Linha do Tempo, Sinop 50 anos
USE AS SETAS PARA
NAVEGAR ENTRE OS ANOS
1970
Colonizadora Sinop
1971
Projeto original da cidade
1972
Abertura da cidade
1973
Construção do escritório da Colonizadora Sinop
1974
Fundação de Sinop
1975
Visita do ministro da Agricultura Alysson Paulinelli
1976
Os primeiros contornos de Sinop
1977
Primeira escola e primeiras colheitas
1978
Comemorações do 4º ano de fundação de Sinop
1979
5ª ano de fundação e emancipação político-administrativa
1980
Visita do presidente João Batista Figueiredo a Sinop
1981
Osvaldo Paula - 1º Administrador Municipal de Sinop.
1982
Dom Henrique Froelich, 1º Bispo de Sinop
1983
Geraldino Dal Maso, 1º prefeito eleito de Sinop
1984
Segunda visita do presidente João Figueiredo
1985
Instalação da Comarca de Sinop
1986
12º aniversário de fundação de Sinop
1987
Construção do Ginásio Benedito Santiago
1988
Figueiredo homenageado e eleições municipais
1989
Asfalto na Avenida Júlio Campos
1990
Sinop FC é campeão mato-grossense de futebol!
1991
Praça Plínio Callegaro
1992
Primeiro prédio da UFMT em Sinop
1993
Antônio Contini assume como prefeito de Sinop
1994
Construção do Estádio Gigante do Norte
1995
Área da Catedral Sagrado Coração de Jesus
1996
Visita do presidente Fernando Henrique Cardoso
1997
Adenir Alves Barbosa é eleito prefeito pela segunda vez
1998
Instalação do Corpo de Bombeiros
1999
Construção do viaduto na entrada principal
2000
Miss Sinop, Miss Mato Grosso e Miss Brasil Josiane Kruliskoski
2001
Nilson Leitão é eleito prefeito
2002
Segunda visita oficial do presidente FHC
2003
XVII Noite Cultural de Sinop
2004
Museu Histórico de Sinop
2005
Nilson Leitão reeleito prefeito
2006
Campus da UFMT em fase de construção
2007
Inauguração Catedral Sagrado Coração de Jesus
2008
Centro de Eventos Dante de Oliveira
2009
Juarez Costa é eleito prefeito
2010
Memorial Rogério Ceni
2011
Raízes da História de Sinop
2012
Embrapa Agrossilvipastoril
2013
Juarez Costa reeleito prefeito
2014
Batalhão do Exército Brasileiro
2015
Reurbanização da Avenida dos Tarumãs
2016
Dom Canísio Klaus, 3º Bispo de Sinop
2017
Rosana Martinelli, primeira prefeita eleita
2018
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2019
Usina Hidrelétrica Sinop
2020
Visita do presidente Jair Bolsonaro
2021
Roberto Dorner é eleito prefeito
2022
Marinha do Brasil
2023
Duplicação da Avenida Bruno Martini até o aeroporto
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1986
Alfredo Clodoaldo de Oliveira Neto - Arquiteto
O ARQUITETO QUE REDESENHOU SINOP
As largas avenidas, os espaçosos canteiros centrais, as exageradas rotatórias e a admirável área verde que marcam a cidade de Sinop surgiram da prancheta, do lápis e do esquadro empunhado por um arquiteto de 28 anos. Seu trabalho pode ser visto não apenas na terra, mas também acima dela, em prédios e construções. Conheça a origem e o legado de Alfredo Clodoaldo de Oliveira Neto
A invejável amplitude dos espaços urbanos de Sinop, que atrai a atenção de 10 entre 10 pessoas que visitam a cidade, é resultado de um “Plano B”. Ou melhor, de uma revisão. O município, elogiado por reservar espaço físico público em sua área central, projetando um crescimento futuro que talvez nunca se concretizasse, teve um começo bem diferente. O primeiro projeto urbano era tão inovador que se tornou inaplicável em seu tempo e na realidade do Norte de Mato Grosso. Foi quando a cidade já tinha 4 anos de fundação que Sinop ganhou os contornos que conserva até hoje.
O dono dessas linhas é o arquiteto e urbanista Alfredo Clodoaldo de Oliveira Neto, e a sua ligação com Sinop começa no berço. Alfredo nasceu no dia 4 de maio de 1950, filho de Áurea Rodrigues de Oliveira e Waldir Ribeiro de Oliveira, em Presidente Venceslau, no interior de São Paulo. Quando tinha apenas um ano e meio de idade, perdeu o pai. Ao lado da mãe, já casada novamente, e seus três irmãos, Waldir Ribeiro de Oliveira Jr., Luiz Fernando e Carmem Helena, mudaram-se para Iporã, no Paraná. Alfredo, então, foi amparado pelos seus tios, Nilza de Oliveira Pipino, irmã de seu pai, e Ênio Pipino – os ‘pais’ fundadores da cidade de Sinop. Mas a colonização do Norte de Mato Grosso ainda não estava no horizonte. Na década de 1950, o casal, junto com o sócio e amigo João Pedro de Carvalho, se dedicava a desbravar a fronteira Oeste do Paraná, onde semearam cinco novas cidades.
Aos 10 anos de idade, junto com o irmão Waldir Jr., Alfredo foi para Botucatu, no interior de São Paulo, uma cidade maior onde estudou no colégio interno administrado pela ordem católica dos Irmãos La Salle. Na instituição concluiu o ensino fundamental e o ensino médio (na época chamado de “científico”). Alfredo conta que, quando jovem, demonstrava uma vocação pelo desenho, explorando traços e formas, desenvolvendo sem muito esforço uma habilidade artística. No entanto, com o passar dos anos, seu interesse migrou para agropecuária. Ele pensava seriamente em cursar Agronomia, mas no fim acabou optando pela Arquitetura – decisão que teve uma leve influência dos tios, formadores de cidades.
Sua primeira tentativa foi na Universidade Federal de Curitiba, mas não passou. Em 1970, prestou vestibular na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Braz Cubas, em Mogi das Cruzes (SP). Enquanto ele estudava os fundamentos essenciais para fundar cidades, seus tios iniciavam a empreita no Norte de Mato Grosso, fundando Vera (1972), Sinop, Santa Carmem (1974) e Cláudia 1979). “Eu me lembro de mostrar para os professores na faculdade os mapas e projetos das cidades que a tia Nilza e o tio Ênio estavam fundando, e a classe discutia sobre eles”, conta Alfredo.
Quando o ato oficial de fundação de Sinop foi realizado, no dia 14 de setembro de 1974, Alfredo se preparava para formatura e, por isso, não esteve presente nas festividades, que contaram com um desfile cívico, descerramento da placa comemorativa e um grande almoço oferecido pela Colonizadora Sinop, no terreno que anos depois abrigaria o restaurante Colonial.
Graduado, Alfredo buscou uma especialização. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, capital referência em urbanização, fez uma pós-graduação nos anos de 1975 e 1976. Com mais bagagem, se mudou para Maringá (PR), no final de 1976, com o propósito de trabalhar na Colonizadora Sinop.
No primeiro semestre de 1977, foi convidado por João Paulino Vieira Filho, então prefeito de Maringá, para prestar serviços ao município. O gestor precisava lidar com o surgimento de novos bairros, para além do plano original da cidade, que começavam a brotar. A missão de Alfredo era elaborar um Plano de Expansão Urbana para Maringá, cidade planejada que havia sido fundada no ano de 1947. A meta era resguardar o traçado contínuo das avenidas, a fim de assegurar o fluxo e a ordem urbana. Sua preocupação também era garantir para o futuro espaços para áreas verdes e arborização, hoje presentes em Maringá. Em um grupo formado por 3 arquitetos e um topógrafo, sob a direção do arquiteto Nildo Ribeiro Rocha, Alfredo desenhou as linhas futuras para a cidade de Maringá – traços que mais tarde seriam reprisados no seu grande projeto.
Na parte da manhã, Alfredo dava expediente na Prefeitura. À tarde, na Colonizadora. No final de 1977, Nilza e Ênio o convocaram a fazer a revisão e alteração do Projeto Urbano de Sinop.
Vera foi a primeira cidade implantada pela Colonizadora Sinop no Norte de Mato Grosso. Quando o traçado da BR-163 (Rodovia Cuiabá-Santarém) foi revelado, deixando Vera fora do eixo, a empresa encomendou um projeto para uma cidade-satélite, posicionada às margens da rodovia que seria aberta. Quem elaborou o projeto foi o engenheiro civil Roberto Brandão, natural de Campo Grande (MS), que também projetou Vera e Santa Carmem, além de outras cidades no Paraná, como Terra Rica, Iporã, Ubiratã, Formosa do Oeste, Jesuítas e várias vilas.
O projeto de Brandão recebeu a aprovação do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), no ano de 1972. Neste, Sinop tinha a forma de um trapézio, com sua área central retilínea formada por 42 quadras, onde se imaginava ser a região de comércio da cidade, dispostas no espaço atualmente compreendido entre a Avenida das Figueiras e a Avenida das Embaúbas. Mas o projeto de Brandão não tinha as largas avenidas, os espaçosos canteiros centrais ou as exageradas rotatórias que são uma marca da Sinop moderna.
O ponto inovador no projeto de Brandão estava na área dedicada à ocupação residencial. Inspirado no arquiteto espanhol Idelfonso Cerdá, que projetou Barcelona, Brandão trouxe para área residencial de Sinop quadras abertas, com áreas não construídas em seu interior e ruas que não se conectavam. Essas divisões urbanas, em formato de “S” foram chamadas de “Superquadras”. A proposta era fazer com que em frente de cada casa houvesse uma pequena área de lazer, aproximando vizinhos, afastando o trânsito frenético e melhorando a qualidade de vida. Era um projeto a frente do seu tempo... e esse foi o problema.
O conceito das Superquadras se mostrou inaplicável para época. O volume de chuvas, combinado com a dificuldade em implantar um sistema de drenagem, transformava as superquadras em ‘mini brejos’. Serviços de saneamento, como uma simples coleta de lixo, eram dificultados pelo modelo. Soma-se a isso a presença de uma “cultura rural” dos primeiros migrantes, que utilizavam a parte dos fundos dos seus terrenos, voltados para parte interna das quadras, para a criação de animais, como galinhas e porcos. Além disso, por duas décadas Sinop não teve um palmo de asfalto e as primeiras construções eram todas de madeira. No pico das chuvas, fossas e pocilgas se misturavam. “As superquadras são lindas hoje, com infraestrutura de drenagem, pavimentação asfáltica e rede de esgoto que a cidade tem. Mas na época era um problema de saneamento básico”, avalia Alfredo.
O arquiteto também tinha outros desafios na revisão do Plano Urbano de Sinop. Inicialmente, a cidade foi projetada para 20 mil habitantes. Os primeiros anos já mostravam que precisava ser maior. O projeto urbano de Brandão também não previu os córregos e nascentes presentes no perímetro urbano.
Assim, no final de 1977, Alfredo vem a Sinop a trabalho. Sua primeira vez aqui havia sido em 1976, no segundo ano de aniversário da cidade, meses antes de Sinop ser elevada a distrito de Chapada dos Guimarães. Acompanhado do engenheiro e topógrafo Sadao Watanabe, eles começam a demarcar as nascentes dos córregos Iva, Marlene e Nilza. Nesses espaços, Alfredo projetou uma larga área de reserva florestal permanente, com o propósito de que tivessem um uso futuro, como parques urbanos. Hoje, nestas áreas estão, respectivamente, o Parque Florestal de Sinop (que só seria implantado na década de 90), a reserva nos fundos da Unemat (circundada por uma pista de caminhada), e a reserva do Jardim Botânico (em fase final de implantação no ano de 2024). “Lembro de abrirmos uma picada onde era a Rua dos Cajueiros e fomos andando até mais ou menos onde viria a ser a Avenida das Palmeiras. Em dado ponto, cutuquei o solo com uma vareta e verteu água, de tão aflorado que era o lençol freático”, lembra Alfredo.
Muito inspirado pelo plano urbano de Maringá, o arquiteto queria garantir que Sinop fosse tão verde quanto. Além das reservas em torno das nascentes, Alfredo projetou largas avenidas na cidade, com 40, 50 e até 60 metros de largura, recheadas por um espaçoso canteiro central. Ele também projetou as generosas rotatórias, que anos depois se tornariam praças. “Me arrependi! Se fosse refazer o projeto hoje, deixaria as avenidas10 metros mais largas”, exagera Alfredo.
Com o redimensionamento, o perímetro urbano de Sinop, estabelecido por Brandão, alcançaria 160 mil habitantes quando totalmente ocupado. A ONU (Organização das Nações Unidas) recomenda, como urbanamente ideal, 12 metros quadrados de área verde por habitante. Sinop alcançou 25 metros quadrados de área verde por habitante após o redesenho.
Algumas coisas do projeto inicial tiveram que ser mantidas, afinal, a cidade já estava na altura da Praça Plínio Callegaro e algumas das superquadras estavam ocupadas com edificações. É em uma dessas porções urbanas em formato de ‘S’ que Alfredo mora até hoje, uma confortável residência arborizada, com um grande flamboyant florido na entrada dando as boas-vindas. “Quando cheguei em Sinop, em janeiro de 1986, estávamos descarregando a mudança do caminhão e tinha um palmo de água no quintal da casa. O conceito de superquadras é lindo, mas não tinha como manter na época”, explica o arquiteto.
Em 1978, o novo projeto urbano de Sinop estava pronto. As superquadras foram eliminadas e as avenidas ampliadas. Ao invés de um trapézio, agora o desenho de Sinop lembrava uma casa, evocando uma lembrança de Maringá. Dentro dessa “casa” caberiam 8 vezes mais pessoas do que foi projetado inicialmente. Outra coincidência com a cidade paranaense foi a disposição dos espaços no Centro Administrativo, de forma semicircular, com a catedral no centro e a sede dos demais poderes no entorno. Com exceção de algumas mudanças no contorno da parte destinada ao Centro Administrativo e o fechamento de algumas poucas ruas para unificar quadras, todo restante do projeto de Alfredo foi seguido ao longo desses 46 anos.
Ainda naquele ano, ele fez o projeto urbano da cidade de Cláudia. Alfredo também promoveu ajustes no plano de Santa Carmem.
De volta à sede da Colonizadora em Maringá, Alfredo atendia aos compradores de terra que precisavam de projetos arquitetônicos para suas futuras sedes no Norte de Mato Grosso. Nessa época fez vários projetos comerciais e residenciais.
Em 1978, criou o projeto urbanístico de Cláudia. No ano seguinte, concomitante com o trabalho da Colonizadora, Alfredo foi convocado para colaborar com a Becker Consultoria de Empreendimentos Industriais, uma empresa com sede em Curitiba (PR), que desenvolve projetos industriais. Nessa empreitada, Alfredo realizou projetos assessórios à implantação da Usina de Etanol de amido da Sinop Agroquímica. O arquiteto projetou o sistema viário da área da usina, o escritório e demais estruturas de apoio da indústria, como ambulatório, oficina e refeitório, além de dimensionar o impacto urbano do empreendimento no plano da cidade.
E ainda encontrou um tempo para casar. No ano de 1979, ele e a professora Tânia Pitombo (que acrescentou ‘de Oliveira’ ao nome) consagram o matrimônio, tendo sua primeira filha, Maira, no ano de 1981. Luiz Henrique, o segundo filho do casal, nasceu dois anos depois, em 1983.
Até o ano de 1985 ele continuou atuando no escritório da Colonizadora em Maringá, fazendo projetos, como as primeiras casas de alvenaria para os gerentes da usina de álcool. Ele também fez o projeto da primeira creche em alvenaria da cidade, construída pela Colonizadora e doada para a Prefeitura.
Foi nesse mesmo período que ele fez o projeto arquitetônico do Restaurante O Colonial – erguido no exato lugar da solenidade de fundação de Sinop, com o propósito de ser uma estrutura digna de receber um Chefe de Estado. E foi nesse restaurante que, anos depois, em 1984, Sinop recepcionou pela segunda vez o presidente João Batista Figueiredo.
A alegria foi nublada por um daqueles acontecimentos que fogem do controle dos homens. No dia 20 de fevereiro de 1984, cerca de 4 meses antes do presidente comer no restaurante que Alfredo projetou, a pessoa mais admirada pelo arquiteto partiu para nunca mais voltar. Nilza estava no avião privado da empresa quando a aeronave apresentou problemas e caiu, levando à morte da tia de Alfredo e de outras duas pessoas que estavam no avião, o piloto e um juiz de direito. Nilza tinha 63 anos de idade. “Foi um momento muito triste, uma perda irreparável. Ela era como uma mãe para mim”, revelou Alfredo na entrevista que concedeu quase 40 anos após o trágico acidente.
O constante e frenético crescimento de Sinop tornava a tentativa de acompanhar os negócios da empresa morando em Maringá insustentável. Em dezembro de 1985, ele e a família decidem mudar sua residência para Sinop. O arquiteto, sua esposa e o casal de filhos se alojaram em uma casa da diretoria da Colonizadora Sinop – residência grande para os padrões da época, que já havia servido de morada para o primeiro diretor do Banco do Brasil e para o 1º bispo da Diocese, Dom Henrique Fröehlich. O problema é que os padrões da época estavam longe de ser um palacete vitoriano. A casa erguida entre 1974 e 1975 era de madeira, com as paredes duplas de forrinho, coberta por uma telha ondulada de 3 milímetros. Ou seja: esquenta no calor e esfria no frio.
A mudança só chegou 3 meses depois. Nessa época, Alfredo constituiu a Ângulo Arquitetura e Urbanismo, um escritório independente onde tocava projetos em paralelo com os negócios da Colonizadora. Essa empresa está ativa até hoje. “Tinha muito trabalho. As pessoas compravam o terreno em Sinop e queriam fazer o projeto”, revela Alfredo.
Entre os muitos projetos que o arquiteto fez nessa época está o Hotel Acácias, construído na avenida de mesmo nome, perto da Praça Plínio Callegaro. Esse prédio funcionou como hospedaria por muitos anos, e no seu fim foi alugado como sede da Delegacia de Polícia Civil do município. Com o avanço urbano acabou sendo demolido, e agora, em 2024, no seu lugar está sendo erguido o maior prédio vertical da cidade até o momento.
Tânia também se estabeleceu. No dia 1º de abril de 1986, ela se reuniu com o professor Luiz Erardi – hoje um dos principais historiadores e guardião da memória de Sinop –, que na época atuava como diretor regional de Educação. Desse contato veio a contratação de Tânia como professora. Em 1994 nasceu Liara, a última filha do casal.
Mas o ciclo de vida e morte é uma irrefreável constante. Em 16 de junho de 1995, após 11 anos da perda da sua “tia-mãe”, Alfredo teve que se despedir do seu pai postiço. Ênio morreu em Bebedouro (SP), aos 78 anos de idade, acometido por um infarto agudo logo após participar do sepultamento do seu amigo e sócio na fundação de Sinop, João Pedro Moreira de Carvalho. “No último dia que seu Ênio estava em Sinop, antes de ir para Bebedouro, ele foi até minha casa almoçar antes de ir para o aeroporto. Não imaginava que aquela seria a última vez que o veria”, rememora o arquiteto.
Com os pais fundadores de Sinop em memória, a Colonizadora precisou ajustar seus quadros para manter o curso do seu exitoso projeto. Em setembro de 1995, Alfredo foi elevado ao posto de Diretor Técnico da Colonizadora Sinop, função que exerceu por 21 anos, até janeiro de 2016.
Nesse longo intervalo de tempo, ele projetou os escritórios sede da Colonizadora em Sinop e Santa Carmem, a fachada e a praça da Igreja São Camilo, o Colégio de Freiras, Regina Pacis e a igreja do Menino Deus. Até o Mondrian, o primeiro condomínio horizontal fechado do Norte de Mato Grosso, foi projetado por Alfredo – inaugurando o que viria a se tornar o conceito de mais alto padrão residencial da cidade de Sinop. Dentro da Colonizadora, projetou 13 loteamentos quando esteve na função de diretor, sendo inclusive responsável pelo desenvolvimento dos projetos urbanísticos do Cidade Jardim e do Jardim Terra Rica (etapas 1 e 2). O charmoso Jardim Curitiba foi seu último projeto como Diretor Técnico da Colonizadora, no ano de 2015.
Em 2016, ele deixa o cargo, mas nunca se afasta por completo da empresa. Em 2020, retorna para desempenhar a função de responsável técnico da Colonizadora junto ao CRECI (Conselho Regional de Corretores de Imóveis). Por uma questão de lógica – ainda que de forma tardia –, Alfredo recebe, em setembro de 2020, a Comenda Colonizador Ênio Pipino, uma homenagem prestada pela Câmara de Vereadores de Sinop que figura entre as maiores honrarias que pode ser concedida pelo município.
Uma pessoa pode percorrer pelos muitos logradouros que Alfredo projetou e ainda assim não encontrará nenhum que leve o nome de seu pai, ou mesmo do avô, seu homônimo. O mais fácil de ver são nomes de árvores, flores e folhagens batizando as ruas e avenidas do município. “Ao executar o projeto de Sinop, a Dona Nilza sugeriu que as ruas e avenidas recebessem nomes de árvores, frutíferas e flores. Ela era amante da natureza”, resgata o arquiteto.
Esse presente de Nilza à cidade ainda sobrevive, mesmo com o “desmatamento” histórico promovido pelos entes políticos, que rebatizam as vias da cidade com o epíteto dos seus admirados de ocasião. O exemplo mais flagrante disso está logo na avenida central de Sinop, originalmente chamada de Avenida dos Mognos, mas que foi podada e incinerada para ser anunciada como Avenida Governador Júlio Campos, em honra ao ex-governador, que a despeito das suas muitas contribuições para cidade, ainda está vivo e disputando eleições.
Da Avenida dos Mognos restou as cinzas na memória dos mais antigos. Alfredo, que redesenhou a cidade, não quis tomar nenhum espaço para rebatizar, nem acredita que seja muito prodigioso fazê-lo. Mas essa não é sua principal dor. “Hoje eu admiro o trabalho da Administração em normatizar continuadamente o prolongamento das avenidas nos loteamentos fora do perímetro urbano”.
Apesar das cicatrizes urbanas, Alfredo enaltece, como bom sinopense ufanista, a grandiosidade de Sinop. “É uma cidade ampla, espaçosa, moderna, arborizada e que economicamente não tem igual. Em menos de cinco décadas, alcançou e ultrapassou aquilo que havíamos projetado, se tornou o lar e o sonho de muitas pessoas. É uma potência em educação, saúde, comércio e indústria, da mesma forma que Maringá. Olhando para Sinop hoje, o que vejo é a necessidade de reparos cosméticos. Melhorar as calçadas, dar mais espaço para as pessoas, avançar com a arborização e resolver a questão da poluição visual, causada pela desordem das fiações da rede elétrica e de internet, pelos painéis de publicidade, pelas lixeiras antigas já sem função, as bocas-de-lobo mal cuidadas e os semáforos. Apenas alguns ajustes que a cidade vai alcançar com o tempo”, avalia o arquiteto, que assim como um zeloso pai, não deixa os defeitos dos seus filhos se sobressaírem às qualidades.
1986
Advogados Dr. Cláudio Alves e Dr. Osvaldo Pereira
QUANDO O ÚNICO CAMINHO É FAZER DIREITO
Dois irmãos, de uma família pobre, órfãos de pai, encontram na advocacia e na cidade de Sinop a oportunidade de trilhar um novo destino. Mas para que desse certo, era preciso fazer tudo direito
Doutor Cláudio Alves Pereira! Quem é de Sinop e já precisou entrar em um fórum, provavelmente já ouviu esse nome. Advogado renomado, que já atuou na esfera pública e privada, encabeçou instituições de saúde e foi professor, Cláudio é uma figura conhecida, em partes pela frequência que ocupa espaço nos veículos de comunicação, falando dos casos complexos que defende. Ele atuou no júri mais midiático da história do Norte de Mato Grosso. E venceu! Mas também esteve no primeiro júri realizado em Sinop, fazendo o papel de defensor público quando essa repartição sequer existia na cidade. Um dos pioneiros da advocacia na região, construiu ao lado do seu irmão, José Osvaldo Leite Pereira, um sólido escritório que, ao longo das 4 últimas décadas, ajudou a determinar o que é certo e o que é errado aos olhos da cega Justiça. Tal glória não seria alcançada se a dupla não tivesse feito Direito.
Cláudio e Osvaldo nasceram em Porecatu, uma cidade no Paraná que hoje tem menos de 15 mil habitantes, localizada na divisa com o estado de São Paulo, às margens do Rio Paranapanema. Cláudio, o mais velho, nasceu em 1958 e Osvaldo no final de 1959. Seus berços foram em uma família tão humilde quanto numerosa. Eram em 9 irmãos, que cedo perderam o principal provedor. Um derrame colheu a vida do pai de Cláudio quando ele tinha apenas 5 anos de idade.
A mãe e a irmã viraram o esteio da casa. Elas costuravam e lavavam roupa para outras pessoas, o que colocava comida na mesa e garantia a oportunidade de os filhos estudarem. Cláudio se destaca nos estudos, demonstrando uma facilidade ímpar em aprender. Seu desempenho o alça, de forma muito precoce, à vida pública. Aos 17 anos, começa a trabalhar na Prefeitura de Porecatu e logo, em 1977, Cláudio foi nomeado secretário de Fazenda do município. Ele permaneceu no cargo por 5 anos, até 1982.
Osvaldo trilhava um caminho parecido. Aos 19 anos, começa a trabalhar no cartório civel de Porecatu. A dupla de irmãos agora tinha ofícios “cerebrais” e burocráticos, mas que acima de tudo garantiam um salário digno, o suficiente para serem os arrimos da família. “Eu estava no Fórum, para uma audiência institucional, representando a Prefeitura como secretário de Finanças, dia em que também ocorria um júri, e a curiosidade fez com que ali permanecesse para assistir. Nesse dia eu vi o hoje desembargador João Maria Loss, na época advogado, fazendo sua sustentação, falando em defesa do cliente. Depois daquele momento eu ouvia uma voz, e essa voz me dizia que o meu caminho era fazer Direito e me tornar um advogado”, revela Cláudio Alves Pereira.
Em 1981, ele ingressa na instituição Toledo de Ensino para cursar Direito. A faculdade ficava em Presidente Prudente (SP), cerca de 250 quilômetros de distância da sua casa. O percurso era feito a bordo de um Fusca. Ele encerrava seu expediente na prefeitura, no começo como secretário de Fazenda e depois como chefe de gabinete do prefeito, e então ia estudar. Cláudio se orgulha em contar que, apesar das dificuldades, teve apenas 2 faltas em toda sua carreira acadêmica. “A faculdade foi financiada e paga também com o esforço da minha mãe. Mas o maior presente que ela me deu não foi o dinheiro, e sim seu gesto de me esperar, todos os dias, até que eu chegasse em casa depois da faculdade”, conta o advogado.
A jornada de Cláudio inspirou Osvaldo. Seu ofício no cartório já o familiarizava com o habitat jurídico. Ver o irmão buscando uma nova vida no estudo do Direito demonstrava que aquele também era um sonho possível para si. Seis meses depois, Osvaldo ingressa na mesma faculdade.
Na época era difícil de imaginar, mas naquele velho Fusca estava a primeira instalação do que viria a ser um importante escritório de advocacia. Todos os dias, por 250 quilômetros na ida e mais 250 quilômetros na volta, os irmãos Pereira conviviam dentro do Volkswagen, engrenando as peças de uma parceria que duraria a vida toda. “Isso quando o carro não quebrava no meio da estrada”, lembra Osvaldo.
A prova de que o escritório de advocacia começou no Fusca é o primeiro caso da dupla. Em uma das idas para faculdade, eles se depararam com um caminhoneiro, com seu veículo extremamente avariado em razão de uma colisão com um boi que havia fugido do pasto. Cláudio e Osvaldo desceram para prestar auxílio ao motorista. Mas ao invés de uma dica de mecânica ou uma carona, os irmãos instruíram o “cliente”, dando o pontapé em um processo que, no futuro, devidamente assumido por um advogado formado e com OAB, resultou na indenização pelo prejuízo sofrido pelo caminhoneiro.
Em 1984, quando ainda estavam nos últimos anos da formação, os irmãos vieram conhecer o Mato Grosso. Valdemar, irmão de Cláudio e Osvaldo, estava há cerca de um ano em Sinop trabalhando como mecânico. “Nós pensávamos em fazer Direito não para prestar concurso, mas para advogar. E para isso seria necessário sair de Porecatu. Então nessa viagem passamos por várias cidades de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, visitando as comarcas e vendo onde poderia ser promissor. Quando chegamos em Sinop vimos uma cidade pujante, com muita indústria e empresas surgindo. A cidade estava se formando e haviam poucos advogados”, lembra Osvaldo do seu primeiro contato com a cidade.
De volta ao Paraná, Cláudio completa sua formação em dezembro de 1985. Osvaldo se formaria 6 meses depois. Crente de que era em Sinop que estava o seu futuro, Cláudio embarca em um ônibus com destino ao Norte do Mato Grosso com o sonho de conseguir muitos clientes, advogar e abrir seu escritório. “As coisas aconteceram muito mais rápido do que eu imaginava. Eu estava no ônibus, a caminho de Sinop, quando surgiu o primeiro cliente. Um dos passageiros me ouviu dizendo que era advogado recém-formado e então puxou conversa. Ele me explicou sua situação e pediu se eu não poderia defendê-lo. Desci na rodoviária de Sinop com as malas e um cliente. Já tinha serviço para fazer”, conta Cláudio.
O começo foi promissor, mas o operador do Direito em início de carreira recebe seus ganhos na mesma velocidade que o judiciário trabalha. Por isso, nos primeiros meses em Sinop, Cláudio tinha que escolher se pagava o almoço ou a janta, geralmente no Restaurante Imperial do “Seu Moacir”. O jovem doutor então resolveu fechar um acordo de meio-termo com sua fome: almoçava as 3 da tarde, que assim ficava meio almoçado, meio jantado. “De noite, durante um certo período do mês, as famílias faziam os terços de oração no quarteirão, onde os vizinhos se reuniam para rezar juntos, com aquelas capelinhas que passavam de casa em casa. Eu participava. Haviam duas senhoras, que foram como mães para mim, que quando eu chegava, elas faziam um ‘bolinho de chuvisco’ [uma massa doce frita], porque sabiam que eu não tinha jantado. Foram os bolinhos que ajudaram a me manter”, relembra Cláudio.
Nessa época, o judiciário de Sinop era dirigido pelo Dr. Antônio Paulo da Costa Carvalho, considerado o primeiro juiz da cidade – magistrado que iniciou o processo de implantação da comarca. Muito diferente de hoje, em que a cidade tem todos os órgãos principais e assessórios da justiça estadual e federal, inclusive sendo entrância especial, nos idos de 1985 e 1986 Sinop não tinha sequer defensoria pública. Carvalho então chama Cláudio para ser “advogado dativo” – basicamente um advogado que faz o papel de defensor público para casos em que as pessoas não podem pagar por um profissional. “Era um caso complicado, que nenhum dos outros advogados da cidade queriam pegar e, como não tinha defensor público, não seria possível julgar aquela pessoa sem que ela tivesse o direito de defesa. Foi então que aceitei o pedido do juiz e com isso fizemos o primeiro júri da cidade de Sinop”, revela Cláudio.
Pela primeira vez na nova cidade um juiz ouviria os advogados de defesa e de acusação ladeado por um grupo de cidadãos que decidiriam sobre a culpa ou inocência de uma pessoa. A Cláudio cabia o papel de defender aquele que era acusado de ser criminoso. Sobre seu cliente repousava a imputação de homicídio qualificado, por motivo torpe: foram 13 golpes de foice, seguidos de uma machadada, tudo isso por causa de uma bituca de cigarro. “Independente do que a pessoa fez, eu não me sentiria bem se não exercesse o meu trabalho da melhor forma. Minha função era defender aquela pessoa para que no final apenas a Justiça fosse feita”, explica Cláudio.
Então ele decidiu voltar a Porecatu e se aconselhar com médicos da família. A opinião era unânime: caso perdido. Se preparando para voltar a Sinop, ele passou por uma livraria, enquanto aguardava seu voo. Lá viu um livro de Harold Hobbes, que por destino, abordava um caso idêntico ao que Cláudio estava trabalhando. Hoje, com uma pesquisa ligeira na internet, é possível encontrar uma coleção de jurisprudências e doutrinas. Mas na época, uma publicação como aquela poderia ser uma luz no caminho da boa defesa. “Eu não tinha dinheiro para comprar aquele livro e ainda precisava pagar a passagem de volta para Sinop. Eu estava com um relógio Seiko, que meu irmão Valdemar havia me emprestado. Eu expliquei a situação para o dono da livraria e ofereci o relógio em troca do livro. Ele não quis aceitar, me olhou profundamente e disse que se fosse algo que me ajudasse a trabalhar melhor, então eu poderia levar o livro e ele não queria o relógio”, rememora Cláudio.
A tese de Hobbes foi lida e relida no caminho para nova casa. E então o promissor advogado começou a montar sua defesa. As 13 foiçadas? Lesão corporal; o que matou foi a machadada. O motivo torpe? Bom... ‘meu cliente estava trabalhando no mato, distante 250 quilômetros de qualquer ponto comercial que vendesse cigarro, e quem disse que era mesmo uma bituca e não meio cigarro?’ Ponto a ponto, Cláudio foi reescrevendo a história daquele crime inserindo a versão do seu cliente. No fim, o júri absolveu o tabagista inveterado por 7 votos a zero.
O que torna o primeiro júri de Sinop ainda mais emblemático é o fato de que, no começo da representação, Cláudio sequer tinha sua carteirinha da OAB (Ordem dos Advogados dos Brasil). O documento que o legitima a advogar saiu no curso do processo, a tempo do júri.
Dos primeiros 16 júris da comarca de Sinop, Cláudio atuou em 9 e em apenas um seu cliente foi condenado. “Eu tenho um verdadeiro amor por advogar e por isso sempre busquei ser o mais consistente possível. Nunca perdi um cliente e boa parte das pessoas que estiveram do outro lado em processos que defendi, acabaram se tornando clientes do escritório”, revela Cláudio.
Enquanto o irmão mais velho empilhava os primeiros tijolos da sua carreira criminal, o segundo concluía sua formação. Em julho de 1986, Osvaldo completa a graduação e começa a advogar, combinando a nova profissão com o trabalho no cartório. “Depois de um tempo, o Cláudio disse que eu poderia vir para Sinop, que as coisas já estavam bem. Assim que cheguei, de imediato comecei a advogar. Em 6 meses eu já estava com minha cartela de atendimento cheia”, recorda Osvaldo.
Diferente de Cláudio, Osvaldo se preparou para atuar na área civil, empresarial e agrária. Dessa forma, os dois irmãos se complementavam no escritório, englobando clientes de diferentes perfis. Um dos primeiros trabalhos de Osvaldo na companhia de seu irmão Cláudio, na nova terra foi para o colonizador da cidade de Marcelândia, José Bianchini. Osvaldo ajudou a criar as leis orgânicas do município e a estabelecer a Câmara de Vereadores do novo município. “Advogávamos para todos, para quem nos procurasse. Ao longo dos anos foram centenas de casos, em toda a região. Atendi clientes e empresas em Sinop, mas também em Alta Floresta, Juara, Tabaporã, Vera, Feliz Natal, Sorriso... Quando lembramos do começo, naquela situação difícil que a gente precisava advogar para comer, e no como tudo foi dando certo e fomos crescendo junto com a cidade, fica evidente o quão generosa Sinop foi, com a gente e com muitos outros”, reflete Osvaldo.
Com uma “alma” de homem público, Cláudio decolou muito rápido na carreira. Em pouco tempo ele já tinha seu primeiro escritório, na Rua das Nogueiras. Em pouco tempo, já era figura frequente nos principais júris da região. Em 1988, participou, como advogado auxiliar da Justiça Eleitoral, da primeira apuração de votos em Sinop – que até então ocorria em Chapada dos Guimarães. “O primeiro voto tirado da urna foi para Ricarte de Freitas, que foi eleito deputado estadual naquele pleito”, lembra.
Cláudio também participou da fundação do Juizado Especial de Pequenas Causas e da Justiça do Trabalho. Foi sócio curador e fundador da Fundação de Saúde Comunitária Santo Antônio, entidade que viabilizou a implantação do Hospital Filantrópico no município, até hoje uma das mais relevantes estruturas de saúde do município.
Até o final de 2023, Cláudio já havia atuado em mais de 200 júris. O caso que mais ganhou repercussão ocorreu em novembro de 2005, na cidade de Vera, vizinha de Sinop. Cláudio foi contratado como advogado de defesa do produtor rural Vilmar Taffarel, acusado de ter pago um pistoleiro para matar o então vereador Augusto Alba (opositor da prefeita que era irmã de Taffarel) – mas que acabou matando a filha, Keila Alba, de 12 anos. O que deu audiência nacional ao caso foi o assistente de acusação. Roberto Jefferson, ex-deputado federal, foi recrutado por Alba para atuar como assistente de acusação contra Taffarel. Jefferson ocupava os tabloides na imprensa nacional por ter atuado como delator do “Mensalão” – esquema de corrupção pelo qual também foi condenado. Na época do júri, Jefferson havia acabado de ter seu mandato cassado, e aquele momento marcava seu retorno para advocacia, profissão que exercia antes da política.
Equipes dos principais veículos de comunicação do país e agências de notícia acompanharam aquele júri na pequena cidade de Vera. O assunto ocupou espaço em 212 diferentes periódicos do Brasil e do mundo. No fim, o júri inocentou o cliente de Cláudio por 4 votos a 3. Taffarel, que estava preso há um ano, ganhou a liberdade. “Foi um júri marcado por vários embates com a acusação (Roberto Jefferson). Depois o conflito deu espaço a uma admiração mútua. Era um caso tenso, turvo, em que até a família questionava a inocência”, relembra Cláudio.
Durante esse júri emblemático, Cláudio proferiu uma frase que passou no filtro do tempo. Olhando o minúsculo plenário da Câmara de Vereadores de Vera, onde foi realizado o júri, tomado por profissionais da imprensa, o advogado disse: “O que menos importa aqui parece ser a morte da menina. Não vê quantos fotógrafos têm aqui? Parece um show”, defendeu.
Enquanto Cláudio rivalizava com Jefferson, Osvaldo se preparava para receber sua primeira filha, Heloísa. Ele havia se casado dois anos antes com Lilian de Abreu Américo. Em 2007, o casal teve um segundo filho, Walter.
Após os holofotes, Cláudio viveu uma nova fase na sua profissão. No ano seguinte, em 2006, foi procurador jurídico da Câmara de Vereadores de Sinop, onde atuou até 2007. No mesmo período foi professor de Direito Processual Penal em uma faculdade da cidade. Ainda em 2006, aos 48 anos de idade, se casou com Luciana Nogueira. “O curioso é que quando eu ainda morava no Paraná, a casa dela ficava a uma quadra da minha. Mesmo assim só fui conhecer ela anos depois, aqui em Sinop”, comenta o advogado. O casal teve dois filhos: Sofia e João Felipe.
No campo profissional, a ruptura do setor madeireiro pelas frequentes operações ambientais e a migração do modelo florestal para agropecuária, forçaram os escritórios a se ajustar às demandas dos clientes. Em 2008, Cláudio faz uma pós-graduação em Direito e Gestão Ambiental. Dois anos depois uma segunda pós, em Direito Processual e Penal.
No ano de 2014, os pioneiros do Direito compartilharam a felicidade de ver Sinop consolidada como Entrância Especial – o mais elevado posto de uma comarca. Tanto Cláudio quanto Osvaldo concordam que a cidade de Sinop foi determinante na trajetória de sucesso que obtiveram. O escritório que começou dentro de um Fusca hoje conta com um time de advogados e especialistas, com uma vasta e longeva carteira de clientes, além de uma coleção de causas ganhas. A numerosa família de irmãos hoje está toda no Norte de Mato Grosso, em Sinop ou em Sorriso. Cláudio afirma que sua gratidão pela cidade é tamanha que jamais aceitou ou cogitaria aceitar advogar em um processo contra a Colonizadora Sinop, empresa fundadora do município. “Não poderia jamais ser ingrato com aqueles que abriram o solo para mim; um solo onde tanto prosperei”, finaliza Cláudio.
Nascendo, renascendo e voltando à origem
Cláudio se considera um apaixonado pelo Direito, mas que a justiça cabe a Deus. A crença é algo muito presente em sua vida e quando precisou encontrar defesas para si, não foi ao Vade Mecum que recorreu.
No ano de 2014, o advogado foi diagnosticado com câncer. Foram 6 anos tratando um linfoma grave. Quando alcançou a remissão, foi assolado pela Covid-19. Passou 14 dias internado entre a vida e a morte. Após superar a doença, monitorando a saúde detectou um câncer na tíbia, um dos ossos da perna.
Tudo isso fez Cláudio desacelerar e reencontrar velhos caminhos. Se nos primeiros dias de Sinop eram os círculos de oração que garantiam o seu pão, agora farto ele compartilha sua fé como ministro de Eucaristia na Igreja Católica e atuando na pastoral de Batismo. A oratória consagrada em muitos júris agora presta serviço a um cliente que não precisa de defesa.
1986
12º aniversário de fundação de Sinop
TRADIÇÃO
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Como se tornou tradicional, o aniversário de fundação da cidade era comemorado com um desfile cívico, sempre na Avenida dos Mognos (que logo mudaria seu nome para Governador Júlio Campos)
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Foi realizado o 1º julgamento do Tribunal do Juri da Comarca de Sinop, presidido pelo juiz de direito Dr. Antônio Paulo da Costa Carvalho
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A atuaram pelo Ministério Público o promotor público Hélio Fredolino Faust, e pela defesa o advogado Cláudio Alves Pereira
FUNDAÇÃO DA ADESTEC
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Fundada em 22 de novembro pelo padre alemão Mons. Karl Manfred Thaller, juntamente com pequenos produtores rurais, desde sua fundação, a Associação de Desenvolvimento do Trabalho, Educação e Cultura (ADESTEC) desenvolve ações junto aos pequenos produtores rurais de Sinop e Santa Carmem
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Os trabalhos foram desenvolvidos de acordo com a demanda dos pequenos produtores associados, perpassando por assistência técnica, financiamentos de culturas – desde o preparo à colheita, repasse de pequenos, médios e grandes animais, árvores frutíferas e sementes
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Além disso, promove o incentivo à implantação da bacia leiteira através do programa denominado “banco de gado” e microcrédito para melhorias nas propriedades rurais, como: rede de energia, poços artesianos, reforma de moradias e demais construções, reforma de pastagem, implantação de hortas, entre outros