defensor do setor, e a própria formação dos filhos (ambos advogados) se deu em função de acreditar que os madeireiros eram injustiçados. “Se o Mato Grosso e Sinop são o que são hoje, é graças aos madeireiros e a essa química, a convivência do povo deste município, onde o gaúcho dança forró e o nordestino toma chimarrão”, considera.
E o fato do filho Jiancarlo ter cursado Direito tem tudo a ver com a continuidade desta história. Ele iniciou no ensino superior no ano 2000, quando voltou ao Paraná para estudar na Universidade de Direito dos Campos Gerais, em Ponta Grossa. Concluiu o curso em 2005, quando então retorna a Mato Grosso.
Era o momento de colocar toda a experiência adquirida durante a formação em prática. “Eu me dedicava bastante nos estudos, passava quase todas as tardes assistindo a júris no Fórum da cidade, buscando ampliar ainda mais os subsídios jurídicos”. Neste meio tempo, trabalhou como frentista em posto de combustível. Esta experiência o levou, anos mais tarde, a adquirir um posto de gasolina.
Naquele mesmo ano, quando retornou para Vera, Jiancarlo é aprovado no Exame da Ordem, e no ano seguinte abre um escritório de advocacia em sociedade com um colega que estudara com ele no Paraná. O pai, à época além de vereador, já possuía duas madeireiras: uma delas atendia ao mercado interno e a outra exportava, principalmente para países da Europa, como a Bélgica. “Eu passava mais tempo ajudando na madeireira do que no meu escritório”, explica Jiancarlo.
Mas, nem tudo foi fácil e ainda naquele ano de 2006, entre os meses de maio e junho, fiscais do IBAMA iriam visitar duas madeireiras na cidade, suspeitas de retirarem madeira ilegal. Na ocasião, os donos das empresas foram à casa do Dari, que era o presidente da Câmara, e pediram que ele intervisse naquela ação para evitar o fechamento das empresas e a revolta dos empregados. Ele foi conversar com os fiscais, atuando como público, no sentido de impedir confusões maiores, principalmente relacionada à integridade dos agentes. E eles foram embora, sem maiores problemas naquele momento.
Na sequência, Dari Leobet entra em contato com o gerente regional do IBAMA, pedindo para que evitassem a fiscalização, o que repercutiu na imprensa como se “o vereador tivesse barrado a fiscalização do IBAMA em madeireiras da região”. O resultado foi uma ação específica para a madeireira dele próprio, uma semana depois disso, reunindo agentes do IBAMA e da Polícia Federal. O pai estava em viagem a Cuiabá, acompanhado pelo então vereador e hoje deputado federal Juarez Costa, tendo sido a força tarefa recebida por Jiancarlo e pela mãe dele.
O resultado foi uma fiscalização arbitrária entre a sexta-feira e o sábado, além da aplicação de multa no valor de R$ 200 mil à madeireira. O valor era até irrisório diante do que costumeiramente aplicavam, mas além disso os policiais federais seguiram para a Fbâmara à procura do vereador. Como não o encontraram, pois estava em viagem, a situação aparentemente foi resolvida, pois pagaram a multa e tudo estaria esclarecido – pensavam...
Porém, no ano de 2007, quando fazia uma caminhada pela cidade, ao passar pela casa do ex-sócio no empreendimento, a Polícia Federal chegou para cumprir um novo mandado na madeireira. Jiancarlo estava em viagem, então o próprio pai atendeu aos policiais para saber o motivo da “visita”, quando recebeu voz de prisão, com fechamento da madeireira, bloqueio de bens e apreensão de material. Ele foi encaminhado à Penitenciária Ferrugem, em Sinop, onde ficaria preso por 16 dias.
O advogado conta que foi aí então que começou então a se inteirar da situação, e como estava em Cuiabá seguiu para a sede da Polícia Federal. “Ali descobri mais informações a respeito da chamada Operação Mapinguari, que prendeu 46 pessoas suspeitas de cometer crime de extração ilegal de madeira no Parque Nacional do Xingu. Foram presas pessoas de Sinop, Sorriso, Feliz Natal, Vera e também do Paraná”.
Jiancarlo perguntou ao pai se queria que contratasse algum advogado em específico, mas Dari logo disse que não e o “nomeou” seu advogado, sendo que a partir daquele momento começaria a saga e uma nova etapa na história, do pai e dele também. Seguiu para Brasília em busca de revogar o mandado do pai, que se tornara de prisão temporária. Permaneceu lá por 15 dias no TRF 1, andando pelos corredores, buscando informações. Certo dia, conseguiu abordar um juiz federal, assessor de um desembargador federal, que por acaso era o próprio relator do processo do pai.
Ele então ouviu as alegações do advogado, analisou o habeas corpus e diante dos fatos expostos determinou a soltura do empresário, expedindo ainda naquela noite da sexta-feira, por volta das 22h, o alvará de soltura. Foi quando o pai de Jiancarlo se tornou a primeira pessoa presa na Operação Mapinguari a deixar a prisão. A respeito do acontecido, Jiancarlo afirma que o pai foi perseguido pelo IBAMA de forma injusta, tanto que o pegaram como bode expiatório, por afirmarem que protegia a exploração ilegal de madeira.
Com a saída da prisão, após algum tempo veio também a derrubada do sequestro de bens, o desembargo da madeireira e o desbloqueio das contas, além da absolvição do empresário na ação penal, o que ocorreu cerca de sete anos após estes fatos terem ocorrido. A família moveu então uma ação contra a União, que tramita até hoje à espera de uma decisão judicial. A respeito dos fatos, Jiancarlo conta que na época assumiu a incumbência de realmente resolver a situação do pai, dentro do objeto jurídico, o que fez conversando com outros advogados e autoridades, fazendo uma espécie de networking. “Exerceu realmente a advocacia”, como afirma.
Daí por diante frente ao conhecimento adquirido por ocasião da problemática enfrentada pelo pai, pode-se dizer que o jovem advogado “deslanchou” no atendimento a casos semelhantes, tanto daquela mesma operação quanto de outras sucessivas que vieram a acontecer. Como já conhecia os trâmites por vezes ficava mais fácil dar um direcionamento à causa do cliente e também obter resultados satisfatórios, ainda no período em que mantinha o escritório em Vera.
Ele chegou a ser manchete de jornal diante de um Habeas Corpus concedido por um desembargador, determinando a soltura de quatorze presos, entre dezoito no total, em um caso atendido por ele durante uma operação da Polícia Federal em 2008. Foi entrevistado no jornal A Gazeta em Cuiabá e depois de tudo decidiu alçar voos maiores, mais altos e decidiu se mudar para Sinop, onde continuou a atuar com os processos penais.
No ano de 2010, a Polícia Federal deflagrou a Operação Jurupari, que prendeu 64 pessoas, entre elas Janete Riva, mulher do à época deputado e presidente da Assembleia Legislativa, José Riva. Todas as prisões tratavam a respeito de desmatamento ilegal e ele, já conhecido pela expertise que adquirira, novamente é contratado e segue para Brasília e nesta oportunidade ele considera que teve uma experiência na qual pode afirmar que foi o dia mais feliz da vida dele, quando aguardavam decisões a serem tomadas pelo Tribunal de Justiça.
“Foi quando um advogado de Sinop me pediu, em uma espécie de conselho, se deveria ‘emendar o HC’. Então o desembargador vem conversar conosco, estávamos em 15 advogados e ele se dirige somente ao Valber Melo e a mim”, relata, bem como foi citado na própria decisão, ou seja, o Habeas Corpus impetrado por ele se sobressaiu aos demais. Novamente foi destaque estadual no jornal A Gazeta e demais sites de notícia por conta desta decisão, sendo inclusive chamado pela Assembleia Legislativa para receber uma moção
E aí, diante de uma folha de rascunhos que havia ficado em anexo no processo, mas que teve um parágrafo retirado posteriormente pelo juiz Federal Julier Sebastião, que à época autorizara a operação, “apresentamos eu e o Alexandre Pereira, o ‘Xandão’ a primeira e única notícia crime na história do estado de Mato Grosso contra um magistrado, por supressão de documento público que é a retirada da folha e abuso de autoridade por ter feito isso. E eu vou ao TRF sustentando isso, que ele seja afastado do cargo, mas infelizmente não foi julgada procedente”, explica ele. Mas, por coincidência naquele mesmo dia o juiz foi retirado pela Corregedoria, da Vara Criminal e a partir daí não julgou mais processos nesta área, apenas na área cível.
Jiancarlo Leobet considera que realmente a situação do pai o levou a um outro patamar da advocacia, tanto que hoje é especializado em Direito Ambiental pela Universidade Federal do Paraná, tem expertise em Direito Agrário e atua no Direito Criminal, mas no setor empresarial. Possui três escritórios, um em Sinop, outro em Cuiabá e o terceiro em Novo Progresso no Pará. Tem apenas um sócio (Alcir Fernando Cesa) e contam atualmente com cerca de dez funcionários no Leobet & Cesa Advogados.
Sobre as questões ambientais e fundiárias, atualmente o escritório é o terceiro maior do estado em Direito Ambiental, com mais de dois mil processos e deste total 80% é relacionado ao Direito Ambiental e os restantes, 20% no Direito Agrário. Se contabilizados números de clientes, são em média o mesmo número, para cada ação um cliente. São cifras que envolveriam pelo menos R$ 1 bilhão de reais, envolvendo autos de infração por apreensão de maquinários, terras ocupadas ou exploradas irregularmente, entre outros casos.
O advogado considera que o estado de Mato Grosso ainda está muito longe de acabar com as irregularidades fundiárias que existem. É necessário, segundo Jean, oferecer maior celeridade aos processos do Intermat e do Incra, pois existem muitas terras devolutas, públicas e que estão de posse de particulares e precisam de regularização com os entes públicos, para que realmente consigam ter o direito de propriedade de forma efetivo, que vai possibilitar o acesso a financiamentos e outros benefícios oficiais.
Sobre sua atuação profissional em Sinop seu escritório que está incluído entre os 30 maiores com grandes processos, tanto que no caso do Direito Agrário, já defendeu causas de propriedades com valor superior a R$ 200 milhões, até R$ 500 milhões. Quando o assunto é justiça federal ou estadual (IBAMA ou SEMA) é com certeza uma referência e gosta quando o assunto é briga relacionada a terras. “Direito Concessório não é qualquer pessoa que pode fazer, é preciso ter experiência para conseguir produzir provas, ter conhecimento sobre georreferenciamento, CAR, matrícula, ou seja, conhecimentos básicos e técnicos a respeito do tema”, avalia.
Sobretudo o que atravessou até hoje, o advogado, que é casado e tem dois filhos, pensa que o passado e o presente vividos com as experiências relacionadas ao o pai o ajudaram bem mais, do que ao contrário, apesar de todo o trabalho desenvolvido. “Posso afirmar que se isso não tivesse ocorrido, meu pai estaria bem melhor financeiramente e eu teria me tornado um empresário, mesmo sendo advogado, mas não teria chegado a este patamar”, considera.
Sobre o futuro de Sinop e região considera que ainda haverá uma explosão. “Somos um país dentro de outro país, responsáveis por 20% do PIB brasileiro e um estado ser responsável por isso, com certeza ainda seremos maiores que os árabes, pois as fontes renováveis, que são as que temos, o que produzimos, vai dar a dinâmica. Temos a melhor planície, geografia, a melhor terra, então tudo isso é uma somatória. E o advogado, neste contexto se encaixa na proteção patrimonial e o meu papel é adquirir conhecimento para prestar um serviço com excelência, buscando a preservação do patrimônio do agricultor buscando medidas judiciais que o beneficiem através da proteção econômica”, finaliza.
1986
Nilson Lopes Ribeiro

FEZ DA VIDA UMA JOIA PRECIOSA
Superar as adversidades de uma infância de poucos recursos foi a alternativa para que seus sonhos fossem lapidados. Nilson Lopes Ribeiro é uma figura conhecida em Sinop, não apenas por ser proprietário da Nilson Joias, como também pelas suas ações enquanto presidente das duas entidades representativas do comércio local
A história do empresário Nilson Lopes Ribeiro começa na pequena cidade de Santa Isabel do Ivaí, região do Médio Norte paranaense, onde nasceu em 12 de julho de 1968. Nilson morou pouco tempo naquela cidade, de onde saiu ainda muito pequeno – praticamente, sem recordações. O pai, Pedro Lopes Ribeiro, teve várias profissões, entre elas lavrador da terra e gerente de fazenda. Com os anos, se tornou caminhoneiro. A mãe, Natalina Avancini Lopes, cuidava da casa e dos 6 filhos – três meninos e três meninas. Dos homens, Nilson é o mais novo.
Com 4 anos de idade, a família foi morar em uma fazenda próxima a Paranavaí (PR); cerca de 3 anos depois, se mudaram para Cornélio Procópio (PR). Dali, mais uma migração, agora para Nova Aurora (PR).
Quando tinha por volta de 10 anos de idade, vendo a humildade da família e dificuldades financeiras, Nilson decidiu que era hora de procurar trabalho, conciliando os afazeres profissionais com os estudos, mesmo com tão pouca idade. Tentou vender picolé, mas a empreita não durou muito tempo. Logo depois, ele mesmo fez uma caixinha de engraxate e começou a procurar clientela pelas ruas. “A saída era trabalhar. Naquele momento, não era por ambição, mas porque queria ser útil, fazer algo para contribuir [em casa] através do trabalho”, lembra. Para ampliar o leque de sapatos precisando ser engraxados, Nilson recorre a um tio que tinha um salão de cabeleireiros.
Mal sabia Nilson que encontraria sua verdadeira vocação ao lado do salão. Tratava-se de uma relojoaria. Os donos eram descendentes de nipônicos e Nilson procurou uma oportunidade. Na época, até tinha uma vaga disponível, mas não no estabelecimento comercial, e sim na casa da família: cuidar dos filhos recém-nascidos. Nilson topou. “Comecei a ganhar um pouco mais de dinheiro, e depois de 6 ou 7 meses, pedi uma oportunidade para aprender mais sobre o trabalho comercial. Permitiram que eu limpasse a loja durante um dos períodos, e no outro cuidava das crianças”, relata.
Por ser muito curioso, Nilson começou a observar como consertavam os relógios, e o funcionário que era responsável por isso começou a ensiná-lo à noite. Ele também era professor de tae-kwon-do, o que levou Nilson a praticar a luta, ao mesmo tempo em que ia se envolvendo cada vez mais na relojoaria. Após concluir o ensino médio, desejava cursar uma faculdade. Entre as opções, Processamento de Dados e Odontologia.
Naquela época, beirando o início dos anos 80, a informática ainda era vista como coisa de visionário, com uma relativa importância. O problema era onde estudar, já que Nova Aurora era uma cidade era pequena e não oferecia oportunidades. Conversando com o ex-patrão, foi aconselhado a ir para Curitiba buscar uma vaga na Casa do Estudante e fazer cursinho. E assim o fez. Porém, a aventura na capital paranaense durou apenas dois meses. A falta de recursos levou Nilson a voltar para casa e para o antigo emprego, onde Mário e Maria Fujiki o aceitaram e o acolheram.
Nilson relembra que, apesar da acolhida, não estava satisfeito somente em vender e consertar relógios. Queria fazer joias. E foi isso que pediu aos patrões, que imediatamente abraçaram a ideia. Ele ocupou uma salinha nos fundos da loja e começou a pesquisar como fabricar os produtos, o que foi acontecendo aos poucos – primeiramente, mais na linha do conserto do que da fabricação.
Nesse período, os irmãos dos patrões desejavam montar um negócio novo, em uma região nova, que começava a despontar. Mato Grosso e Rondônia estavam no mapa. Combinaram a viagem justamente na época da passagem do Cometa Halley, entre janeiro e fevereiro de 1986, e Nilson veio junto. Em Mato Grosso, conheceram Colíder, Sinop e Alta Floresta, esta que na época era considerada “a bola da vez” para quem queria crescer e ganhar dinheiro devido à exploração do garimpo e cultivo da lavoura, como guaraná e café.
A região de Colíder estava mais ligada à agropecuária, e das três cidades Nilson confessa que Sinop era o “patinho feio”, algo que ninguém queria investir. Outro destino sugerido aos viajantes foi Tangará da Serra, onde observaram algo com mais estrutura. Por último, Juína, onde havia diversas reservas indígenas – o que também não era um atrativo comercial para o momento. De lá, seguiram para Rondônia, onde conheceram as regiões de Ouro Preto do Oeste, Jaru e outras cidades que eram proporcionais às mato-grossenses.
A viagem foi finalizada com o retorno para Nova Aurora, num total de 15 dias. Os atoleiros foram o principal empecilho para que a jornada fosse mais longa que o planejado. “A Belina II era um baita carro para a época”, exclama Nilson. Entre as peculiaridades da viagem, aquele jovem lembra que em Brasnorte, quando se hospedaram em um hotel, não viram banheiro para tomar banho. “Depois de algum tempo, o dono do hotel veio e chamou todos nós para o banho. Estranhamos, mas cada um pegou sua toalha e o seguimos, todos na carroceria de uma caminhonete, e fomos para uma bica d’água”, relata.
Após retornarem ao Paraná, era o momento dos proprietários do novo negócio decidirem para onde seguiriam, dentre aquelas cidades visitadas. Um desses irmãos dos patrões era Jaime, que tinha uma namorada residindo em Sinop. A família dela viera de Jesuítas, cidade próxima a Nova Aurora, e isso pesou na decisão. Outro irmão, Ulisses concordou, sendo então Sinop a cidade escolhida. O convite para Nilson estava feito, e ele aceita a proposta. Antes, propuseram que ele fizesse um curso para fabricação de joias em Londrina (PR) para aprender mais.
De Nova Aurora para uma nova aurora
Concluído o curso, Nilson organiza seus pertences e embarca no caminhão de mudança, junto com as vitrines e outros mobiliários que seriam utilizados na montagem da loja. Nilson lembra que trouxe apenas uma mala e uma bicicleta, amarrada atrás do veículo. Após três dias de viagem, chegam em Sinop no dia 1º de julho de 1986. Nilson foi morar junto com a família dos patrões, que tinham trazido também a mãe junto com eles. “Foi algo bem na contramão o fato de terem vindo para cá. Eu imaginava que o movimento mais ao Norte, especialmente em Alta Floresta, e até mesmo Peixoto de Azevedo, fosse atrai-los mais do que Sinop. Lá, o mercado era maior”, considera o joalheiro.
A relojoaria foi montada no local onde hoje é outra óptica. A estrutura de Sinop não era das mais animadoras. Com 12 anos de fundação, asfalto só era visto na Avenida Júlio Campos – e ainda assim, esfarelando, prestes a ser substituído. A infraestrutura também não ajudava, com constantes quedas e falta de energia elétrica.
A Relojoaria Hora Certa começou a funcionar e engrenou rápido, tanto que as expectativas dele como funcionário eram positivas. Pelo acordo feito, Nilson ganharia 50% dos lucros obtidos com os consertos. “Isso fez com que eu fosse fazendo uma reserva, e dentro de pouco tempo, já consegui comprar uma moto, quando ainda tinha 17 anos, poucas semanas antes de completar 18”, revela. Um tempo depois, a moto foi passada pra frente e o dinheiro convertido em um carro.
Mas, como nem tudo é perfeito, nas palavras de Nilson, o patrão começou “a se atrapalhar na administração” depois de apenas um ano de trabalho. Depois deste período de progresso inicial, com o dinheiro correndo, compras de ouro sendo feitas e peças sendo fabricadas, consertadas e vendidas, a “mosca azul” pareceu tomar conta do empresário. A expressão é utilizada para descrever um comportamento psicológico que ocorre quando uma pessoa se sente atraída por poder, posição social ou sucesso. Em outras palavras, aquele crescimento empolgante havia subido à cabeça do dono da relojoaria. Como consequência, a empolgação gerou problemas com a Polícia Federal, falta de notas fiscais e multas, entre outros. Isso os levou praticamente a quebrar o negócio, que envolvia muito ouro.
Nilson conta que neste tempo já nem dava conta sozinho do trabalho, no setor da oficina, com consertos e fabricação dos produtos, e já tinha contratado outros três funcionários para ajudá-lo. Fabricavam correntes cabo de aço, anel de rubi, muitos produtos feitos para garimpeiros que levavam o ouro em latas de leite em pó – e até mamadeiras – como pepitas.
No final de 1987, o patrão chama Nilson e lhe faz uma proposta: daria os 50% da oficina (parte instrumental que já era o acordado) em troca da moto que ele tinha comprado. Além disso, também propôs que lhe daria 100% do que entrasse de joias ao longo de um ano, em troca do automóvel, uma vez que o patrão estava já sem carro. Nilson parou, pensou e chegou à conclusão de que, em menos de 90 dias, conseguiria pagar o carro, pois com metade do resultado já teria um bom lucro. Após as tratativas, os irmãos e empresários vendem a loja e vão embora, em janeiro de 1988.
O novo proprietário, que recebera o empreendimento de porteira fechada, é bastante áspero com Nilson. Ele tentou explicar sobre o acordo feito com os ex-donos da relojoaria, mas ouve o seguinte: “não fizemos negócio com você”. Após um ano e meio, Nilson junta as ferramentas e deixa o estabelecimento. “Não teve nem conversa”.
Nesse tempo, Nilson conhece Lismara, que também trabalhava na mesma relojoaria. Eles começam a namorar, e juntos buscam uma solução para continuar tocando a vida. A primeira era moradia: um quartinho nos fundos da casa onde Lismara morava. No quintal, Nilson precisava transitar em meio aos galos de briga criados pelo futuro sogro.
Naquele momento, Nilson pensou em desistir da aurora sinopense e voltar ao Paraná, mas persiste por mais algum tempo. Além da namorada, também tinha feito muitos amigos e firmado uma relação saudável com muita gente que tinha sido cliente na relojoaria. Então, preferiu recomeçar. O primeiro passo – ou passe – foi durante uma partida de futebol. “Perguntei a um dos companheiros se ele conhecia um ponto bom, que ficasse na avenida (Júlio Campos) para alugar”. O colega em questão era Romualdo, e ele próprio dispunha de uma sala comercial. Nilson se anima, e propõe algo inusitado: “Eu disse que não tinha dinheiro para pagar o aluguel, mas tinha um videocassete 4 cabeças. Ele ficou com o aparelho, suficiente para cobrir dois meses adiantados do aluguel”. A manobra daria tempo suficiente para Nilson acumular recursos para o pagamento do terceiro aluguel em diante.
Trato feito, Nilson procura um conhecido para pintar a fachada da loja. As tintas vêm ‘fiado’. Comprou lambril em outra empresa e foi montando a loja. Quando concluiu todos os preparativos, convoca Lismara para começar o novo negócio em sociedade. Ele lembra que chamou o pintor letrista para pintar a fachada, mas a loja ainda não tinha nome definido. “Acabamos decidindo sem pensar muito: ‘Nilson Joias’, com um anel de rubi pintado ao lado”, conta.
O início causou preocupação. Ao contrário do que acontecera quando veio do Paraná para Sinop, a sua própria loja tinha pouco movimentado. Nilson conta que o primeiro mês foi praticamente parado. As contas não teriam paciência de esperar, e Lismara decide ir atrás de um emprego. Foi na base da persistência que Nilson não deixou o negócio definhar e, aos poucos, acumulou clientes. Ainda não era tão rentável, mas já era um alívio.
Então, no finalzinho de 1988, meses após a abertura da Nilson Joias, Lismara revela que estava grávida. “Conversamos e decidimos seguir a vida ainda mais juntos”. Os dois eram bem jovens: Nilson tinha 20 anos de idade, e Lis, 19. Em 9 de setembro de 1989 nasce Guilherme, hoje braço direito de Nilson nos negócios. O casal ainda teve mais dois filhos: Pedro, nascido em 17 de julho de 1992 (hoje médico em Cuiabá), e Isabelle, nascida em 29 de março de 1994.
Os negócios prosperam, e Nilson encontra outro ponto para colocar a loja. As prateleiras começam a ficar mais preenchidas com pulseiras de relógios, relógios de parede e despertadores. O ponto em questão ficava onde antes funcionava a Carpisos – e se encontra a Nilson Joias até hoje. A habilidade profissional e financeira de Nilson proporcionava investimentos feitos sob medida, e ao longo do tempo o espaço passou por diversas reformas nesses mais de 30 anos
“Com um espaço melhor começamos a vender muitos produtos de relojoaria, mas agora as principais atividades eram a joalheria e a fabricação de joias, que representava a maior parte do funcionamento da empresa”, relata. “A fabricação e a cobrança da mão de obra eram os principais rendimentos na época. Aos poucos, a clientela foi aumentando, possibilitando a ampliação das atividades. Em 2000, de tanto indicar ópticas para outros clientes, resolvi investir nessa atividade”, conta o relojoeiro.
Para isso, Nilson procura um curso específico em Cuiabá, com duração de 3 anos, e após a especialização, entra em definitivo no ramo.
Pouco antes, Nilson também sofreu com o Plano Collor, assim como quase todo empresário da década de 1990. Os períodos de instabilidade econômica trouxeram oscilações no preço do grama do ouro.
Atuação social
Nilson Ribeiro sempre foi muito presente nas instituições da sociedade civil organizada sinopense, a começar pelo Rotary Club, onde passou por diversos cargos, até chegar à presidência. Depois, ingressou na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), onde participou de diversas diretorias e foi presidente do biênio 2006 e 2007. Também presidiu outra entidade relevante no comércio local, a Associação Comercial e Empresarial de Sinop (ACES), onde foi ativo em diversas diretorias e ocupou o cargo máximo no biênio 2015 e 2016. Apesar de apoiar diversas causas sociais, nunca almejou um cargo público.
Nilson lembra que, durante o período que presidiu a ACES, encarou um problema que poderia desencadear um infortúnio na economia sinopense em médio e longo prazo. Problemas em relação ao Aeroporto Municipal fizeram empresas aéreas a decolar de Sinop, trazendo à luz o risco de fechamento. “Estávamos perdendo espaço para outras cidades, como Sorriso. Por isso, as entidades de Sinop, que desde 2014 vinham se reunindo para lutar por causas da sociedade, mais uma vez encamparam essa pauta em busca de soluções”, lembra Nilson. “Decidimos que o ideal era contratar uma consultoria, com uma empresa especializada em aeroportos, para saber quais os gargalos que teriam que ser vencidos”.
Como as entidades unidas não tinham verba para pagar a consultoria, foi feita a rifa de um carro para levantar o dinheiro necessário. “Levantamos os R$ 350 mil necessários, e nesse meio tempo precisamos ir até Manaus (AM) conversar com os representantes do CINDACTA IV (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo) para ver se poderiam vir a Sinop acompanhar os trabalhos, o que se mostrou uma viagem realmente muito boa. O passo seguinte foi ir a Brasília (DF) nos encontrar com o pessoal da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). Fomos eu, a Rosana [Martinelli, então prefeita de Sinop] e o Miro [Waldomiro Teodoro dos Anjos Jr., engenheiro e empresário]”. Este encontro novamente se mostrou promissor e com isso a tentativa de resolver a situação também caminhava, tanto na área política quanto administrativa.
O representante da empresa contratada para fazer o estudo entregou ao grupo um dossiê com todos os apontamentos, como necessidade de infraestrutura aeroportuária, entre outros. A documentação foi entregue à prefeita, que pediu ao grupo que continuasse acompanhando os trabalhos. Após algum tempo, o aeroporto foi terceirizado. A Comissão deixou então as funções e passou a acompanhar à distância, mas sabendo do resultado de todas as ações desenvolvidas a partir do comprometimento da sociedade civil organizada. Esta foi a primeira grande ação que marcou a união das entidades de Sinop, que logo adotariam esse lema como sigla e entidade formalizada. A sementinha da UNESIN foi plantada e regada naquele momento, dando voz à sociedade através das 29 entidades que a compõem. Além do Pró-Aeroporto, a UNESIN se destacou ainda pela participação na reformulação do Código Tributário, na luta pela redução do IPTU, na regularização dos repasses do Hospital Regional, entre outros.
No lado empresarial, Nilson estabeleceu um novo ponto no empreendimento mais aguardado pela população do norte mato-grossense: o Shopping Sinop. “Eu sempre torci para que a cidade tivesse um shopping, desde o primeiro projeto apresentado pelo Sílvio Cabral, lá na década de 1990, mas que começou a sair pelas mãos da Empreendi, e eu não tive dúvidas em participar”.
A partir de uma lista que já havia disponível para que empresários aderissem à iniciativa, entraram em contato com ele para ser além de locatário, se um incentivador. Nilson foi um dos primeiros a ser procurado, garantindo a possibilidade de escolher o primeiro ponto comercial dentro do novo empreendimento. A Nilson Joias fica próxima à praça de alimentação, num dos pontos mais movimentados do Shopping.
A vida de Nilson Lopes Ribeiro caminhava com tranquilidade, mas um parêntese doloroso é preciso ser feito aqui. Em novembro de 2022, um acidente de carro na BR-163 ceifa a vida de Lismara, aos 52 anos de idade, e da neta Isadora, de 8. Foram mais de 3 décadas ao lado da companheira. Para superar ou pelo menos se adaptar à nova realidade, o processo foi sofrido. “Encontrei forças em Deus, que me deu a oportunidade de continuar cuidando da minha família”. Carinhoso, Nilson se vê como um “avô coruja”. Guilherme e Roberta Pineze tem hoje 3 filhas: Antonella e as gêmeas Maria Lis e Maria Beatris. Já Pedro é casado com Júlia, e juntos eles têm Olívia.
Retomando as forças, Nilson não deixou de trabalhar. Mesmo abalado, continuou se dedicando aos negócios, cujas lojas contam com aproximadamente 30 colaboradores. Hoje, eles são responsáveis principalmente pela comercialização, realidade bem diferente da vivida pelo empresário quando começou. “Antigamente, a fabricação [de joias] era o carro-chefe, mas as joias prontas são o diferencial, principalmente pela modernização das máquinas. A tecnologia, como em outras áreas, tomou conta do mercado”. Apesar disso, Nilson aponta que em torno de 10% das joias são feitas sob encomenda.
Nilson comenta o quão grato é a Sinop, cidade escolhida como seu refúgio e seu ponto de crescimento, mas demonstra preocupação quanto à qualificação profissional – algo recorrente no comércio local. Por isso, o empresário investe em treinamentos para os colaboradores em todas as áreas, proporcionando diferenciais no trato com a clientela. “Sempre procuro melhorar e fazer o diferente, pois o igual todo mundo já faz. Se não tiver atração ou motivo para que a pessoa entre na loja, provavelmente não teremos o mesmo resultado”, explica.
Para quem acompanhou boa parte do desenvolvimento econômico de Sinop a partir de seu eixo central, Nilson considera que os serviços continuarão sendo uma das bases atrativas, concomitantes à industrialização e ao crescimento dos setores adjacentes à construção civil. “É preciso, porém, um planejamento para um crescimento organizado, orgânico e que possibilite qualidade de vida”. São conselhos primorosos de alguém que lapidou a própria história, com a mesma delicadeza e carinho com que fez tantas joias.
1986
Advogados Dr. Cláudio Alves e Dr. Osvaldo Pereira

QUANDO O ÚNICO CAMINHO É FAZER DIREITO
Dois irmãos, de uma família pobre, órfãos de pai, encontram na advocacia e na cidade de Sinop a oportunidade de trilhar um novo destino. Mas para que desse certo, era preciso fazer tudo direito
Doutor Cláudio Alves Pereira! Quem é de Sinop e já precisou entrar em um fórum, provavelmente já ouviu esse nome. Advogado renomado, que já atuou na esfera pública e privada, encabeçou instituições de saúde e foi professor, Cláudio é uma figura conhecida, em partes pela frequência que ocupa espaço nos veículos de comunicação, falando dos casos complexos que defende. Ele atuou no júri mais midiático da história do Norte de Mato Grosso. E venceu! Mas também esteve no primeiro júri realizado em Sinop, fazendo o papel de defensor público quando essa repartição sequer existia na cidade. Um dos pioneiros da advocacia na região, construiu ao lado do seu irmão, José Osvaldo Leite Pereira, um sólido escritório que, ao longo das 4 últimas décadas, ajudou a determinar o que é certo e o que é errado aos olhos da cega Justiça. Tal glória não seria alcançada se a dupla não tivesse feito Direito.
Cláudio e Osvaldo nasceram em Porecatu, uma cidade no Paraná que hoje tem menos de 15 mil habitantes, localizada na divisa com o estado de São Paulo, às margens do Rio Paranapanema. Cláudio, o mais velho, nasceu em 1958 e Osvaldo no final de 1959. Seus berços foram em uma família tão humilde quanto numerosa. Eram em 9 irmãos, que cedo perderam o principal provedor. Um derrame colheu a vida do pai de Cláudio quando ele tinha apenas 5 anos de idade.
A mãe e a irmã viraram o esteio da casa. Elas costuravam e lavavam roupa para outras pessoas, o que colocava comida na mesa e garantia a oportunidade de os filhos estudarem. Cláudio se destaca nos estudos, demonstrando uma facilidade ímpar em aprender. Seu desempenho o alça, de forma muito precoce, à vida pública. Aos 17 anos, começa a trabalhar na Prefeitura de Porecatu e logo, em 1977, Cláudio foi nomeado secretário de Fazenda do município. Ele permaneceu no cargo por 5 anos, até 1982.
Osvaldo trilhava um caminho parecido. Aos 19 anos, começa a trabalhar no cartório civel de Porecatu. A dupla de irmãos agora tinha ofícios “cerebrais” e burocráticos, mas que acima de tudo garantiam um salário digno, o suficiente para serem os arrimos da família. “Eu estava no Fórum, para uma audiência institucional, representando a Prefeitura como secretário de Finanças, dia em que também ocorria um júri, e a curiosidade fez com que ali permanecesse para assistir. Nesse dia eu vi o hoje desembargador João Maria Loss, na época advogado, fazendo sua sustentação, falando em defesa do cliente. Depois daquele momento eu ouvia uma voz, e essa voz me dizia que o meu caminho era fazer Direito e me tornar um advogado”, revela Cláudio Alves Pereira.
Em 1981, ele ingressa na instituição Toledo de Ensino para cursar Direito. A faculdade ficava em Presidente Prudente (SP), cerca de 250 quilômetros de distância da sua casa. O percurso era feito a bordo de um Fusca. Ele encerrava seu expediente na prefeitura, no começo como secretário de Fazenda e depois como chefe de gabinete do prefeito, e então ia estudar. Cláudio se orgulha em contar que, apesar das dificuldades, teve apenas 2 faltas em toda sua carreira acadêmica. “A faculdade foi financiada e paga também com o esforço da minha mãe. Mas o maior presente que ela me deu não foi o dinheiro, e sim seu gesto de me esperar, todos os dias, até que eu chegasse em casa depois da faculdade”, conta o advogado.
A jornada de Cláudio inspirou Osvaldo. Seu ofício no cartório já o familiarizava com o habitat jurídico. Ver o irmão buscando uma nova vida no estudo do Direito demonstrava que aquele também era um sonho possível para si. Seis meses depois, Osvaldo ingressa na mesma faculdade.
Na época era difícil de imaginar, mas naquele velho Fusca estava a primeira instalação do que viria a ser um importante escritório de advocacia. Todos os dias, por 250 quilômetros na ida e mais 250 quilômetros na volta, os irmãos Pereira conviviam dentro do Volkswagen, engrenando as peças de uma parceria que duraria a vida toda. “Isso quando o carro não quebrava no meio da estrada”, lembra Osvaldo.
A prova de que o escritório de advocacia começou no Fusca é o primeiro caso da dupla. Em uma das idas para faculdade, eles se depararam com um caminhoneiro, com seu veículo extremamente avariado em razão de uma colisão com um boi que havia fugido do pasto. Cláudio e Osvaldo desceram para prestar auxílio ao motorista. Mas ao invés de uma dica de mecânica ou uma carona, os irmãos instruíram o “cliente”, dando o pontapé em um processo que, no futuro, devidamente assumido por um advogado formado e com OAB, resultou na indenização pelo prejuízo sofrido pelo caminhoneiro.
Em 1984, quando ainda estavam nos últimos anos da formação, os irmãos vieram conhecer o Mato Grosso. Valdemar, irmão de Cláudio e Osvaldo, estava há cerca de um ano em Sinop trabalhando como mecânico. “Nós pensávamos em fazer Direito não para prestar concurso, mas para advogar. E para isso seria necessário sair de Porecatu. Então nessa viagem passamos por várias cidades de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, visitando as comarcas e vendo onde poderia ser promissor. Quando chegamos em Sinop vimos uma cidade pujante, com muita indústria e empresas surgindo. A cidade estava se formando e haviam poucos advogados”, lembra Osvaldo do seu primeiro contato com a cidade.
De volta ao Paraná, Cláudio completa sua formação em dezembro de 1985. Osvaldo se formaria 6 meses depois. Crente de que era em Sinop que estava o seu futuro, Cláudio embarca em um ônibus com destino ao Norte do Mato Grosso com o sonho de conseguir muitos clientes, advogar e abrir seu escritório. “As coisas aconteceram muito mais rápido do que eu imaginava. Eu estava no ônibus, a caminho de Sinop, quando surgiu o primeiro cliente. Um dos passageiros me ouviu dizendo que era advogado recém-formado e então puxou conversa. Ele me explicou sua situação e pediu se eu não poderia defendê-lo. Desci na rodoviária de Sinop com as malas e um cliente. Já tinha serviço para fazer”, conta Cláudio.
O começo foi promissor, mas o operador do Direito em início de carreira recebe seus ganhos na mesma velocidade que o judiciário trabalha. Por isso, nos primeiros meses em Sinop, Cláudio tinha que escolher se pagava o almoço ou a janta, geralmente no Restaurante Imperial do “Seu Moacir”. O jovem doutor então resolveu fechar um acordo de meio-termo com sua fome: almoçava as 3 da tarde, que assim ficava meio almoçado, meio jantado. “De noite, durante um certo período do mês, as famílias faziam os terços de oração no quarteirão, onde os vizinhos se reuniam para rezar juntos, com aquelas capelinhas que passavam de casa em casa. Eu participava. Haviam duas senhoras, que foram como mães para mim, que quando eu chegava, elas faziam um ‘bolinho de chuvisco’ [uma massa doce frita], porque sabiam que eu não tinha jantado. Foram os bolinhos que ajudaram a me manter”, relembra Cláudio.
Nessa época, o judiciário de Sinop era dirigido pelo Dr. Antônio Paulo da Costa Carvalho, considerado o primeiro juiz da cidade – magistrado que iniciou o processo de implantação da comarca. Muito diferente de hoje, em que a cidade tem todos os órgãos principais e assessórios da justiça estadual e federal, inclusive sendo entrância especial, nos idos de 1985 e 1986 Sinop não tinha sequer defensoria pública. Carvalho então chama Cláudio para ser “advogado dativo” – basicamente um advogado que faz o papel de defensor público para casos em que as pessoas não podem pagar por um profissional. “Era um caso complicado, que nenhum dos outros advogados da cidade queriam pegar e, como não tinha defensor público, não seria possível julgar aquela pessoa sem que ela tivesse o direito de defesa. Foi então que aceitei o pedido do juiz e com isso fizemos o primeiro júri da cidade de Sinop”, revela Cláudio.
Pela primeira vez na nova cidade um juiz ouviria os advogados de defesa e de acusação ladeado por um grupo de cidadãos que decidiriam sobre a culpa ou inocência de uma pessoa. A Cláudio cabia o papel de defender aquele que era acusado de ser criminoso. Sobre seu cliente repousava a imputação de homicídio qualificado, por motivo torpe: foram 13 golpes de foice, seguidos de uma machadada, tudo isso por causa de uma bituca de cigarro. “Independente do que a pessoa fez, eu não me sentiria bem se não exercesse o meu trabalho da melhor forma. Minha função era defender aquela pessoa para que no final apenas a Justiça fosse feita”, explica Cláudio.
Então ele decidiu voltar a Porecatu e se aconselhar com médicos da família. A opinião era unânime: caso perdido. Se preparando para voltar a Sinop, ele passou por uma livraria, enquanto aguardava seu voo. Lá viu um livro de Harold Hobbes, que por destino, abordava um caso idêntico ao que Cláudio estava trabalhando. Hoje, com uma pesquisa ligeira na internet, é possível encontrar uma coleção de jurisprudências e doutrinas. Mas na época, uma publicação como aquela poderia ser uma luz no caminho da boa defesa. “Eu não tinha dinheiro para comprar aquele livro e ainda precisava pagar a passagem de volta para Sinop. Eu estava com um relógio Seiko, que meu irmão Valdemar havia me emprestado. Eu expliquei a situação para o dono da livraria e ofereci o relógio em troca do livro. Ele não quis aceitar, me olhou profundamente e disse que se fosse algo que me ajudasse a trabalhar melhor, então eu poderia levar o livro e ele não queria o relógio”, rememora Cláudio.
A tese de Hobbes foi lida e relida no caminho para nova casa. E então o promissor advogado começou a montar sua defesa. As 13 foiçadas? Lesão corporal; o que matou foi a machadada. O motivo torpe? Bom... ‘meu cliente estava trabalhando no mato, distante 250 quilômetros de qualquer ponto comercial que vendesse cigarro, e quem disse que era mesmo uma bituca e não meio cigarro?’ Ponto a ponto, Cláudio foi reescrevendo a história daquele crime inserindo a versão do seu cliente. No fim, o júri absolveu o tabagista inveterado por 7 votos a zero.
O que torna o primeiro júri de Sinop ainda mais emblemático é o fato de que, no começo da representação, Cláudio sequer tinha sua carteirinha da OAB (Ordem dos Advogados dos Brasil). O documento que o legitima a advogar saiu no curso do processo, a tempo do júri.
Dos primeiros 16 júris da comarca de Sinop, Cláudio atuou em 9 e em apenas um seu cliente foi condenado. “Eu tenho um verdadeiro amor por advogar e por isso sempre busquei ser o mais consistente possível. Nunca perdi um cliente e boa parte das pessoas que estiveram do outro lado em processos que defendi, acabaram se tornando clientes do escritório”, revela Cláudio.
Enquanto o irmão mais velho empilhava os primeiros tijolos da sua carreira criminal, o segundo concluía sua formação. Em julho de 1986, Osvaldo completa a graduação e começa a advogar, combinando a nova profissão com o trabalho no cartório. “Depois de um tempo, o Cláudio disse que eu poderia vir para Sinop, que as coisas já estavam bem. Assim que cheguei, de imediato comecei a advogar. Em 6 meses eu já estava com minha cartela de atendimento cheia”, recorda Osvaldo.
Diferente de Cláudio, Osvaldo se preparou para atuar na área civil, empresarial e agrária. Dessa forma, os dois irmãos se complementavam no escritório, englobando clientes de diferentes perfis. Um dos primeiros trabalhos de Osvaldo na companhia de seu irmão Cláudio, na nova terra foi para o colonizador da cidade de Marcelândia, José Bianchini. Osvaldo ajudou a criar as leis orgânicas do município e a estabelecer a Câmara de Vereadores do novo município. “Advogávamos para todos, para quem nos procurasse. Ao longo dos anos foram centenas de casos, em toda a região. Atendi clientes e empresas em Sinop, mas também em Alta Floresta, Juara, Tabaporã, Vera, Feliz Natal, Sorriso... Quando lembramos do começo, naquela situação difícil que a gente precisava advogar para comer, e no como tudo foi dando certo e fomos crescendo junto com a cidade, fica evidente o quão generosa Sinop foi, com a gente e com muitos outros”, reflete Osvaldo.
Com uma “alma” de homem público, Cláudio decolou muito rápido na carreira. Em pouco tempo ele já tinha seu primeiro escritório, na Rua das Nogueiras. Em pouco tempo, já era figura frequente nos principais júris da região. Em 1988, participou, como advogado auxiliar da Justiça Eleitoral, da primeira apuração de votos em Sinop – que até então ocorria em Chapada dos Guimarães. “O primeiro voto tirado da urna foi para Ricarte de Freitas, que foi eleito deputado estadual naquele pleito”, lembra.
Cláudio também participou da fundação do Juizado Especial de Pequenas Causas e da Justiça do Trabalho. Foi sócio curador e fundador da Fundação de Saúde Comunitária Santo Antônio, entidade que viabilizou a implantação do Hospital Filantrópico no município, até hoje uma das mais relevantes estruturas de saúde do município.
Até o final de 2023, Cláudio já havia atuado em mais de 200 júris. O caso que mais ganhou repercussão ocorreu em novembro de 2005, na cidade de Vera, vizinha de Sinop. Cláudio foi contratado como advogado de defesa do produtor rural Vilmar Taffarel, acusado de ter pago um pistoleiro para matar o então vereador Augusto Alba (opositor da prefeita que era irmã de Taffarel) – mas que acabou matando a filha, Keila Alba, de 12 anos. O que deu audiência nacional ao caso foi o assistente de acusação. Roberto Jefferson, ex-deputado federal, foi recrutado por Alba para atuar como assistente de acusação contra Taffarel. Jefferson ocupava os tabloides na imprensa nacional por ter atuado como delator do “Mensalão” – esquema de corrupção pelo qual também foi condenado. Na época do júri, Jefferson havia acabado de ter seu mandato cassado, e aquele momento marcava seu retorno para advocacia, profissão que exercia antes da política.
Equipes dos principais veículos de comunicação do país e agências de notícia acompanharam aquele júri na pequena cidade de Vera. O assunto ocupou espaço em 212 diferentes periódicos do Brasil e do mundo. No fim, o júri inocentou o cliente de Cláudio por 4 votos a 3. Taffarel, que estava preso há um ano, ganhou a liberdade. “Foi um júri marcado por vários embates com a acusação (Roberto Jefferson). Depois o conflito deu espaço a uma admiração mútua. Era um caso tenso, turvo, em que até a família questionava a inocência”, relembra Cláudio.
Durante esse júri emblemático, Cláudio proferiu uma frase que passou no filtro do tempo. Olhando o minúsculo plenário da Câmara de Vereadores de Vera, onde foi realizado o júri, tomado por profissionais da imprensa, o advogado disse: “O que menos importa aqui parece ser a morte da menina. Não vê quantos fotógrafos têm aqui? Parece um show”, defendeu.
Enquanto Cláudio rivalizava com Jefferson, Osvaldo se preparava para receber sua primeira filha, Heloísa. Ele havia se casado dois anos antes com Lilian de Abreu Américo. Em 2007, o casal teve um segundo filho, Walter.
Após os holofotes, Cláudio viveu uma nova fase na sua profissão. No ano seguinte, em 2006, foi procurador jurídico da Câmara de Vereadores de Sinop, onde atuou até 2007. No mesmo período foi professor de Direito Processual Penal em uma faculdade da cidade. Ainda em 2006, aos 48 anos de idade, se casou com Luciana Nogueira. “O curioso é que quando eu ainda morava no Paraná, a casa dela ficava a uma quadra da minha. Mesmo assim só fui conhecer ela anos depois, aqui em Sinop”, comenta o advogado. O casal teve dois filhos: Sofia e João Felipe.
No campo profissional, a ruptura do setor madeireiro pelas frequentes operações ambientais e a migração do modelo florestal para agropecuária, forçaram os escritórios a se ajustar às demandas dos clientes. Em 2008, Cláudio faz uma pós-graduação em Direito e Gestão Ambiental. Dois anos depois uma segunda pós, em Direito Processual e Penal.
No ano de 2014, os pioneiros do Direito compartilharam a felicidade de ver Sinop consolidada como Entrância Especial – o mais elevado posto de uma comarca. Tanto Cláudio quanto Osvaldo concordam que a cidade de Sinop foi determinante na trajetória de sucesso que obtiveram. O escritório que começou dentro de um Fusca hoje conta com um time de advogados e especialistas, com uma vasta e longeva carteira de clientes, além de uma coleção de causas ganhas. A numerosa família de irmãos hoje está toda no Norte de Mato Grosso, em Sinop ou em Sorriso. Cláudio afirma que sua gratidão pela cidade é tamanha que jamais aceitou ou cogitaria aceitar advogar em um processo contra a Colonizadora Sinop, empresa fundadora do município. “Não poderia jamais ser ingrato com aqueles que abriram o solo para mim; um solo onde tanto prosperei”, finaliza Cláudio.
Nascendo, renascendo e voltando à origem
Cláudio se considera um apaixonado pelo Direito, mas que a justiça cabe a Deus. A crença é algo muito presente em sua vida e quando precisou encontrar defesas para si, não foi ao Vade Mecum que recorreu.
No ano de 2014, o advogado foi diagnosticado com câncer. Foram 6 anos tratando um linfoma grave. Quando alcançou a remissão, foi assolado pela Covid-19. Passou 14 dias internado entre a vida e a morte. Após superar a doença, monitorando a saúde detectou um câncer na tíbia, um dos ossos da perna.
Tudo isso fez Cláudio desacelerar e reencontrar velhos caminhos. Se nos primeiros dias de Sinop eram os círculos de oração que garantiam o seu pão, agora farto ele compartilha sua fé como ministro de Eucaristia na Igreja Católica e atuando na pastoral de Batismo. A oratória consagrada em muitos júris agora presta serviço a um cliente que não precisa de defesa.
1986
12º aniversário de fundação de Sinop

TRADIÇÃO
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Como se tornou tradicional, o aniversário de fundação da cidade era comemorado com um desfile cívico, sempre na Avenida dos Mognos (que logo mudaria seu nome para Governador Júlio Campos)
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Foi realizado o 1º julgamento do Tribunal do Juri da Comarca de Sinop, presidido pelo juiz de direito Dr. Antônio Paulo da Costa Carvalho
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A atuaram pelo Ministério Público o promotor público Hélio Fredolino Faust, e pela defesa o advogado Cláudio Alves Pereira
FUNDAÇÃO DA ADESTEC
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Fundada em 22 de novembro pelo padre alemão Mons. Karl Manfred Thaller, juntamente com pequenos produtores rurais, desde sua fundação, a Associação de Desenvolvimento do Trabalho, Educação e Cultura (ADESTEC) desenvolve ações junto aos pequenos produtores rurais de Sinop e Santa Carmem
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Os trabalhos foram desenvolvidos de acordo com a demanda dos pequenos produtores associados, perpassando por assistência técnica, financiamentos de culturas – desde o preparo à colheita, repasse de pequenos, médios e grandes animais, árvores frutíferas e sementes
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Além disso, promove o incentivo à implantação da bacia leiteira através do programa denominado “banco de gado” e microcrédito para melhorias nas propriedades rurais, como: rede de energia, poços artesianos, reforma de moradias e demais construções, reforma de pastagem, implantação de hortas, entre outros