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A ECONOMIA QUE O AGRONEGÓCIO ADUBOU

Publicado em 12 de Junho de 2019 ás 00:29

O triunfo do agronegócio de Sapezal criou um cenário favorável para o surgimento de diferentes empresas e serviços. Sejam elas de pequeno, médio ou grande porte, esses comércios acabam sendo fertilizados pela riqueza que vem das lavouras

Sapezal tem 134 estabelecimentos agropecuários e 755,5 mil hectares de áreas de lavoura e pastagens. Isso significa que, em média, cada produtor concentra 5,6 mil hectares. Na prática, a desproporção é maior. Um pequeno grupo de produtores concentra a maior parte das terras agricultáveis e, portanto, a riqueza. Some ao fato de que as monoculturas de larga escala empregam pouco e a maioria do que consomem – insumos e máquinas – é produzido a quilômetros de distância.

A descrição leva a crer que esta é uma terra rica para o agro, mas infértil para qualquer outra atividade. A realidade, no entanto, é outra. Foi o agronegócio que abriu essa região e, de quebra, adubou o restante da economia que veio em seu rastro.

A produção de commodities, em especial o algodão, acabou gerando oportunidades de negócio. A alta renda em circulação propiciou o crescimento da cidade, desencadeando os investimentos no setor imobiliário, na prestação de serviços e no comércio de uma forma geral. Tudo cresceu em função do agro.

Em maio de 2019, Sapezal contava com 1.068 empresas em atividade. São 7,4 mil trabalhadores formais, com uma renda média mensal de 2,6 salários mínimos. O “setor de serviços” movimenta por ano R$ 725 milhões – o que representa 28% do Produto Interno Bruto (PIB). A cidade tem mais de 5,3 mil domicílios e uma frota de 12 mil veículos - sendo apenas 2.380 de uso particular.

Fora da fria estatística sobram histórias de pessoas que cresceram na cidade, impulsionadas pela pujança do agronegócio. Algumas, inclusive, só vieram para Sapezal atraídas pela produção agrícola.

É o caso de Silvano Nazaré. Até o ano de 2004 ele vivia na cidade de Rio Verde em Goiás. Trabalhava como mecânico, fazendo a manutenção das máquinas de desenfardar algodão. “A maioria dos clientes era de Sapezal. Em algum momento comecei a fazer planos de tentar meu próprio negócio na cidade”, conta Silvano.

A migração para Mato Grosso começou em Cuiabá. Depois de seis meses na capital, sem perspectiva de algo melhor, rumou para Sapezal. Na cidade ele montou a Agromaq, uma empresa do setor metalúrgico, voltada para fabricação de peças para a indústria de beneficiamento.

Foram dois anos consecutivos de operação. Silvano acabou recebendo uma proposta de um grande grupo do agro para trabalhar como funcionário. Acabou passando nove anos na empresa.

Em novembro do ano passado ele retornou para o próprio negócio, otimista com a volta da alta do algodão. Com um desenho industrial em mãos, a Agromaq começou a produzir algodoeiras. “O desencaroçador é a única coisa que não fabricamos”, explica.

De novembro até março, sua empresa produziu 15 equipamentos. Com o pátio lotado de peças, Silvano preparava uma expansão.

Atualmente sua empresa tem 20 funcionários contratados. O projeto de ampliação, já para 2019, prevê o aumento do quadro para 100 funcionários. “Vamos investir R$ 1,5 milhão na construção de uma nova sede. Temos mais de R$ 15 milhões em contratos para 2020”, revela o hoje empresário Silvano.

A medida que o agro cresce, novas empresas surgem, a população aumenta e é inerente a necessidade de construir. Em 1998 Jorge Basei e sua irmã compraram uma pequena loja de materiais de construção, com 200 metros quadrados. Hoje, 21 anos depois, a Village Materiais de Construção, no Centro de Sapezal, tem 1,8 mil metros quadrados de área construída, com mais de 35 mil itens, do básico aos acabamentos mais luxuosos – além de uma unidade em Campo Novo dos Parecis, com o dobro do tamanho. “Nosso plano para 2020 é ampliar a loja de Sapezal em mais 800 metros quadrados”, revela Jorge Basei.

Para o empresário, o agronegócio é o principal indutor da economia local. No seu caso, em específico, é o fomentador e o comprador. “As pessoas vem para Sapezal com a expectativa de fazer uma safra e voltar no final da colheita, mas acabam ficando”, conta Jorge.

Além disso, o agronegócio é um franco comprador. O empresário descreve cada grande fazenda como “uma pequena cidade”, com edificações e estruturas de alto padrão construtivo. São bons clientes em um local onde geralmente uma loja de materiais de construção não espera ter: o perímetro rural. “Há fazendas com estruturas melhores que de um hotel de três estrelas”, declarou.

A loja ampla e bem montada, sugere um mercado bastante aquecido. Em março de 2019, a Village contabilizou 5.460 vendas – uma média de 182 tickets por dia! “A maior parcela dos clientes é de classe C. Mas é uma classe C que quer consumir com a qualidade da classe A. São exigentes, têm um bom poder aquisitivo e, se for necessário, economizam para comprar”, conta o empresário, que considera esse um bom momento da economia local. “As pessoas de Sapezal estão com uma expectativa renovada”, completou.

Mesmo aqueles que o agronegócio atrai de passagem movimentam a economia do município. Em 1998, Élcio Pelegrini era bancário na cidade de Pontes Lacerda. Seu irmão e sua irmã moravam em Comodoro, cidade vizinha de Sapezal, onde tinham a Eletrolar – uma loja de móveis e eletrodomésticos. Com o acerto do banco, Élcio comprou um sítio em Comodoro e entrou na sociedade dos irmãos, abrindo uma loja em Sapezal. O negócio foi bem, mas o antigo bancário queria uma forma de fugir da venda a prazo. A resposta que ele encontrou foi construir um hotel.

Élcio chamou seu irmão para ser sócio e, em 2009 comprou o terreno e fez o projeto. “Naquela época já havia um déficit no segmento hoteleiro de Sapezal”, lembra o empresário.

O Hotel Pelegrini abriu as portas no ano de 2012. Com um investimento de R$ 3,5 milhões, foi erguida uma estrutura de dois pisos, com 47 apartamentos e capacidade para hospedar simultaneamente 100 pessoas. De imediato, naquele ano, a taxa de lotação do hotel foi de 65%. Hoje, é difícil encontrar leitos vazios.

Segundo Élcio, a maior parte dos seus clientes estão relacionados com o agronegócio. Sejam diretores de empresas que vem ao município para fechar negócios, prestadores de serviços ou representantes comerciais, a massa dos clientes está em Sapezal por aquilo que suas lavouras produzem. “Com uma certa frequência temos hospedes de outros países interessados em conhecer as lavouras de Sapezal ou para comprar algodão”, revela Élcio.

Além do hotel, Élcio também é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Sapezal. Para ele, o protagonismo do agronegócio na economia local é uma unanimidade. “Sem a produção agrícola, Sapezal não existiria”, afirmou.

E como o agro vai bem, a projeção é crescer. Para o final de 2020, Élcio pretende ampliar o seu hotel em mais 30 apartamentos, chegando próximo de dobrar sua capacidade de atendimento.

Até os setores mais distantes do agronegócio acabam prosperando. Neilor Schwengber começou trabalhando no setor de combustíveis quando chegou em Sapezal, no começo dos anos 2000. Sua irmã e seu cunhado estavam na cidade há mais tempo e os comentários acabaram atraindo ele para arriscar nesse novo local. Depois de seis anos vendendo combustíveis, ele foi convidado para trabalhar no setor público. Por sete anos foi chefe de gabinete do prefeito. No final desse período acabou abrindo, em 2013, uma gráfica rápida, a Skala Print.

Há quatro anos ele se dedica integralmente ao negócio próprio. A empresa emprega oito funcionários e registra cerca de 260 pedidos por mês. “Prestamos serviço de gráfica rápida e comunicação visual. Uma parte significativa do nosso trabalho é fazer a impressão de placas e adesivos para indústrias e armazéns”, revelou.

Em seu parque gráfico, a Skala tem duas impressoras plotter, uma Hunter (CNC/fresna) e uma cortadora a laser, além da parte de serralheria. Todo esse maquinário raramente fica parado. “O momento econômico de Sapezal é bom”, resume Neilor.

A metalúrgica que fabrica algodoeiras, a loja de materiais de construção que equipa fazendas, o hotel que acolhe vendedores de insumos e a gráfica que imprime adesivos para as indústrias. Todos são exemplos da economia que foi adubada pelo agronegócio. Uma pequena fatia do que é o atual comércio de Sapezal e uma migalha perto do que ainda vai ser.

Dados do Município

SAPEZAL

Sapezal está localizada no interior de Mato Grosso, distante 509 km da capital Cuiabá, região Centro-Oeste. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2020, sua população é estimada em 26.688 habitantes.

A cidade possui a 11ª maior economia do estado, com PIB (Produto Interno Bruto) dos Municípios de R$ 2.516.823.700 (aproximadamente R$ 2,51 bilhões).

O município é um dos principais produtores de algodão do estado. Dados de 2018 do IBGE apontam para uma área plantada de 168,2 mil hectares (ha), com 756,9 mil toneladas colhidas. A soja também se destaca, com plantio em 355 mil ha e uma produção superior a 1,23 milhão de toneladas. Além destas, outras culturas também se destacam na produção de comodities, como milho, girassol, arroz e feijão.

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