Linha do Tempo, Sinop 50 anos
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NAVEGAR ENTRE OS ANOS
1970
Colonizadora Sinop
1971
Projeto original da cidade
1972
Abertura da cidade
1973
Construção do escritório da Colonizadora Sinop
1974
Fundação de Sinop
1975
Visita do ministro da Agricultura Alysson Paulinelli
1976
Os primeiros contornos de Sinop
1977
Primeira escola e primeiras colheitas
1978
Comemorações do 4º ano de fundação de Sinop
1979
5ª ano de fundação e emancipação político-administrativa
1980
Visita do presidente João Batista Figueiredo a Sinop
1981
Osvaldo Paula - 1º Administrador Municipal de Sinop.
1982
Dom Henrique Froelich, 1º Bispo de Sinop
1983
Geraldino Dal Maso, 1º prefeito eleito de Sinop
1984
Segunda visita do presidente João Figueiredo
1985
Instalação da Comarca de Sinop
1986
12º aniversário de fundação de Sinop
1987
Construção do Ginásio Benedito Santiago
1988
Figueiredo homenageado e eleições municipais
1989
Asfalto na Avenida Júlio Campos
1990
Sinop FC é campeão mato-grossense de futebol!
1991
Praça Plínio Callegaro
1992
Primeiro prédio da UFMT em Sinop
1993
Antônio Contini assume como prefeito de Sinop
1994
Construção do Estádio Gigante do Norte
1995
Área da Catedral Sagrado Coração de Jesus
1996
Visita do presidente Fernando Henrique Cardoso
1997
Adenir Alves Barbosa é eleito prefeito pela segunda vez
1998
Instalação do Corpo de Bombeiros
1999
Construção do viaduto na entrada principal
2000
Miss Sinop, Miss Mato Grosso e Miss Brasil Josiane Kruliskoski
2001
Nilson Leitão é eleito prefeito
2002
Segunda visita oficial do presidente FHC
2003
XVII Noite Cultural de Sinop
2004
Museu Histórico de Sinop
2005
Nilson Leitão reeleito prefeito
2006
Campus da UFMT em fase de construção
2007
Inauguração Catedral Sagrado Coração de Jesus
2008
Centro de Eventos Dante de Oliveira
2009
Juarez Costa é eleito prefeito
2010
Memorial Rogério Ceni
2011
Raízes da História de Sinop
2012
Embrapa Agrossilvipastoril
2013
Juarez Costa reeleito prefeito
2014
Batalhão do Exército Brasileiro
2015
Reurbanização da Avenida dos Tarumãs
2016
Dom Canísio Klaus, 3º Bispo de Sinop
2017
Rosana Martinelli, primeira prefeita eleita
2018
Instalação da INPASA
2019
Usina Hidrelétrica Sinop
2020
Visita do presidente Jair Bolsonaro
2021
Roberto Dorner é eleito prefeito
2022
Marinha do Brasil
2023
Duplicação da Avenida Bruno Martini até o aeroporto
2024
Novo Terminal de Passageiros do Aeroporto de Sinop
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1978
Florides Berti - Tratormax
AS VOLTAS E REVIRAVOLTAS DE UM TORNO
“Seu Berti”. É assim que todos se reportam ao carismático senhor que transita pelos diferentes departamentos das lojas Tratormax. O tratamento esboça o respeito ao patriarca da família que fundou esse grupo. Mas também uma admiração por alguém que conseguiu construir muito começando com quase nada.
Florides Berti nasceu em março de 1941, em Novo Horizonte, interior de São Paulo. Ele era um entre 10 irmãos em uma família de agricultores, que tinha no cultivo do café a principal fonte de renda.
No começo da década de 1950, muitas famílias de colonos migraram para o Paraná em busca de terras mais férteis e amplas para o plantio de café. Os Berti venderam suas terras no interior paulista e migraram para Paranavaí, no Noroeste do estado. Começava aqui o instinto de por o “pé na estrada” para alcançar algo maior.
A infância de Florides foi no cabo da enxada. Ele frequentou a escola por apenas 2 anos e acabou deixando os estudos para ajudar na lavoura. O trabalho foi a sua educação, lição que o acompanha até hoje.
Por anos a vida de Florides foi acordar antes do raiar do dia e trabalhar de sol a sol, faça calor ou frio, tendo suas pernas e braços como seu motor para carpir, plantar e colher. O diesel só começa a fazer parte da sua jornada aos 24 anos, quando começa a trabalhar como caminhoneiro.
O ano era 1965, uma época de transformação no país, que acabava de ter seu governo tomado pelos Militares. Florides transportava a madeira beneficiada no Paraná para São Paulo. Foi nesse mesmo ano que em uma das suas folgas, em uma festa da comunidade, conheceu uma jovem do interior, que morava perto das terras do seu pai. Ela se chamava Dirce de Moura. Florides viu nela uma mescla de força e ternura, dona de um senso de humanidade e espiritualmente evoluída. Ele segurou na mão dessa mulher pela primeira vez e nunca mais largou.
Dirce perdeu o pai quando tinha 13 anos de idade. O vazio deixado pelo patriarca fez a jovem amadurecer de pressa. Dirce se dedicou a cuidar dos seus irmãos até que todos casassem e pudessem seguir seus caminhos. Só depois do último irmão sair de casa foi que ela se casou.
Isso aconteceu depois de 2 anos de namoro. Florides ainda passou mais um ano na casa dos pais após casar. Foi quando nasceu Marcos, o seu primeiro filho. Como caminhoneiro, Florides passava muito tempo longe de casa. Buscando uma condição de vida melhor, ele vendeu o caminhão e montou uma tornearia mecânica, na cidade de Alto Piquiri, há 190 km de Paranavaí. O negócio foi montado em parceria com o cunhado, que já trabalhava com isso e ensinou Florisvaldo o ofício, que o acompanharia por boa parte da sua vida. “Trabalhos juntos nessa tornearia por 6 anos. O negócio deu certo, cresceu e eu aprendi bem a mexer com o torno. Quando vi que já tinha condições de tocar separamos a sociedade e montei uma tornearia em Tupãssi”, conta seu Berti.
O torno novo ficava 85 km de distância da primeira empresa. Mais uma mudança para a família que agora já tinha mais dois membros: Cícero e Florides Junior, que nasceram em 1969 e 1971. A tornearia própria também prosperou, mas a pequena Tupãssi, hoje com pouco mais de 8 mil habitantes, não era exatamente um poço de oportunidades. “Eu queria dar aos meus filhos pelo menos um chão para pisarem, um teto sobre suas cabeças e a oportunidades deles fazerem uma faculdade”, lembra Berti.
No ano de 1978, o corretor Arlindo Roice percorria pelo interior do Paraná vendendo a terra prometida. Fazia apenas 4 anos que a cidade de Sinop, no Norte de Mato Grosso, havia sido fundada. Roice era um dos muitos “lançadores” da Colonizadora Sinop que buscavam moradores para formar essa jovem cidade. No mesmo ano, Berti veio conhecer a promessa no Mato Grosso. “Chegando na cidade, a BR-163 era puro fogo. As madeireiras só descascavam a tora e queimavam as cascas. Um pouco era serrado pra fazer as construções na cidade o resto ia bruta mesmo, para fora. Mas tinha muita madeira e muita gente serrando. Quando eu vi todas essas madeireiras, vi que havia uma oportunidade boa para que mexe com torno”, relembra Berti.
Então ele desmontou sua oficina no Paraná e trouxe para Mato Grosso, junto com a mudança da casa, esposa e filhos. Na época, Marcos tinha 10 anos, Cícero 9 anos e Junior 7. “Eu estava bem no Paraná, o torno pagava as contas e até tinha comprado uns terrenos na cidade. Mas eu sentia que em Sinop dava para crescer mais”, explica Berti. “Viemos em 5 dentro de um Fusca. Foram 3 dias de viagem só de Cuiabá até Sinop, dormindo nas paradas que tinha. Chegamos na cidade bem na véspera de Natal. Não tinha nada, tudo estava começando. Até um ano antes de a gente chegar, a Colonizadora dava um lote na avenida principal para quem fosse montar um negócio”, completa o filho Junior.
Se Tupãssi parecia pequena demais, imaginem que Sinop, na época que a família chegou, tinha apenas 4 mil habitantes. Berti conta que era sapo e pernilongo para todos os lados. Não havia rede de energia elétrica ou estradas pavimentadas. O pioneiro conta que na Avenida Júlio Campos, hoje a principal da cidade, as mulheres tiravam o calçado para andar, tamanha quantidade de barro.
Ele montou sua terceira tornearia, agora em Sinop. Trabalhava muito, durante o dia e não raras vezes também a noite. Deixava a oficina de madrugada para atender aos clientes. Sua tornearia servia basicamente para fazer peças para os maquinários usados pela indústria madeireira, que quebravam ou se desgastavam pelo uso. O torno de Berti garantiu com que as máquinas da indústria madeireira não brecassem.
Vendo que o negócio da madeira era lucrativo, Berti tentou se aventurar na atividade. Tentou tocar uma madeireira, depois negociar tora e por fim com desmatamento. Quebrou financeiramente. Ouvindo sobre a febre do ouro em Peixoto do Azevedo, tentou trabalhar com trator de esteira no garimpo. “Fui quebrado para o garimpo e voltei do garimpo com 1,6 kg de ouro. Eu falei para minha esposa: toda vez que eu saio do torno eu quebro”, comenta.
Berti pegou o ouro e comprou um terreno, onde hoje funciona a Tuiuiú Diesel. Essa oficina pesada, bastante conhecida em Sinop, começou junto com a nova tornearia de Berti, dividindo o terreno. Os jovens empreendedores da Tuiuiú tocavam a mecânica, e a família Berti a tornearia, de forma que muitas vezes se complementavam. “Tivemos muitos momentos de aperto, de ficar sem dinheiro, de ir ao mercado e escolher o que ia comprar porque não dava para comprar tudo que era necessário. Eu sempre falava para minha esposa: 'a gente tem que rezar para ninguém ficar doente. Se gente tiver saúde, a gente se vira'”, lembra Berti. “Todos podemos ter altos e baixos financeiros, mas é importante sempre cuidar do nome [honestidade e caráter]. Com dinheiro e sem um nome, você não é nada. Com nome e sem dinheiro, você é muita coisa”, ensina o pioneiro.
O torno era a base segura de Berti. Ali voltou a ter sucesso financeiro e a crescer. Seus filhos iam crescendo e já começavam a trilhar seus próprios caminhos. Todos estudaram em escola pública (no Nilza de Oliveira Pipino), e a partir dela prestaram vestibulares em universidades públicas. Todos passaram, sagrando assim um dos desejos de seu Berti. Faltava o chão para pisar e o teto.
Marcos foi para Curitiba, onde fez o curso de Processamento de Dados. Imediatamente, foi recrutado para trabalhar no Grupo Trescinco, concessionária Volkswagen em Cuiabá. Foi a primeira e única empresa onde trabalhou como empregado. Cícero fez Administração, e Junior Engenharia Civil, ambos na UFMT em Cuiabá.
Berti já estava chegando na casa dos 60 anos de idade. O serviço em uma tornearia está longe de ser algo leve, ainda que ele fosse dono. Sua vontade era partir para uma nova atividade, mas o medo de sair de perto do torno e quebrar era grande.
Cícero, seu filho do meio, já trabalhava Copetral Implementos Agrícolas há 16 anos. Tinha experiência no ramo. Além dele, Leoci Righi, um colega com bastante tempo de loja, também estava disposto para sair e empreender. Era o conhecimento necessário para Berti largar o torno sem medo. Assim, entre 1999 e 2000, ele fechou a oficina e vendeu as ferramentas. No ano seguinte, abriu a Berti Peças, uma oficina multimarca de peças agrícolas que viria a ser conhecida como Tratormax.
A primeira venda da nova empresa foi feita no dia 1º de outubro de 2001, com o valor de R$ 123,00. O cliente número um foi Joaquim Righi, pai de Leoci, que integra a sociedade junto com Berti e Cícero. Na pequena loja com 20 prateleiras quase vazias, Cícero e Leo comandavam o financeiro e o administrativo, com Junior trabalhando no balcão. “O pai fazia as entregas com uma F-1000 e foi assim por anos. Ele viajou muito por toda a região entregando peças. Conforme a idade foi chegando, a gente quis que ele parasse com essas viagens. Foi difícil convencer o seu Berti a largar a caminhonete”, conta Junior, explicando que a famosa F-1000 foi aposentada da frota da Tratormax e agora está sendo restaurada, como um “xodó” da família.
Embalada por um setor madeireiro que vivia seu auge, a Tratormax cresceu bastante nos seus primeiros anos. Até o ano de 2005, quando a Operação Curupira praticamente desmontou o setor, mudando a ordem econômica de Sinop. Madeireiras fecharam, projetos de extração foram travados, a indústria do desmatamento ruiu e muita gente que operava nesse setor foi preso ou mudou de ramo com medo de ser. Clientes habituais da Tratormax quebraram e uma parte deles pagou as dívidas entregando seus maquinários. “O pátio da empresa virou um ferro-velho, de tanta máquina, a maioria quebrada. A inadimplência chegou a 70%. Nós sobrevivemos essa fase porque não tínhamos dívidas”, explica Junior.
A resposta para crise foi o suor. Nessa época, conta Junior, os sócios da Tratormax chegavam a trabalhar 10 horas por dia e faziam plantões nos finais de semana. No mesmo momento que o setor de base florestal caia, o agronegócio em Sinop e região se alvorava. Após 3 anos, a empresa conseguiu retomar a solidez no mercado. “Sinop é uma cidade muito próspera, com muita gente que acredita, investe e faz a diferença. Se organizar direito, a impressão é que a demanda não acaba nunca. Não só na nossa atividade, mas em tudo”, argumenta Junior.
Marcos continuava morando em Cuiabá, onde casou e constituiu família. Mas apesar disso, começava a ser cada vez mais presente nos negócios da família. Sua experiência com concessionárias de veículos fez com que a Tratormax vislumbrasse a possibilidade de uma nova empreita. No ano de 2011, Berti e seus filhos se aproximam da Stara, uma fabricante de máquinas e implementos agrícolas brasileira, fundada por imigrantes holandeses. As ideias e as filosofias da Tratormax casaram com as da Stara e no ano de 2012, abria a primeira loja dessa parceria na cidade de Sinop.
“A Stara não era uma marca tão forte na época. Então nosso trabalho ajudou a levantar a aceitação da marca. É claro que a Stara também evoluiu muito desde então, com maquinários cada vez melhores. Hoje, em quase toda fazenda que se vai tem uma máquina nossa lá”, comenta Berti, que se sente parte da marca Stara.
Atualmente, o grupo Tratormax tem 3 lojas em Sinop, além de unidades em Matupá, Juara e Alta Floresta, cidades que são novas fronteiras agrícolas do estado. A família Berti é a detentora da representação da marca Stara de Sinop até o Norte do Mato Grosso e também em Rondônia. Da “lojinha” com 20 prateleiras nasceu uma potência comercial que hoje emprega mais de 170 pessoas. “Acho que tudo deu muito certo pela forma como meu pai e a gente toca o negócio, valorizando as pessoas que trabalham conosco, os fornecedores e os clientes. Hoje a gente pode dizer que não é mais pelo dinheiro que continuamos com o negócio, mas pelas pessoas”, comenta Junior. “Eu conheço os funcionários um por um. Todos os dias estou nas lojas conversando com eles”, completa Berti, que costuma chamar a equipe da Tratormax de “meu povo”.
Contrariando sua própria superstição, o torneiro não quebrou quando saiu do torno. Pelo contrário, moldou um negócio de sucesso que atravessa gerações. Lucas, um dos netos de Berti, com 18 anos está trabalhando na loja da Stara. O sonho de dar aos seus herdeiros um chão para pisar, um teto para cobrir a cabeça e uma faculdade, foi completamente realizado, não como um presente apenas, mas como uma construção de toda família. “Tem hora que eu não acredito o que nós fizemos em apenas 20 anos”, admira-se Berti. “Eu já agradeci meu pai por ter escolhido vir para Sinop”, finaliza Junior.
“A gente só não pode ficar doente”
Tudo o que Berti construiu, as terras que desbravou, os negócios que abriu e fechou, as derrotas e as conquistas foram vividas com a sua esposa. Foram 55 anos de casamento e mais dois anos de namoro. A partir do dia que Berti segurou pela primeira vez a mão daquela jovem filha de agricultores do interior do Paraná, ele só soltou para se despedir.
Durante anos, o casal priorizou sua vida investindo nos filhos e no negócio. Moraram na mesma casa por muito tempo. A última coisa que fizeram juntos foi construir a sua morada dos sonhos. “Fizemos do jeito que ela quis, com tudo que ela queria”, conta Berti.
O mantra de que “a gente só não pode ficar doente”, que o casal dizia junto para lembrar que não importasse o quão difícil fosse a situação, sempre dava para se erguer, de repente ganhou outro sentido. Dirce acabou contraindo uma doença rara, silenciosa, muito difícil de ser diagnosticada. Ele teve amiloidose cardíaca – que é quando proteínas insolúveis se depositam nos músculos do coração. “No hospital, depois de um tempo internada, ela pediu para que eu comprasse um caderno grande, que quando ela voltasse para casa ela iria fazer um livro da nossa família”, conta Berti sem conseguir segurar as lágrimas.
Dirce não voltou para casa. Ela morreu em junho de 2022, deixando um vazio enorme para os filhos e também para Berti. Andando pela que foi a última coisa que construíram juntos, o viúvo sente um luto ainda não curado toda vez que olha para o caderno comprado para escrever a história, depositado sobre um balcão. “Quando ela estava viva, por pior que fosse meu dia, eu chegava em casa e minha tristeza sumia. Tudo na casa me faz lembrar dela e agora quando eu chego, ela não está lá”, emociona-se Berti, que concedeu a entrevista um ano e 3 meses após sua perda.
O homem que perdeu sua companheira busca conforto na oração e no legado que ambos deixam. Berti acorda cedo todos os dias e reza um terço. Seus filhos são presentes e o patriarca ainda conta com a alegria de ter vivido o suficiente para ver seus netos. Marcos se casou com Meire com quem teve Gabriel; Cícero e sua esposa Margot tiveram Camila, Lucas e Nicolas; e Junior uniu-se com Viviane, gerando Vicenzo e Valentino.
1978
Família Caneppele - Frigorífico Forteza
COM AS PEDRAS DO CAMINHO, FEZ A FORTEZA
De catador de lixo no estacionamento de uma churrascaria a proprietário de uma indústria sólida como uma fortaleza. Essa é a história de Darcy Caneppele, um trabalhador contumaz que aos 44 anos de idade decide encher linguiça
- Tem linguiça?
- Tem Sadia e a do Seu Darcy.
- Então me vê dois quilos da do Seu Darcy.
Essa era uma cena comum nos mercados e pequenos açougues de Sinop no começo dos anos 90. Hoje, são poucos que ainda lembram da “Linguiça do Seu Darcy”, mas ela está lá, nas gondolas, com o rótulo de Frigorífico Forteza. O que quase ninguém sabe é quantas pedras no caminho foram ajuntadas até que essa fortaleza fosse construída.
Darcy Caneppele nasceu no dia 13 de dezembro de 1949, na pequena cidade de Roca Sales, na região do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul. Mas sequer tem memórias desse lugar. Quando tinha apenas um ano de vida, seus pais migraram para Águas de Chapecó, em Santa Catarina, nas margens do Rio Uruguai. No começo da década de 50, o Oeste Catarinense começava a ser ocupado por gaúchos. O pai de Darcy havia comprado uma área nesse território, onde se estabeleceu com a família. Lá, formou uma fazenda, teve outros 5 filhos e abriu uma “bodega” de secos e molhados, um pequeno comércio de balcão, que vendia comida, querosene, fumo e até munição.
Na infância, Darcy caminhava por uma hora até chegar à escola. Andava de pés descalços, levando um chinelo na sacola para quando entrasse na sala de aula. Ele conseguiu estudar até a 4ª série. Seu pai era uma fortaleza moral, sempre dando exemplo de honestidade e caráter, mas com trato duro como pedra.
Com 14 anos de idade, Darcy era um peão de fazenda. Construía as cercas para o gado, roçava mato e fazia a lida de campo. Um dia, descontente com a rispidez de seu pai, decidiu que iria para Curitiba para trabalhar em churrascaria. “A gente ouvia de outras pessoas da região, de filhos ou irmãos que foram para o Paraná ou para São Paulo trabalhar em churrascaria e se deram bem. Não tinha muita opção de emprego em Santa Catarina”, conta Darcy.
Quando fez 18 anos, o jovem juntou seus trocos e comprou uma passagem para Curitiba. Entrou no ônibus e foi, sem ter qualquer contato ou conhecido na cidade. Quando desembarcou, percebeu que ninguém estaria ali na rodoviária esperando para leva-lo ao tal trabalho. Perdido na capital paranaense, cercado por grandes prédios, sem dinheiro suficiente para voltar, Darcy sentou-se em um banco na Praça Rui Barbosa. Foi quando um rapaz se aproximou e Darcy contou sua situação. O curitibano então deu a dica: “tá vendo os ônibus? Pega esse que está escrito Pinheirinho e vai até o final da rota; lá você vai encontrar várias churrascarias”. Sem outra opção, Darcy segue a dica.
Era mais ou menos umas 10h da manhã quando o ônibus chegou ao final da rota. De fato, haviam algumas churrascarias, com um bom movimento de pessoas. Darcy olhou para o letreiro escrito “Churrascaria Gaúcha”, e decidiu tentar nessa. Se apresentou ao Fernando, o dono do lugar. “Ele me perguntou o que eu sabia fazer. Eu respondi roçar pasto, arrancar mandioca e capar boi. Disse que não tinha experiência, mas faria qualquer coisa que ele mandasse”, conta Darcy.
O dono da churrascaria propôs um teste. Em frente ao estabelecimento havia um largo pátio, coberto de brita, onde paravam ônibus de excursão, caminhoneiros e viajantes de todo tipo – principal clientela do restaurante. E como se pode imaginar, estava repleto de pequenos detritos, com pedaços de plástico e papel, bitucas de cigarros, chicletes mascados... a tarefa de Darcy era catar todo esse lixo. Para isso, Fernando deu 3 dias. Em troca, disse que o jovem poderia comer na cozinha, dormir em um quarto que tinha nos fundos e usar um banheiro.
Por volta das 14h, Darcy vai novamente até Fernando e pergunta: ‘o que eu faço agora?’. O dono então sai bravo para fora do estabelecimento, acreditando que se tratava de um sujeito tão tapado que sequer tinha compreendido o que precisava ser feito. Mas Darcy era um trator para trabalhar. Ao ver o pátio todo limpo, com um serviço de 3 dias feito em poucas horas, Fernando abraça Darcy e diz: “Vou assinar sua carteira”.
Darcy começa como ajudante de churrasqueiro. Seu trabalho era lavar espetos, pegar lenha e carvão... enfim, fazer qualquer coisa que o piloto da churrasqueira mandasse. Após dois meses, Fernando demitiu o churrasqueiro e colocou Darcy em seu lugar. “Eu sempre tive alegria e satisfação em fazer as coisas”, revela.
Darcy trabalhou por um ano na churrascaria. Em 1968, ele foi para Campo Mourão (PR), onde tinha parentes que vendiam máquinas agrícolas. Assim, ele teria a oportunidade de fazer um estágio para operar colheitadeiras da marca SNC. A nova profissão era uma pouco mais estável e rentável do que o ofício de churrasqueiro. E assim, conseguiu progredir um pouco.
Em 1969, ele conhece Aparecida Borco. Eles namoram por dois anos e se casam no dia 2 de dezembro de 1972, no município de Peabiru, perto de Campo Mourão. Um ano depois nasce Cesar, o primeiro filho do casal.
Nesse tempo, Darcy trabalhou em diferentes lugares, com representações comerciais. Depois de sair da loja de máquinas agrícolas, ele foi para cidade de Cruzeiro do Oeste atrás de serviço. Acabou batendo na porta da indústria de Café Mariluz, que tentava comercializar seu produto em todo o Paraná. “Tinha uma rota que ninguém queria porque não fazia venda. O dono falava que os gaúchos daquelas cidades não sabiam tomar café. Então, eu pedi para pegar a rota e fazer um teste”, lembra Darcy.
Ele recebeu então uma Kombi, carregada com 500 kg de café em pó. O dono deu uma semana para vender a mercadoria. Era uma segunda-feira quando Darcy pegou a estrada e na quarta-feira voltou com o veículo vazio. “Dei o dinheiro para ele e pedi para carregar mais na Kombi, porque não tinha conseguido chegar até o final da rota”, conta Darcy. Ele trabalhou por um ano e meio com a representação de café, e das 33 rotas que a empresa tinha nesse período, a rota dos “gaúchos que não sabiam beber café” sempre foi a que vendeu mais.
Nessas andanças, uma oportunidade de negócio apareceu para Darcy. Era um hotel, com uma lanchonete e um restaurante em Francisco Beltrão (PR). O dono procurava alguém para tocar e Darcy alugou os estabelecimentos por dois anos. “Era na beira da estrada, um negócio difícil no começo, que a gente não entendia. Dia e noite, eu e minha esposa trabalhávamos. Foi um período de muito esforço, mas conseguimos fazer um bom dinheiro”, explica Darcy.
Embora já estivesse muito melhor agora em comparação de onde começou, Darcy queria mais. Desejava verdadeiramente vencer e construir um futuro melhor para seus filhos. Esse ímpeto foi atiçado pelas propagandas da Colonizadora Sinop, que anunciavam a Gleba Celeste como a promessa de um novo eldorado. Ele comentava com a esposa que iriam morar nessa cidade que estava sendo aberta no Norte de Mato Grosso. Depois de dois anos no hotel e restaurante, o casal enfim tinha recursos para se arriscar e empreender nessa nova região.
Em setembro de 1977, Darcy viaja para Sinop a fim de conhecer a cidade. Se depara com um local repleto de mato e de serrarias, com não mais que 1.200 habitantes. Onde uma pessoa normal via precariedade, Darcy via oportunidade. As árvores altas, troncudas, abundantes em madeira, encantavam o comerciante. Ele ficou 3 dias em Sinop. Nesse tempo, visitou uma pequena serraria e pediu para o dono se estava disposto a vender. A resposta foi: ‘só se for à vista’. Darcy estava com um Fiat 147, lançamento da época, e ofertou o carro no negócio. A proposta foi aceita.
Ele voltou para Campo Mourão, se organizou e veio sozinho para Sinop, concretizar o negócio e tocar a serraria. No começo de 1978, ele retorna para o Paraná e busca a família, se mudando definitivamente para o Mato Grosso. Ele, a esposa e seus filhos Cesar e Luciano (este com apenas meses de vida) cruzam mais de 2 mil quilômetros em direção à nova morada. Quando chegam, se estabelecem em uma casa de madeira, dessas construídas como uma pequena vila para abrigar os funcionários da serraria. Aparecida chorava em silêncio com a condição precária que se estabeleceu, que ia além do barraco de tábuas. Sinop era uma vila no meio da Floresta Amazônica. Levaria ainda quase dois anos para que esse lugar fosse chamado de município.
Mas Darcy via a madeira como uma escada para o sucesso. Fez o que fazia de melhor: se enterrou no trabalho. A serraria produzia bem, havia muito comércio para a madeira do Norte de Mato Grosso. Darcy acreditava que o único obstáculo era garantir a oferta de toras para que a fita jamais parasse. Então tratou de fazer seu estoque. Naquela época, o que valia era o mato em pé – a terra embaixo, não tinha valor. Ao invés de comprar a madeira, Darcy começou a comprar as terras com o mato em cima. Pacote fechado! Em 1982, as escrituras de áreas que possuía, empilhadas, davam mais de um palmo de altura. Nesse mesmo ano, nasce a 3ª filha do casal, Cristiane. “Eu olhava para essa pilha de escrituras e achava que teria madeira pelo resto da vida para mim e para meus filhos. Mas de repente, em 1983, o setor quebrou. Ninguém mais comprava madeira. Eu fui vendendo o que tinha até que só sobrou a mulher e as crianças. Tudo que eu havia conquistado se foi nessa época. A pessoa tem que ser forte. Cheguei a uma situação em que eu não confiava nem mais em mim”, desabafa Darcy.
A “crise” em questão remonta ao episódio da usina de Tucuruí, no Pará, quando Governo Federal fez um leviano programa para supressão da vegetação no lago da hidrelétrica que despejou uma enorme quantidade de madeira tropical no mercado, desvalorizando o produto em mais de 50% - em uma época de inflação galopante. Segundo Darcy, mais de mil serrarias no Norte de Mato Grosso fecharam entre 1983 e 1984.
Derrubado, Darcy se apoia em um “déjà vu” para se reerguer. Ele vai até a Churrascaria Gaúcha (que, apesar da coincidência do nome, não tem qualquer relação com aquela de Curitiba) e conversa com Gaspar, o proprietário. Gaspar tinha uma lanchonete chamada “Se Que Sabe”, e propôs vender o estabelecimento de forma parcelada para Darcy. O ex-madeireiro se agarrou à lanchonete como se fosse sua tábua de salvação.
Aparecida foi para a chapa, fazer os lanches e porções, cozinhando na lanchonete. Darcy cuidava do caixa, do atendimento e das compras. Depois de algumas semanas, decidiu colocar chope no estabelecimento. Foi até Cuiabá, fez um curso e montou uma choperia no “Se Que Sabe”. O local virou um ponto de encontro diurno e noturno da cidade, com um grande fluxo de clientes. O movimento ajudou Darcy e Aparecida a pagar as contas e se reerguer. Mas acabou com o casal. A rotina estafante de trabalho, sem finais de semana de folga, trabalhando até tarde da noite, estava minando com os dois. “Eu e minha mulher já não conseguíamos mais chegar perto um do outro. Certa noite, conversamos e ela falou que não aguentava mais aquela vida. Então, no final de um expediente, fizemos o levantamento de tudo que tinha. Cada prato, cada garfo, colocando o preço de quanto a gente achava que valia. Chegamos em um número, que em dinheiro de hoje seria algo em torno de R$ 150 mil. E combinamos que não colocaríamos à venda, mas que se alguém oferecesse esse valor, a gente vendia na hora”, revela Darcy.
Uma semana depois um cliente, vindo de Maringá, se interessou pela choperia. O ano era 1985. Ele veio por 3 ou 4 dias seguidos ao estabelecimento, em diferentes horários e constatou o movimento frequente. Ele tinha posses e procurava um negócio para seu filho tocar. Achou que o “Se Que Sabe” seria uma boa opção. Em dado, momento esse cliente chama Darcy para conversar e, de forma muito contida, pergunta se poderia fazer uma proposta para comprar o estabelecimento. Manhoso, Darcy desconversa, dizendo que não pretendia vender porque a choperia rendia bem, tinha bom movimento e era o ganha pão da família. Mas aceitou ouvir. “Ele me disse: ‘te dou R$ 350 mil (em dinheiro de hoje). Se você aceitar, eu deposito no banco’. Ele nem terminou de falar e eu apertei a mão dele, fechando o negócio”, conta Darcy.
Com o dinheiro, Darcy e Aparecida compraram a casa onde vivem até hoje, além de uma chácara, que já havia sido aberta. O plano era produzir algo nesta terra. Então, em 1985, Darcy começa a plantar guaraná. Consegue uma produção excelente, mas não encontra para quem vender. Ele também tenta o cultivo de seringueiras para extração de látex, mas o negócio também não se viabiliza.
Então, decide voltar às origens e mexer com gado leiteiro. “O leite pagava as contas, mas era apertado”, lembra Darcy. O ciclo do leite se encerra com a visita de um conhecido que vem até a propriedade e faz uma boa oferta pelos animais. Darcy vende, mas nunca vê a cor do dinheiro.
Em 1988, ele recomeça novamente. Percorre os mercados e vendas da região perguntando se estariam dispostos a comprar verduras produzidas em Sinop. Todos demonstraram interesse, alegando que os vegetais que vendiam vinham de fora e sofriam com o transporte. Com a ideia em mente, Darcy vai até o Banco do Brasil e conta a sua história para Zeno Schneider, gerente da unidade na época. Com o documento da terra, Darcy consegue um financiamento para plantar legumes. Com o dinheiro, ele implanta um sistema de irrigação e manda vir uma carreta de esterco de peru da cidade de Chapecó. Na chácara, que tem o córrego Curupi ao fundo, Darcy planta pepino, tomate, repolho, pimentão e folhas. A semeadura é bem-sucedida e tudo cresce com força e vigor. A família chega a colher 15 mil caixas de tomate. “Nenhum dos comércios que eu tinha visitado comprou. Não consegui vender nada. Tudo apodreceu. Caixas e mais caixas de legumes foram perdidas”, revela Darcy.
Cesar, o filho mais velho, pega o trator e extermina a produção de hortaliças, cortando no talo aquela falsa esperança. Com o solo limpo, a família começa a cultivar milho. A cada segunda-feira, uma carreira era semeada. O objetivo era vender milho verde. “A cada 3 dúzias de espiga, eu ganhava o mesmo que o preço de um saco de milho. Colhia a produção, colocava no carro e saía para vender. Cheguei a vender até em Sorriso”, conta Darcy.
O lucro do milho foi sendo guardado. Quando o pessoal do Banco do Brasil chama Darcy para falar da prestação do financiamento que tomou, ele pede para quitar a dívida à vista. Tempos depois, Darcy recebe uma proposta para trabalhar como comprador de grãos para uma empresa, deixando o milharal a cargo dos filhos e da esposa.
Chegou a hora de encher linguiça
O ano era 1993. Cesar estava com quase 20 anos de idade e, como se espera, tentava encontrar o seu caminho. O jovem tinha conseguido um emprego no Banco do Brasil, um ótimo começo em comparação com as oportunidades existentes. Ele estava feliz, Aparecida estava feliz, os irmãos também. Todos comemoravam na sala de casa. Menos Darcy. O patriarca olha para seu primogênito e diz: “você não vai trabalhar no banco”.
Cesar não entende. Aparecida muito menos. Para tentar explicar o que estava acontecendo, Darcy disse que faria aquilo que jamais fez nos seus outros trabalhos: encher linguiça! A proposta do pai para convencer o filho a não pegar o emprego no banco era matar porco, fazer linguiça e vender banha. De pronto, ouviu o revide: ‘mas você nem sabe matar porco!’. “Mas nós vamos aprender. Nada do que a gente fez até agora a gente sabia até fazer”, respondeu Darcy.
De alguma forma, a família embarcou nessa aventura. Darcy tinha uma Chevrolet C-10, adaptada para rodar com botijão de gás. Fez uma gaiola de metal para carroceria e percorreu pelo interior comprando suínos. Porco preto, da raça piau, pequenos. Às vezes ia até Sorriso para conseguir encontrar um fornecedor. Compra de dois, no máximo três animais por vez. Nos fundos da chácara da família montou um matadouro para abater os porcos e processar. “Eu olho para uma coisa e sei como ela funciona. Tem um negócio dentro de mim, que eu não sei o que que é, que me faz querer fazer tudo da melhor forma possível”, comenta Darcy.
Ele, Cesar e Luciano abatiam os animais e processavam, um por dia. Faziam linguiças mistas com carne bovina e também linguiças para churrasco, além da banha, e vendiam no comércio local, dentro de uma caixa de isopor. “Um dia, eu estava na frente de um comércio, com dois pacotes de linguiça na mão tentando vender, e um senhor de uns 80 anos de idade puxou conversa. Ele comentou que parecia ser de porco puro, então expliquei como era feito. Ele me disse que tinha 40 anos de experiência com a fabricação de embutidos de porco, que tinha passado por vários frigoríficos. Eu só comentei que tinha muito a aprender com ele. O senhor disse que se eu lhe pagasse uma cerveja, ele me passaria a receita. Apalpei os bolsos e vi que o dinheiro estava curto, mas aceitei. Fomos conversando, já estava na 3ª cerveja e eu achei que ele estivesse me enrolando. Perguntei se ele não iria me passar a receita. Então ele disse: ‘vou passar, mas só vou falar uma vez’. Puxei um papel, mas ele não me deixou escrever. Ele passou a receita e é a mesma que usamos até hoje. Quando terminou, ele me pediu se eu tinha esposa e filhos. Não entendi o que isso tinha a ver, e ele falou: ‘o que você for fazer, faça com a melhor higiene, com o maior cuidado e o melhor tempero; então você come e dá para sua esposa e seus filhos; se o produto servir para a sua família, vai servir para todas as outras famílias’. Essa foi uma lição jamais esquecida”, revela Darcy.
Logo, o matadouro nos fundos da chácara já estava abatendo 8 animais por semana. Uma meia dúzia de funcionários foi contratada para ajudar no serviço. Nos mercados da cidade todos pediam pela “Linguiça do Seu Darcy”. Tinha Sadia, mas mal vendia. O produto não tinha marca, nem qualquer documento. Não demorou muito para que os órgãos fiscalizadores começassem a barrar a Linguiça do Darcy. Regularizar a atividade era uma necessidade. Em 1995, Darcy consegue documentar sua atividade. Nessa época ele já processava 30 porcos por semana e contava com 10 funcionários.
Mas ainda faltava um nome. Tentou Linguiça Sinop, mas já existia. Outros nomes foram sugeridos, sem sucesso. Até que, buscando palavras que trouxessem algum tipo de significado (ou que fossem relacionadas ao ramo de atuação), em um dicionário Italiano-Português, surge a palavra Forteza – que significava Força/Fortaleza. Esse nome passou! Nascia, então, o Frigorífico Forteza.
Em 1999, na mesma chácara que comprou com a venda da lanchonete e onde instalou o primeiro matadouro, Darcy e família fazem uma ampliação e fundam a unidade industrial do Frigorífico Forteza, onde está até hoje. E o negócio não para de crescer. “Em todos esses anos, a demanda sempre foi maior que a produção. O que a gente aguentar fazer, vende”, revela Darcy.
Em 2018, Cesar foi até uma feira na Alemanha onde conheceu uma máquina que embute, amarra, tira o ar e pesa a linguiça de forma automática, com capacidade para processar 400 gomos por minuto. Foi o começo do processo de automação industrial. Hoje, o Forteza conta com 4 máquinas desse tipo e mais duas já foram adquiridas e serão inseridas na linha de produção em breve.
No ano de 2024, o Frigorífico Forteza, com exceção da receita da linguiça e do endereço, em nada lembra seu começo. Ao invés da velha C-10 movida a gás, a empresa conta com uma frota própria de 4 caminhões para fazer o transporte de suínos vivos. A suinocultura na região despontou, com grandes produções em Sorriso, Lucas do Rio Verde e Tapurah, ofertando animais de alta qualidade que abastecem a indústria. Hoje, em 30 segundos um animal é abatido e limpo. Em 2 minutos, a carcaça já está sob refrigeração.
No começo de 2024, a planta industrial do Forteza abatia uma média de 400 suínos por dia. Mais de 300 funcionários trabalham na operação, produzindo 100 diferentes produtos, desde embutidos como presunto, bacon, mortadela, defumados e carne in natura, até a famosa linguiça do seu Darcy. Com um Centro de Distribuição instalado em Cuiabá, os produtos Forteza chegam a todo o estado de Mato Grosso, com distribuição feita por uma frota própria. Neste período, o frigorífico contava com 2.381 clientes ativos. Ou seja, é possível encontrar Forteza, de Sinop, em todos os cantos do estado.
Darcy tinha 28 anos de idade quando decidiu vir para Sinop e 50 anos de idade quando o Forteza se torna um frigorífico de fato. Tudo isso com uma coleção de tentativas. Quando perguntamos se valeu a pena, sua resposta é: “Mil por cento! Sinop é uma benção”, responde o devoto de Nossa Senhora.
Hoje, os filhos são a espinha dorsal do Frigorífico Forteza, tocando adiante os negócios da família, juntos e unidos como uma Fortaleza.
1978
Comemorações do 4º ano de fundação de Sinop
A CIDADE IA CRESCENDO!
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Em 1978, Sinop comemorou seu quarto ano de fundação com desfile cívico na Av. dos Mognos (atual Gov. Júlio Campos), que contou com a participação de alunos, professores e da fanfarra da Escola Estadual Nilza de Oliveira Pipino
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Além do desfile escolar, a 1ª criança nascida em Sinop, Luciana Juanussi, que na época já tinha 5 anos, desfilou em um carro alegórico, montado pela própria família
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As comemorações terminaram com o desfile de veículos pertencentes às famílias pioneiras e alguns caminhões carregados de madeira pertencentes às primeiras indústrias madeireiras de Sinop