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Industria

Industrialização

Publicado em 28 de Agosto de 2022 ás 15:22

Engrenagens da transformação

Mais de 10% das indústrias de Mato Grosso estão instaladas em Sinop. A cidade se estabeleceu pela indústria, que por três décadas teve papel crucial na sua economia, hoje alicerçada pelo setor de serviços. Agora, uma nova revolução industrial está em curso em Sinop, reordenando a economia com as máquinas de transformação

A economia de Sinop começa com óleo diesel e aço. Os motores da indústria madeireira abriram a cidade implantada no portal da Amazônia Legal, girando a primeira engrenagem da geração de emprego e renda. O primeiro capital da futura “Capital do Nortão” foi produzido por uma motosserra e uma pica-pau. “Tudo começou com o setor de base florestal. Antes de existir comércio, havia a indústria madeireira. Em 1972, quando a mata começou a ser aberta para implantar a rodovia, a indústria madeireira estava aqui, serrando madeira, fazendo tábuas e vigas para o Exército”, conta o presidente do Sindusmad (Sindicato das Indústrias Madeireiras do Norte de Mato Grosso), Wilson Volkweis.

É natural que a extração e beneficiamento de madeira sejam as primeiras atividades econômicas de uma cidade. Mas o caso de Sinop é atípico. O ciclo da indústria de base florestal foi longo, intenso e crucial para a formação econômica do município. A abundância de matéria e a riqueza de essências únicas da floresta tropical deram condições para o setor crescer tão robusto e frondoso quanto as árvores que colhia. “Muita gente veio para Sinop por causa da madeira. Os caminhões vinham para a cidade para puxar madeira. Os comércios começaram a se implantar para atender as pessoas que trabalhavam nas madeireiras. Toda economia de Sinop começou com a indústria florestal”, avalia Volkweis.

As toras e pranchas que chegavam em velhos Mercedes despertavam o interesse de empresários e comerciantes do Sul do país. Muitos rumaram para o Norte de Mato Grosso para investir em madeira. Aos poucos, as pequenas serrarias com uma pica-pau (um tipo de serra movida a óleo diesel, que corta madeira com um movimento de vai e vem) foram crescendo. Vieram as fitas e depois as laminadoras. Ao invés de tábuas e pranchas, também começavam a sair de Sinop caibros, sarrafos e compensados navais – estes últimos ganhando o mercado exterior. Uma parte dos pioneiros de Sinop fez fortuna com a madeira. Embora indústrias gigantes já estivessem estabelecidas no município, pequenas pica-paus persistiam.

Em 2004, quem chegava em Sinop pela BR-163 era recepcionado por um corredor de madeireiras. Pilhas de toras, montanhas de pó de serra e fumaça compunham o cenário. Nessa época, a cidade, que tinha pouco mais de 65 mil habitantes, chegou a ter 598 madeireiras em atividade. O setor respondia por mais 60% da economia local, sendo o grande gerador de mão de obra. Uma força que arrastou praticamente toda a infraestrutura primária que o município precisava, como a rede de energia elétrica e o asfalto da rodovia federal. O “auge” do setor – em termos de volume e representatividade econômica – foi antes de derrocada.

Naquele ano, a Operação Curupira, deflagrada pela Polícia Federal, remodelou a força o setor florestal de Sinop e de todo o Norte do estado. Empresários e funcionários do Ibama foram presos, madeireiras fechadas, projetos de extração interditados e milhares de trabalhadores demitidos. Uma sequência de enrijecimento nas normas ambientais travou o setor. Desmontados e com servidores assustados, os órgãos reguladores não davam vazão à demanda. Em poucos anos, mesmo empresas que não foram alvo da operação, decidiram encerrar a atividade, seja por inviabilidade, medo ou insegurança jurídica. O principal setor da economia de Sinop havia sido cortado no talo.

Mas brotou. A engenharia política atraiu para o Estado a responsabilidade sobre os empreendimentos florestais. A SEMA (Secretaria Estadual de Meio Ambiente), não era exatamente um sinônimo de eficiência, mas performava melhor que o estourado Ibama. Ao invés de madeira de desmatamento e extração ilegal, a indústria começou a ser abastecida por árvores criteriosamente colhidas. Foi a ascensão do manejo florestal de baixo impacto – uma técnica de exploração em que as árvores adultas, com medidas e aproveitamento comerciais, são catalogadas e extraídas de forma programática, com a floresta ainda em pé. Uma área de floresta explorada através do manejo se recompõe em 20 anos, perpetuando o ciclo de extração. A legislação ambiental da região determina que apenas 20% das propriedades privadas podem ser abertas para fins de pecuária e agricultura. Os projetos de manejo são uma forma de dar destinação econômica para os 80% restante, conservando ao passo que gera riqueza.

É com essa “reserva” de produção que operam atualmente em Sinop 225 empreendimentos florestais. Segundo Volkweis, 176 dessas empresas estão filiadas ao Sindusmad. “O setor se transformou. Hoje todo processo é monitorado e pode ser acompanhado pelo Sisflora. Mostramos para o mundo que nossa madeira é sustentável”, enfatiza o presidente.

Os dados da FIEMT – que tomam como base o ano de 2020 – apontam que em Sinop existem 130 indústrias madeireiras em atividade – o que representa 13,5% do número total de indústrias, o segundo maior, ficando atrás apenas da indústria da construção civil. Nas exportações, o setor ainda guarda certa relevância. Entre janeiro e julho de 2022, cerca de 4 milhões de dólares em madeira saíram de Sinop com destino ao exterior. “Nesse momento, estamos trabalhando na implantação de um empreendimento destinando à instalação de indústrias madeireiras. A cidade cresceu e parte dessas empresas acabou ficando próximo à centralidade. Será um condomínio empresarial, privado, com 480 hectares, boa infraestrutura, capaz de abrigar 120 empresas”, explica o presidente do Sindusmad.

Os motores da indústria madeireira continuam girando a economia local e o lixo do setor se tornou combustível das caldeiras que aceleram o novo ciclo industrial de Sinop.

Do diesel para o álcool 

A indústria de Sinop começou sendo movida a diesel porque não existia rede de energia elétrica. O “linhão”, trazendo energia de hidrelétricas, só chegou ao município em 1996. A oferta de energia elétrica facilitou a vida de todos, inclusive da indústria. Apesar da mudança na matriz que tocava os equipamentos, a explosão da indústria de Sinop veio por outro combustível: o etanol. E há uma ironia histórica nisso.

“Os colonizadores de Sinop acreditavam que a madeira teria um ciclo curto e que a ocupação e perenidade local viriam de fato com a agricultura”, comenta o professor e historiador Luis Erardi. A primeira aposta foi o café. Não vingou. Então a Colonizadora Sinop decidiu usar a mandioca para cravar as raízes no local.

Em 1976, a empresa fundadora de Sinop conseguiu aprovar um projeto na Comissão Nacional do Álcool, do Governo Federal, para implantar uma usina de etanol no município. Ao invés da cana-de-açúcar – que era o comum –, a planta industrial seria abastecida à mandioca, que em tese seria uma cultura que propiciaria o desenvolvimento de uma agricultura familiar.

A indústria foi construída e inaugurada em 1981. Era uma grande estrutura, suficiente para atrair muitos colonos e trabalhadores. Por 6 anos, Sinop produziu álcool de mandioca, vendeu sua produção para o Brasil e para o exterior. Em 1987, a megaestrutura é paralisada, com tentativas momentâneas de retorno. Mas esse não seria o fim do álcool na história industrial de Sinop.

A Sinop Agroquímica tentou inverter a lógica, colocando a indústria para depois encontrar a matéria-prima. Décadas se passaram, a agricultura do Norte de Mato Grosso se consolidou – e não foi pela mandioca – e volumes extraordinários de um produto barato eram colhidos a cada safra: o milho.

Da mesma forma que o contingente de florestas viabilizou a indústria madeireira, a oferta de milho atraiu a indústria do etanol. Em 2017, um grupo de investidores do Paraguai anunciou a implantação de uma usina para produção de etanol de milho na cidade de Sinop. Ou melhor dizendo: a maior usina de etanol de milho do país.

Com uma injeção de R$ 500 milhões, a Inpasa (Indústria Paraguaya de Alcoholes S.A), ergueu em Sinop a indústria que repaginaria o setor e também o mercado do milho no Nortão. A planta industrial foi construída em um terreno de 150 hectares, na entrada de Sinop. O complexo processa diariamente 6 mil toneladas de milho, produzindo cerca de 3 milhões de litros de álcool combustível por dia. Cerca de 37% desse combustível é comercializado dentro do estado. A Inpasa envia seu etanol para 10 unidades federativas, tendo entre os principais consumidores São Paulo, Amazonas, Minas Gerais e Paraná.

O processo de fabricação de etanol a partir do milho é limpo, e ao invés de resíduos, são gerados subprodutos. Da usina Inpasa Sinop saem diariamente 1,8 mil toneladas de DDGS (Grão Seco por Destilação), 150 toneladas de óleo de milho e energia elétrica. O vapor das caldeiras, que destilam o etanol, move turbinas que produzem 60 Mwh de energia elétrica – metade absorvido pela indústria e o restante direcionado para rede de distribuição. A energia que fazia falta para a indústria nos primórdios de Sinop, agora sai dela. Aliás, um dos legados da indústria do etanol – além de reconfigurar o mercado do milho – foi dar destino a todo o resíduo do setor florestal. As montanhas de pó de serra, as pilhas de cavaco e de madeira fora das medidas comerciais, que antes eram um problema para as serrarias, agora são absorvidos pelas caldeiras da usina, transformando o passivo florestal em bioenergia. Como atividade complementar, a Inpasa instalou recentemente em seu pátio 11.574 placas solares, ocupando uma área de 10 hectares. Essa usina fotovoltaica tem uma potência instalada de 5 Mwh.

A indústria é moderna e a produção é 100% automatizada. Dentro da planta, exclusivamente operando a produção, trabalham 20 funcionários por turno. Mas a folha de pagamento da Inpasa tem mais de 800 funcionários. “O nosso grande volume de funcionários está na área administrativa, meio ambiente, fiscal, contábil, sustentabilidade, comercial, qualidade, financeiro, projetos, suprimentos, etc., é muita gente!”, comenta o gerente operacional da Inpasa, Fernando Alfini.

Só para se ter uma ideia, todas as indústrias madeireiras de Sinop juntas empregam atualmente 870 funcionários. É praticamente o contingente gerado apenas pela usina. De acordo com a Sefaz (Secretaria Estadual de Fazenda), em 2021, a indústria de etanol de Sinop foi responsável por recolher R$ 833 milhões em ICMS.

Outro dado bastante relevante é o PIB (Produto Interno Bruto), referente a toda atividade industrial de Sinop: R$ 835 milhões, R$ 2 milhões a mais do que a produção de álcool gerou em ICMS. A conta não está errada. A diferença deve-se ao fato que o PIB, divulgado pelo IBGE, tem como ano de referência 2019. A Inpasa Sinop iniciou a sua produção em agosto de 2019. No começo de 2021, dobrou a sua capacidade. Essa evolução, já percebida pela Sefaz e pela economia, ainda não pontuou no PIB. E quando isso acontecer, o impacto será gritante.

O relatório de Demonstrações Financeiras elaborado pela KPMG Auditores Independentes Ltda, sobre o balanço financeiro da Inpasa no ano de 2021, apontou que as vendas da indústria somaram R$ 4,1 bilhões. O montante responde a 63% do PIB total de Sinop – que tem como referência o ano de 2019. Ainda que apenas o Valor Adicionado seja computado no cálculo do PIB, serão mais R$ 2,2 bilhões. Ou seja, o PIB de Sinop em 2021 já é um terço maior que o fotografado em 2019, somente com o incremento promovido pela Inpasa.

Essa é a revolução industrial que está em curso. O impacto na economia já vem sendo sentido, apesar da defasagem das estatísticas. E o fio condutor do avanço industrial é a transformação.

 

Transformação em cadeia

Antes das usinas de etanol, a forma de agregar valor ao milho era transformando-o em carne. Na ponta final dessa esteira estão as indústrias frigoríficas, que em Sinop respondem por 13% da mão de obra empregada pela indústria

 

A indústria de transformação em Sinop não transforma apenas a matéria-prima, mas também biografias. Werner Webber tinha um pequeno abatedouro, beirando a informalidade. Seu ofício era açougueiro. Já João Carlos Bombonato era churrasqueiro. Dessas duas profissões encadeadas como uma linha de produção, nasceu uma sociedade.

O açougueiro e o churrasqueiro continuam trabalhando juntos. Mas agora, ao invés de um boizinho, eles abatem 650 cabeças de gado por dia. Essa é a capacidade de abate instalada na planta do Frigobom, um frigorífico de processamento de carne bovina que é mais conhecido pela qualidade do que pelo volume. São mais de 3 milhões de quilos de carne que saem dessa indústria por mês – cerca de 65% em carcaça, para açougues e supermercados, e o restante embalado a vácuo, pronto para o consumo. Metade da produção fica no mercado interno, em Sinop e região. O restante vai para Capital e adjacências, tudo distribuído com uma frota própria, composta por 45 caminhões. 

A carne do Frigobom está nas principais redes de supermercados de Mato Grosso, geralmente exibida nas vitrines refrigeradas como se fosse joias. O Big Lar, supermercado mais refinado de Cuiabá, é um franco comprador do frigorífico. Nas gôndolas, perto ou longe de Sinop, a carne do Frigobom não costuma ser a mais barata. Também não tem preço de carne de grife, exclusiva para público “triplo A”. O negócio do Frigobom é ser um frigorífico regional, porém, capaz de entregar um produto final melhor. 

Não é que as facas desse frigorífico sejam mais afiadas ou que o rótulo seja mais bonito. Tem uma ciência por trás da eficácia dessa indústria. O frigorífico possui um programa de seleção dos animais que abastecem a indústria. 90% do gado que entra na planta são fêmeas. Os animais são classificados através da cronologia de arcada dentária e tipificação de carcaça, para garantir que tenham uma boa formação de carne e sejam jovens, entre 12 e 24 meses. “Além de jovens, os animais devem pesar no mínimo 13 arrobas, para que haja um bom tamanho dos cortes”, explicou. 

Werner costuma dizer que a tendência da indústria da carne em Sinop é crescer cada vez mais, mas que o Frigobom não quer ser uma mega corporação. “É um frigorífico de famílias”, resume o empresário. A fala revela mais do que parece e este é o segundo trunfo desse negócio.

O frigorífico tem uma política trabalhista bastante humanitária. É a única empresa de Sinop que mantém uma creche exclusiva para os filhos dos seus funcionários. Dos mais de 600 colaboradores que trabalham na unidade, 20 são menores aprendiz e 20 portadores de necessidades especiais – respeitando à risca a legislação. A indústria tem programa de ginástica laboral, de segurança no trabalho e bem-estar, além de partilhar parte dos lucros de forma mensal. No dia em que a Revista Fator esteve na indústria, o Frigobom estava há mais de 6 meses sem nenhum acidente no trabalho. As melhores condições de trabalho geram estabilidade no quadro de profissionais, melhorando a sua experiência. Enquanto na indústria frigorífica a média de “turn over” (rotatividade de funcionários por desligamento), é de 35%, no Frigobom foi de 6%. Na triparia, que é um dos setores mais duros de um frigorífico, a indústria não tem uma ausência de funcionário há mais de um ano e 8 meses. 

Além do Frigobom, existem outros 3 frigoríficos em Sinop, sendo dois de abate suíno e mais um bovino. Segundo os dados de 2020 da FIEMT, a indústria da carne gera em Sinop 1.147 postos de trabalho – o que corresponde a 13% da mão de obra dedicada à indústria no município. Os 4 frigoríficos de Sinop recolheram em ICMS no ano de 2021 pouco mais de R$ 591 milhões.

Uma dessas plantas também está em “família”. Pedro e Rodolfo Webber, irmãos de Werner, começaram a abater suínos em Sinop no ano de 1982. No começo, traziam os animais de Tangará da Serra e vendiam no comércio local. Depois, passaram a criar os próprios suínos. “Sobrava milho”, lembra Pedro. À medida em que Sinop foi crescendo, o negócio também foi engordando. Em 2001, Pedro e Rodolfo inauguravam o Frigoweber, que atualmente conta com uma estrutura de 5 mil m² de área construída, 220 funcionários e uma capacidade de abate de 600 animais por dia.

A planta industrial é dividida em dois módulos. O primeiro concentra o abate, de onde saem as carcaças de suíno refrigeradas, que correspondem a 90% do volume comercializado pela empresa. Na segunda unidade, são processados os produtos de alto valor agregado, como embutidos e defumados. Nessa fábrica, o suíno é transformado em 45 diferentes produtos. Para garantir um alto padrão, os irmãos recrutaram mão de obra no Sul do país para conduzir a linha de embutidos, apostando na tradição secular dos imigrantes italianos e alemães na arte da charcutaria. “A gente só vende aquilo que come”, resume Pedro sobre a qualidade dos produtos fabricados em sua indústria.

Cerca de 30% da proteína animal processada no Frigoweber abastece a cidade de Sinop. O restante é distribuído em outros 10 polos regionais dentro de Mato Grosso. 

A Inpasa e os 4 frigoríficos de Sinop se enquadram na categoria de “grandes” indústrias – aquelas que possuem mais de 250 funcionários. Embora sejam vultuosas, responsáveis por um grande volume de empregos e de divisas, as grandes indústrias representam uma pequena fração de todo o setor. São apenas 9 indústrias classificadas como “grandes” em Sinop. Muitas outras engrenagens movimentam a indústria local. 

 

Na esteira do agronegócio

A dimensão do agronegócio no Norte de Mato Grosso faz com que o setor seja, ao mesmo tempo, abastecedor e consumidor da indústria de Sinop. Foi mirando na capacidade de consumo de milhões de hectares que a Fertipar implantou na cidade uma unidade – a 20ª do grupo. A indústria misturadora de fertilizantes iniciou sua operação no final de 2020. Antes de fincar seus maquinários no Nortão, a marca – que tem origem no Paraná – atendia a região com sua planta localizada no Sul do estado, em Rondonópolis. “A decisão de implantar uma unidade da Fertipar em Sinop está diretamente ligada à consolidação do corredor logístico para o Norte, através da BR-163. Cerca de 75% dos insumos de nossa indústria são importados, então estar perto do porto é crucial”, explica o gerente da unidade de Sinop da Fertipar, Watson de Pina.

Sinop está há 750 km de distância de Rondonópolis e a 1.000 km dos portos no Norte do Pará. Acontece que o frete naval faz com que o insumo chegue mais barato em Sinop pelo Norte do que a partir da planta em Rondonópolis. “Além do preço dos insumos, ainda tem uma questão de logística aplicada. Na prática, um caminhão vindo de Miritituba [um dos portos do Pará], está chegando em Sinop em menos tempo do que um que sai de Rondonópolis”, revelou o gerente. 

A estrutura que a Fertipar implantou em Sinop tem capacidade de armazenagem de 90 mil toneladas. São grandes silos que guardam as matérias-primas. Dois misturadores com capacidade de 120 toneladas/hora combinam os elementos de acordo com o tipo de fertilizante que será produzido. “Todo o sistema de dosagem é automatizado. Trabalhamos com uma plataforma de agendamento para carga e descarga de caminhões. Por dia, são cerca de 30 caminhões que passam pela indústria”, revela de Pina.

A indústria tem 74 funcionários. Outras duas misturadoras de fertilizantes instalaram unidades em Sinop nos últimos anos. Apesar da concorrência, a expectativa da Fertipar é crescer. Em 2021, no primeiro ano de operação, a unidade produziu 105 mil toneladas de fertilizantes. Segundo de Pina, para 2022, a projeção é de bater as 200 mil toneladas. O imóvel onde está a planta industrial possui mais 12,5 mil hectares para futuras ampliações.

Um exemplo de inovação e tecnologia no agronegócio é a NutriBio. 

Fundada no ano de 2006 em Sinop/MT, a NutriBio, iniciou suas atividades com a industrialização do caroço de algodão. 

“Abrimos a unidade com o objetivo de produzir óleo vegetal combustível. O mercado mudou bastante, muito rápido. No começo, o maior valor estava no óleo, em função do Biodiesel. Hoje a Torta de Algodão é o produto mais rentável”, revela o diretor da NutriBio, Rodrigo Marcondes. 

A indústria processa cerca de 50 mil toneladas de caroço de algodão por ano. A matéria-prima vem de lavouras do Norte do estado. O negócio opera com certa sazonalidade, tendo um pico entre julho a dezembro, quando as máquinas trabalham 24h por dia, empregando 90 colaboradores. 

Com o processamento do caroço de algodão é extraído o Óleo Bruto, utilizado para Biodiesel ou para outras Refinarias. 

Em 2010 a Nutribio investiu em uma Refinaria própria, podendo então produzir o Óleo semi-Refinado para Alimentação Humana. 

Já em 2012 inovou com o lançamento do Nutri Óleo Adjuvante, utilizado na pulverização agrícola. 

Segundo Marcondes, uma série de estudos foi feita pela NutriBio em parceria com acadêmicos da UFMT, resultando em um protocolo para mistura e aplicação de defensivos com óleo de algodão, sendo uma alternativa ao óleo mineral. 

Após o processamento do óleo, o Caroço do Algodão é utilizado para a fábricação da Nutri Torta 28. Sendo esta a “Torta de Algodão Moída”, um composto altamente nutritivo, com 28% de proteína, 28% de fibra, ainda com 6% a 8% de óleo, ideal para alimentação animal. 

“Iniciamos também a produção de Torta de Algodão Peletizada com Melaço de Soja. Fizemos ensaios em conjunto com a Embrapa e o produto se mostrou mais palatável para os animais”, revela Marcondes. 

Ampliando a visão empreendedora da NutriBio, em 2020 foi inaugurada a Fábrica de Nutrição Animal.

Sempre buscando alternativas para o Produtor, a NutriBio, desenvolveu novos produtos e criou as Linhas Minerais, Proteinados, Rações e Núcleos. Que atendem as necessidades de Bovinos de Corte e Leite em todas as fases de crescimento e sistemas de produção. 

A indústria produz 20 mil toneladas de Produtos para Nutrição Animal por ano, sendo automatizada, é possível monitorar todas as etapas de produção e rastrear todos os produtos, desda fabricação até a entrega ao produtor. 

Para operação, Marcondes buscou zootecnista, assessoria técnica e consultoria junto a profissionais de outras regiões que são referência na fabricação de nutrição animal.

Todos os produtos dispõem de alta tecnologia com a utilização de aditivos e, ou minerais orgânicos, que permitem maior desempenho animal.

 

A NutriBio conta com um rigoroso processo de qualidade, sendo cuidadosamente inspecionado o recebimento da materia-prima até a produção final, passando por diversas etapas de avaliação. Periódicamente é feita a análise de amostras de matérias-primas e produtos, onde são verificados se todos os parâmetros exigidos pela empresa estão sendo atendidos.

A qualidade da NutriBio também está na Equipe Técnica especializada. Sempre pronta para dar suporte, acompanhamento e acessoria ao produtor.

 




 

Outra empresa que nasceu e se desenvolveu na esteira do agronegócio mato-grossense é a Jhonrob Silos e Secadores.

A empresa iniciou suas atividades a pouco mais de 20 anos, atuando no segmento do pós colheita. Atualmente produzindo a linha completa de equipamentos para armazenagem de grãos, tais como: máquinas de limpeza, secadores, fornalhas, silos, elevadores de canecas e linha de transportadores horizontais. Baseada em Sinop, inaugurou em 2018 sua nova unidade fabril, com mais de 22 mil m² de área construída, localizada às margens da BR 163.

Quem anda pelas lavouras de Mato Grosso, provavelmente já se deparou com a logomarca da Jhonrob em algum armazém. Hoje uma referência no segmento, a empresa gera atualmente mais de 350 empregos diretos, tendo atuação relevante em todo o estado de MT, e também em outras regiões do país. 

Também no ramo da indústria metalmecânica que tem o agronegócio como indutor, está a Perfisa Perfilados da Amazônia Ltda. Orbitando entre o campo e a cidade, essa indústria molda cerca de 500 toneladas de aço por mês. A linha de produção tem 4 frentes de trabalho: vigas e perfis para construção civil, telhas e painéis termoacústicos, corte e dobra para outras atividades industriais.

O produto assinatura da Perfisa é o Girassol – um implemento agrícola projetado pela empresa desde a concepção, capaz de preparar mecanicamente o solo para o plantio, trabalho que por anos foi feito com mão de obra braçal. Trata-se de um equipamento, puxado por um trator, com um grupo de discos rotativos que lembram um girassol. À medida que o maquinário vai percorrendo a área de terra recém-aberta ou áreas degradadas, o equipamento vai enleirando raízes, galhos, pedras. Dessa forma, o solo fica limpo, permitindo o plantio e a colheita mecanizada, sem danificar os equipamentos. “O Girassol Enleirador PP 704 chegou ao seu desenho final e começou a ser produzido em 2004. Projetamos um ciclo para fabricar e comercializar 500 equipamentos e hoje revisamos esse ciclo para 600”, comenta Udo Piotrowsky, proprietário da Perfisa.

O Girassol Enleirador surgiu de uma necessidade local. Áreas de floresta começaram a ser convertidas em lavouras e para tal o solo precisava ser limpo e preparado. O trabalho era feito por uma mão de obra, cada vez mais precária e cada vez mais escassa. Era preciso de uma máquina para suprir a demanda. 

Embora a invenção – inclusive patenteada – da Perfisa tenha sido pensada para uma necessidade local, o Girassol rompeu fronteiras. O implemento já foi vendido para mais de 20 estados do país e está presente em quatro continentes. “Do primeiro projeto até hoje, fizemos 11 modificações no Girassol, ajustando às características de cada região para onde o equipamento foi enviado”, conta Udo.

De forma geral, a indústria de fabricação para máquinas e equipamentos destinados à agricultura e pecuária, na cidade de Sinop, gera 323 postos de postos de trabalho, sendo o 5º grupo mais representativo na geração de empregos, atrás apenas da indústria frigorífica, das madeireiras, da construção civil e do etanol. 

 

Muito mais que uma máquina de moer commodities 

Para o secretário de Desenvolvimento Econômico de Sinop, Klayton Gonçalves, as indústrias de transformação, que processam a matéria-prima produzida pelo agronegócio, são grandes, se destacam individualmente na economia local, geram muitos empregos e operam com cifras milionárias. “É inquestionável o potencial de Sinop para as agroindústrias, uma vez que a cidade é o polo de referência da região mais produtiva do Brasil”, pondera o secretário. Mas, para Gonçalves, as máquinas de moer e destrinchar commodities não resumem a indústria sinopense. “Nesse cenário estão pequenas, médias e grandes indústrias destinadas a abastecer a demanda regional”, completa.

O relatório da FIEMT corrobora a visão do secretário. As estatísticas, que são do ano de 2020, mostram que das 967 indústrias estabelecidas no município, 79% são microindústrias, com até 9 funcionários; 18% são indústrias de pequeno porte, com até 50 empregados; e 2% são indústrias de médio porte, com menos de 250 funcionários. 

Quando se avalia o número de empresas, quase 50% das indústrias de Sinop estão ligadas ao setor da construção civil. São concreteiras, fábrica de blocos, de tinta, serralherias, cerâmicas e tantas outras que compõem, em volume, a massa das indústrias de Sinop.

Uma das indústrias que reflete bem a crescente desse setor é a Guaporé Vidros, que no ano de 2012 instalou um forno de vidros temperados da  Blindex em Sinop. Existem 16 indústrias de vidro Blindex no país, 4 são administradas pela Guaporé Vidros e uma está em Sinop. 

Segundo Rodolfo Pereira, sócio proprietário da Guaporé Vidros, em 10 anos a indústria de Sinop triplicou em tamanho e volume de produção. “Já estamos planejando a implantação de um novo forno para tempera do vidro. Tenho certeza que nos próximos 10 anos triplicaremos de tamanho novamente”, revelou o empresário.

A indústria de Sinop tem 118 colaboradores. Fornece para mais de 350 vidraçarias no eixo entre Nova Mutum a Santarém/PA. São mais de 400 toneladas de vidro por mês.

O setor não desacelerou em função da pandemia. “Houve um aumento significativo de vendas de chapas de vidro para fechamentos de áreas gourmet e sacadas. As pessoas não podiam sair, então investiram para melhorar os espaços em suas residências”, comentou Rodolfo.

Em 2020 a Guaporé abriu uma unidade em Rondonópolis, município demograficamente maior, com mais de 240 mil habitantes. “O crescimento do Norte de Mato Grosso é visivelmente maior. A população tem um poder aquisitivo maior e a construção civil permanece constantemente aquecida”, comenta Silvia Pereira, diretora da Guaporé Sinop.

Outro exemplo de que a demanda regional é suficiente para comportar uma indústria local é a Leli Alimentos. Presente em mais de 500 pontos de vendas em todo Mato Grosso – e também em parte do Sul do Pará –, os produtos Leli estão desde as gôndolas das grandes redes de supermercados até os mercadinhos de bairro. 

A LELI Alimentos oferece mais de 80 diferentes produtos, dos tradicionais sachês com temperos desidratados ou em pó, até especiarias mais específicas e especiais, de alto valor. Com o intuito de inovar e ser capaz de oferecer uma gama maior de produtos para o mercado, a empresa também conta com a linha de temperos em tubinhos, com uma variedade de mais de 20 produtos; uma linha de churrasco, a linha Você é Chef, e por último, mas não menos importante, a linha de institucionais, voltada para clientes que precisam de uma quantidade maior de nossos produtos, como cozinhas profissionais e restaurantes por exemplo.

A Leli Indútria e Comércio de Alimentos LTDA foi fundada por Rildo Brito, mais conhecido como Pimenta. “Eu viajava vendendo os produtos e como o ponto forte era a pimenta do reino, o pessoal começou a me chamar assim, daí surgiu o apelido”, conta. Em 2007, Pimenta, com ajuda de sua esposa, Paula, fundaram a empresa em Sinop. “Já tendo uma base de conhecimento sobre a área, adquiri uma máquina e alguns equipamentos, fiz um pequeno estoque de matéria-prima, e assim começamos a produção e comercialização dos produtos. Era um barracão muito simples, com apenas 3 funcionários. Começamos muito pequenos”, lembra Pimenta.

Hoje, a Leli tem sua indústria localizada no LIC Sul (Loteamento Industrial e Comercial Sul em Sinop), o terreno de 2 mil m² abriga o escritório da empresa, e conta com uma área de produção de aproximadamente 400 m² e um estoque de 500 m². “Atualmente, contamos com mais três maquinários novos, de última geração, e estamos com cerca de 25 funcionários”, reforça o proprietário. 

Assim que as matérias-primas chegam na empresa, as mesmas são inspecionadas para que, em seguida, possam ser embaladas. A maioria dos produtos é embalada por máquinas automáticas, porém, para os produtos que exigem um trabalho mais manual, os mesmos são pesados e embalados à mão, com auxílio de equipamentos específicos. “Em alguns produtos, a seleção é manual. Canela em rama, folhas de louro, as flores de camomila e o anis estrelado, por exemplo, são embalados à mão. Esses produtos não são uniformes, eles seguem o tamanho e a proporção que a natureza os deu. Então, o trabalho precisa ser manual para que o produto atenda aquilo que oferecemos a nossos clientes”, explica.

A LELI, comandada por Pimenta e com o auxílio de seus filhos, Guilherme e Gustavo, e toda a sua equipe de 25 funcionários, planeja a expansão da empresa para outras regiões.

Sejam indústrias de pequeno porte, como a LELI, de médio porte como a NutriBio, ou de grande porte como a Inpasa, todas estão os olhos voltados para o Norte. E é para lá que um novo caminho promete se abrir: a Ferrovia Sinop-Miritituba. O modal concebido para escoar a produção de grãos tem potencial para inaugurar uma nova fase da indústria, conectando as máquinas de Sinop a um novo mercado consumidor com escala industrial.

Industria

TELAS SINOP

Publicado em 28 de Agosto de 2022 ás 17:34 , por JOSÉ ROBERTO GONÇALVES

Telas de qualidade para cercar a sua propriedade

Atendendo a demanda regional, empresa foca na agilidade, qualidade do produto e mão de obra especializada

 

Fabricar e instalar telas é a especialidade da Telas Sinop, uma empresa familiar com mais de 25 anos de bons serviços prestados em todo o Mato Grosso, e que traz como diferenciais a agilidade na produção e instalação de telas e postes, com produtos de qualidade e mão de obras capacitada e experiente.

A Telas Sinop oferece vários estilos para quem quer cercar propriedades rurais e urbanas. A empresa atende armazéns, chácaras, fazenda, indústrias, comércios e residências. Entre os produtos destacam-se telas do tipo alambrado, soldada, hexagonal, artísticas ou onduladas, quadras poliesportivas e gradis.

“O objetivo sempre foi trazer qualidade do produto e da mão de obra, são os nossos grandes diferenciais. Prezamos por um bom atendimento, agilidade no atendimento ao cliente, produção das telas e instalação. E utilizamos aço galvanizado em todos os nossos produtos”, explica a sócio proprietária Itamara Doerzbacher.

Assim como acontece em diferentes segmentos da economia sinopense, o agronegócio também é um dos carros-chefes da Telas Sinop, que atende desde o pequeno chacareiro às grandes propriedades.

 

DUPLA JORNADA

A história da empresa começa com a vinda da família de Santa Catarina para Sinop, em 1992. O pai de Itamara, Hilário Doerzbacher, buscava uma oportunidade de crescimento. Ainda na adolescência, havia trabalhado em uma fábrica de telas na cidade em que morava.

Essa experiência ele trouxe para Sinop, mas ainda não era seu objetivo principal. “No início, ele trabalhou como vendedor em lojas de material de construção, conheceu muita gente. Um conhecido tinha uma máquina de fabricar telas, e assim meu pai acumulava dupla jornada, trabalhando como vendedor durante o dia e à noite fabricando tela”.

Algum tempo depois, Sr. Hilário decidiu comprar sua própria máquina e começou a produzir telas – ainda mantendo o trabalho vespertino. “Até que ele viu que conseguiria sustentar a casa apenas com a fábrica. Deixou o emprego de vendedor e passou a se dedicar ao que seria o negócio de família, tornando-se atividade integral”, relata Itamara.

Para quem pensa que Sr. Hilário parou de trabalhar, está enganado. É ele o responsável por manter a qualidade da instalação. “Estamos empenhados em manter essa especialização”.

 

DEMANDA CRESCENTE

O crescimento da Telas Sinop acompanha o desenvolvimento da cidade e da região Norte do estado. Atualmente, a empresa atende Alta Floresta, Cláudia, Sorriso, Vera, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, entre outras.

“Há alguns anos, quando falávamos de Mato Grosso, especialmente de Sinop e região, para pessoas em outras localidades, elas pensavam que vivíamos em meio a onças e jacarés, como talvez de fato era. Mas ninguém tinha noção da proporção que essa cidade tomaria. Alguns acreditaram profundamente que esse era realmente um dos lugares mais promissores do país e aqui investiram seu dinheiro e suor. Hoje, demandamos alta tecnologia e mão de obra especializada para diferentes regiões”, afirma a empresária.

E mesmo em meio a percalços econômicos, escalada de preços e desdobramentos da pandemia, a Telas Sinop se inseriu no mesmo contexto pujante e desafiador de uma cidade que parece ignorar crises e surpreender. “Isso se deve ao fato de a região ser muito promissora. As obras não param, mesmo com os preços (de materiais de construção e mão de obra) em alta. Sinop é diferente do padrão”, emenda Itamara. “Temos grande orgulho de fazer parte do crescimento da cidade”, completa.

Dados do Município

Sinop é um município brasileiro distante 479 km da capital Cuiabá, localizado no interior do estado de Mato Grosso, região Centro-Oeste. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sua população foi estimada em 146.005, em 2020, porém, dados municipais apontam para mais de 195 mil habitantes.
O município possui a 5ª maior economia com PIB de R$ 5.626.287.120 (aproximadamente R$ 5,62 bilhões).
Localizada no eixo da BR-163, a Capital do Nortão é polo em educação (17 mil estudantes) e em saúde (possui inúmeras especialidades médicas). O estudo “Melhores Cidades para Fazer Negócios”, da revista Exame, aponta o município na 33ª posição em todo o país (2019). Sua força econômica está baseada nos setores de serviço (que movimenta R$ 3,3 bilhões), industrial (R$ 496,2 milhões) e agropecuário (R$ 265,9 milhões). A abertura de novas empresas mais que dobrou nos últimos 10 anos, sendo que de janeiro a junho (2020), 1.233 empresas registraram seu CNPJ.

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