Linha do Tempo, Sinop 50 anos
USE AS SETAS PARA
NAVEGAR ENTRE OS ANOS
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
2023
2024
Deixe sua Sugestão
Envie para nós fotos e dados históricos para enriquecer nossa Linha do Tempo.
1975
Ari Daher Santos

O CORRETOR QUE TROCOU CURITIBA POR SINOP
Aos 30 anos de idade, casado, com uma filha e profissionalmente consolidado, Ari Daher Santos vendeu seus imóveis na urbanizada capital paranaense para comprar terrenos em uma cidade no meio do nada, que não tinha mais do que uma dúzia de casas, acreditando que esse seria um bom negócio
O que você faria se um corretor de imóveis lhe dissesse para vender seus terrenos em Curitiba (PR), o escritório e seus 6 carros, pegar todo o dinheiro e gastar com terrenos em uma cidade com menos de um ano de fundação, aberta no meio do nada, sem qualquer tipo de infraestrutura urbana? Foi o que aconteceu com Ari Daher Santos. Mas nesse caso, ele era o Corretor de Imóveis e também o dono dos bens. Em uma decisão temerária, ele liquidou seus bens em um dos maiores centros urbanos do país para apostar na embrionária Sinop.
Até então Ari era um curitibano nato. Ele nasceu em 18 de junho de 1945 na capital paranaense. O filho de Ary Azevedo dos Santos e Rosalina Daher costuma dizer que quando nasceu acabou a Segunda Grande Guerra Mundial – apesar de o maior conflito da história ter encerrado oficialmente em setembro daquele ano. Ari está certo, apenas adiantado um pouco quanto o tempo e ao local. Dois dias antes dele nascer foi detonada a primeira bomba nuclear, nos testes feitos no Deserto de Los Alamos, no México. Cinquenta dias depois, o artefato seria usado na guerra.
Mas, em Curitiba, o bebê Ari estava longe do teatro bélico. Ele tem uma infância boa, frequenta escola e depois a faculdade. Cursa Ciências Contábeis na FESP (Fundação de Estudos Sociais do Paraná). “Daher”, como era chamado pelos corredores, se tornou um membro ativo da instituição. Foi presidente e diretor acadêmico no Diretório Estudantil. Era a mente que articulava os trotes nos calouros recém-ingressos na faculdade.
Em paralelo com os estudos, trabalhava como funcionário público, vinculado à Secretaria da Fazenda de Curitiba. Em 1970, ele conclui o curso e engata uma pós-graduação em Gestão de Empresas. Após 7 anos, pede demissão do cargo público. Fica alguns meses desempregado até ser chamado para atuar como contador regional do Senai. O cargo testa o traquejo e a responsabilidade de Ari, que corresponde. Mudanças na direção do Senai o afastam da função um tempo depois. Ao deixar a empresa do Sistema S, ele abre um escritório de contabilidade e depois, uma imobiliária.
Sólido, com condições de sustentar uma família, Ari se casa com Marília Sytriski em junho de 1972. Em outubro de 1973 nasce a primeira e única filha do casal, Priscila Sytriski Santos. Nessa época, Ari era mais corretor de imóveis em Curitiba do que contador. Os negócios com a imobiliária prosperam mais do que o escritório de contabilidade. Apaixonado por carros, o corretor ia acumulando tanto móveis quanto imóveis. Chegou a ter 6 veículos ao mesmo tempo.
A vida de Ari e sua família parecia desenhada em Curitiba, até o destino bolar uma forma de instigar. Era para ser só mais um almoço de domingo na casa do sogro, o médico Alberto Sytriski. Mas, pela manhã, o doutor havia passado na banca de jornais e adquirido um exemplar do jornal O Estado do Paraná. Entre as páginas do volumoso periódico, Alberto se interessou por um artigo que reportava à criação de uma nova cidade no Norte de Mato Grosso, aberta pela Colonizadora Sinop – empresa que estava estabelecida no interior do Paraná. O sogro passa o jornal para o genro e diz: “Ari, eu acho que essa cidade que está sendo fundada deve ficar perto de uma terra que eu comprei do Governo do Estado de Mato Grosso”.
No começo da década de 50, quando Alberto ainda estava no começo da faculdade de medicina, apareceu um correspondente do Governo de Mato Grosso vendendo terras. No Norte de Mato Grosso, o primeiro projeto de ocupação só começaria em 1955, na cidade de Porto dos Gaúchos. O que esse “correspondente” vendeu foi um pedaço de papel em uma área no meio do nada, que Alberto comprou sem ver que terra era essa. Mas o tempo passou, e no começo da década de 70 a Colonizadora Sinop estava abrindo as picadas no miolo do estado.
A notícia do jornal fez o médico ter vontade de conhecer aquelas terras que comprou. Ari se ofereceu para participar da jornada. Os dois viajam por terra até Cuiabá, e na capital de Mato Grosso fretam um avião para sobrevoar a área comprada há mais de duas décadas. Em dado momento, o piloto indica que estavam sobre o local. “Eu particularmente fiquei apaixonado por aquilo. Apesar de ter vivido a vida inteira em Curitiba, me apaixonei pela mata que eu vi. Era muita terra coberta por árvores”, comenta Ari.
De volta ao Paraná, o corretor conversa com o sogro e lança a oferta: “Se o senhor quiser, eu largo tudo o que tenho aqui para explorar essa área para o senhor”. Alberto fica surpreso e indignado com a proposta. Ari já tinha uma vida encaminhada em Curitiba e estava propondo deixar tudo para se aventurar em um lugar sem nada. Ponderado, o médico diz que irá pagar uma viagem para seu genro, sua filha e a esposa conhecerem a tal cidade. Se a esposa de Ari e a sogra aceitassem, a conversa poderia prosseguir.
Quando enfim chegaram em Sinop, se depararam com uma cidade sem nada. Não havia energia elétrica, telefone ou rede de água tratada. Não tinha sequer cascalho nas ruas, quem dirá asfalto. Marília, jovem, filha de médico, nascida e criada em Curitiba, segurava no colo sua filha Priscila, com dois anos e meio de idade, e olhava em sua volta. Coberta de dúvidas, ela olha para Ari e pergunta: “Você acha que aqui está o nosso futuro? Acha que é conveniente a gente largar tudo o que conquistamos em Curitiba e vir para cá?”.
A família vivia bem em seu apartamento no Paraná. Tinham posses e negócios. Ari responde a esposa dizendo que a condição para se fixar em Sinop era vender tudo o que tinham em Curitiba para investir na nova cidade. “Se você acha conveniente, eu te acompanho”, respondeu Marília.
Eles voltam para Curitiba e Ari começa a negociar seus bens. O corretor também vai atrás de um projeto para construir uma casa para família na nova cidade e acaba ganhando de presente do seu amigo engenheiro. Depois de liquidar todos os imóveis na capital paranaense, a família vem para Sinop, em agosto de 1975.
Ari tinha 30 anos de idade quando chegou em Sinop. Com o capital que levantou com a venda de suas propriedades no Sul, comprou 7 terrenos na Avenida dos Mognos (atual Avenida Governador Júlio Campos), a principal da cidade. Ele também adquiriu dois terrenos residenciais, daqueles enormes, com 800 metros quadrados, onde construiu sua casa. “Comprei quase uma quadra inteira. Na hora de construir, tinha que trazer tudo de Cuiabá. Cimento, cal, ferro... tudo que não fosse madeira tinha que comprar fora”, conta Ari.
O corretor também começou a construir salas comerciais nos terrenos na avenida principal para locação. Sempre que surgia uma oportunidade, ele adquiria um imóvel na cidade. “Nesse começo de Sinop, quando chovia, alagava tudo. O pessoal não conseguia andar pelas ruas. Muitas mulheres pressionavam os maridos a voltarem para o Sul. Então, eles vendiam barato para ir embora. Eu aproveitei, comprei algumas coisas, fui formando um patrimônio”, conta Ari.
Mas a proposta inicial era aproveitar a grande área de terra adquirida pelo sogro. O corretor então monta um projeto. A estratégia era estabelecer uma serraria para aproveitar a madeira que existia na área ao mesmo tempo que gera recursos para formar uma fazenda. Ari modula os custos e os investimentos necessários, apontando inclusive uma linha de crédito para financiar a instalação da madeireira. Na reta final, a sogra decide não assinar o financiamento junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Ela estava em idade avançada e tinha medo de não viver tempo suficiente para honrar o empréstimo, deixando a conta para sua filha única pagar.
Para Ari, a notícia cai feito uma bomba. Operar a serraria era seu plano para ter uma fonte de renda. Ele começa a se perguntar como iria viver e alimentar sua família em um lugar como Sinop. Praticamente todo o seu capital havia sido gasto em imóveis na cidade que iam levar tempo para render.
Então o sogro aparece. Alberto compra alguns imóveis de Ari e neles monta um hospital. O genro é chamado para administrar o negócio. Ari e Marília trabalham lado a lado na unidade por longos 17 anos.
Mas eles não ficaram presos ao emprego familiar. Algo incomum para a maioria dos pioneiros da primeira década de Sinop é a dedicação extenuante ao trabalho. O “normal” era ter pelo menos duas ocupações que trouxessem rentabilidade financeira e mais algumas em prol da comunidade.
Ari e Marília não fogem o padrão. Ele continua operando com a corretagem de imóveis, comprando, vendendo, alugando e intermediando negócios. Ari foi o primeiro profissional estabelecido na cidade que tinha registro no Creci-MT (Conselho Regional de Corretores de Imóveis). Já Marília tratou de abrir um comércio, um bazar com artigos diversos.
Em 1979, Sinop foi enfim emancipada como município. Até então era um Distrito de Chapada dos Guimarães, a mais de 500 quilômetros de distância. Um prefeito interventor foi nomeado até 1982, quando aconteceriam as primeiras eleições municipais. Lideranças locais apontaram o nome de Ari Daher para concorrer à Prefeitura. Ele acabou aceitando o convite de disputar o primeiro pleito da história de Sinop.
Quatro candidatos concorreram ao posto de prefeito, sendo eles Ari Daher e Vasco de Medeiros pelo PMDB, e Geraldino Dal Maso e Sebastião de Matos pelo PDS. Naquele novembro de 1982, dos 10.741 eleitores registrados em Sinop, 8.212 compareceram para votar nas velhas urnas de lona, escrevendo o nome do candidato nas cédulas de votação. O registro aponta 2.482 eleitores votantes no PMDB e 5.094 no PDS, sendo que Geraldino Dal Maso foi apontado como o candidato mais votado, assumindo o pleito no início do ano seguinte.
Apaixonado por Sinop e com imensa vontade de deixar ainda mais sua contribuição no desenvolvimento e crescimento da cidade, Ari se candidatou em outra oportunidade, mas por questões pessoais decidiu deixar a campanha.
Em 1983, Marília e Ari fecham um bazar que tinham aberto para abrir a primeira loja d’O Boticário em Sinop. Era uma vontade antiga de trazer a franquia que fazia sucesso em Curitiba para o interior do Mato Grosso. Mas no começo era inviável. A maioria dos moradores da cidade havia vindo do interior e sequer conheciam a marca. No começo da década de 80, a situação começava a mudar, com migrantes dos grandes centros urbanos que poderiam ser tornar clientes da loja de perfumes.
O estabelecimento é aberto em uma das salas comerciais da família, na Avenida dos Mognos, que mudou de nome no ano seguinte, em 1984, passando a se chamar Avenida Júlio Campos e permanece na via central da cidade até hoje. A loja vai crescendo e ganhando clientela. Quando doutor Alberto Sytriski morre, o casal decide fechar o hospital, e com isso passa a ter n’O Boticário sua principal atividade. Em 2024, a família conta com 6 lojas da franquia, sendo que a filha Priscila é quem gerencia a rede.
Resgatando a CDL
A CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas), de Sinop foi fundada oficialmente em 22 de junho de 1983, tendo como primeiro presidente Jamel Auada. Na época, não era uma “Câmara”, mas um Clube de Diretores Lojistas. Era essa a denominação.
Jamel tinha 22 anos de idade quando foi eleito. Ele conduziu a entidade até o final de 1985, quando encerrou seu mandato e não promoveu novas eleições. O “clube” simplesmente parou. A entidade, que atualmente figura entre as mais decisivas e penetrantes da sociedade civil organizada de Sinop, poderia ter morrido ali.
Mas Ari foi resgatar a CDL. No início de 1987, o corretor conversa com o gerente de uma loja chamada Casas Muni, que externa a dificuldade em vender no crediário pela falta de um registro de inadimplentes. Para acessar o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), era preciso acessar Cuiabá, o que nem sempre era fácil. O gerente comentou com Ari que o ideal era Sinop ter uma CDL ou uma Associação Comercial.
Ele foi atrás e descobriu que já existia uma CDL criada em Sinop. Era o tal “Clube” de Lojistas. Ari mobiliza alguns empresários, que se reúnem no Restaurante Colonial (prédio histórico de Sinop, que em 2013 foi demolido). No encontro, discutem sobre promover o resgate da documentação da CDL Sinop e reestabelecer a entidade. Um dos presentes diz que talvez os documentos estejam com Luiz Otávio Borges de Souza, o proprietário da Drogaria Econômica, que foi o primeiro secretário da CDL. Ari vai até a casa de Luiz e explica seu objetivo. O dono da farmácia vai até os fundos do quintal e encontra alguns sacos plásticos. Dentro de um deles estava um livro de capa preta. Era o livro ata da CDL Sinop, reconhecido em Cartório.
Com a pedra fundamental para reconstruir a entidade, Ari convoca uma reunião, onde institui uma comissão provisória e apresenta uma chapa única para dirigir a Câmara. No dia 22 de abril de 1987, Ari é eleito presidente da CDL por aclamação. “Ninguém acreditava na CDL. Precisei visitar comércio por comércio para buscar associados. Uma das primeiras que lembro foi a Mecânica Central. O dono disse quem cuidava dessa parte era sua esposa. Conversei com ela, expliquei que eu era o presidente e com isso ela assinou a ficha na hora. Pedi para que ela conversar com outros empresários, indicando a filiação. Conseguimos uma gama razoável de associados, e então fundamos a CDL, não como clube, mas como Câmara”, conta Ari.
Mas até aquele momento a CDL cabia dentro de uma pasta pequena. Não tinha sede, nem móveis, nem papel. Ari empresta uma das suas salas comerciais para abrigar a entidade e contrata uma secretária, a primeira funcionária da CDL. É sob a gestão de Ari que a Câmara começa a oferecer o serviço de consulta ao SPC para as empresas locais. O novo presidente vai até Cuiabá onde compra uma fotocopiadora. A máquina é colocada na porta da CDL, na passagem de pedestres. Qualquer pessoa que precisasse fazer uma cópia, poderia pagar pela impressão.
O preço do “xerox” da CDL era mais barato que de uma empresa especializada em fotocópia na época. A empresa era de Valmor Comelli, que não gostou muito da novidade. Em dado dia, a máquina quebrou. O técnico contratado informou que o conserto ficaria em 200 mil Cruzeiros. Ari tinha pago 120 mil Cruzeiros pelo equipamento. A copiadora ficou parada.
Até que, em um fim de tarde, Valmor passou pelo escritório da CDL e puxou assunto com Ari. Ele perguntou da máquina e o presidente disse que deu problema e não tinha dinheiro para consertar. Valmor fez uma proposta de compra. Ofereceu 700 mil Cruzeiros pela enguiçada. Ari nem piscou, só pediu o cheque, sem ao menos consultar a diretoria sobre sua decisão.
No dia seguinte, o presidente convoca os demais membros da CDL e pede para procurarem um terreno na cidade, que a entidade iria comprar. “Me perguntaram se eu tinha tomado Steinhäger com cachaça, porque afinal de contas a CDL não tinha dinheiro em caixa. Então eu mostrei o cheque. Ficaram abismados”, lembra Ari.
A diretoria acabou indicando um terreno na Rua das Amendoeiras. O cheque bancou dois lotes documentados em nome da CDL. Era o primeiro patrimônio de fato da entidade. Ari entregou a presidência em 1989, mas se manteve participativo. Em 1991, retornou à presidência. No seu segundo mandato procurou o engenheiro Hernani Pedroti, da Construtora Impacto, pedindo um projeto para a sede da CDL. O prédio deveria contar com a parte administrativa no térreo e em cima um auditório com capacidade para pelo menos 200 pessoas. Hernani fez o projeto, mas não quis cobrar por ele. Foi uma doação para CDL. O projeto foi protocolado na Prefeitura, que emitiu o alvará de construção. Quando estava tudo formalizado, Ari convoca a diretoria e lança seu novo desafio. “Nós vamos construir essa sede”, afirmou.
Todos questionaram a sanidade do presidente. Afinal, o caixa da CDL perdia feio para uma rifa de paróquia. Ari segue na sua provocação, doando uma quantidade de tijolos. E com isso desencadeou uma reação. Outros membros doaram pedra, areia, ferro. A obra começou, e para bancar os acabamentos a entidade promove bingos, sorteios, jantares, almoços e bailes. A gestão de Ari termina em 1993, mas a obra continua. Em 1996, a sede da CDL Sinop é oficialmente inaugurada, no mesmo local onde está até hoje.
Ari volta a ser presidente da CDL em 2001, entregando o cargo em 2003, quando houve uma reviravolta no grupo que conduzia a entidade. Sua iniciativa foi fundamental para resgatar e estruturar a Câmara que ao longo dos anos 2000 se torna um dos principais núcleos da sociedade civil organizada.
O corretor apostou no futuro
Demorou, mas Ari conseguiu capitalizar o fruto da sua arrojada manobra de vender tudo em Curitiba para apostar em Sinop. Hoje ele é proprietário de importantes imóveis na cidade que alcançaram valorizações impensáveis na década de 70.
Além de imóveis comerciais na principal avenida da cidade, o corretor acumulou áreas de terras, que no passado eram distantes do centro urbano, mas que com o crescimento de Sinop se tornaram produtos em potencial.
A primeira amostra veio em 1998. Em uma área de 215 mil metros quadrados, uma tira de terra de frente para a Avenida Vitória Régia, Ari abriu seu primeiro loteamento residencial. O Jardim dos Ipês foi um dos primeiros bairros populares de Sinop fora do traçado original da cidade, esquadrinhado e vendido pela Colonizadora Sinop.
No ano de 2023, Ari firmou uma parceria com uma loteadora para transformar em bairro uma propriedade da família. O empreendimento foi batizado como Jardim Doutor Alberto Sytriski, em homenagem ao sogro. A terra convertida em loteamento é uma antiga chacrinha do médico.
Em 2024, Ari aproveita a valorização do mercado imobiliário local para fazer vários negócios. “Mas não tenho pressa”, afirmou. O próximo empreendimento será um loteamento às margens da BR-163. Em 2025, ele pretende lançar um condomínio fechado, em parceria com Rafael Bussolaro. Seus planos são para apresentar mais 3 loteamentos até 2026. “Quero ajudar no crescimento da cidade. Vir para Sinop foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida. Nunca me arrependi. Me considero muito mais sinopense do que curitibano. Nunca pensei em deixar a cidade. Muita gente ganhou dinheiro na época da madeira, comprava as coisas lá fora. Mas aqui sempre valorizou mais que lá. Eu sempre apliquei em Sinop. O único imóvel que tenho fora daqui é um apartamento que era do meu pai, que meus irmãos não queriam. Quem usufrui hoje é minha neta, que foi fazer faculdade em Curitiba”, comenta Ari.
Mas essa não foi uma compra que o corretor fez sozinho. “Minha esposa veio consciente para Sinop. Ela me deu muita força, muito apoio. Aliás, tudo o que nós construímos aqui foi com apoio dela. Marília nunca foi contra, sempre me apoiou em tudo. Uma pessoa valorosa, lutadora. Posso dizer o mesmo da minha filha, que vai dar sequência nesse legado”, finaliza Ari.
1975
Ronaldo de Abreu Gonzalez

O VISIONÁRIO POR TRÁS DO DESENVOLVIMENTO DE SINOP
Inspirado pelos exemplos de seu pai e irmão, Ronaldo de Abreu Gonzalez embarcou em uma jornada extraordinária. Desde cedo, ele transformou cálculos em sonhos concretos, enfrentando grandes desafios que moldaram o futuro de Sinop. Com mais de 40 anos de dedicação, Ronaldo não é apenas um engenheiro; ele é um personagem cuja visão e coragem ajudaram a erguer uma cidade. Descubra a história notável de um homem cuja vida e legado são indissociáveis do progresso de Sinop
A história de migração dos Gonzalez começa muito antes do nascimento de Ronaldo. Seus avós paternos Francisco e Lucinda Gonzalez, e os maternos Alberto e Idalina de Abreu vieram da Europa para construir sua vida no Brasil, cidade do Rio de Janeiro, no início do século XX e transformar a realidade dos locais em que residiram. Se tornou uma tradição familiar que os Gonzalez melhorassem a realidade dos locais em que residiram.
Os avós paternos de funcionários de fábrica, tornaram-se proprietários da maior indústria de calçados do Rio de Janeiro, que exportava seus produtos. Já seus avós maternos, Senhores do Café em Miracema/RJ, faziam a economia girar na pequena cidade, abriram estradas para usarem seus automóveis que até hoje usadas pela população local.
Filho de Manoel e Darcy de Abreu Gonzalez, foram casados por mais de 60 anos e tiveram quatro filhos: Sandra, Haroldo, Rosane e Ronaldo, o caçula. A vida no Rio de Janeiro foi trocada em 1968, por Cianorte/PR, local em que Sr. Gonzalez implantou uma cerealista. Naquela região do país havia uma massiva divulgação pelo rádio, jornais e tv do projeto Governo Federal para ocupação da região amazônica cujo lema era “Integrar para não entregar”, e é aí começa a ligação de Ronaldo com Sinop, no ano de 1974.
A fim conferir se a divulgação era mesmo uma oportunidade, Sr. Gonzalez organizou uma expedição com um grupo de amigos. Embarcaram em uma Kombi e percorreram os quase 2 mil quilômetros entre Cianorte e Sinop. Foi uma aventura sem precedentes, vez que a cidade consistia apenas numa clareira aberta na mata. Foram dias e dias de viagem por estradas em péssimas condições. No caminho, além de driblar os desafios da aventura, enfrentavam o assédio de corretores que queriam vender terras nas cidades onde o grupo parava para comer ou para pernoitar. Ao chegar aqui, de cara o Sr. Gonzalez reconheceu no lugar uma terra de oportunidades e adquiriu 50 alqueires de terra na futura “Capital do Nortão”. Sr. Gonzalez deixou suas terras garantidas em Sinop e decidiu explorar mais oportunidades no Centro Oeste. Assim, mudou-se para Dourados/MS. Essa experiência foi marcante na vida do engenheiro Ronaldo, pois foi ali que descobriu sua vocação: a engenharia civil e grandes obras de infraestrutura.
Sr. Gonzalez, com sua mente visionária identifica que os computadores seriam o futuro, por isso, investiu recursos na aprendizagem de programação de computadores. Na década de 70, a computação era algo distante da realidade. Após compor as primeiras turmas de analistas de sistemas do país, o patriarca desenvolveu programas que proporcionaram um salto na qualidade dos serviços das empresas contratantes, que aumentaram seu faturamento. Logo ganhou fama. Prestou serviços numa construtora especialista em pavimentação asfáltica, experiência que o levou a prestar serviços para várias prefeituras de Mato Grosso do Sul. Em Maracaju/MS, organizou o cadastro imobiliário das propriedades rurais e urbanas do Município. “Naquele tempo não existia fotografia aérea, imagens de satélite. Era só na topografia”, observa Ronaldo. Estimulado pelo pai, ele começou a se interessar por aprender a profissão de topógrafo. Fez um curso por correspondência do Instituto Universal Brasileiro, e passou a trabalhar como auxiliar do topógrafo contratado pela empresa do pai. “E aí eu comecei a trabalhar, fazer o levantamento das estradas, das ruas, dos lotes, entrei de cabeça no universo de empreendimentos grandiosos”, conta Ronaldo.
Logo os proprietários de áreas próximas à cidade decidiram criar loteamentos, fazendo surgir várias ofertas de trabalho na área imobiliária. “Eu me lembro que no primeiro loteamento que fiz, 70% do valor cobrado foi para o topógrafo que trabalhava na empresa do meu pai e que apenas conferia o trabalho feito por mim”, lembra Ronaldo. A qualidade do serviço do jovem filho, fez com que Sr. Gonzalez o promovesse a responsável pela de marcação dos loteamentos. “Então, meu pai comprou um aparelho de topografia novinho para mim e eu marquei na cidade de Maracaju os loteamentos vários dos primeiros empreendimentos”, contabiliza. O irmão Haroldo era o responsável pelos projetos.
Com a alta demanda e complexidade de seus negócios, Sr. Gonzalez passou a ter problemas de saúde. Orientado por um médico a levar um ritmo de vida mais tranquilo, decidiu então que era hora de pôr em prática o plano que tinha em mente. Assim, em 1975, com seu espírito visionário, embarcou a família em uma Brasília amarela e seguiu para o Nortão de Mato Grosso, encarando a BR-163, que não era pavimentada e só podia ser percorrida em longas horas de viagem, com direito a acampamento às margens do Rio Arinos para passarem a noite. “Escutamos até esturro de onças”, lembra Ronaldo. Em Sinop, a família foi recebida de maneira carinhosa e atenciosa, mas como a cidade não contava com casas prontas os primeiros dias na cidade foram no acampamento, numa clareira onde atualmente está a Casa Aurora, local de chegada dos novos moradores de Sinop.
Num dia saíram para pescar, pois sua mãe, dona Darcy, estava deslumbrada com a natureza selvagem e exuberante do lugar, ao retornarem para a clareira, o acampamento havia sido destruído por uma tempestade. Era período de chuvas. “Foi quando juntamos as coisas e fomos lá para a beira do Rio Preto, aguardar a construção da casa ficar pronta”, conta Ronaldo. Sinop, à época, se resumia ao escritório da colonizadora responsável pela implantação da cidade, algumas poucas casas e um pedaço daquela que é hoje a Avenida Júlio Campos. “Não dava para acreditar que 50 anos depois, Sinop se transformaria no que é hoje”, comenta o engenheiro civil.
Ronaldo lembra que, logo depois que chegaram, começaram a fazer amizade com a vizinhança. “Naquele tempo, você não era amigo das pessoas porque você era bom. Era por uma simples questão de sobrevivência, porque se você não fosse bacana, ninguém te ajudava”, destaca o engenheiro. “A gente dependia demais um do outro e havia uma camaradagem intensa”, ressalta. “Existia um elo muito profundo entre as pessoas”, reitera. Ele destaca ainda que a amizade entre os primeiros moradores foi fundamental para o crescimento da cidade. Ele ainda reforça que “o senso de compromisso de uns com os outros norteou a fundação de Sinop e seu pleno desenvolvimento. É um privilégio ter vivido isso”.
O patriarca estava convicto de que Sinop seria realmente o destino dos Gonzalez. Estabeleceram seu endereço na propriedade da Estrada Rosa, inicialmente numa pequena casa de pau a pique, com cobertura de sapê. Sr. Gonzalez deu início à criação de gado e investiu na aquisição de um trator CBT, que foi a salvação para muitos desbravadores que sofriam com os atoleiros da estrada. A casa da família, que ficou conhecida como Sítio do Seu Gonzalez, por vezes foi o refúgio para muitos motoristas que chegavam a aguardar por vários dias até que as condições da estrada melhorassem, além de ser também um ponto de encontro entre famílias e pessoas da cidade.
A jornada inspiradora do engenheiro
Ronaldo, com o sonho de se tornar engenheiro civil, mudou-se para Campo Grande para servir ao exército enquanto se preparava para o vestibular de engenharia. Sem recursos para o transporte, ele caminhava parte do trajeto entre o quartel e o cursinho. Após as aulas, retornava ao quartel por volta das 23h30, estudava até às 2h e acordava às 6h para enfrentar a rotina de estudos e treinos físicos. Antes de concluir sua formação no Exército, foi aprovado no vestibular da UFMT em Cuiabá, iniciando oficialmente sua jornada na engenharia, e encerrando a trajetória no Exército Brasileiro saindo como Tenente. Para complementar a renda do estágio em um escritório de engenharia, tornou-se atleta de natação da universidade, recebendo um valor simbólico. “E todas as vezes que eu podia, vinha para Sinop”, completa.
Influência e experiência de Haroldo
Seu irmão Haroldo, já engenheiro civil, trabalhou na construção da usina de álcool Sinop Agroquímica, um empreendimento industrial inovador que produzia álcool de mandioca com tecnologia de ponta. Durante as férias universitárias, Ronaldo estagiou nesse empreendimento, ganhando valiosa experiência prática. Além disso, durante a faculdade, Ronaldo atuou como assistente de um professor em um projeto de pesquisa com madeira, realizando ensaios e testes com várias espécies para verificar sua viabilidade na construção civil. Ronaldo não apenas superou desafios financeiros e físicos, mas também aproveitou cada oportunidade para enriquecer seu conhecimento e experiência na engenharia civil, demonstrando uma determinação e resiliência que o destacam como um exemplo inspirador para futuros engenheiros.
Em 1983, Ronaldo se formou e, junto com seu irmão Haroldo e seu pai, mudou-se para Sinop, onde fundaram a Construtora Gonzalez na Avenida Júlio Campos. Motivados a contribuir para a cidade, Ronaldo e Haroldo começaram a lecionar matemática na Escola Nilza de Oliveira Pipino, enquanto seu pai promoveu o primeiro curso de informática da cidade. Este curso foi pioneiro, ensinando muitos a usar computadores e a programar. Ronaldo relembra com orgulho essa fase, destacando o impacto positivo que ele e seu irmão tiveram na educação matemática de muitos que se tornaram figuras importantes na cidade.
Sinop: a transformação de uma cidade ameaçada pela água
Nos anos 1980, Sinop enfrentava um sério desafio em seu crescimento: o elevado lençol freático. Durante a época das chuvas, a água ultrapassava a altura do solo, fazendo com que poços transbordassem e inundassem quintais. As casas eram construídas mais altas para permitir que a água corresse por baixo dos pisos, mas isso gerava dois graves problemas: a contaminação, pois a mistura de água dos poços com o conteúdo das fossas negras era inevitável, e o solo encharcado, que não permitia construções de alvenaria, resultando em rachaduras. Além disso, as ruas do centro, mesmo revestidas por cascalho, afundavam devido ao solo mole.
A cidade necessitava urgentemente de soluções para garantir a saúde dos moradores, melhorar os deslocamentos na região central e viabilizar construções de alvenaria. A situação parecia insolúvel e era comentada na Universidade Federal de Mato Grosso que Sinop estava fadada ao fracasso devido ao solo encharcado.
Um fato dramático, sob o prisma da saúde, reside no elevado número de mortes infantis. “Esse é um fato triste, que me emociona até hoje, muitos bebês morriam precocemente aqui”, lembra Ronaldo. As marcas dessa fase podem ser vistas no cemitério municipal, na entrada, ao lado direito, onde há uma grande quantidade de pequenas covas. A contaminação da água por coliformes fecais e outras impurezas levava muitas pessoas a serem hospitalizadas, e inúmeros bebês não resistiram. Nessa época, já tínhamos os primeiros sinopenses nascendo aqui, e a cidade não poderia crescer sem que cuidássemos da água. Eu sabia que meus filhos seriam nascidos nessa terra.
Um episódio emblemático que revela a gravidade da impossibilidade de edificações mais sólidas ocorreu em 1981. Durante a fase de obras da piscina do Sinop Futebol Clube, uma forte chuva fez com que a piscina, ainda sem água, se destacasse do chão e boiasse. Esse incidente ilustra o impacto das chuvas na cidade. Ronaldo complementa: “Dizem que as casas iniciais eram de madeira só porque a matéria-prima era abundante, mas não é só isso. Eram de madeira porque as edificações de alvenaria apresentavam rachaduras”.
O desafio de encontrar uma solução eficiente para a drenagem do solo foi assumido pelo prefeito Geraldino Dal Maso, que convocou os cinco engenheiros da cidade, incluindo Ronaldo e Haroldo. Os trabalhos iniciais não evoluíam satisfatoriamente, levando os engenheiros a recorrer ao Sr. Gonzalez, pai de Ronaldo e Haroldo, para desenvolver um programa de computação que pudesse auxiliá-los a calcular, de forma exata e precisa, a saída da água retida pelo solo, já que não havia inclinação que ajudasse no escoamento da água. “Em cima da programação que meu pai fez, nós calculamos o primeiro asfalto de Sinop. O projeto de drenagem foi feito por nós”, destaca Ronaldo. A execução da obra e a confirmação de seu sucesso foram comemoradas pela população, marcando um ponto de virada na história de Sinop.
A solução encontrada residiu na criação de um berço drenante de cascalho implantado sob a tubulação de concreto, que viabilizou o rebaixamento do lençol freático, solucionando assim, num único ato: saúde pública, mobilidade urbana e estabilidade nas edificações em alvenaria. A técnica desenvolvida pelo engenheiro Ronaldo foi replicada em toda área da cidade, à medida que Sinop expandia. A transformação de Sinop, de uma cidade ameaçada pela água para uma comunidade próspera, é um testemunho da sagacidade e da determinação de seus habitantes. A contribuição de Ronaldo, Haroldo e Sr. Gonzalez foi crucial para superar os desafios iniciais e alavancar o futuro promissor da cidade.
A transformação continua em Sinop
Praça Plínio Callegaro: Um Marco de Convivência
A Praça Plínio Callegaro, projetada por Ronaldo, é um divisor de águas na forma como os sinopenses se relacionam. Este espaço se tornou um ponto de encontro para famílias, crianças e eventos culturais, artísticos e políticos. Além disso, a praça abrigou um restaurante elegante, tornando-se um local de convívio e lazer. A marca de Ronaldo também está presente na entrada da cidade, no piso da Praça das Bandeiras, que permanece até hoje.
Parque Florestal: soluções ambientais e de lazer
Na década de 90, a preocupação com a questão ambiental e o lazer da população levou à criação do Parque Florestal. Ronaldo projetou e executou essa obra, que trouxe diversas soluções para a cidade. O parque não só preserva a nascente do Córrego Iva, mas também oferece trilhas, mesas para piqueniques, quadras de areia, campo de futebol e uma pista de bicicross. Este último se tornou um orgulho para Sinop, especialmente com a fama mundial do atleta Joaninha. O parque também serve como uma fonte preventiva de abastecimento de água e possui uma comporta para evitar desastres ambientais.
O estádio Gigante do Norte
Outro marco importante na história de Sinop é o estádio Gigante do Norte, projetado por Ronaldo. Este espaço amplo se tornou um local para eventos grandiosos e é famoso por ter sido palco de jogos de Rogério Ceni. “O sinopense tem em seu DNA o amor pelo esporte, e o futebol precisava de um lugar para existir”, afirma Ronaldo.
Infraestrutura e mobilidade
A bicicleta sempre fez parte da história de Sinop, e com o aumento do tráfego, Ronaldo projetou a primeira ciclovia da cidade na Rua das Primaveras. Sua participação em grandes projetos da cidade levou à criação de uma base personalizada para placas de inauguração, o “S de concreto”, que se tornou uma marca registrada em todo o Nortão.
Contribuições diversificadas
Ronaldo também foi responsável por várias creches, escolas, postos de saúde, indústrias, silos, casas, represas e micro usinas hidrelétricas. Sua atuação é tão robusta que ele contabiliza mais de 2,5 mil projetos e serviços, registrados no CREA, tanto no setor público quanto no privado, abrangendo toda a região Norte.
Projetos recentes
Ronaldo continua atuando no setor de infraestrutura, até os dias de hoje. Uma das mais recentes obras foi o desenvolvimento do projeto e acompanhamento da execução das pavimentações da Estrada Adalgiza, já concluída. “Agora, eu fiz um outro projeto, que o do prolongamento desta via até a rodovia MT-140”, explica.
Sobre as grandes obras da cidade, engenheiro considera que “uma obra engenharia deve trazer em si o máximo de soluções possíveis para a população, seu legado consiste não só na alteração da paisagem, mas uma medida saneadora de problemas de todas as ordens, esse é o verdadeiro sentido da engenharia”.
Entidade de classe
Com sua atuação como engenheiro e como um dos pioneiros da área em Sinop, Ronaldo foi o fundador da Associação dos Engenheiros do Norte de Mato Grosso (Aenor-MT), logo nos seus primeiros anos em Sinop. Por iniciativa da entidade, foi criada uma sede da inspetoria do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso (CREA-MT). “Às vezes, quem não é da área pode pensar que é ruim ter um órgão fiscalizador na cidade. Mas na verdade, Sinop é uma cidade organizada porque ela sempre foi fiscalizada pela Prefeitura e pelo CREA”, destaca o engenheiro. “A cidade foi sendo ocupada de uma forma organizada porque tinha fiscalização”, acrescenta.
A contribuição da família para a cidade foi reconhecida por meio da homenagem prestada ao meu irmão, falecido em 2007. A sede do CREA Sinop, leva o nome de Haroldo de Abreu Gonzalez.
Vida Pessoal
Cônjuge: Regina, uma pioneira na educação e cultura de Sinop
Foi em 1985 que Ronaldo conheceu sua futura esposa, Regina Célia Lopes, uma paranaense nascida em Uraí (PR), filha de Dário Lopes Gonçales e Maria Aparecida Gonçales. "A primeira vez que a vi, ela estava na prefeitura", relembra Ronaldo. Coincidentemente, Regina assumiu um cargo na mesma escola onde Ronaldo era professor. O namoro começou e, em outubro de 1985, eles se casaram na Igreja Santo Antônio.
Regina, após concluir o curso de Pedagogia, decidiu realizar seu sonho de lecionar e mudou-se para Sinop. Acompanhada de seus pais, dirigiu-se à Prefeitura Municipal para garantir uma vaga como professora graduada, uma raridade na época. Foi lotada na Escola Nilza de Oliveira Pepino, onde iniciou sua carreira em fevereiro de 1985.
Transformação cultural e comercial
Na década de 90, Sinop ainda era uma cidade em desenvolvimento, com celebrações simples e decorações rudimentares. Regina, percebendo a necessidade de mudança, fundou a Floricultura Vivenda das Flores em 1991. Inicialmente, a floricultura comercializava apenas flores artificiais, mas logo expandiu para flores naturais. Numa época em que a cultura de presentear com flores era inexistente, a Vivenda das Flores introduziu arranjos, buquês, cestas decoradas e chocolates da refinada marca Kopenhagen, revolucionando a forma como os sinopenses celebravam datas especiais como Dia das Mulheres, Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais e Natal.
Com coragem e determinação, Regina, junto com a tia Cleuza Navarini da Rádio Meridional, conscientizou a população sobre a importância de presentear com flores. A floricultura cresceu e passou a oferecer um acervo de louças, mesas e toalhas para festas, tornando-se parte essencial das celebrações da cidade, incluindo recepções de Presidentes, Governadores, casamentos e Dia dos Namorados. A Vivenda das Flores permaneceu no mercado por mais de uma década, sendo reconhecida com prêmios de Mérito Lojista por anos consecutivos.
Contribuições na educação
Regina também teve um papel significativo na educação de Sinop. Foi Presidente da Creche São Francisco de Assis por dois anos, coordenando diversas promoções para angariar fundos para a manutenção da creche. Em setembro de 2003, ela enfrentou um novo desafio: implantar a cultura do ensino superior em Sinop. Como secretária acadêmica da UNICEN, a primeira faculdade de Direito do Nortão, Regina organizou o primeiro vestibular e contribuiu para o crescimento da instituição, trabalhando nos processos de autorização e reconhecimento dos cursos de Engenharia de Produção, Arquitetura, Farmácia, Biomedicina, entre outros.
A educação continua sendo o foco de Regina, que, ao longo dos anos, deixou um legado de transformação e inovação tanto na área educacional quanto na cultural e comercial de Sinop. Sua trajetória é um exemplo de como a visão e a determinação podem mudar a realidade de uma comunidade.
Atualmente é Diretora Geral da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), onde possuem 280 alunos especiais e 60 colaboradores.
Os filhos
A primeira filha do casal, Fabiana, nasceu em 1986; em 1987 veio a segunda, Juliana; e em 1989, Rafael. Segundo Ronaldo, “Se somente a vida profissional tivesse deixado um legado, eu não me sentiria feliz. Ver meus filhos encaminhados é uma grande fonte de orgulho”
Fabiana, a advogada, é especializada em direito imobiliário com ênfase em empreendimentos imobiliários. Sua atuação vigorosa a tornou referência no país nas áreas de loteamento e incorporação imobiliária. “A Fabiana não para. Dá um orgulho enorme ver minha filha, indo tão longe” desabafa, Ronaldo. Até nos EUA ela foi levando o nome de Sinop na Missão Internacional da Unesin, representando a OAB, única sinopense, nascida e criada aqui era ela. Fabiana tem clientes, dá cursos e palestras por todo o Brasil orgulhando a cidade de Sinop, é Diretora do Jurídico da Expand Empreendimentos, PR3 Incorporações e Miti Urbanizadora. Ela também é membro consultora do Conselho Federal da OAB na Comissão de Direito Notarial e Registral. Casou-se com o engenheiro civil, Pietro Ranieri, proprietário de uma loteadora, em Campo Grande (MS), com quase trinta anos de mercado, e filial no Ceará, juntos eles têm 2 filhos: Mateus e Daniel.
Juliana, a filha do meio, jornalista, especialista em marketing digital. “Que exemplo de determinação! É daquelas que se dedica de coração em todos os desafios que ela se propõe, tanto é que decidiu estudar fora e foi sozinha”, relembra o pai.
Aos 19 anos saiu de casa em busca dos seus sonhos. Foi morar no Rio de Janeiro para estudar Comunicação Social. Além disso, atuou em projetos na sua área dentro do Projac, Rede Globo. Posteriormente, trabalhou em duas multinacionais, VALE e PETROBRÁS. Hoje trabalha na coordenação de marketing da Unimed Norte do Mato Grosso. Casada com Carlos Alberto Campelo Filho, formado em Relação Internacionais (Comércio Exterior) e, Administração, área em que atua, é especialista em Gestão de Pessoas, já trabalhou em várias multinacionais como CSN e Sadia/Perdigão, têm os filhos sinopenses, João Vicente e Joaquim.
O caçula Rafael, é formado em Engenharia Civil, especialista em engenharia de segurança do trabalho e prevenção a combate a incêndio. É casado com a arquiteta Dayellen, com quem tem 3 filhos: Maria Clara, Rafaela e Gabriel. Seguindo os passos do pai, Rafael atuou em obras emblemáticas do município, como o primeiro Shopping Center, Edifícios como o Gran Hall, no projeto de prevenção e combate a incêndio da sede da OAB, sede da Unesin, Parque Sinop da PZ Empreendimentos, projetos estrutural, arquitetônico, do Corpo de Bombeiros e sua piscina de treinamento, na Avenida das Figueiras; Clínica Embaúbas; Centro de Especialidades Médicas, CEM, da Prefeitura Municipal de Sinop; Projeto de Prevenção e Combate a Incêndio da Coanorte (Cooperativa Agroindustrial do Norte do Mato Grosso), entre outros.
O legado do engenheiro é facilmente encontrado. Basta andar um pouco em Sinop, e em diversas obras estará a assinatura do engenheiro. O que Ronaldo trouxe para a cidade foi mais do que um título, ele trouxe o espírito construtor do povo, que edifica e cresce junto.
1975
Família Testa

FORMADOS PELA ESCOLA DA VIDA
Sem estudo, nascidos em lar humilde, Terci e Laurina Testa ministraram com sua vida várias lições de economia, de visão, perseverança, ética e moral, deixando um legado que não apenas ajudou a construir a história de Sinop, mas também garante que a construção continue acontecendo
A vida desse casal batalhador começa no Oeste de Santa Catarina, mas seus caminhos só se cruzariam no Paraná. Laurina nasceu no dia 29 de julho de 1948, em Seara. Terci nasceu um ano antes, em 19 de julho de 1947, na cidade vizinha, Concórdia. Ambos filhos de colonos, com famílias numerosas.
Laurina teve 12 irmãos e Terci 9 irmãos. Ele foi o mais velho e desde cedo trabalhou para tentar vencer as dificuldades. Aos 4 anos, já tinha suas obrigações com a casa e com a roça. Cuidava dos irmãos e tratava as criações.
A família de Terci vivia uma situação de pobreza. Tinham poucas terras, recursos limitados e seu pai uma saúde debilitada. No dia 5 de novembro de 1961, o patriarca sofre um infarto que o leva a morte, deixando a esposa grávida de 5 meses e os filhos. Terci, o mais velho, tinha 14 anos nessa época. “O que tinha para comer em casa era batata-doce, mandioca e abóbora, três vezes por dia. Passamos fome nessa época. Quando chegou a hora da minha mãe dar à luz, eu montei no cavalo e fui buscar a parteira”, conta Terci.
Com o advento da morte do pai, um tio, Alcides Mazziero, falou que iria levar a mãe e os filhos para o Paraná, onde morava. Naquele mesmo ano, a mãe de Terci foi até Palotina para conhecer a situação e negociar uma terra, trocando a propriedade em Concórdia por uma no Paraná. Terci ficou por 15 dias cuidando sozinho dos irmãos.
Quando a mãe retornou, foi sua vez de ir na frente. Terci foi para Palotina com o tio, onde trabalhou roçando e derrubando mato. Só depois que o resto da família se mudou. Ele trabalhava do primeiro ao último raio de sol. Como nunca foi à escola – e como era apenas um jovem de uma família pobre, órfã de pai –, o que ele tinha a oferecer eram seus braços, pernas e a força de vontade. Começou em Palotina trabalhando como boia-fria nas fazendas maiores dos vizinhos. Nessa época, ganhava 2 Cruzeiros por dia – algo que nos dias de hoje valeria cerca de R$ 5,50. “O patrão falou que ia pagar uma semana fechada, começando na segunda e parando no sábado. Na hora de pagar, ele foi chamando um por um e me deixou por último. Ao invés de eu receber 12 Cruzeiros, como havia sido combinado, ele me pagou 15 Cruzeiros. Ele disse que fez isso porque eu era o primeiro a chegar e o último a sair”, lembra Terci.
Seus colegas de empreita, alguns da sua idade, outros mais velhos, pegavam o acerto da semana e iam para as festas da comunidade, tomar uma cerveja e dançar. Terci também, mas com outro propósito. Ele havia herdado uma velha gaita, que aprendeu tocar sozinho. Então, no sábado ou no domingo à noite, ia para os bailinhos trabalhar, tocando sua gaita. Com isso conseguia mais alguns trocados. Em um dia ruim, 3 Cruzeiros. Quando o baile ‘dava bom’, recebia 8 Cruzeiros.
Dessa forma, enquanto os outros boias-frias gastavam seus 12 Cruzeiros por semana, Terci embolsava 20. Guardava cada moeda, convencido de que precisava ser disciplinado com o dinheiro se não quisesse mais passar fome. Quando estava com 16 para 17 anos, fez um acordo com os sitiantes vizinhos, uma espécie de arrendamento, onde ele derrubaria o mato e em troca plantaria por 5 anos, deixando a lavoura formada no final do contrato. Nessa época, chegou a plantar em 20 hectares de forma totalmente manual. Semeava milho e no meio dos corredores soja. Quando chegou a hora de colher, comprou uma trilhadeira – um maquinário anterior as colheitadeiras, que ajudava a debulhar e separar os grãos. O equipamento foi comprado “a meia” com um conhecido. Após um ano, Terci havia pago a máquina e logo depois comprou a metade do seu “sócio”. “Aí comecei a trabalhar dia e noite trilhando milho para outros sitiantes da região que não tinham o maquinário. Eu ia longe com a trilhadeira e voltava para casa com os bolsos cheios de dinheiro”, comenta Terci.
Em 1967, durante uma partida de futebol na comunidade, Terci conheceu Laurina. A família de Laurina havia se mudado de Seara para Palotina no ano de 1964, dois anos depois da família de Terci. Nessa época, ele estava com 20 anos e ela com 19. Os dois voltaram para casa caminhando e conversando. A conversa foi boa e ficou no ar a vontade de repetir. E assim, Terci começou a visitar a casa de Laurina, com a permissão dos pais. Eles namoraram por dois anos, e em 1969 se casaram. No ano seguinte, o casal passa a integrar a doutrina Adventista do 7º Dia. “A paixão pelos instrumentos continua, e passei a me dedicar à música evangélica. Cheguei a tocar 3 instrumentos: o acordeom nas mãos, a gaita de boca e no pé o teclado”, conta Terci.
Com o dinheiro que guardou abrindo mato, plantando e trilhando, Terci compra sua primeira terra em 1971. Eram 30 mil metros quadrados de área – ou, singelos 3 hectares. No ano seguinte, adquire mais duas chácaras de 29 hectares. Em 1973, ele vende as duas chácaras por 150 mil Cruzeiros, coloca o dinheiro em uma mala e viaja até o Rio de Janeiro com o propósito de comprar um caminhão FNM – o popular Fenemê. “Foi então que meu tio me desaconselhou a comprar o caminhão. Ele disse que eu era um pai de família, que meu pai já tinha morrido e que eu precisava ajudar a cuidar de todos. Ele achava que com um caminhão pegando a estrada para fazer frete, eu não ia cuidar da família”, explica Terci. Joel, o primeiro filho do casal, havia nascido em agosto de 1972 e estava com menos de um ano na época.
Com o dinheiro acabou comprando uma chácara de 20 hectares, melhor e mais bem localizada. Nesse processo de comprar uma nova área, em fevereiro de 1973, ele ouve falar pela primeira vez sobre a cidade de Sinop, que estava sendo aberta no Norte de Mato Grosso. Era o começo da abertura da Gleba Celeste. “O corretor me convidou para fazer uma visita e conhecer a cidade. Se eu comprasse uma terra, ele não me cobrava a viagem. Se não comprasse, aí eu pagaria”, conta Terci.
Em março de 1974, ele faz essa viagem. Nessa época, Laurina estava grávida de 7 meses, esperando por Joacir, que nasceria em maio daquele ano. Terci decide comprar terras em Sinop. Na negociação, ele passa seus 20 hectares no Paraná e em troca recebe 726 hectares em Mato Grosso, mais 600 milhões de Cruzeiros em dinheiro – número astronômico em razão da inflação galopante e das correções monetárias, que de 1966 até 1974 acrescentaram 6 zeros ao dinheiro, o que transformou em menos de uma década 1 Cruzeiro em 1 milhão de Cruzeiros. “Era um saco de dinheiro que eu trouxe para Sinop e deixei guardado no cofre da Colonizadora Sinop, porque não tinha onde deixar. Não tinha banco”, lembra Terci.
Em novembro de 1974, retorna a Sinop para construir a casa. Fez a viagem a bordo de uma camionete C-10. A residência foi construída com tábuas largas, mata-junta e coberta com folhas de eternit. No retorno, Terci troca a C-10 por um caminhão Chevrolet D-60, já com plataforma para transportar toras. E em janeiro de 1975, Terci, Laurina, e os dois filhos, Joel e Joacir, se mudam para Sinop. “Eu ficava pensando como que ia ser morar em Sinop. Eu gostava de Palotina. Foi onde eu cresci. Chegando aqui, a gente via que era uma cidade que estava começando, que faltava muita coisa. A Cobal, a Comercial Santa Catarina, o armazém do Osvaldo de Paula e do Gauchinho, ajudavam muito, vendendo comida e as coisas de casa. Mas fruta mesmo era algo muito difícil de achar”, conta Laurina. “Minha esposa nunca reclamou de nada. Não teve um dia só que ela se queixasse. Foi uma guerreira”, completou Terci.
Com o caminhão, Terci cortava e transportava madeira para a Madeireira Madenorte. Era a principal fonte de renda. Nas folgas, fazia mudanças com o caminhão. Foram 9 no total. O veículo acabou sendo vendido para Agostinho Flach.
No ano de 1976, uma crise de preços começou a atingir o setor madeireiro, o que compromete a principal fonte de renda da família. Terci começava a ver o fim dos 600 milhões de Cruzeiros – que de certa forma representavam o dinheiro suado que ele conseguiu acumular ao longo da sua vida. Um dia, em uma área da sua propriedade recém queimada para abertura, Terci se senta sobre um tronco, leva as mãos a cabeça e despenca a chorar. A cena das lágrimas pingando no solo coberto de cinzas e carvão ainda está viva na sua memória nos dias de hoje. Em seu pranto solitário, aquele homem de mãos calejadas que a vida tanto testou, se alquebra. E quando enfim se levanta, decide ir para cidade, vender a terra que lhe restou e voltar para o Paraná. “Eu fui até o Afonso Teschima, da Retífica Rei, oferecendo minhas terras em troca do diesel para voltar. Ele não quis comprar e não me deixou vender. Ele me disse para tentar mais uma vez e acabou me convencendo que o melhor era ficar em Sinop”, lembra Terci.
E, assim, Terci voltou para casa e foi fazer o que sempre fez: trabalhar. Tentou criar gado, mas quando os dois primeiros bezerros nasceram, a onça pegou. “Mais morria que nascia. Não ia funcionar”, conta. Foi então que um conhecido veio para caçar o felino que atormentava quem tentava fazer pecuária em Sinop. A medida deu uma trégua para o gado, mas não extinguiu o problema.
Em 1977, Terci forma uma lavoura e planta arroz e um pouco de soja – talvez uma das primeiras propriedades no Norte de Mato Grosso a testar a cultura. “A agricultura dessa época era assim: não tinha tecnologia, não tinha semente própria, não tinha adubo nem técnica. A gente ia na tentativa e erro. Colhi a primeira safra em 1978 com a trilhadeira. Lá no Paraná, antes de vir para Sinop, já tinha maquinário para colher”, conta Terci. Apesar da dificuldade, a lavoura proveu bem. A produção era comprada pela Comicel (Cooperativa Mista Celeste) e pela Cobal.
No final de 1977, em outubro, Terci e Laurina ouviram uma história que os desconcertou. Raimundo, um homem que trabalhava como “gato” (recrutando gente para derrubar mato), havia tido um filho, mas a sua esposa morreu 8 dias após o parto. O casal decidiu fazer uma visita para Raimundo e a criança (que estava com 21 dias de vida), pensando que poderiam encontrar uma forma de colaborar. “Ele era pretinho igual ao Pelé. Peguei ele no colo e então pedi para o Raimundo se ele não queria me dar o menino, que a gente criaria ele”, conta Terci. Raimundo aceitou e o bebê foi registrado como Jonas Testa. “Uma vez, quando o Jonas tinha uns 3 anos de idade, ele estava dentro de uma bacia com água se esfregando. Eu fui ver e perguntei o que ele estava fazendo. Ele disse: ‘mãe, você não me lava direito; olha aqui a cor; eu tô preto’. Aí eu expliquei para ele”, conta Laurina.
A lavoura se tornou o novo ganha pão dos Testa. Na segunda safra, em 1978, eles começam a mecanizar a produção e logo compram trator e colheitadeira. Terci vai adquirindo mais terras e crescendo. Em outubro de 1980, o casal tem mais um filho, Jandir Testa.
“Filho a gente cria para os outros”
A frase de Terci resume a sensação do casal em ver os filhos saindo de casa e seguindo seu caminho. Joel, o mais velho, começa a trabalhar como caminhoneiro, fazendo transportes e, mais tarde, migrando para a construção civil.
Joacir foi quem mais se distanciou. Em 1991, ele vai para São Paulo, capital, com o propósito de estudar. Seu objetivo era obter capacitação para atuar na área de processamento de dados. Retorna para Sinop em 1994, e no ano seguinte começa a trabalhar no Machado Supermercados, com a missão de atualizar a tecnologia computacional utilizada pela empresa. “Quando entrei no Machado em 1995, a empresa tinha um computador, daqueles de tela verde. Quando saí, todo o grupo estava interligado”, conta Joacir.
Jonas também deu seu passo. Ele começou com um comércio na cidade de Guarantã do Norte e depois foi até o Pará trabalhar com a extração e venda de madeiras. Com as seguidas operações ambientais, regressou a Sinop e hoje opera com uma plantação de frutas, em parte da fazenda que era de Terci, produzindo polpas.
No ano de 2003, aos 56 anos de idade, Terci vendeu os maquinários e alugou suas terras – 510 hectares no total. No dia 7 de agosto de 2007, o caçula Jandir junto com Terci fundam a J.Testa Prestadora de Serviços, com maquinários e caminhões.
Em 2010, Joacir se desliga do Grupo Machado para se dedicar exclusivamente à J.Testa, trabalhando com o pai e com o irmão. Eles começam a explorar uma jazida licenciada de cascalho da fazenda de Terci, incluindo o produto no catálogo da empresa.
No ano de 2012, a J.Testa expande, implantando o serviço de coleta de entulhos com caçambas móveis – popularmente chamado de Disk-Entulho. O negócio prospera e, com a cidade crescendo, a empresa percebe que seu serviço está na ponta de um grande problema: a quantidade de resíduos que o progresso gera. “A gente percebeu que aquele problema poderia ser uma oportunidade e que a melhor saída seria reverter a logística do lixo, transformando o entulho em matéria-prima”, explica Joacir.
Em 2014, Terci e Joacir começam a percorrer indústrias e fábricas em vários locais do país a fim de conhecer o processamento de resíduos. Com isso, modelaram um projeto para implantar em Sinop. Em 2015, a empresa protocola o primeiro pedido de licenciamento ambiental para implantação de uma usina de reciclagem no município. Só para se ter uma ideia, até novembro de 2016, todo lixo produzido em Sinop ia para um “lixão”, um aterro sem licenciamento ambiental. “Nossa ideia inicial era implantar a usina de reciclagem no lixão, para processar todo aquele material”, conta Joacir.
Mas as coisas foram se alterando. A licença só saiu no ano de 2019. Nesse meio tempo, Joacir virou vereador. Ele se elegeu em 2016, e em 2020 chegou a ser pré-candidato a prefeito de Sinop. O projeto da J.Testa, embora fosse privado, estava relacionado a um serviço público. A iniciativa nobre acabou viciada pelo conflito. Além disso, depois de 2016, o lixo de Sinop começou a “viajar” até um aterro sanitário licenciado, localizado na cidade de Sorriso.
Com Joacir fora do Poder Público, a empresa retomou no ano de 2021 um projeto a ser implantado em uma área própria, voltada para absorver os resíduos da construção civil. No ano seguinte, um forte vendaval atingiu a instalação, tombando maquinários e avariando os galpões. Para além da tragédia ambiental, um acidente com Joacir e a esposa fez Jandir pisar no freio com o projeto. Em outubro de 2022, Joacir e sua esposa sofreram um grave acidente de moto na Estrada da Guia, perto de Cuiabá, quando faziam uma viagem com um comboio de motociclistas. Joacir fraturou costelas e a clavícula, passando 18 dias na UTI.
Após se recuperar, o projeto foi retomado e a planta de reciclagem iniciou as atividades em 2024, com capacidade para absorver todo o entulho produzido em Sinop – algo na casa de 1,5 mil metros cúbicos de material por dia. Podas de árvore, galhos e madeira viram energia na caldeira que move a usina, mas também podem ser comercializados como biomassa. O mesmo vale para móveis descartados. Plásticos, papel e papelão são reciclados. O mesmo ocorre com metais. Concreto, tijolo, pedras e similares são triturados e viram base para aterro. Os líquidos, como tintas, solventes e graxos, também recebem tratamento. Antes da usina da J.Testa, todos esses resíduos eram despejados em uma área do município – isso quando o descarte não era feito de forma irregular em terrenos baldios ou em áreas de reserva. “Hoje, a J.Testa, com o trabalho que fazemos, está do começo ao fim de uma obra, de abrir o terreno até gerir o resíduo que sobra, garantindo que ele volte para a cadeia de produção como algo útil, seja energia ou material”, explica Joacir.
Terci e Laurina viram esse ciclo se fechar com os filhos construindo a partir da sua base. No ano que completam 55 anos de casados, eles comemoram a cidade que deixam para seus netos Rafaela, Lucas, Allef, Allan, Janiel, Emili e Jorane e para seu bisneto Théo Lorenzo.
1975
Visita do ministro da Agricultura Alysson Paolinelli

O PRIMEIRO PASSO NA AGRICULTURA
-
No ano de 1975, a convite de Enio Pipino, o ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli, esteve em Sinop para lançar um programa de utilização de calcário para correção da acidez da terra e inaugurar um armazém da Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL)
-
Aquele ato marcaria o início das atividades de agricultura no município, que anos mais tarde se tornaria ainda mais forte em um outro setor bastante conhecido: o de serviços