Linha do Tempo, Sinop 50 anos
USE AS SETAS PARA
NAVEGAR ENTRE OS ANOS
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
2023
2024
Deixe sua Sugestão
Envie para nós fotos e dados históricos para enriquecer nossa Linha do Tempo.
2008
Ademilto Alves Pereira e Cleodete Cardozo dos Santos - Sinomédica

UMA INJEÇÃO DE SAÚDE PARA REABILITAR VIDAS
A Sinomédica Produtos Médico-Hospitalares é pioneira e referência no ramo em toda a região Norte de Mato Grosso. Abriu suas portas em 2008 graças a três personagens, cujos destinos se cruzaram de forma totalmente imprevisível. Foram acasos que os uniram, e foi o senso de companheirismo, tão comum em Sinop, que os fortaleceu
Sinop das três primeiras décadas, desde sua concepção, era carente de atendimentos em urgência e emergência. Apesar de ser uma cidade-polo do setor madeireiro por muitos anos, as unidades hospitalares existentes nesse período não supriam a alta demanda de pessoas com fraturas, vítimas de acidentes de trabalho – especialmente oriundas das serrarias – e também do trânsito. O caminho natural, nestes casos, era o encaminhamento para Cuiabá, enquanto os cuidados pós-traumáticos precisavam ser continuados aqui. A dificuldade era a mesma tanto para quem precisava de itens mais simples, como talas para um braço quebrado, quanto para itens mais complexos, como cadeiras de roda adaptadas a pessoas com mobilidade limitada, ou camas ajustáveis para enfermos mais graves. E quem precisava destes itens não podia esperar – é assim ainda hoje.
Vendo essa lacuna, três pessoas – sendo duas delas atuantes na saúde – se reuniram para empreender. Dessa história paralela nasce a Sinomédica, empresa hoje referência de produtos médico-hospitalares em Sinop e em toda a região Norte de Mato Grosso.
Uma das interessadas em empreender, Cleodete Cardozo dos Santos é a única que não tinha experiência na área. Nascida no primeiro dia do ano de 1975, em São José do Povo, uma cidade próxima a Rondonópolis, foi criada pelos avós, na primeira infância, a quem chamava de pais. Filha de Iracema Cardozo Furman, que é a caçula de 8 filhos, tinha apenas 12 anos quando engravidou. Nunca conheceu o pai biológico.
Com idade escolar, era a hora de Cleodete frequentar uma sala de aula. No início precisava caminhar 7 km até a escola mais próxima. “Eu não gostava da escola, fugia e voltava para o sítio”. Com 8 anos, sua mãe decide leva-la para estudar em Rondonópolis. Cleodete foi morar com uma madrinha e estudar em uma escola de freiras. “Aquela escola tinha um cheiro muito forte, e eu passava mal todos os dias. Na época, ninguém conseguia decifrar o que era, mas descobrimos que era por causa do pólen de uma árvore eucalipto citriodora. E todo dia eu ia para no ambulatório da escola”, relembra. Esse período ainda acumulou mais dois agravantes para distanciá-la dos estudos: onde morava, se sentia intrusa, pois as filhas da madrinha não gostavam de sua presença na casa e a desprezavam, enquanto dentro da sala de aula o déficit de aprendizagem se dava por dislexia – problema que só foi descoberto e tratado alguns anos depois.
A essa altura, Iracema tinha 20 anos de idade e se casa com Valério, que tinha 22 anos – o padrasto, aliás, se mostrou um verdadeiro pai, sendo chamado assim por Cleodete. “Meu pai disse pra minha mãe: ‘se você quer que essa menina tenha uma formação na vida, traga-a para morar com a gente’”. Sua nova vida agora seria em Várzea Grande.
Sergio veio do Paraná para Mato Grosso como sócio de um frigorífico. Entretanto o frigorífico foi vendido e nessa venda o Sérgio foi vítima de um golpe no qual não recebeu nada, e o jovem casal teve que vender o carro que tinham para dar entrada na casa própria. Lá, iniciam uma empreita ligada ao serviço de Sergio. “Como ele trabalhava num frigorífico, começou a comprar couro de boi. A gente começou a salgar couro de boi em casa”.
Homem de bom coração, Sergio ajudara um certo sujeito chamado Airton quando ainda era sócio do frigorífico, cedendo-lhe couro gratuitamente. Com essa ajuda, o homem se ergueu e construiu uma salgadeira de couro. Quando soube que Sergio passava por dificuldades, foi a vez de Airton estender a mão. “Em 1984, começaram a trabalhar juntos, meu pai como administrador da salgadeira de couro, enquanto minha mãe continuou com a compra de couro bovino”. Cleodete e a Iracema continuaram salgando couro no quintal de casa. A labuta da família foi o alicerce para que os tempos de perrengue ficassem para trás. Sergio se aposentou na salgadeira, e Airton virou um irmão do coração.
Com 17 anos, Cleodete vai trabalhar em um pequeno mercado, cujo dono tinha uma fazenda, abatia o gado e entregava o couro para a família salgar. A rotina era acordar às 5h, montar na Kombi (guiada pelo proprietário do mercadinho) junto com as demais funcionárias, com expediente até às 13h. À tarde, seguia salgando couro junto com a mãe, e estudava à noite. O serviço, entretanto, não durou muito. Segundo Cleodete, a mulher do patrão era ciumenta e tinha o hábito de agredir fisicamente as funcionárias que ela suspeitasse de algum envolvimento com seu marido. “Ela chegou a me ameaçar, mas como eu tinha um gênio difícil, a enfrentei: se ela me batesse, eu os processaria”. Diante da situação, o patrão muda Cleodete de função. Agora, ela não viria mais para o mercadinho, mas seria uma espécie de “office-girl”, fazendo pagamentos. “O problema é que esses pagamentos eram feitos em espécie, e eu precisava carregar aquelas enormes quantias em dinheiro vivo, andando de ônibus e morrendo de medo de ser assaltada”, relata. Temendo que o pior pudesse acontecer, Iracema a proíbe de seguir no serviço e ela pede demissão.
Na salgadeira em que o pai trabalhava, consegue uma vaga como faturista, onde fica por um ano e meio. Depois, num escritório de contabilidade. Começou como escriturária, mas se encontra mesmo no setor de abertura de empresas, permanecendo lá por 4 anos. “Meu patrão era um turco de mente muito interessante, ele gostava de ensinar, lapidar as pessoas”.
Cleodete começou a faculdade de Tecnologia da Informação, que no final dos anos 90 era uma área em alta e precisaria de profissionais qualificados. Porém, o salário que recebia no escritório mal cobria a mensalidade na UNIRONDON – concluiu o curso em 1997. Por isso, foi pedir aumento. “Meu patrão disse que não tinha condições de subir meu salário, mas conhecia alguém que pagaria mais”. Em 1995, Cleodete entra na nova empresa como gerente de faturamento.
Todos os sábados eram marcados por reuniões, que começavam pontualmente às 6h. Muito tímida, Cleodete via seu setor sendo massacrado no eterno embate entre estoque e faturamento. “Ele falava que eu tinha que defender meu setor e minhas subordinadas”. Era preciso quebrar essa barreira. Como? Dando aulas.
Certo dia, um amigo comenta que faltavam professores em uma escola pública do bairro para dar aulas de Física. A formação de Cleodete era suficiente como base dos conteúdos, e ela aceita o desafio. peguei 7 turmas para dar aula”. Era 1998, e Cleodete se tornara professora. A experiência na docência durou apenas um ano. A rotina desgastava, com expediente na empresa das 7h às 18h e a escola à noite. “Descobri que lecionar não fazia parte da minha vida, mas consegui ‘destravar’ e perder a vergonha de falar em público”.
O produto que a empresa comercializava era palpável, material, mas o faturamento migrava para o formato eletrônico. O setor tecnológico, portanto, precisava ser ampliado. E quem ali era formado em TI? Cleodete, então, foi promovida a responsável do setor. Sua função seria implantar a tecnologia da empresa em todas as unidades. “Durante a graduação, eu descobri uma paixão: montar redes e computadores. Por ser uma mulher trabalhando numa área majoritariamente masculina, sofri muito preconceito, mas isso não foi empecilho para eu me destacar. As redes eram muito diferentes do que são hoje, precisei fazer cursos específicos para montar as redes naquele período eram chamadas de rede ponto a ponto, após implantar a rede na matriz da empresa, depois nas demais lojas da rede”, conta Cleodete.
Uma dessas unidades era a de Sinop. Cleodete separou o que precisava, e pediu para que os estoquistas armazenagem a mercadoria na cabine do motorista. Porém, os computadores e seus delicados componentes vieram junto com a mercadoria. Os 7 dias da estadia de Cleodete no Nortão se tornaram 15 enquanto ela aguardava as novas peças virem em outra remessa. Na época, ela nem imaginava que a cidade se tornaria seu novo lar dentro de alguns anos. Na empresa, Cleodete ficou por quatro anos e meio e migrou para o ramo de listas telefônicas, em um momento de desalento profissional.
Na multinacional Listel, permaneceu apenas um ano e meio como assistente. Para alguém que se habituara à gestão e liderança, não era fácil se subordinar a certas ordens, especialmente quando eram contrárias à sua convicção no desempenho da função. Por isso, saiu e ficou longos 9 meses desempregada, até pintar uma vaga na concorrência. Na Telelistas, uma antiga amiga chamada Rose lhe convidou para ajudar no lançamento de uma campanha de vendas. Apesar de não ser o que desejava, era o que tinha para o momento. Atuou como assessora direta de vendas externas, especialista em área pública. Também ajudava na finalização dos bonecos das listas telefônicas, fazendo a interação entre a digitação e o layoutista – profissional das artes gráficas.
O mercado de listas telefônicas, bem como o de jornais impressos, sofreu com o avanço digital. A maioria das regionais da Telelistas fechou as portas. Temendo que isso acontecesse com a unidade de Cuiabá, Rose é transferida para Goiânia (GO) e convence Cleodete a fazer o mesmo, onde ficou apenas seis meses, sem se adaptar à distância da família. “Eu só escutava o meu pai falando pra eu voltar”. No total, foram mais de 6 anos na empresa. De volta ao Mato Grosso, Cleodete vê ciclos se encerrando, incluindo um relacionamento de 7 anos que teve com um dentista.
O pai, sem querer, acaba sendo o cupido de um novo amor permanente. Sergio tinha um amigo chamado André Luiz Klaus. Eles já haviam trabalhado juntos no Curtume União e morado juntos por alguns anos. Ele costumava visitar Sergio com frequência em sua residência em Várzea Grande. Ele formado em Técnico de Curtimento, passou por Barra do Garças, Barra do Bugres e pelo Mato Grosso do Sul, se preparando para assumir funções no Curtume Blubras em Sinop.
Na cidade, conheceu uma pessoa no condomínio onde morava que lhe convenceu a ser sócio de uma distribuidora de medicamentos. A ideia era expandir as vendas para Várzea Grande, e para isso precisariam de uma vendedora. “Ele ligou para o meu pai pedindo indicação, e eu estava desempregada e precisando trabalhar. Fui na entrevista com ele, mas naquela conversa, eu não fui com a cara do sócio dele, e não aceitei a proposta de trabalho”. André ficou surpreso e quis saber o motivo da negativa. “Eu disse que não confiava no sócio dele e que ele teria dor de cabeça”. André, então, pede uma reavaliação do balanço patrimonial da empresa, e descobre inúmeras irregularidades.
Essa proximidade de André Luiz e Cleodete se estende a longas conversas pelo MSN (um programa de mensagens instantâneas criado pela Microsoft Corporation, uma espécie de antecessor do WhatsApp) e uma amizade surge entre os dois. O terreno para o próximo passo já estava aberto. Faltava apenas oficializar. “Marcamos um jantar com a família, incluindo um dos sócios dele. Naquela noite, ele me pediu em namoro diante de todos. Conversei com minha mãe de antemão para ela avisar meu pai e ele não se assustar, afinal, eles eram amigos, moraram juntos. Sempre houve um respeito muito grande entre eles e continua assim até hoje”.
André traz a nova namorada para conhecer a distribuidora em Sinop. Ela topa e eles vêm para a cidade em 31 de dezembro de 2005. Nessa sociedade, Cleodete o representaria – a contragosto de um dos sócios –, sendo responsável pelo departamento financeiro da empresa. O casal namorou por 9 meses. Então, se casaram no civil, em Várzea Grande, até o religioso três meses depois, no Rio Grande do Sul.
André Luiz é nascido em Arroio do Meio (RS), em uma família cercada de tradições culturais, sociais e religiosas. Uma tia por parte da mãe é freira, e um tio por parte de pai é Bispo. Seu nome: Canísio Klaus, Bispo diocesano de Sinop desde 2016. “Foi o Dom Canísio que celebrou o nosso casamento junto com outro padre. Esse era o sonho do André”. A celebração aconteceu em 6 de janeiro de 2007.
A chegada do primeiro filho era muito esperada, porém, com seis meses de gestação, o estresse na sociedade afetava Cleodete, que precisou sair em definitivo da sociedade quando contraiu dengue. Internada no Hospital Dois Pinheiros, Cleodete foi acompanhada pela ginecologista e obstetra Dra. Nilce Galvan (pioneira na medicina na região Norte de Mato Grosso, falecida em 2014). A doença havia baixado o número de plaquetas para um nível crítico, 16 mil, enquanto o normal é acima de 150 mil. “Ela convidou a Dra. Anna Letícia Yanai para ajudar no parto. Como hematologista, ela sabia a quantidade de plaquetas que eu precisava, porém, só conseguiu metade do necessário no banco de sangue. Eu tive hemorragias durante o parto, quase morri, mas as doutoras me ajudaram a restabelecer”. Arthur Valério Klaus nasceu em 5 de julho de 2007. O nome é uma homenagem aos bisavôs paterno e materno, respectivamente.
A sementinha da Sinomédica
Nos meses seguintes, Cleodete se dedicou a cuidar do filho recém-nascido. Porém, para alguém acostumada a trabalhar fora, ela já estava surtando com a vida de dona de casa. Havia propostas para sociedade em diferentes ramos, desde locadora de DVDs até mesmo uma franquia de uma das empresas que trabalhou por anos. Mas foi a partir de uma conversa com um casal de amigos que uma ideia surgiu.
O ex-namorado de Cleodete tinha uma secretária chamada Alessandra Alves Gouveia, que em uma determinada data precisou falar com alguém do consultório do mesmo e encontrou a secretária muito agoniada com um problema urgente a ser resolvido de forma imediata. Cleodete a ajudou e uma amizade surgiu dali. Anos depois, essa secretária se mudou para Sinop, conseguiu emprego justamente com a Dra. Nilce e reencontrou Cleodete às vésperas do nascimento de Arthur. Ela já tinha o curso técnico em enfermagem, presta concurso na Prefeitura e vai trabalhar no Pronto Atendimento Municipal (PA) onde conhece Daniela. “A Alê comentou com a Dani que tinha uma amiga, no caso eu, querendo empreender em algum segmento pouco explorado. Foi quando a Dani disse que o esposo dela também buscava a mesma coisa. A gente marcou um dia para conversar, e dessa reunião surgiu a ideia de vender produtos médico-hospitalares”, revela Cleodete.
O personagem em questão é Ademilto Alves Pereira, nascido em Jales, no interior de São Paulo, no dia 23 de novembro de 1970. Filho de trabalhadores rurais, levava uma vida pacata na vizinha Dolcinópolis (SP). Precisava caminhar 6 km para chegar à escola mais próxima e fazia o primeiro quilômetro sozinho. Mais à frente, uma família com numerosos 12 irmãos o acompanhava dali em diante. Ademilto foi filho único por 13 anos – seu irmão nasceu em 1984.
Ademilto lavrou a terra desde os 7 anos de idade na pequena propriedade da família, onde cultivavam arroz, feijão e café, além da criação de porcos. Com 17 anos, seguiu trabalhando no campo, mas dessa vez na colheita de algodão. Não era em apenas uma fazenda específica, mas sim onde se pagava melhor. A cada dia, uma área diferente. Enquanto isso, conciliava o trato no campo com os estudos.
Seus pais eram analfabetos e não queriam o mesmo destino para o filho. Por isso, o incentivavam a nunca parar de estudar. “Minha mãe só sabia assinar o nome, e meu pai lia pouca coisa. Ele até iniciou o MOBRAL [Movimento Brasileiro de Alfabetização, órgão instalado durante o Regime Militar com o objetivo de erradicar o analfabetismo no país], mas não concluiu”, conta Ademilto.
Mesmo não sendo um aluno nota 10, Ademilto concluiu o ensino médio sem maiores problemas. Logo em seguida, fez o curso de datilografia naquelas máquinas de escrever Olivetti. Com 21 anos, foi trabalhar de ajudante geral na Prefeitura de Dolcinópolis. Porém, sofre um grave acidente no cardan de um trator e fica quase 7 meses afastado. Quando retornou às atividades, em maio de 1992, foi deslocado para um posto de saúde municipal. Sua função seria a de atendente de enfermagem. “Eu voltei pra casa refletindo, quase desisti. Mas ao mesmo tempo pensava: ‘se eu quiser mudar de vida, vou seguir este caminho’”. No local, seriam 4 profissionais da enfermagem trabalhando por dia, em escala de 6 horas. Uma vez por mês, um deles cobria o fim de semana entrando na sexta à noite e saindo na segunda de manhã.
Em uma cidade tão pequena, com menos de 15 mil habitantes [e que caiu ainda mais, de acordo com o Censo 2022, que apontou 2,2 mil moradores], ser diplomado não era uma exigência. Bastava o sujeito aprender o ofício com alguém que estivesse disposto a ensinar. Assim, Ademilto tomou gosto pela função e se tornou um atendente de enfermagem na prática. Como consequência, logo se especializou. “Outros colegas do postinho fizeram um curso na área por meio de um convênio, e me falaram dessa possibilidade. Fiz, então, o curso de Atendente de Enfermagem em Iturama (SP). Era basicamente a função de enfermeiro: aplicar injeção, medir pressão, colher sangue, atender pacientes internados. Hoje, é preciso ter curso superior ou técnico pra fazer essas coisas, mas naquela época era diferente, eu entrei na área sem saber nada”.
Em 1997, quando tinha 25 anos de idade, Ademilto resolve ir para a maior cidade da região. Em São José do Rio Preto, consegue emprego no Hospital Santa Helena para trabalhar durante o dia; três meses depois, ocupa suas noites com plantões no Laboratório Tajara. Três anos depois, sai do Tajara e vai para o Hospital de Base.
Ademilto e Daniela Menezes Borges ingressam no Santa Helena no mesmo dia. O que começou como coincidência se transformou em paquera e em celebração. Em 2024, o casal completa 27 anos de união. Dessa relação, nascem Sarah Borges Pereira, em 7 de outubro de 1999, e Samuel Borges Pereira, em 29 de agosto de 2000 – Samuel, hoje já casado com Caroline Gomes de Souza, fazem parte da família Sinomédica e estão aprendendo para dar sequência ao legado da empresa familiar.
Rio Preto é uma cidade grande e em desenvolvimento, mas não satisfazia Ademilto. Ele sonhava abrir uma loja de produtos médico-hospitalares, mas não sabia onde. Ouvia muito sobre o estado de Mato Grosso. “Um amigo trazia equipamentos de academia aqui pra região, e ele já tinha dado a dica: ‘se você quer montar uma loja, tem que ser lá em Sinop, vai ser uma cidade promissora’”. O tempo passou, e Ademilto não tirava a ideia da cabeça. Até que em 2004, ele e a esposa aproveitam um raro momento de férias simultâneas, montam na boleia de Vanderlei, um amigo de infância em Dolcinópolis, e vêm para o Mato Grosso.
O destino era Sinop, mas quando chegaram em Rondonópolis... a dupla arriou. As estradas precárias e o desconforto do caminhão interromperam a aventura. Preferiram pernoitar em Primavera do Leste, na casa de um conhecido. Visitaram ainda Campo Verde e Jaciara, onde Ademilto conversou com alguns colegas de profissão sobre a área de enfermagem no Mato Grosso. A viagem foi puxada e cansativa, mas motivou o casal a mudar de ares.
De volta à Rio Preto, começaram a organizar a mudança. Móveis e eletrodomésticos iriam de caminhão, enquanto a família seguia na frente em um Monza hatch – carinhosamente nomeado de POISÉ, dourado, ano 1984, que Ademilto tem guardado até hoje. Na bagagem, as malas, uma caixa de isopor e um fogareiro com botijão. A família ainda parou em Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Sorriso – reconhecendo as demais cidades em desenvolvimento da região Médio Norte. Chegaram a Sinop no dia 1º de maio de 2005, se hospedando no Hotel Recreio, na Rua das Avencas, próximo à antiga rodoviária. No dia 4, Ademilto já tinha conseguido alugar uma casa, que ficava na Rua das Hortênsias, Jardim Palmeiras. “Era pequena, mas não tinha muita alternativa naquela época. Passei o endereço para o motorista do caminhão da transportadora. Meu pai veio junto com a mudança. Depois, mudamos de casa, na mesma rua, mas no Jardim Paraíso”.
A proposta de montar um negócio barrou naquele atípico ano de crise. 2005 foi marcado por sequentes operações, que esfacelaram o setor madeireiro. A mola propulsora da economia estava desconjuntada. Àquela altura, o risco de fracasso era eminente. Seria preciso esperar um pouco para o tão sonhado negócio próprio. Em junho, Ademilto já estava trabalhando no Hospital Santo Antônio. Havia a promessa da instalação da UTI, que só se concretizaria dois anos depois. Enquanto isso, assim como em Rio Preto, acumulou um segundo serviço. No Hospital Dois Pinheiros, conheceu os médicos e suas principais necessidades.
“Um paciente do Dr. Paulo Tarso, neurologista que, inclusive, era meu vizinho, estava com trauma raquimedular. Ele precisava de um colar cervical, chamado Philadelphia, e não tinha em Sinop. No máximo, uma empresa que comercializava produtos odontológicos conseguia suprir certas demandas, mas a maioria dos pedidos vinha de Cuiabá. Mutas vezes, chegava o produto com tamanho errado, prejudicando esse atendimento”, relembra.
Nesse meio tempo, a esposa Daniela passou em um concurso público e foi alocada na unidade do bairro Boa Esperança. Técnica de Enfermagem, desejava ter a graduação e presta o vestibular na UFMT. Devido a graduação ser em período integral, é transferida para o antigo Pronto Atendimento Municipal (P.A.), onde conhece Alessandra. “A Daniela comentou com a Alessandra que nós tínhamos vindo para Sinop com o intuito de montar uma loja de produtos médico-hospitalares, e ela falou de uma amiga que estava parada e não aguentava mais ficar dentro de casa”, rememora Ademilto, sob os olhares de Cleodete.
As primeiras tratativas ocorrem em 2007, e são animadoras para ambas as partes. Cleodete tinha experiência em gestão e financeiro, enquanto Ademilto conhecia por dentro as necessidades médicas. Em abril de 2008, numa sala adaptada para escritório na casa de Cleodete, nasce a Sinomédica Produtos Médico-Hospitalares. A partir dali, era preciso buscar fornecedores. Havia dificuldades logísticas – e essa distância também causava desconfiança. Naquele mesmo ano, eles alugam um prédio na Rua das Amendoeiras. O local passou por ampliações, e a loja está no mesmo endereço até hoje. “A cidade foi evoluindo e os médicos chegavam. Eles iam conhecendo meu trabalho, eu especulava com eles sobre a minha ideia de abrir a loja de produtos médico-hospitalares, e eles apoiavam. Pude conhecer também o perfil deles, entender o que eles queriam e precisavam”, afirma Ademilto. “Nós nos destacamos desde o início pelo fato do Ademilto estar dentro do hospital. A gente atendia a demanda utilizando os próprios veículos”, completa Cleodete.
Além de Ademilto e Cleodete, Alessandra também fez parte da sociedade nos primeiros anos. Inseri-la era uma forma de agradecimento pelo elo criado. Como trabalhava e estudava, foi representada por seu (hoje ex-) marido. “Ele fazia cobrança, tinha a função de receber. Aqui em Sinop tinha muito o uso de notinha. A gente fornecia para alguns médicos, fazia essa notinha para receber depois. Eu saí do Hospital Santo Antônio para poder ter as manhãs e tardes livres, permaneci apenas no Dois Pinheiros à noite. Era uma forma de eu poder me dedicar à empresa, mas quem ficava mais na loja era a Cleodete”, lembra Ademilto. “O combinado inicialmente era ninguém receber salários, tanto que eu fiquei um ano assim”, emenda Cleodete. A partir de 2010, a empresa deixava de ser apenas sustentável e se tornava lucrativa, possibilitando dedicação exclusiva – tanto que, em 2012, Ademilto deixa de vez a enfermagem. Nesse período, Cleodete se torna mãe pela segunda vez quando Mariana vem ao mundo. Ela já havia tido dois abortos, e após investigação descobriu-se a causa: trombose gestacional hereditária. “O tratamento era com injeções. A Mariana veio ao mundo com 37 semanas. Apressada pra tudo, é assim até hoje”, conta.
Nesses 16 anos, a Sinomédica tem muitas histórias para recordar. Trata-se de um espaço no qual também se lida com fortes emoções. Uma das primeiras clientes, inclusive, é um caso marcante. Uma senhora cuidava da mãe acamada, que tinha Alzheimer. “Ela era muito amorosa com a mãe. Queria tudo o que fosse possível para dar um pouco de conforto. O Ademilto sempre ia até a casa delas dar uma força, orientava sobre curativos. Criamos um elo e uma afinidade tão fortes que, no dia que a mãezinha dela faleceu, nós fomos ao velório. A gente acompanhava a evolução da doença”, destaca Cleodete. “Nosso foco não é apenas vender, e sim orientar. Como eu tinha experiência na área hospitalar, acabava sendo um dos nossos diferenciais. Não era só venda, era orientação”, completa Ademilto.
Na primeira página desta história, citamos as necessidades dos pós-hospitalares. “Muitos dos nossos clientes saem perdidos do hospital. Lá dentro tem o profissional que está acompanhando o tempo inteiro, mas e depois? Imagine uma pessoa saudável, hiperativa, especialmente jovens, de repente receber um diagnóstico de paraplegia ou tetraplegia e precisar de uma cadeira de rodas? Muitas vezes é difícil aceitar essa nova condição, e a gente precisa estar preparado para saber atender não apenas com o produto, mas com o coração”, reforça Cleodete.
A evolução da medicina e a transformação de Sinop num polo de saúde foram fundamentais tanto no atendimento médico de toda a região, quanto no crescimento da própria Sinomédica. E ambos os sócios são prova disso. Cleodete supõe ter sido atendida por Ademilto quando estava internada para o nascimento de Arthur. “Médicos usavam até cano PVC comum, devidamente esterilizado, para salvar vidas, porque aqui em Sinop não tinha os itens necessários”, cita. Outros problemas de saúde com membros das nossas famílias, nos mostram que a evolução da medicina chegou aqui também, e fizeram a empresa repensar estratégias internas, como a opção de seguros para os funcionários, melhorias no ambiente de trabalho, entre outros pontos.
A empresa que começou com apenas uma sala se expandiu e precisou passar por 5 ampliações. O ponto alugado é muito bom, mas os sócios ainda estudam a construção de um prédio próprio. Tudo para poder ampliar o estoque. Se no início a empresa se limitava a vender itens básicos, hoje comercializa móveis (como camas, biombos, braçadeiras, cadeiras para coleta, escadas), aparelhos médicos (adipômetros, estadiômetros, estetoscópios), cadeiras de roda para diferentes funções, produtos para fisioterapia e reabilitação, equipamento hospitalares, além do já tradicional consumo hospitalar (agulhas, aventais, jalecos, seringas, etc).
Alessandra saiu da sociedade em 2020 para se dedicar à mentorias e terapia comportamental. Ela é madrinha da filha de Cleodete, que é madrinha da filha de Alessandra.
A Sinomédica tem tantas histórias marcantes para contar quanto seus idealizadores. O compromisso de cuidar é permanente, e o sonho dos dois sócios de empreendedor se viu possível em uma cidade promissora, que acolhe, cuida, restaura e recupera vidas.
2008
Centro de Eventos Dante de Oliveira

CENTRO DE EVENTOS E HOSPITAL REGIONAL
-
Em 2008, é inaugurado o Centro de Eventos de Sinop, que recebeu a denominação de Centro de Eventos Dante Martins de Oliveira, uma homenagem ao político mato-grossense, que já havia sido prefeito de Cuiabá, ministro e governador do estado
-
Neste ano, é lançado o projeto “Plantando Árvores com Famílias Pioneiras de Sinop”
-
Inicialmente, o projeto foi desenvolvido na Avenida Gov. Júlio Campos e na Avenida das Palmeiras
-
É inaugurado o prédio do Hospital Regional de Sinop, construído pelo Governo do Estado, em parceria com o Governo Federal e a Prefeitura